CAPÍTULO 2

Andie sabia que o prédio da ARCADIS – Arquitetura, Construtora e Empreiteira, ficava no centro da cidade, em um dos endereços mais cobiçados pelo mercado imobiliário. 

E segundo sua pesquisa, o empreendimento pertencia a família Donovan, uma das mais tradicionais e influentes do ramo da construção civil. 

O patriarca, o senhor Daniel Donovan, havia sido governador do estado durante alguns anos antes de se dedicar inteiramente aos negócios, que administrara ao lado dos filhos Colin, Jason e Katie, antes de se retirar há alguns anos, deixando o posto de CEO para o filho mais velho. 

Colin Donovan era o arquiteto da família e vencedor de diversos prêmios internacionais por causa de sua criatividade e inovação nos projetos arquitetônicos.

Devido ao seu inegável talento acabou se tornando o arquiteto favorito das celebridades e personalidades políticas. 

Já seu irmão, Jason Donovan, era o engenheiro civil que assinava os projetos de diversos edifícios da cidade e de outros estados, uma verdadeira autoridade quando o assunto era modernidade e sustentabilidade.

Mas, a estrela da família era a caçula, Katie Donovan. 

Discreta em sua vida pessoal, a jovem de apenas vinte e seis anos dedicava boa parte de seu tempo a criação de móveis para interiores, tendo como marca registrada a sustentabilidade e o reaproveitamento de materiais usados, trazendo para a construtora diversos prêmios que colocaram a empresa entre as queridinhas dos ambientalistas. 

Então, quando Andie chegou a ARCADIS foi impossível não ficar de queixo caído ao se deparar com o que estava diante de seus olhos. 

O lugar refletia exatamente tudo o que havia descoberto em sua rápida pesquisa, pois o design arrojado concedia ao ambiente um ar moderno e familiar que encantava à primeira vista. 

Havia painéis em madeira, nichos de trabalho com plantas e cores vibrantes, sem contar que a iluminação do local era praticamente toda natural.

O mobiliário parecia confortável e totalmente adaptado para as necessidades de seus funcionários, evidenciando que a intenção de quem havia projetado o espaço era estimular a criatividade da equipe e dar mobilidade para que qualquer um pudesse transitar sem obstáculos. 

Andie não se importaria de passar mais alguns minutos admirando cada detalhe do lugar, mas tinha uma entrevista de emprego esperando por ela.

Assim, tratou de se identificar na recepção de onde foi encaminhada para o setor de RH e em seguida para uma sala na qual como já era esperado se encontrava um número considerável de candidatos que disputariam aquela vaga com ela. 

Porém, nem mesmo o tamanho da concorrência foi capaz de abalar sua confiança. 

Estava determinada a dar o seu melhor, portanto quando chegou a sua vez procurou ser objetiva em suas respostas, enfatizando que a faculdade não atrapalharia seu trabalho. 

Tal informação pareceu agradar a gerente, uma senhora de meia idade, que lhe sorria ao final de sua entrevista, mesmo que mantivesse uma postura imparcial, não dando nenhum sinal de que Andie seria a sua escolha. 

Segundo a gerente, o cargo de assistente seria para atender as necessidades de um dos sócios sênior que tiraria um ano sabático fora do país e precisaria de uma pessoa de confiança para se ocupar de eventualidades que pudessem surgir durante sua ausência. 

Por essa razão uma das exigências para o cargo era que a pessoa escolhida possuísse formação na área de engenharia ou afins. 

— Andie, seu currículo é muito bom apesar de não ter nada a ver com nossa área de atuação — a gerente parecia lamentar esse detalhe. 

— Sei que não entendo nada de construção civil ou design de interiores, mas estou disposta a aprender. 

— Claro que está — sorriu complacente — sei que pode parecer que a estou dispensando, mas veja bem — retirou os óculos — minha função aqui não é eliminar ninguém e sim separar os melhores candidatos para a vaga e, o que vejo no seu currículo apesar de me agradar bastante está fora do que estamos buscando. Porém, deixarei isso para ser avaliado no devido tempo. Talvez o senhor Donovan abra uma exceção depois de ler sua entrevista e avaliar suas qualificações. 

