Sem Perdão: Júlia Reinventa-se
Sem Perdão: Júlia Reinventa-se
Por: Beatriz Souza
Capítulo 1
No círculo de amigos, todos sabiam que Júlia Ferreira era loucamente apaixonada por Rafael Lima.

Amava tanto que não tinha sua própria vida, nem seu espaço, e queria estar com ele 24 horas por dia.

Cada vez que eles terminavam, em menos de três dias, ela voltava implorando por reconciliação. No mundo, qualquer um poderia falar a palavra ‘acabou’, exceto Júlia Ferreira.

Quando Rafael entrou na sala abraçado com sua nova namorada, houve um silêncio estranho.

Júlia, que estava descascando uma laranja, parou de repente e disse:

— Por que ninguém fala nada? Por que estão me olhando assim?

— Júlia... — Seus amigos olharam para ela com preocupação.

Rafael, porém, agiu como se nada tivesse acontecido, abraçando a nova namorada e sentando-se no sofá.

Ele disse ao aniversariante de hoje, o André Barbosa:

— Feliz aniversário, André.

Descaradamente.

Júlia se levantou, não queria estragar o aniversário de André e falou:

— Vou ao banheiro.

Ao fechar a porta, ouviu a conversa continuar:

— Rafael, Júlia está aqui. Eu não te avisei antes? Por que trouxe essa mulher?

— Pois é! Rafael, dessa vez você foi longe demais.

Rafael soltou a cintura da mulher e acendeu um cigarro:

— Não faz diferença.

Ele estava sorrindo no meio da fumaça, como um despreocupado. As palavras seguintes foram abafadas pela porta fechada, e Júlia não ouviu mais nada.

Após usar o banheiro, enquanto Júlia retocava a maquiagem, olhou para si mesma no espelho e sorriu ironicamente.

“Que patética.”

Uma vida patética dela.

Júlia respirou fundo e tomou uma decisão. Mas ao voltar para a sala, a cena que viu quase a fez perder o controle. Rafael estava beijando a outra mulher, com papel molhado de saliva entre eles.

As risadas e provocações ao redor eram altas:

— Rafael sabe se divertir!

— Beija! Beija!

A mão de Júlia tremia na maçaneta. Esse era o homem que ela amava há seis anos. Naquele momento, só sentia amargura.

Alguém tentou avisá-los que parassem de brincar, apontando para a porta.

Todos olharam para Júlia.

Alguém disse:

— Júlia, você voltou? Eles estão só brincando, não fique chateada…

Rafael interrompeu:

— Júlia, já que você está aqui hoje, vamos conversar.

Júlia fez que sim.

Rafael continuou:

— Esses anos todos foram cansativos, nosso relacionamento esfriou.

Júlia apertou os dedos, sentindo as unhas cravarem na palma da mão, mas não sentiu dor.

Seis anos de relacionamento e tudo o que ela recebeu foi um ‘esfriou’.

Rafael apontou para a mulher que ele trouxe, a Viviane Oliveira, e disse:

— Viviane é uma boa garota. Quero que ela seja minha namorada oficial.

Júlia assentiu mecanicamente.

— Ainda podemos ser amigos. Se precisar de algo em Cidade J, pode me procurar. — Disse Rafael.

Júlia sorriu levemente:

— Não precisa, já que terminamos, vamos fazer isso direito, para ser justo com a garota.

Rafael levantou a sobrancelha, com surpresa.

Júlia olhou para o aniversariante e falou:

— André, feliz aniversário. Divirtam-se. Eu vou embora. Aquelas laranjas na mesa, eu descasquei. Comam-nas, para não desperdiçar

Rafael não gostava de frutas, exceto laranjas. Mas ele era exigente, só comia se cada pedacinho de pele branca fosse removido.

Durante anos, para garantir que ele tivesse uma fruta diária para as vitaminas, Júlia descascava e limpava cada gomo, colocando-os em um prato e levando até ele.

