Júlia não experimentava essa sensação de fazer tudo sozinha há muito tempo.Nos anos que passou com Rafael, nunca precisou fazer tarefas pesadas, mesmo nos primeiros anos da startup dele, quando o dinheiro era curto, sempre havia uma diarista para as limpezas semanais.Após terminar de pintar um balde de tinta, ela alongou as costas doloridas. Alguns anos de conforto a deixaram desacostumada…Ela foi até o corredor para buscar mais tinta, mas acabou adiando o problema e derramando um pouco na porta do vizinho.Rápida, começou a limpar, mas a porta se abriu de repente. Ela ia se desculpar, mas encontrou um rosto familiar.— Você mora aqui?— Como assim, é você?José olhou para o chão e depois para Júlia:— Então a nova vizinha é você?Júlia também estava surpresa com a coincidência:— Como pode ver, a partir de hoje somos vizinhos.José escolheu esse lugar pela proximidade ao laboratório e à universidade, o que facilitava suas aulas e experimentos.Mas por que Júlia escolheu? O lugar, s
Júlia foi na frente, e José ficou um passo atrás.Comparada à noite passada, ela estava claramente mais calma.José trouxe o carro, e Júlia entrou no banco do passageiro. No caminho, passaram por uma frutaria. Júlia falou de repente:— Pode parar um minuto? Quero comprar algumas frutas.— Frutas?— Sim, para a professora.José ficou um pouco confuso, perguntou:— Precisa disso tudo?Júlia riu:— Você vai visitar alguém de mãos vazias?José assentiu honestamente.Júlia não pôde evitar sorrir.Ele parou o carro.Larissa morava na Rua Arborizada, perto da Universidade B. As casas eram pequenas e encantadoras, com um toque de elegância. Atravessando um bosque, a casa dela aparecia.Seis anos…Júlia apertou o cinto de segurança e olhou para o cesto de frutas, sentindo-se nervosa.José notou: — Não vai descer?Júlia mordeu os lábios: — Vou esperar um pouco.Ele olhou para ela por um momento e disse: — Então eu vou à frente.Júlia agradeceu pelo silêncio de José.Ela tomou fôlego, desceu d
José não disse nada. Para ele, comida era apenas uma fonte de energia, sem se importar muito com o sabor.— Terminei de lavar. — Disse ele.Júlia Ferreira olhou para os pimentões e as folhas de couve arrumados em ordem, claramente resultado de alguém com toque.José perguntou com confusão:— O que você está rindo?Júlia tossiu e disse:Nada, pode sair agora.José secou as mãos e acenou com a cabeça.Júlia preparou uma mesa cheia de pratos, todos com sabores leves, exatamente do jeito que Larissa gostava.A professora comentou:— Você ainda lembra.Após comer, Júlia começou a limpar a mesa.José entrou na cozinha para ajudar. Sob a luz quente, sua sombra se alongava na parede. Do ponto de vista de Júlia, o perfil dele parecia uma escultura grega antiga, com traços bem definidos.Larissa apareceu na porta e perguntou:— Jú, como você conheceu José?José era seu aluno mais talentoso, e Júlia sua estudante favorita. Há tempos ela queria apresentá-los, mas, inesperadamente, eles se conhecer
Rafael entrou no carro e acelerou, deixando Patrícia furiosa. Ela começou a gritar:— Que tipo de pessoa é essa?! Canalha! Desgraçado! Um lixo!Ela puxou a camisa do jovem:— Dessa vez a Júlia não volta! Não volta mesmo!O jovem namorado tentou acalmá-la:— Sim, sim, calma…Mas será mesmo? Rafael parecia tão seguro.O jovem olhou para Patrícia, desejando que ela fosse tão dedicada quanto sua amiga.Mas logo afastou esse pensamento. Ele nunca teria coragem de fazer algo assim....No carro, Rafael recebeu uma ligação.De mau-humor, ele atendeu friamente:— O que foi?— Rafa, descobri um restaurante incrível com caranguejos enormes. Amanhã é sábado, vamos lá?Viviane Oliveira, com sua voz animada, tentava agradar Rafael, sabendo que ele adorava frutos-do-mar.Eles não se falavam desde a noite passada, e ela estava ansiosa e preocupada, então decidiu ligar.Normalmente, Rafael planejava os encontros, e Viviane apenas aceitava. Mas ultimamente, as coisas mudaram. Ele estava menos presente
