Emmanuele
A volta para casa foi feita em um silêncio constrangedor. Nenhum de nós conseguia sequer olhar para o outro.
Irmãos. Irmãos por parte de pai.
Eu nunca havia me sentido tão suja em toda a minha vida. Como eu tinha olhado para o meu próprio irmão daquele jeito? Como eu podia ter me sentido daquela forma? Meu Deus, eu havia beijado o meu próprio irmão.
Desci do carro assim que Guilherme parou, e subi as escadas correndo até o quarto onde estava hospedada. Eu não podia passar nem mais um segundo sob o mesmo teto que ele.
&
Guilherme Não consegui dormir direito a noite toda e, quando finalmente desisti de ter algum descanso em paz, me levantei e fui até o quarto que Emanuele havia usado aqueles dias. Ainda havia seu cheiro pelas roupas de cama e, embora eu soubesse que era inadequado me sentir assim em relação a minha própria irmã, me acomodei ali até o sol nascer. Era irônico porque eu havia desejado ter irmãos durante uma boa parte da minha vida, e agora tudo que eu mais desejava era que não fosse verdade. Quando desci para o café da manhã, Ana já havia deixado tudo pronto e estava ocupada com outras coisas da casa. Me sentei sozinho, sentin
Guilherme Na prática foi muito mais complicado do que eu esperava. Por mais que as lembranças fossem se tornando mais suaves com a passagem dos dias, não havia um dia em que não surgissem memórias involuntariamente. Eu me pegava pensando o que Emanuele estaria fazendo naquele horário, se ela já estaria dormindo, se também pensava em mim com uma frequência que não deveria. Será que ela se sentia culpada como eu me sentia? Porque decididamente eu não pensava nela como um irmão de verdade, e já estava ciente de que acabaria no inferno no futuro. - Tem certeza de que não quer sair um pouco? – os convites de Jo
Emanuele - Você estava completamente incrível essa noite! – exclamei quando Ester desceu do palco. Ela sorria, radiante, e havia tanta paixão exalando do seu corpo que era impossível não me contagiar. Minha irmã era incrível, talentosa e eu estava muito orgulhosa. - Jura? – perguntou, ofegante, segurando minhas mãos. - Claro que sim! – apertei suas mãos, sorrindo, enquanto a plateia ainda terminava de aplaudir ao nosso redor. Martim subiu no
Emanuele - O que está achando? – Ester me perguntou, rodando na frente do espelho. - Ainda não dá para achar muita coisa. – respondi com sinceridade. O tecido branco, ainda em fases iniciais de se transformar em um vestido, não dava muita margem para imaginação. A costureira estava concentrada, observando cada detalhe e fazendo perguntas para saber exatamente o que Ester desejava. - Vai ficar incrível. – ela comentou sonhadoramente. Quando saímos,
Guilherme Acordei com dor de cabeça no final de semana em que Emanuele pediu para me avisar que estaria usando a fazenda para organizar um casamento. Fiquei olhando para o teto, tentando assimilar que ela estaria se casando em breve. Parte de mim desconfiava de que Emanuele havia mentido sobre não ter ninguém, e eu lutava contra essa ideia. Ela já estava lá há alguns dias, e minha mente ficava imaginando ela andando pela propriedade, o cabelo balançando com o vento e as mãos ocupadas com uma xícara de alguma coisa quente.Mas naquela manhã eu a via nervosa pela cerimônia do dia seguinte, o frio na barriga e a tensão entre os olhos. Talvez estivesse dormindo pouco a noite, pensando em cada detalhe para que o dia fosse completame
Emma - Emma, levante. – minha mãe chamou com duas batidas suaves na porta do meu quarto. Me espreguicei, rolando para ficar de barriga para o alto, e em seguida me sentei na cama. Tinha sido uma das minhas melhores noites de sono, acredito que nem tenha trocado de posição. Levantei para afastar as cortinas e abrir a janela, deixando o sol invadir meu quarto suavemente e revelar um céu tremendamente azul e sem nuvens. Lá embaixo algumas pessoas andavam pela rua e duas idosas varriam o chão na frente de suas casas. Coloquei apenas um roupão por cima da camisola e
Emma O pai de Heitor era muito parecido com ele. Magro e distinto, com olhos verdes e um cabelo quase no mesmo tom, que já estava rareando. Ele pareceu tão animado quanto meus pais com nossa inevitável união. Sorria abertamente, o tempo todo, elogiando as flores de mamãe, a comida de Sally e até mesmo as nossas cortinas velhas. A mãe era mais comedida, embora fosse extremamente gentil. Mostrava uma alegria educada, suave. Seus cabelos loiros estavam presos num coque grosso e firme, e as mãos sempre ficavam cruzadas na frente do corpo. Heitor era quase tão quieto quanto eu, mas também parecia feliz. Como a união comigo, uma completa estra
Emma A capela era simples, sem adornos além dos bancos de madeira, mas meus pais estavam dispostos a colocar flores e algum outro tipo de decoração para o dia do casamento. Os pais de Heitor estavam animados, agora que percebiam que a cerimônia realmente aconteceria ali e seu filho teria o capricho realizado. Eles seguiam meus pais pelo lugar, apontando e discutindo sobre coisas que não me interessavam. Meu futuro marido estava sentado num banco, observando os mais velhos com interesse, e todos me ignoravam completamente. Era como se eu não fosse uma parte realmente importante de tudo aquilo.&