Uma memória repentina atacou Júlia de surpresa, deixando-a sem palavras.Aquela pessoa teimosa, que segurava o colarinho de alguém sem soltar, era ela mesma?Ao encontrar o olhar brincalhão do homem, ela ficou tão envergonhada que parecia querer sumir.José perguntou: — Lembrou?— Desculpa, eu…José a interrompeu: — Essa pergunta precisa mesmo ser feita? Claro que não pode. Quem aceitaria levar um tapa na cabeça? Não sou um instrumento de percussão. E você mesma não disse que bater na cabeça pode deixar a pessoa mais burra?Com uma frase, ele dissolveu metade do constrangimento de Júlia.Júlia murmurou:— Mas você bateu na minha cabeça…Agora que a parte final da memória voltou, as cenas iniciais começaram a ficar mais nítidas. Na verdade, foi ele quem começou…José ficou sério: — Ainda mantenho o que disse: pode beber, mas com moderação.— Sim, claro.Júlia não ousou discordar, balançando a cabeça obedientemente como uma criança que levou bronca.Gustavo voltou da pia, onde lavava
Camila ficou sem palavras.Não bastava elogiar outra pessoa, tinha que se incluir na conversa também.Naquela tarde, por volta da uma hora, José estava prestes a sair.Gustavo, que estava no quintal revirando a terra, levantou a cabeça ao perceber o movimento e chamou:— Jú, acompanhe meu mano até a saída!José parou no meio do caminho, ficando visivelmente desconfortável com a fala.Júlia levantou-se rápido do sofá, um tanto sem jeito:— Pai, não inventa isso de ‘mano! Professor, eu te acompanho.José assentiu com um sorriso.Enquanto ele saía, Gustavo murmurou com um tom quase ofendido:— Você não disse da última vez que queria que ele me chamasse de mano? Agora fica confundindo as coisas…...O tempo passou, e já fazia quinze dias que Gustavo e Camila estavam hospedados na Cidade J. Júlia achava que era o momento certo para colocar um plano em ação, era para marcar um encontro entre ela e o editor Pedro.Ela disse:— Mãe, na verdade, tem outro motivo para eu ter trazido você e o pa
Camila perguntou:— Vendas internacionais?— Sim. Esses dois livros estão no topo das vendas de livros eletrônicos e edições físicas no Sudeste Asiático.Camila ficou atônita:— Não sabia que esses livros tinham sido lançados fora do país…— Fiz uma estimativa. Nos últimos anos, A Arma Letal e A Escola Abandonada geraram, no mínimo, um valor de…Júlia levantou uma mão para indicar.Gustavo chutou:— Meio milhão?— Pai, pense maior.— Cinco milhões?Júlia balançou a cabeça:— Cinquenta milhões? E isso é uma estimativa conservadora.Gustavo arregalou os olhos, sem palavras.Júlia sentou-se ao lado de Camila e segurou sua mão suavemente:— Mãe, sei que você deve estar sentindo muitas coisas agora, mas o passado já ficou para trás. Com o fim desse contrato, esses dez anos de vínculo com a editora Rosália terminaram. O mais importante agora é recuperar o tempo perdido. Sei que mais do que o prejuízo financeiro, o que mais te machuca é ver suas obras esquecidas. Quantos dez anos uma escritor
Esses anos, ela sonhou repetidamente com a possibilidade de suas obras de suspense serem publicadas novamente. Discutiu isso inúmeras vezes com Rosália, que sempre encontrava uma desculpa para evitar o assunto. Agora, de repente, alguém aparece e diz:— Suas obras podem ser publicadas.E mais.Pedro disse com seriedade:— Se você concordar, vamos solicitar o ISBN imediatamente, além de contactar a gráfica e os meios de comunicação para preparar a divulgação. Depois, seguiremos com a diagramação, impressão, publicidade e lançamento. O processo todo deve levar, inicialmente, cerca de dois meses para ser concluído.Ele fez uma pausa antes de continuar:— Quanto aos direitos autorais e a divisão de lucros futuros, pensamos em uma proposta inicial, mas, claro, você pode revisar e dar suas sugestões. Estamos abertos para ajustar conforme necessário.Pedro claramente estava preparado. Os valores oferecidos de royalties e a porcentagem de participação nos lucros eram bem atrativos. Além dis
