Gustavo já estava com o rosto completamente fechado:— Professora Renata, minha filha Júlia é uma menina ótima. Essas coisas que você falou, não importa de onde vieram, por favor, pare de comentar sobre isso no futuro! É tudo mentira! Eu até diria que é calúnia. Esse tipo de atitude não é de professor.Após dizer isso, Gustavo saiu a passos largos, com uma postura que transbordava indignação.Renata revirou os olhos:— Fez o que fez e não quer que as pessoas comentem? Ainda tem a audácia de dizer que ela é uma boa menina? Que piada! Estragando o ambiente da escola, sem a menor vergonha…Ela se lembrou de como Gustavo costumava ser presunçoso.Ele tinha uma filha que era a primeira em todas as disciplinas, acumulava prêmios em competições, era famosa não só no classe, mas em toda a escola.Em toda reunião, Gustavo fazia questão de mencionar Júlia, e seu sorriso de orgulho era inconfundível.Mas e agora?Entrou na Universidade B, e daí?No fim, não passou de um brinquedo para algum rico.
— Olha só! É a própria Júlia! Quando te vi no portão, achei que estava me confundindo!Laura Ramos, a vizinha fofoqueira e barulhenta, correu para se aproximar. O marido também dava aula na mesma escola que o pai de Júlia, e se mudaram para o mesmo bairro.Assim que viu Júlia, Laura a olhou dos pés a cabeça, sem deixar nada escapar:— Meu Deus! Como dizem, viver na cidade grande faz bem, né? Menina, você está ótima!Júlia ficou em silêncio.Ela continuou:— Olha só essa roupa, esse corpo, e esses sapatos… toda na moda!Laura então se aproximou mais e, com um sorriso malicioso, falou mais baixo:— Ouvi dizer que você tá se dando bem lá em Cidade J, com boas conexões… será que você não consegue apresentar um bom partido para minha filha?Júlia ficou confusa, perguntou:— Apresentar o quê?— Ah, sabe… um homem rico, tipo um bom partido. Minha filha é linda, tem um corpão, e ainda por cima tem só 22 anos!O rosto de Júlia ficou sério, e ela deu um passo para trás:— Sra. Laura, acho que vo
Júlia balançou o esfregão e continuou avançando em direção a Laura.Laura protegeu a cabeça e saiu correndo, já na porta, ainda gritou:— Isso não vai ficar assim! Ela apontou para a casa de Júlia:— Essas suas malditas flores, aquelas trepadeiras horríveis que invadem meu quintal! Amanhã eu vou queimá-las todas! Não quero mais olhar para elas!Dizendo isso, ela correu porta afora, já que Júlia, com esfregão em punho, ia atrás dela.Júlia abaixou o esfregão e suspirou aliviada, mas ao se virar, viu a expressão pesada no rosto de Gustavo. Seu coração deu um salto.Depois de alguns segundos, ela falou baixinho:— Pai… desculpa, eu…— Quem te ensinou a fazer isso?— O quê?— Isso aí… esse ato de balançar a vassoura…Ele imitou o gesto que ela havia feito.Júlia ficou sem palavras.Gustavo tossiu:— Uma moça deve ser mais tranquila, comportada. Não pode agir como uma barraqueira.Júlia se aproximou, abraçando-o pelo braço:— Pai, fala a verdade… não é bom descarregar a raiva?Ele responde
A fala é de Paula Batista, a segunda tia de Júlia, trabalhava na Companhia de Energia. Ela era funcionária pública, sem muito estresse no dia a dia; por isso, estava mais relaxada e com alguns quilos a mais.Hoje, ela estava usando um suéter verde brilhante, com o cabelo curto enrolado em cachos volumosos, parecendo uma árvore de Natal robusta.— O que é isso? Não sabe falar? — Henrique Ferreira, o segundo tio, deu um puxão em sua esposa.Ao contrário da aparência mais ‘cheia’ de Paula, Henrique era alto e magro, vestia um suéter bege com calça social, e seu cabelo estava penteado para trás com gel, brilhando.Apesar de estar na casa dos cinquenta, não havia sinais visíveis da idade em seu rosto, e ele ainda podia ser descrito como charmoso.Os irmãos Ferreira tinham bons genes. Gustavo e seus dois irmãos eram todos bem atraentes.Sendo puxada pelo marido, Paula fez uma careta:— O que foi…? Eu não falei nada de errado. Faz anos que a Júlia não passa o ano novo com a gente. Como tia, t