Aquilo realmente soou maravilhoso para Andie, porque não era exatamente um não, ou seja, ela ainda tinha uma chance de se tornar assistente de um chefe ausente, trabalhando de casa, com horário flexível e salário acima do mercado. 

— Agradecemos que tenha enviado seu currículo e comparecido à entrevista senhorita Sullivan. Assim que finalizarmos essa primeira fase entraremos em contato, independente de qual for o resultado. 

— Muito obrigada! Eu realmente agradeço o seu tempo e ficarei aguardando um retorno. — Devolveu o sorriso e apertou a mão da gerente antes de sair. 

Havia feito tudo o que estava em suas mãos para conseguir a vaga, agora seu destino estava nas mãos de Deus e na boa vontade do tal senhor Donovan. 

Andie deixava a sala da gerente quando algo muito estranho lhe ocorreu arrepiando os pelos de sua nuca. 

De repente ela se sentiu nua, completamente exposta, como se alguém a estivesse observando e pudesse desnudar sua alma, fazendo sua respiração ficar errática e as pernas bambas. 

O mal-estar repentino a fez estacar no lugar e olhar ao redor, mas tudo o que viu foram outros candidatos esperando por sua vez entretidos em seus celulares ou na leitura de algum livro. 

Mas, isso não a ajudou a se livrar da impressão de estar sendo dissecada. 

Totalmente perturbada com a sensação inesperada, olhou novamente ao redor tentando encontrar alguma explicação razoável para tal pressentimento que fazia seu coração acelerar como um louco dentro do peito. 

— Está tudo bem? 

Uma desconhecida perguntou tocando seu ombro. 

— Estou sim, obrigada — tentou disfarçar com um sorriso. 

— Tem certeza? Você está pálida e suando frio. Se quiser pode vir até minha sala e tomar um copo com água — a jovem parecia realmente preocupada. 

— Agradeço sua oferta, mas não será necessário. Estou bem... de verdade. — Desconversou seguindo com passos apressados em direção ao elevador enquanto a sensação incômoda crescia em seu interior. 

Ela jamais havia se sentido daquela maneira antes, a ponto de o coração doer como se dedos o estivessem esmagando. 

O mal-estar foi tão forte que quando entrou na caixa metálica Andie apoiou o corpo contra o espelho fechando os olhos em uma vã tentativa de conter a tontura repentina que se abateu sobre ela. 

Puxou o ar duas vezes antes de voltar a abri-los e fixá-los sobre o painel luminoso.

Algo estava acontecendo além da dor em seu peito, não era coisa de sua cabeça. Sabia disso, porque a cada passo que dava para longe daquele lugar sua mente se rebelava. 

“Isso é ridículo! Estou apenas tendo um ataque de ansiedade isso sim”, pensou, saindo do elevador e caminhando apressadamente pelo hall de entrada.

Porém, quando alcançou a calçada a dor em seu peito foi quase insuportável, a obrigando a levar a mão contra o coração em busca de alívio. 

Sentiu medo de que algo mais sério do que um simples ataque de ansiedade estivesse ocorrendo, fazendo disparar um alarme em sua mente.

Desesperada, fez sinal para o primeiro táxi que apareceu pedindo que o motorista a levasse diretamente até o hospital universitário onde poderia receber atendimento médico. 

Sua aparência devia refletir o quanto se sentia horrível, porque o pobre homem pisou fundo no acelerador temendo que sua passageira enfartasse em seu banco traseiro.

Contudo, assim que ultrapassaram duas quadras a coisa mais bizarra aconteceu.

Da mesma forma que o mal-estar havia surgido, ele simplesmente... desapareceu. 

Isso sim, foi assustador. 

Em um momento estava quase enfartando e segundos depois, como em um passe de mágica, tudo havia desaparecido como se jamais tivesse ocorrido.

Mesmo assim, Andie fez questão de seguir para o hospital — o que não foi de grande ajuda, uma vez que os médicos nada encontraram em seus exames. 