— Não. Quero ficar com você mais um pouco. — Viviane balançou a cabeça e, em seguida, com o rosto corado, ficou na ponta dos pés.Antes que ela pudesse se aproximar, Rafael a puxou para si, segurando sua cintura e a beijou com firmeza.O público ao redor começou a aplaudir.Júlia viu tudo, segurando o livro com tanta força que seus dedos ficaram pálidos. Seu coração ainda doía, mas seu rosto estava assustadoramente calmo, quase entorpecido.Pensou consigo mesma que, com o tempo, se acostumaria. Afinal, até parar de fumar tem efeitos de abstinência; imagine abandonar alguém que você amou por seis anos?Ela virou e saiu, sem olhar para trás. Precisava voltar para estudar.Rafael sentiu algo e olhou ao redor. Viu uma silhueta familiar desaparecendo ao longe. Mas logo sentiu os dedos delicados de Viviane entrelaçando-se nos seus.Viviane perguntou:— O que você está olhando?— Nada. — Ele respondeu e desviou o olhar.Após levá-la até a entrada do dormitório, Rafael se preparou para sair. M
Em casamentos de famílias ricas, era comum o homem ter várias amantes. Desde que a esposa mantivesse sua posição, podia fazer o que quisesse fora dela.Hoje, ela decidiu dar uma garantia a Júlia Ferreira. No entanto, em vez de agradecimento, Júlia apenas riu.Júlia disse com um riso frio:— Sra. Fernanda, guarde sua caridade para outra pessoa. Eu não preciso disso. Além disso, eu e Rafael já terminamos. Se nos encontrarmos de novo, é melhor fingirmos que somos estranhos.Antes, Júlia suportava as críticas de Fernanda por Rafael.Fernanda reclamava que Júlia não tinha formação acadêmica, nem carreira, e achava que ela não estava à altura de seu filho querido. Mas agora, Júlia não queria mais Rafael, então a opinião da mãe dele não tinha importância.Júlia continuou:— Ah, Sra. Fernanda, um conselho.— O quê? Júlia sorriu: — Seja menos cruel com as palavras, senão, pode acabar levando um soco. E mais, a expressão ‘por fora, bela viola; por dent
— Não vou jantar, tenho outra coisa para fazer. Vamos marcar outra hora.Júlia sorriu para não deixar André sem graça, mesmo recusando.André notou que ela carregava uma caixa de joias personalizadas, então entendeu que ela estava realmente ocupada. Ele tentou continuar a conversa, mas Júlia passou por Rafael sem olhar para ele, saindo do local.O ambiente ao redor de Rafael ficou tenso. André, percebendo a mudança, tentou amenizar:— Rafa, a Júlia não deve ter te visto, não se preocupe…Mas isso só piorou a expressão de Rafael. André desistiu de falar, pensando que Júlia estava mesmo firme desta vez.A vendedora perguntou:— Senhor, vai levar algo?Rafael respondeu friamente:— Claro que vou. Me mostre o mais caro.Se ela não queria, alguém ia querer.A festa estava acontecendo em uma mansão na Rua do Vale. Quando Júlia chegou, o lugar já estava cheio de gente. Alguns a reconheceram e trocaram olhares curiosos.Antes, ela sempre aparecia nessas festas ao lado de Rafael, o que a fazia
O assistente levou Júlia até casa. Ela agradeceu e desceu do carro, mas ao invés de subir direto, foi até o mercado próximo.Vinte minutos depois, carregando várias sacolas, ela estava prestes a subir quando viu José se aproximando no crepúsculo.O céu já estava um pouco escuro, mas ele ainda estava iluminado pela luz alaranjada do sol poente, tornando sua figura alta e magra ainda mais longa.Ele caminhava com uma concentração notável, sem desviar o olhar.Júlia saudou:— Que coincidência, nos encontramos de novo.José levantou a cabeça e ajeitou os óculos:— Que coincidência.Júlia perguntou com um sorriso:— Já jantou? Comprei bastante coisa, quer comer algo?José ia recusar, mas lembrando das habilidades culinárias dela, aceitou com um aceno de cabeça.Era a primeira vez que José visitava a casa de Júlia. Na varanda, as tulipas estavam florescendo.Ao lado, um aquário quadrado com dois peixes-dourados nadando. As cortinas brancas balançavam suavemente com o vento, e os móveis adici