Júlia e Gustavo estavam sentados no café, do lado de fora da cafeteria, separados por uma parede de vidro. Mesmo sem conseguir ouvir a conversa, dava para notar que Camila passava por uma montanha-russa de emoções. Primeiro estava confusa, depois séria, e por fim, com uma expressão de desculpas. A conversa não parecia estar indo bem.Pedro já estava de pé, pronto para ir embora, quando, de repente, Camila levantou a cabeça e disse algo. Foi como se Pedro tivesse sido aceso por uma fagulha; seu rosto iluminou-se completamente. Ele se sentou de volta e os dois voltaram a conversar.Dessa vez, Camila falava muito mais, e sua expressão, antes hesitante, parecia ganhar uma nova energia.Quando a reunião terminou, Pedro levantou-se novamente e estendeu a mão:— Sra. Camila, que nossa parceria seja um sucesso.Dessa vez, Camila não hesitou. Levantou-se e apertou a mão dele:— Obrigada. Na verdade, se você tivesse mostrado os textos revisados desde o início, a conversa teria sido muito mais t
No círculo de amigos, todos sabiam que Júlia Ferreira era loucamente apaixonada por Rafael Lima.Amava tanto que não tinha sua própria vida, nem seu espaço, e queria estar com ele 24 horas por dia.Cada vez que eles terminavam, em menos de três dias, ela voltava implorando por reconciliação. No mundo, qualquer um poderia falar a palavra ‘acabou’, exceto Júlia Ferreira.Quando Rafael entrou na sala abraçado com sua nova namorada, houve um silêncio estranho.Júlia, que estava descascando uma laranja, parou de repente e disse:— Por que ninguém fala nada? Por que estão me olhando assim?— Júlia... — Seus amigos olharam para ela com preocupação.Rafael, porém, agiu como se nada tivesse acontecido, abraçando a nova namorada e sentando-se no sofá.Ele disse ao aniversariante de hoje, o André Barbosa:— Feliz aniversário, André.Descaradamente.Júlia se levantou, não queria estragar o aniversário de André e falou:— Vou ao banheiro.Ao fechar a porta, ouviu a conversa continuar:— Rafael, Júl
Na mesa de café da manhã.Rafael perguntou para Ana:— Cadê a sopa de feijão?Ana respondeu:— Você está falando daquela sopa boa para o estômago?Rafael repetiu:— Sopa para o estômago?Ana explicou:— Sim, a que a Júlia fazia, com feijão-preto, batata-doce, cenoura e peito de frango. Não tive tempo para preparar, porque precisa cozinhar o feijão e os legumes desde a noite anterior, e de manhã, é preciso ficar mexendo. Eu não tenho a mesma paciência que a Júlia para ficar de olho na sopa o tempo todo.Rafael pediu para Ana trazer o molho para ele, experimentou um pouco e disse:— Por que o sabor está diferente? — Ele olhou a embalagem e não era a mesma.Ana respondeu:— Esse pote estava vazio. Só tenho este.Rafael pediu para Ana ir ao supermercado comprar mais um pouco, e Ana sorriu sem graça e disse:— É que essa receita foi a Júlia que fez, eu não sei preparar.Rafael subiu as escadas após bater a lata na mesa.Ana Maria observou Rafael subir as escadas, confusa. Por que ele estava
André perguntou:— Está com dificuldade de encontrar o lugar? Vou sair para ajudar...Notando a expressão nada boa do Rafael, André finalmente se tocou:— Epa! Rafael, Júlia ainda não… voltou, né?Já se passaram mais de três horas.Rafael deu de ombros:— Voltar? Você acha que terminar é brincadeira?Disse isso e passou por ele, sentando-se no sofá.André coçou a cabeça, “ sério mesmo? Será que foi de verdade dessa vez?”Mas logo balançou a cabeça, achando que estava pensando demais.Rafael pode até conseguir terminar de verdade, mas Júlia…Nenhuma mulher no mundo poderia aceitar terminar, mas ela não aceitaria. Isso é um fato reconhecido por todos.Bruno Rocha, sempre gostando de caos, cruzou os braços e sorriu:— Rafa, como você está sozinho? Você disse três horas, agora passou um dia.Rafael sorriu:— Perdi a aposta, qual vai ser a punição?Bruno levantou a sobrancelha: — Hoje vamos mudar o jogo, nada de bebida. Você vai ligar para a Júlia e, na voz mais doce, dizer: Desculpa, eu e