A porta do quarto se abriu lentamente, deixando uma luminosidade refletir no chão, e eu senti meu coração acelerando fortemente, quase como se estivesse batendo na minha garganta.
Vi o vulto do corpo dele atravessando a porta com um arrepio percorrendo meu corpo. Observei a silhueta do ombro, o modo como seu corpo se movia lentamente para não causar nenhum ruído e percebi que ele estava tão tenso quanto eu.
Me movi na cama, deixando que percebesse que eu estava acordada, e por um momento ele parou no meio do quarto escuro. Talvez estivesse cogitando dar meia volta e sair, o que me fez apertar os dedos nos lençóis e segurar a respiração, mas depois voltou a andar, e fiquei mais aliviada do que realmente deveria ter ficado.
Senti o colchão se mover quando ele sentou na cama, então finalmente me sentei, deslizando para fora das cobertas.
Sentamos lado a lado, com os pés tocando o chão frio, e escutamos nossas respirações cortando a noite silenciosa. O tempo se prolongou e nenhum de nós tinha coragem para dar um passo adiante, em direção a algo que não poderíamos desfazer.
A mão dele deslizou para a minha. Era grande, forte, com dedos grossos e compridos e a palma áspera. Pareceu engolir minha pequena mão.
- Oi. – sussurrei com a voz entrecortada.
- Oi. – a voz dele era grossa, um pouco rouca e estava nervosa.
Virei o rosto em sua direção, querendo ver algum detalhe do seu rosto, mas estava escuro demais. Eu queria seus olhos, o contorno desenhado de sua boca, mas tudo que consegui foi um vulto indistinto.
Sua mão subiu pelo meu braço, quente e levemente trêmula, como se ele estivesse agitado demais, e eu me virei lentamente em sua direção.
Ele engoliu algumas vezes enquanto sua mão caminhava para o meu pescoço. Fiquei agitada quando seus dedos se encaixaram na minha nuca e abri a boca em um arquejo não planejado.
Isso pareceu estimulá-lo, dar uma onda de coragem que estava faltando. Ele se inclinou na minha direção, buscando meus lábios no escuro, e eu facilitei, indo em direção a ele também. Nossos narizes se chocaram suavemente e depois sua boca encontrou a minha com delicadeza, mais delicadeza do que eu esperaria de um homem como aquele.
Suas mãos seguraram meu rosto, sem que sua boca se afastasse da minha, e aproveitei para tocá-lo.
Passei a mão pelos seus braços fortes, pelos ombros e depois desci pelo peito. O corpo dele era forte, quente e exalava um cheiro de banho com uma pitada de suor recente. Ele estava suando naquele momento, mesmo que o tempo estivesse frio, talvez pela ansiedade e tensão.
Me aproximei mais, deixando que nossos corpos se tocassem, e isso pareceu deixá-lo ainda mais agitado. Sua mão desceu repentinamente para minha cintura, com uma pressão leve, mas firme.
Hesitamos, afastando nossos rostos por milímetros. Nossos lábios continuavam se tocando ocasionalmente conforme respirávamos, e a mão dele estava começando a juntar uma pequena porção de suor na minha pele que esquentava gradualmente.
Ele respirou fundo uma vez, talvez buscando controle de suas emoções ou juntando coragem para seguir adiante com aquilo. Eu apenas esperei, decidida a não me afastar fossem quais fossem as consequências.
Emmanuele Joguei minhas coisas dentro da mala com toda a força, empurrando o bolo disforme de roupas sem nenhum cuidado até que fosse possível fechar o zíper. Tinha acontecido outra vez. E tudo que eu pensava era o quanto eu tinha sido burra por acreditar que não aconteceria, por ter acreditado em todas as palavras de perdão e arrependimento, os presentes e a viagem para arejarmos a cabeça e começarmos de novo. Eu estava fazendo o que já deveria ter feito dois anos antes, deixar Rafael. Escutei a porta do andar de baixo batendo, sinal de que ele tinha ch
Emmanuele - Não sei como você ainda não é completamente famosa. – comentei, maravilhada, quando Ester se juntou a mim. Ela riu enquanto puxava a cadeira para se sentar bem ao meu lado, mas parecia brilhar de tanta animação. Havia mais vida na minha irmã quando ela cantava. - O que achou do lugar? – perguntou com um meio sorriso. - É diferente do que estou acostumada. – olhei mais uma vez ao redor. - Eu sei. Bem vinda ao meu mundo.&nbs
Emmanuele - Você não sabe o quanto ficamos gratas por isso, Martim. – eu tinha a vaga sensação de já ter dito aquelas palavras, mas não consegui me controlar. - Está tudo bem, Emanuele. – a voz dele saiu suave, cheia de compreensão. Ester estava abraçada a mim, muito calada, no banco de trás do meu carro. Martim o guiava para a casa de nossos pais, que agora era só de nossa mãe, mas eu não queria pensar desse jeito por enquanto, então lembrei de vários fatos envolvendo nossa família. Lembrei do
Emmanuele - Emanuele? – Ester bateu na porta do banheiro, preocupada. - Só um minuto. – pedi, esperando que as lágrimas parassem de descer. Quando abri a porta, Martim estava atrás de minha irmã, e ambos estavam com olhares apreensivos. - Me desculpem. – pedi com sinceridade – Eu não queria assustar vocês. - Emanuele. – mamãe surgiu atrás dos dois.&nbs
Emmanuele Dois dias depois eu estava dentro do meu carro, voltando para a casa da minha mãe sem nem mesmo avisar, com um pouco de medo do que poderia descobrir. Mas quando estacionei na frente, percebi que eu era esperada. - Sabia que eu vinha? – perguntei depois de a abraçar. - Tinha esperança de que não ficasse com raiva para sempre. - Não foi isso. – neguei com firmeza – Eu só senti como se você estivesse tentando tirar meu pai de mim. - Eu n&ati
Emmanuele Eu não esperava que Guilherme fosse jovem, estava imaginando um idoso relativamente parecido com o advogado que havia encontrado mais cedo, mas ele devia ter mais ou menos a minha idade, era alto, com cabelos castanhos volumosos e olhos tão escuros que pareciam pretos. - Emanuele? – sua voz soou antes que eu pudesse cumprimentar. - Sim. – confirmei me aproximando. - Guilherme. – ele estendeu a mão para mim, e a apertei, observando o quanto era grande perto da minha. Sorri
Emmanuele Guilherme e eu nos evitamos pelos dois dias seguintes, concentrados em vasculhar toda a casa. Eu estava em busca de respostas, e acredito que ele tivesse o mesmo objetivo, mas não combinamos qualquer coisa. Até mesmo começamos a fazer as refeições em horários distintos. Em um acordo não verbal, eu sempre acabava comendo primeiro e quando estava me retirando, ele aprecia, me cumprimentava e essa era nossa única interação. Eu ficava agitada em sua presença, ansiosa, e pela forma que ele sempre evitava me olhar diretamente, Guilherme devia sentir algo parecido. O que estava acontecendo com nós dois? 
Emmanuele A volta para casa foi feita em um silêncio constrangedor. Nenhum de nós conseguia sequer olhar para o outro. Irmãos. Irmãos por parte de pai. Eu nunca havia me sentido tão suja em toda a minha vida. Como eu tinha olhado para o meu próprio irmão daquele jeito? Como eu podia ter me sentido daquela forma? Meu Deus, eu havia beijado o meu próprio irmão. Desci do carro assim que Guilherme parou, e subi as escadas correndo até o quarto onde estava hospedada. Eu não podia passar nem mais um segundo sob o mesmo teto que ele.&