Júlia esboçou um leve sorriso:— Tudo bem, não precisa evitar o assunto.Mesmo dizendo isso, o ambiente ainda caiu em um silêncio constrangedor.De repente, o som de fundo do lado de Patrícia ficou mais barulhento:— Jú, vou ter que desligar, o jantar de família vai começar, minha mãe já está me procurando.— Claro.Após desligar, Júlia se preparava para guardar o celular, quando várias mensagens chegaram pelo WhatsApp.Era Lucas Santos.Ele havia enviado documentos sobre um processo internacional, com os recibos e um resumo do progresso atual. Também tinha alguns arquivos que precisavam da assinatura dela.Processos internacionais eram sempre mais complicados e demorados do que os nacionais, e ela estava surpresa com o andamento rápido.Júlia baixou os documentos e os assinou online antes de reenviar para Lucas.A resposta chegou quase que imediatamente, com uma mensagem em tom de brincadeira:[Confia mesmo assim em mim? E se eu te vendesse?]Júlia respondeu simplesmente:[Você não fa
Do outro lado da linha, uma voz feminina suave, cheia de gentileza, também desejava boas festas.José não pôde evitar imaginar Júlia segurando o celular, sorrindo ao lhe desejar.Fogos de artifício explodiam no céu, iluminando seu rosto sorridente.Ela deveria estar linda.…No dia seguinte, Júlia teve o privilégio de dormir até as 11h.O sol já havia subido, e a luz atravessava as cortinas, iluminando suavemente o quarto. Ela abriu os olhos, ainda sonolenta, e viu a sombra das árvores balançando do lado de fora, projetando formas irregulares na cortina.Será que o tempo estava bom?Ela se levantou, bocejando, e abriu as cortinas de uma vez só.O sol brilhava sobre a colina coberta de verde ao longe, cegando seus olhos por um momento.No quintal, Gustavo e Camila estavam sentados, aproveitando o calor do sol enquanto liam.Com sua audição aguçada, Gustavo percebeu o som da janela sendo aberta e sabia que Júlia já estava acordada. Sendo professor e muito disciplinado com o tempo, ele se
Nesse momento, era período de férias, então a maioria dos estudantes já estava de recesso, e o campus estava bem vazio.O segurança a notou parada na entrada e a olhou de cima a baixo:— Veio visitar algum professor durante as férias?Apesar das férias, os alunos do terceiro ano ainda tinham aulas, então alguns poucos estavam no colégio.Sem esperar resposta de Júlia, ele fez um gesto com a mão e, com uma leve tosse, disse:— Pode entrar, só tenta fazer pouco barulho para não atrapalhar as aulas.Certas horas, o silêncio era mesmo de ouro.Ela não estava ali para visitar ninguém, então nem foi até os prédios das salas de aula. Em vez disso, deu uma volta no pátio e, enquanto se preparava para ir embora, passou pela vitrine de honra da escola.E então, lá estava sua foto.Logo abaixo, uma legenda simples:Júlia Ferreira. Melhor aluna em Ciências no ENEM de 20xx da Cidade K. Aprovada no curso de Biologia da Universidade B.O vento começou a soprar mais forte, fazendo seus olhos arderem.
Gustavo já estava com o rosto completamente fechado:— Professora Renata, minha filha Júlia é uma menina ótima. Essas coisas que você falou, não importa de onde vieram, por favor, pare de comentar sobre isso no futuro! É tudo mentira! Eu até diria que é calúnia. Esse tipo de atitude não é de professor.Após dizer isso, Gustavo saiu a passos largos, com uma postura que transbordava indignação.Renata revirou os olhos:— Fez o que fez e não quer que as pessoas comentem? Ainda tem a audácia de dizer que ela é uma boa menina? Que piada! Estragando o ambiente da escola, sem a menor vergonha…Ela se lembrou de como Gustavo costumava ser presunçoso.Ele tinha uma filha que era a primeira em todas as disciplinas, acumulava prêmios em competições, era famosa não só no classe, mas em toda a escola.Em toda reunião, Gustavo fazia questão de mencionar Júlia, e seu sorriso de orgulho era inconfundível.Mas e agora?Entrou na Universidade B, e daí?No fim, não passou de um brinquedo para algum rico.