Segundo o plantonista, ela havia sofrido um ataque de ansiedade, nada grave considerando toda a pressão psicológica que estava vivenciando nas últimas semanas. E, só por precaução, o médico acabou receitando um calmante que Andie fez questão de ignorar por não gostar de medicamentos que alterassem sua percepção. 

Quando retornou para casa estava exausta de todo aquele embrolho.

E, por mais que seus exames estivessem ótimos ficaria de olho caso voltasse a sentir aquela dor novamente. Não podia se dar ao azar de adoecer, não agora que estava prestes a conseguir um novo emprego e resolver sua vida. 

Como não havia mais nada que pudesse ser feito a respeito do seu futuro, passou o restante do dia debruçada sobre os livros e trabalhos acadêmicos, antes de convidar Brenda para comerem uma pizza em seu estúdio. 

Brenda Schneider, era uma colega de classe que morava no andar de cima e adorava aproveitar a vida como se não houvesse amanhã.

Por isso, quando a amiga bateu à sua porta carregando duas caixas de pizzas e oito latinhas de cerveja, sabia que se dependesse de Brenda amanheceria de ressaca. 

— Então, como foi a entrevista? — A amiga perguntou de boca cheia. 

— Olha, sei que pode parecer loucura da minha cabeça até porque não preencho todos os requisitos exigidos para a função, mas sinto que essa vaga é minha — respondeu pegando mais um pedaço de pizza. 

— É isso aí amiga — incentivou — pensamento positivo sempre e se não der certo, podemos tentar outra coisa. 

— Preciso desse emprego, Brenda. Caso contrário terei que abandonar meu curso de enfermagem — lamentou-se. 

— Levanta essa cabeça, mulher! Ninguém vai abandonar nada aqui. Já falei que se precisar você pode vir morar comigo até conseguir um emprego. 

— Sei disso, mas ainda tenho o crédito estudantil e não posso ficar eternamente vivendo de favores. 

— É para isso que existem os amigos, para se apoiarem nos momentos difíceis. Não vejo problema em tê-la comigo até as coisas melhorarem para você — enfiou o restante da pizza na boca fazendo uma careta engraçada. 

— Sei disso e agradeço, mas vamos ver como vai ficar tudo. Sinto que terei uma resposta positiva, preciso acreditar nisso. 

— E você terá. No que depender dos meus pensamentos positivos você já é a nova assistente pessoal de... quem é mesmo a pessoa para quem terá que trabalhar de faz tudo? 

— Não é faz tudo, sua louca — revirou os olhos — ainda não sei exatamente para quem, mas isso não importa. Eu só preciso do emprego. 

As duas ainda conversaram por várias horas antes de se despedirem prometendo se encontrarem na faculdade no dia seguinte. 

Somente então, Andie tomou um longo banho e depois se encolheu debaixo das cobertas ainda pensando em tudo o que havia lhe ocorrido naquele dia estranho.

Não quis comentar nada com Brenda porque sabia que isso seria o bastante para a amiga querer arrastá-la de vez para seu apartamento. 

Gostava de Brenda, mas dividir o mesmo teto seria como conviver com a Arlequina de TPM e isso estava fora de seus limites, porque Andie adorava paz e sossego. 

Esse era um traço tão marcante de sua personalidade que quem a conhecia bem sabia que preferia ficar em casa na companhia de um bom livro ao invés de passar todo o fim de semana em meio a festas de fraternidades. 

O silêncio para ela era como um lugar... um lugar no qual conseguia se conectar consigo e evoluir. 

Naquela noite em especial, optara por deixar as cortinas abertas para que pudesse admirar a lua cheia, enquanto pensava em sua vida. 

Assim como a maioria das pessoas, Andie gostava quando a lua estava em seu máximo esplendor, porque mesmo não acreditando em príncipes encantados esperava um dia poder encontrar um amor que a levasse para um passeio ao luar enquanto compartilhassem do silêncio acolhedor. 

Claro que para ela, isso não passava de uma hipótese distante, mas o destino parecia ter outros planos para a jovem estudante.

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