Nesse momento, era período de férias, então a maioria dos estudantes já estava de recesso, e o campus estava bem vazio.O segurança a notou parada na entrada e a olhou de cima a baixo:— Veio visitar algum professor durante as férias?Apesar das férias, os alunos do terceiro ano ainda tinham aulas, então alguns poucos estavam no colégio.Sem esperar resposta de Júlia, ele fez um gesto com a mão e, com uma leve tosse, disse:— Pode entrar, só tenta fazer pouco barulho para não atrapalhar as aulas.Certas horas, o silêncio era mesmo de ouro.Ela não estava ali para visitar ninguém, então nem foi até os prédios das salas de aula. Em vez disso, deu uma volta no pátio e, enquanto se preparava para ir embora, passou pela vitrine de honra da escola.E então, lá estava sua foto.Logo abaixo, uma legenda simples:Júlia Ferreira. Melhor aluna em Ciências no ENEM de 20xx da Cidade K. Aprovada no curso de Biologia da Universidade B.O vento começou a soprar mais forte, fazendo seus olhos arderem.
Gustavo já estava com o rosto completamente fechado:— Professora Renata, minha filha Júlia é uma menina ótima. Essas coisas que você falou, não importa de onde vieram, por favor, pare de comentar sobre isso no futuro! É tudo mentira! Eu até diria que é calúnia. Esse tipo de atitude não é de professor.Após dizer isso, Gustavo saiu a passos largos, com uma postura que transbordava indignação.Renata revirou os olhos:— Fez o que fez e não quer que as pessoas comentem? Ainda tem a audácia de dizer que ela é uma boa menina? Que piada! Estragando o ambiente da escola, sem a menor vergonha…Ela se lembrou de como Gustavo costumava ser presunçoso.Ele tinha uma filha que era a primeira em todas as disciplinas, acumulava prêmios em competições, era famosa não só no classe, mas em toda a escola.Em toda reunião, Gustavo fazia questão de mencionar Júlia, e seu sorriso de orgulho era inconfundível.Mas e agora?Entrou na Universidade B, e daí?No fim, não passou de um brinquedo para algum rico.
— Olha só! É a própria Júlia! Quando te vi no portão, achei que estava me confundindo!Laura Ramos, a vizinha fofoqueira e barulhenta, correu para se aproximar. O marido também dava aula na mesma escola que o pai de Júlia, e se mudaram para o mesmo bairro.Assim que viu Júlia, Laura a olhou dos pés a cabeça, sem deixar nada escapar:— Meu Deus! Como dizem, viver na cidade grande faz bem, né? Menina, você está ótima!Júlia ficou em silêncio.Ela continuou:— Olha só essa roupa, esse corpo, e esses sapatos… toda na moda!Laura então se aproximou mais e, com um sorriso malicioso, falou mais baixo:— Ouvi dizer que você tá se dando bem lá em Cidade J, com boas conexões… será que você não consegue apresentar um bom partido para minha filha?Júlia ficou confusa, perguntou:— Apresentar o quê?— Ah, sabe… um homem rico, tipo um bom partido. Minha filha é linda, tem um corpão, e ainda por cima tem só 22 anos!O rosto de Júlia ficou sério, e ela deu um passo para trás:— Sra. Laura, acho que vo
Júlia balançou o esfregão e continuou avançando em direção a Laura.Laura protegeu a cabeça e saiu correndo, já na porta, ainda gritou:— Isso não vai ficar assim! Ela apontou para a casa de Júlia:— Essas suas malditas flores, aquelas trepadeiras horríveis que invadem meu quintal! Amanhã eu vou queimá-las todas! Não quero mais olhar para elas!Dizendo isso, ela correu porta afora, já que Júlia, com esfregão em punho, ia atrás dela.Júlia abaixou o esfregão e suspirou aliviada, mas ao se virar, viu a expressão pesada no rosto de Gustavo. Seu coração deu um salto.Depois de alguns segundos, ela falou baixinho:— Pai… desculpa, eu…— Quem te ensinou a fazer isso?— O quê?— Isso aí… esse ato de balançar a vassoura…Ele imitou o gesto que ela havia feito.Júlia ficou sem palavras.Gustavo tossiu:— Uma moça deve ser mais tranquila, comportada. Não pode agir como uma barraqueira.Júlia se aproximou, abraçando-o pelo braço:— Pai, fala a verdade… não é bom descarregar a raiva?Ele responde