Entre as três noras, Elisa era a mais habilidosa, e Paula, a mais engraçada nas conversas, mas Camila… ah, ela não agradava de jeito nenhum. Com o tempo, até Gustavo começou a ser tratado com desprezo.Um filho que esqueceu da mãe após casar não tinha utilidade. Como poderia ser comparado ao primogênito, que sempre oferece comida, roupas e ainda se tornou um empresário de sucesso?Júlia se sentou ao lado da mãe. Sabendo que seus avós não gostavam dela, ela já havia desistido de tentar agradá-los.O plano era simples: comer em silêncio e ir embora logo após a refeição.Elisa comentou, após colocar a bandeja de frutas sobre a mesa:— Júlia, essa sua bolsa… que bonita! É de marca, né?Imediatamente, todos os olhares se voltaram para Júlia.Antes que ela pudesse responder, Paula se adiantou:— Ah, esse símbolo é da… como chama mesmo? Luis Vuiton, né?Carla interrompe:— Se não sabe, nem precisa falar. Essa bolsa é da Hermès.Paula exclamou, espantada:— O quê? Daquela marca dos seriados? A
Paula soltou uma risada por dentro, e seu olhar caiu sobre a pilha de frutas que Gustavo tinha trazido:— Camila, vocês também compraram cerejas? Essas parecem bem menores que as que a Elisa comprou.Camila deu uma pausa na sua risada, mas respondeu com calma:— Como poderíamos comparar com Elisa?Paula riu alto:— Ah, é verdade! Caio e Elisa, claro, ninguém pode competir.Júlia sorriu levemente, fingindo não dar importância, e disse:— Tia Paula, o que você comprou de frutas?O sorriso de Paula ficou tenso.Sem dar muita atenção, Júlia pegou a sacola que estava ao lado de Paula e deu uma olhada:— Deixa eu ver… tem maçãs, peras, laranjas…Nenhuma fruta cara da estação.Júlia disse com um sorriso:— Você sempre faz ótimas escolhas, tia, essas frutas são daquelas que a gente sempre encontra.Paula ficou desconcertada, mas não conseguiu encontrar falhas nas palavras de Júlia:— É, sim, pensei em trazer algo que todos gostassem…Apesar de sua boa origem, Paula, filha única de funcionários
Natália sorriu e disse:— Claro!— Natália, você é sempre tão generosa!Elisa pegou o presente e colocou de lado, pensando em abri-lo depois.No entanto, Natália logo esclareceu:— É uma pulseira de ouro maciço. Se você não gostar do estilo, pode trocar na loja Tesouro Real.Paula soltou uma risadinha:— Nossa, Natália! Que presentão, hein? Uma pulseira de ouro logo de cara…Natália ergueu uma sobrancelha com certo orgulho, mas respondeu humildemente: — Elisa já viu de tudo. Isso aqui não é nada.Paula não perdeu tempo e, meio séria, meio em tom de brincadeira, perguntou:— Ah, somos todas suas cunhadas aqui. Elisa ganhou presente, e eu e a Camila? Você já é gerente, lida com grandes clientes o tempo todo, esses pequenos gestos você sabe bem como fazer, não é?Natália não se deixou abater:— Então, Paula, está dizendo que também quer uma pulseira?Paula manteve o tom de brincadeira:— Quem não quer uma pulseira de ouro? E você, Camila?Agora as duas estavam olhando diretamente para Ca
Há anos o escândalo de Júlia Ferreira deu o que falar, tanto que Gustavo e Camila chegaram a viajar para Cidade J, mas voltaram sem dizer uma palavra sobre o ocorrido.Pelos boatos que Paula ouviu, a verdade não devia ser muito diferente: Júlia largou os estudos devido a um relacionamento.Diziam que o namorado dela era bem de vida, provavelmente um homem rico, o que explicava por que ela havia desistido dos estudos para se dedicar ao relacionamento.Gustavo e Camila não esconderam o desconforto, franzindo a testa. Júlia, por outro lado, parecia tranquila:— Não estamos mais juntos.Paula soltou uma risadinha cínica e balançou a cabeça:— Ah, esses ricaços… Aposto que ele só estava brincando com você, Júlia. Gente assim nunca quer nada sério, e você caiu direitinho. Casar com alguém assim é para poucas.Ela fez uma pausa, depois lançou um olhar:— Uma coisa eu te digo, viu? A reputação de uma moça é a mais importante. Ele não deixou nem uma compensação para você?Na TV, aqueles homens