— Olha só! É a própria Júlia! Quando te vi no portão, achei que estava me confundindo!Laura Ramos, a vizinha fofoqueira e barulhenta, correu para se aproximar. O marido também dava aula na mesma escola que o pai de Júlia, e se mudaram para o mesmo bairro.Assim que viu Júlia, Laura a olhou dos pés a cabeça, sem deixar nada escapar:— Meu Deus! Como dizem, viver na cidade grande faz bem, né? Menina, você está ótima!Júlia ficou em silêncio.Ela continuou:— Olha só essa roupa, esse corpo, e esses sapatos… toda na moda!Laura então se aproximou mais e, com um sorriso malicioso, falou mais baixo:— Ouvi dizer que você tá se dando bem lá em Cidade J, com boas conexões… será que você não consegue apresentar um bom partido para minha filha?Júlia ficou confusa, perguntou:— Apresentar o quê?— Ah, sabe… um homem rico, tipo um bom partido. Minha filha é linda, tem um corpão, e ainda por cima tem só 22 anos!O rosto de Júlia ficou sério, e ela deu um passo para trás:— Sra. Laura, acho que vo
Júlia balançou o esfregão e continuou avançando em direção a Laura.Laura protegeu a cabeça e saiu correndo, já na porta, ainda gritou:— Isso não vai ficar assim! Ela apontou para a casa de Júlia:— Essas suas malditas flores, aquelas trepadeiras horríveis que invadem meu quintal! Amanhã eu vou queimá-las todas! Não quero mais olhar para elas!Dizendo isso, ela correu porta afora, já que Júlia, com esfregão em punho, ia atrás dela.Júlia abaixou o esfregão e suspirou aliviada, mas ao se virar, viu a expressão pesada no rosto de Gustavo. Seu coração deu um salto.Depois de alguns segundos, ela falou baixinho:— Pai… desculpa, eu…— Quem te ensinou a fazer isso?— O quê?— Isso aí… esse ato de balançar a vassoura…Ele imitou o gesto que ela havia feito.Júlia ficou sem palavras.Gustavo tossiu:— Uma moça deve ser mais tranquila, comportada. Não pode agir como uma barraqueira.Júlia se aproximou, abraçando-o pelo braço:— Pai, fala a verdade… não é bom descarregar a raiva?Ele responde
A fala é de Paula Batista, a segunda tia de Júlia, trabalhava na Companhia de Energia. Ela era funcionária pública, sem muito estresse no dia a dia; por isso, estava mais relaxada e com alguns quilos a mais.Hoje, ela estava usando um suéter verde brilhante, com o cabelo curto enrolado em cachos volumosos, parecendo uma árvore de Natal robusta.— O que é isso? Não sabe falar? — Henrique Ferreira, o segundo tio, deu um puxão em sua esposa.Ao contrário da aparência mais ‘cheia’ de Paula, Henrique era alto e magro, vestia um suéter bege com calça social, e seu cabelo estava penteado para trás com gel, brilhando.Apesar de estar na casa dos cinquenta, não havia sinais visíveis da idade em seu rosto, e ele ainda podia ser descrito como charmoso.Os irmãos Ferreira tinham bons genes. Gustavo e seus dois irmãos eram todos bem atraentes.Sendo puxada pelo marido, Paula fez uma careta:— O que foi…? Eu não falei nada de errado. Faz anos que a Júlia não passa o ano novo com a gente. Como tia, t
Entre as três noras, Elisa era a mais habilidosa, e Paula, a mais engraçada nas conversas, mas Camila… ah, ela não agradava de jeito nenhum. Com o tempo, até Gustavo começou a ser tratado com desprezo.Um filho que esqueceu da mãe após casar não tinha utilidade. Como poderia ser comparado ao primogênito, que sempre oferece comida, roupas e ainda se tornou um empresário de sucesso?Júlia se sentou ao lado da mãe. Sabendo que seus avós não gostavam dela, ela já havia desistido de tentar agradá-los.O plano era simples: comer em silêncio e ir embora logo após a refeição.Elisa comentou, após colocar a bandeja de frutas sobre a mesa:— Júlia, essa sua bolsa… que bonita! É de marca, né?Imediatamente, todos os olhares se voltaram para Júlia.Antes que ela pudesse responder, Paula se adiantou:— Ah, esse símbolo é da… como chama mesmo? Luis Vuiton, né?Carla interrompe:— Se não sabe, nem precisa falar. Essa bolsa é da Hermès.Paula exclamou, espantada:— O quê? Daquela marca dos seriados? A