A fala é de Paula Batista, a segunda tia de Júlia, trabalhava na Companhia de Energia. Ela era funcionária pública, sem muito estresse no dia a dia; por isso, estava mais relaxada e com alguns quilos a mais.Hoje, ela estava usando um suéter verde brilhante, com o cabelo curto enrolado em cachos volumosos, parecendo uma árvore de Natal robusta.— O que é isso? Não sabe falar? — Henrique Ferreira, o segundo tio, deu um puxão em sua esposa.Ao contrário da aparência mais ‘cheia’ de Paula, Henrique era alto e magro, vestia um suéter bege com calça social, e seu cabelo estava penteado para trás com gel, brilhando.Apesar de estar na casa dos cinquenta, não havia sinais visíveis da idade em seu rosto, e ele ainda podia ser descrito como charmoso.Os irmãos Ferreira tinham bons genes. Gustavo e seus dois irmãos eram todos bem atraentes.Sendo puxada pelo marido, Paula fez uma careta:— O que foi…? Eu não falei nada de errado. Faz anos que a Júlia não passa o ano novo com a gente. Como tia, t
Entre as três noras, Elisa era a mais habilidosa, e Paula, a mais engraçada nas conversas, mas Camila… ah, ela não agradava de jeito nenhum. Com o tempo, até Gustavo começou a ser tratado com desprezo.Um filho que esqueceu da mãe após casar não tinha utilidade. Como poderia ser comparado ao primogênito, que sempre oferece comida, roupas e ainda se tornou um empresário de sucesso?Júlia se sentou ao lado da mãe. Sabendo que seus avós não gostavam dela, ela já havia desistido de tentar agradá-los.O plano era simples: comer em silêncio e ir embora logo após a refeição.Elisa comentou, após colocar a bandeja de frutas sobre a mesa:— Júlia, essa sua bolsa… que bonita! É de marca, né?Imediatamente, todos os olhares se voltaram para Júlia.Antes que ela pudesse responder, Paula se adiantou:— Ah, esse símbolo é da… como chama mesmo? Luis Vuiton, né?Carla interrompe:— Se não sabe, nem precisa falar. Essa bolsa é da Hermès.Paula exclamou, espantada:— O quê? Daquela marca dos seriados? A
Paula soltou uma risada por dentro, e seu olhar caiu sobre a pilha de frutas que Gustavo tinha trazido:— Camila, vocês também compraram cerejas? Essas parecem bem menores que as que a Elisa comprou.Camila deu uma pausa na sua risada, mas respondeu com calma:— Como poderíamos comparar com Elisa?Paula riu alto:— Ah, é verdade! Caio e Elisa, claro, ninguém pode competir.Júlia sorriu levemente, fingindo não dar importância, e disse:— Tia Paula, o que você comprou de frutas?O sorriso de Paula ficou tenso.Sem dar muita atenção, Júlia pegou a sacola que estava ao lado de Paula e deu uma olhada:— Deixa eu ver… tem maçãs, peras, laranjas…Nenhuma fruta cara da estação.Júlia disse com um sorriso:— Você sempre faz ótimas escolhas, tia, essas frutas são daquelas que a gente sempre encontra.Paula ficou desconcertada, mas não conseguiu encontrar falhas nas palavras de Júlia:— É, sim, pensei em trazer algo que todos gostassem…Apesar de sua boa origem, Paula, filha única de funcionários
Natália sorriu e disse:— Claro!— Natália, você é sempre tão generosa!Elisa pegou o presente e colocou de lado, pensando em abri-lo depois.No entanto, Natália logo esclareceu:— É uma pulseira de ouro maciço. Se você não gostar do estilo, pode trocar na loja Tesouro Real.Paula soltou uma risadinha:— Nossa, Natália! Que presentão, hein? Uma pulseira de ouro logo de cara…Natália ergueu uma sobrancelha com certo orgulho, mas respondeu humildemente: — Elisa já viu de tudo. Isso aqui não é nada.Paula não perdeu tempo e, meio séria, meio em tom de brincadeira, perguntou:— Ah, somos todas suas cunhadas aqui. Elisa ganhou presente, e eu e a Camila? Você já é gerente, lida com grandes clientes o tempo todo, esses pequenos gestos você sabe bem como fazer, não é?Natália não se deixou abater:— Então, Paula, está dizendo que também quer uma pulseira?Paula manteve o tom de brincadeira:— Quem não quer uma pulseira de ouro? E você, Camila?Agora as duas estavam olhando diretamente para Ca