Júlia balançou o esfregão e continuou avançando em direção a Laura.Laura protegeu a cabeça e saiu correndo, já na porta, ainda gritou:— Isso não vai ficar assim! Ela apontou para a casa de Júlia:— Essas suas malditas flores, aquelas trepadeiras horríveis que invadem meu quintal! Amanhã eu vou queimá-las todas! Não quero mais olhar para elas!Dizendo isso, ela correu porta afora, já que Júlia, com esfregão em punho, ia atrás dela.Júlia abaixou o esfregão e suspirou aliviada, mas ao se virar, viu a expressão pesada no rosto de Gustavo. Seu coração deu um salto.Depois de alguns segundos, ela falou baixinho:— Pai… desculpa, eu…— Quem te ensinou a fazer isso?— O quê?— Isso aí… esse ato de balançar a vassoura…Ele imitou o gesto que ela havia feito.Júlia ficou sem palavras.Gustavo tossiu:— Uma moça deve ser mais tranquila, comportada. Não pode agir como uma barraqueira.Júlia se aproximou, abraçando-o pelo braço:— Pai, fala a verdade… não é bom descarregar a raiva?Ele responde
A fala é de Paula Batista, a segunda tia de Júlia, trabalhava na Companhia de Energia. Ela era funcionária pública, sem muito estresse no dia a dia; por isso, estava mais relaxada e com alguns quilos a mais.Hoje, ela estava usando um suéter verde brilhante, com o cabelo curto enrolado em cachos volumosos, parecendo uma árvore de Natal robusta.— O que é isso? Não sabe falar? — Henrique Ferreira, o segundo tio, deu um puxão em sua esposa.Ao contrário da aparência mais ‘cheia’ de Paula, Henrique era alto e magro, vestia um suéter bege com calça social, e seu cabelo estava penteado para trás com gel, brilhando.Apesar de estar na casa dos cinquenta, não havia sinais visíveis da idade em seu rosto, e ele ainda podia ser descrito como charmoso.Os irmãos Ferreira tinham bons genes. Gustavo e seus dois irmãos eram todos bem atraentes.Sendo puxada pelo marido, Paula fez uma careta:— O que foi…? Eu não falei nada de errado. Faz anos que a Júlia não passa o ano novo com a gente. Como tia, t
Entre as três noras, Elisa era a mais habilidosa, e Paula, a mais engraçada nas conversas, mas Camila… ah, ela não agradava de jeito nenhum. Com o tempo, até Gustavo começou a ser tratado com desprezo.Um filho que esqueceu da mãe após casar não tinha utilidade. Como poderia ser comparado ao primogênito, que sempre oferece comida, roupas e ainda se tornou um empresário de sucesso?Júlia se sentou ao lado da mãe. Sabendo que seus avós não gostavam dela, ela já havia desistido de tentar agradá-los.O plano era simples: comer em silêncio e ir embora logo após a refeição.Elisa comentou, após colocar a bandeja de frutas sobre a mesa:— Júlia, essa sua bolsa… que bonita! É de marca, né?Imediatamente, todos os olhares se voltaram para Júlia.Antes que ela pudesse responder, Paula se adiantou:— Ah, esse símbolo é da… como chama mesmo? Luis Vuiton, né?Carla interrompe:— Se não sabe, nem precisa falar. Essa bolsa é da Hermès.Paula exclamou, espantada:— O quê? Daquela marca dos seriados? A
Paula soltou uma risada por dentro, e seu olhar caiu sobre a pilha de frutas que Gustavo tinha trazido:— Camila, vocês também compraram cerejas? Essas parecem bem menores que as que a Elisa comprou.Camila deu uma pausa na sua risada, mas respondeu com calma:— Como poderíamos comparar com Elisa?Paula riu alto:— Ah, é verdade! Caio e Elisa, claro, ninguém pode competir.Júlia sorriu levemente, fingindo não dar importância, e disse:— Tia Paula, o que você comprou de frutas?O sorriso de Paula ficou tenso.Sem dar muita atenção, Júlia pegou a sacola que estava ao lado de Paula e deu uma olhada:— Deixa eu ver… tem maçãs, peras, laranjas…Nenhuma fruta cara da estação.Júlia disse com um sorriso:— Você sempre faz ótimas escolhas, tia, essas frutas são daquelas que a gente sempre encontra.Paula ficou desconcertada, mas não conseguiu encontrar falhas nas palavras de Júlia:— É, sim, pensei em trazer algo que todos gostassem…Apesar de sua boa origem, Paula, filha única de funcionários