Quando Rafael estava de bom humor, ele a abraçava e dizia carinhosamente:

— Minha namorada é a melhor, tão cuidadosa.

Nesse momento, Júlia sempre perguntava:

— Quer se casar comigo?

Rafael sempre soube o que ela queria, mas nunca prometeu.

Rafael disse:

— Vou pedir ao motorista para te levar.

— Não precisa, já chamei um táxi.

André disse:

— Júlia, te acompanho até a porta.

Júlia recusou com um aceno de mão e saiu.

Todos na sala começaram a falar:

— Rafael, você viu isso? Acho que desta vez ela está realmente chateada.

— Não exagerem.

— Sim! Quantas vezes eles já brigaram? Toda vez Júlia volta em alguns dias como se nada tivesse acontecido.

— Eu aposto cinco dias.

— Eu aposto seis dias.

Rafael olhou para a porta aberta, sorrindo friamente e falou:

— Aposto que em três horas ela vai voltar.

O pessoal riu e comentou:

— Rafael vai ganhar. Todo mundo sabe que Júlia o ama loucamente.

— Por que nenhuma mulher me ama assim?

— Você? Vai sonhando!

Ao chegar em casa, já era madrugada.

Júlia levou meia hora para arrumar suas malas. Morou ali por três anos, mas só precisou de uma pequena mala para levar suas coisas.

As roupas de grife e joias ficaram intocadas. A única coisa que lamentou deixar foram os livros profissionais, mas ela já havia memorizado o conteúdo, então o material não importava.

Ao olhar para a penteadeira, Júlia abriu uma gaveta.

Dentro havia um cheque de cinquenta milhões de reais.

Embaixo do cheque, um contrato de transferência de propriedade de um terreno em Cajamar, avaliado em cerca de vinte milhões.

Ambos os documentos estavam assinados por Rafael, deixados lá desde a última vez que eles brigaram.

Ele tinha certeza de que Júlia não os pegaria, pois significaria o fim definitivo do relacionamento.

Seis anos por setenta milhões? Júlia pensou que não era um mau negócio.

Quantas mulheres conseguem uma compensação tão alta? Ela colocou os documentos na bolsa. Se ele ofereceu, por que não aceitar?

O amor acabou, mas pelo menos ainda havia dinheiro. Ela não era uma heroína ingênua de novela que desprezava dinheiro.

Ela pegou o celular e discou:

— Alô, é da empresa de limpeza? Vocês aceitam pedidos urgentes? — Sim, uma limpeza completa. Pago extra.

Júlia deixou a chave na entrada e pegou um táxi para a casa da amiga.

No caminho, a faxineira ligou para confirmar:

— Senhora, você não quer mais essas coisas?

Júlia respondeu:

— Não, pode se desfazer delas.

Quando Rafael chegou em casa, era de madrugada.

A limpeza já havia terminado e o cheiro forte de perfume o fez sentir dor de cabeça. Ele afrouxou a gravata e decidiu sentar-se no sofá, acabando por adormecer ali mesmo.

Ao acordar no dia seguinte, ouviu barulhos familiares de pratos vindo da cozinha.

Ele se levantou, massageando as têmporas, e tentou pegar um copo d’água, mas encontrou a mesa vazia.

Seu braço ficou suspenso por um momento. Ele sorriu de forma sarcástica.

Ela voltou e cobriu-o com um cobertor, mas não preparou leite para curar a ressaca?

Esse ‘confronto incompleto’ não estava desgastado após todos esses anos?

Rafael levantou-se e disse:

— Hoje você deveria…

De repente, interrompido por uma voz:

— Senhor, você acordou?

Foi Ana Maria, a empregada.

Ela disse:

— Lave-se primeiro. O café da manhã estará pronto em dois minutos. E, a propósito, você estava com frio? Liguei o aquecedor e ainda cobri você com um cobertor extra.

Rafael ficou sem saber o que dizer por um momento.
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