Natália sorriu e disse:— Claro!— Natália, você é sempre tão generosa!Elisa pegou o presente e colocou de lado, pensando em abri-lo depois.No entanto, Natália logo esclareceu:— É uma pulseira de ouro maciço. Se você não gostar do estilo, pode trocar na loja Tesouro Real.Paula soltou uma risadinha:— Nossa, Natália! Que presentão, hein? Uma pulseira de ouro logo de cara…Natália ergueu uma sobrancelha com certo orgulho, mas respondeu humildemente: — Elisa já viu de tudo. Isso aqui não é nada.Paula não perdeu tempo e, meio séria, meio em tom de brincadeira, perguntou:— Ah, somos todas suas cunhadas aqui. Elisa ganhou presente, e eu e a Camila? Você já é gerente, lida com grandes clientes o tempo todo, esses pequenos gestos você sabe bem como fazer, não é?Natália não se deixou abater:— Então, Paula, está dizendo que também quer uma pulseira?Paula manteve o tom de brincadeira:— Quem não quer uma pulseira de ouro? E você, Camila?Agora as duas estavam olhando diretamente para Ca
Há anos o escândalo de Júlia Ferreira deu o que falar, tanto que Gustavo e Camila chegaram a viajar para Cidade J, mas voltaram sem dizer uma palavra sobre o ocorrido.Pelos boatos que Paula ouviu, a verdade não devia ser muito diferente: Júlia largou os estudos devido a um relacionamento.Diziam que o namorado dela era bem de vida, provavelmente um homem rico, o que explicava por que ela havia desistido dos estudos para se dedicar ao relacionamento.Gustavo e Camila não esconderam o desconforto, franzindo a testa. Júlia, por outro lado, parecia tranquila:— Não estamos mais juntos.Paula soltou uma risadinha cínica e balançou a cabeça:— Ah, esses ricaços… Aposto que ele só estava brincando com você, Júlia. Gente assim nunca quer nada sério, e você caiu direitinho. Casar com alguém assim é para poucas.Ela fez uma pausa, depois lançou um olhar:— Uma coisa eu te digo, viu? A reputação de uma moça é a mais importante. Ele não deixou nem uma compensação para você?Na TV, aqueles homens
A avó olhou para as costas dele e começou a gritar:— Filho ingrato! Você foi levado por aquela vadia e agora tem coragem de me desafiar! Falo uma coisa, você responde com dez, sempre contestando! Vá embora, vá bem longe, e leve aquela filha da vadia também! Nunca mais apareça para me ver!A rebeldia de Camila foi uma afronta direta para a avó, que agora odiava profundamente tanto a nora quanto Gustavo. Como ele pôde se envolver com uma mulher dessas? Aquele ditado estava certo: depois que se casam, os filhos esquecem das mães. Ingratos, todos eles!...No caminho de casa, Gustavo ficou em silêncio. Camila, notando o clima pesado, segurou sua mão com carinho.Gustavo sorriu para ela, tentando mostrar que estava bem.Afinal, já estava acostumado com a preferência da mãe pelos outros filhos. Desentendimentos assim não eram novidades.Antes, ele aguentava o que podia, mas quando se tratava de Júlia, por mais paciente que Gustavo fosse, não podia tolerar aquelas calúnias.Chegando em cas
Camila estava obviamente furiosa:— Além de você, quem mais faria uma coisa tão selvagem?Ela raramente ofendia alguém com palavras.E “selvagem” talvez fosse o termo mais agressivo que ela conseguia encontrar no momento.Porém, para Laura, isso não fazia diferença. Ela colocou as mãos na cintura e soltou uma risada sarcástica:— Selvagem? Você acha que isso é selvagem? Você não viu nada ainda!Camila arregalou os olhos, incrédula:— Então você admite? Foi você quem fez isso?Laura desviou o olhar por um instante e disse:— Cuidado com suas palavras. Admiti o quê? Cadê as provas? Tem alguma evidência? E mesmo que tenha sido eu, e daí? Chamar a polícia para me prender? Olha, a polícia nem abrirá um caso por uma questão tão trivial.Camila estava fora de si de tanta raiva.Gustavo rapidamente se aproximou e se colocou na frente da esposa:— Laura, não exagere! As flores da nossa trepadeira de glicínia não estão te incomodando em nada. Somos vizinhos, não precisa chegar a esse ponto, né?