CAPÍTULO 9

Não se pode fugir do destino, assim como não se pode negar o amor.” (DESCONHECIDO) 

Andie sentia-se esgotada, como se estivesse caminhando sobre uma corda bamba, onde um passo em falso significaria o fim de seus sonhos. Ela sabia que seu tempo estava acabando e que logo teria que tomar uma decisão definitiva quanto a continuar cursando a faculdade ou voltar para o interior. 

Se não conseguisse um emprego rapidamente não teria dinheiro nem para o supermercado da semana, avaliou olhando sua dispensa praticamente vazia. Isso só serviu para aumentar a angústia em seu peito e fazer sua cabeça latejar diante de sua incapacidade. 

Para completar seu quadro depressivo, desde sua entrevista na ARCADIS ela estava dormindo mal, sonhando com coisas estranhas e acordando no meio da noite com o coração a ponto de sair pela boca, como acabara de acontecer.

A princípio Andie acreditou que o estresse e as preocupações estavam afetando o seu sono e por isso recorreu ao calmante que o médico havia receitado. Mas, mesmo assim, ela não conseguia dormir uma noite inteira. 

Andava tão cansada que passara a cochilar entre uma aula e outra, a ponto de deixar Brenda preocupada com seu estado de saúde.

Por isso, não quis comentar com a amiga que o motivo de sua fadiga eram os inquietantes sonhos que se repetiam todas as vezes que fechava os olhos. Outra coisa inédita em se tratando de Andie, porque raramente se recordava de seus sonhos quando despertava.  

Porém, estes eram diferentes não apenas por se repetirem como também por deixá-la perturbada sempre que despertava. 

O sonho sempre se iniciava com o som de um uivo longo e forte de um lobo, algo tão poderoso que provocava arrepios nos pelos de sua nuca, mas não de medo... era algo mais semelhante a uma urgência interior.

Era como se ela soubesse que o animal a estava chamando, ordenando que o encontrasse no ponto mais alto da montanha antes que o sol despontasse no horizonte.

Andie se sentia tão compelida por seu chamado que começava a correr por entre as árvores da densa floresta repleta de obstáculos que feriam seus pés descalços, mas ela ignorava a dor porque sentia que a vida do animal dependia de sua presença.

Então, Andie corria, corria e corria montanha acima.

Saltando troncos e atravessando pequenas poças d’água sempre com os olhos fixos na lua cheia que apontava o caminho em direção ao animal. E, quando ela finalmente alcançava o topo da colina parava diante de uma clareira imersa em uma bruma pálida que a impedia de encontrar o animal.

Então, sentia seu coração lacerado por ter chegado tarde demais e começava a chorar angustiada e, era nesse momento... quando estava prostrada no meio da clareira que a silhueta de um homem surgia a poucos passos de si.

Ele era alto, forte e exalava um perfume semelhante aos pinheiros das montanhas de Quebec, tão intenso que Andie sentia o corpo estremecer e seu estômago contrair com sua presença.

Durante um bom tempo o estranho permanecia imóvel e ela crispava os olhos tentando ver seu rosto, mas tudo o que conseguia enxergar era o dourado de seus olhos brilhando em sua direção antes de ele chamá-la de ... companheira!  

Infelizmente, Andie não conseguia responder ao seu chamado, pois sempre que ia fazê-lo acordava com o corpo febril, a respiração afobada e o coração apertado de saudade. Isso era tão ridículo. 

Por essa razão, morria de vergonha de compartilhar com Brenda que estava andando feito um zumbi porque passava as noites sonhando com um desconhecido de olhos dourados que mexia com suas emoções. Certamente, a amiga lhe passaria um sermão e diria que sua vida antissocial estava provocando esse tipo de sonhos. Depois a forçaria a sair com estranhos na vã tentativa de trazer alguma agitação para sua vida monótona. 

O que Brenda não entendia era que se Andie não tinha um namorado era por pura falta de opção. Todos os carinhas com quem havia aceitado sair para tomar um chopp não lhe despertaram nenhum interesse que valesse a pena um segundo encontro. 

Distraída em seus pensamentos acabou se assustando quando o celular tocou sobre a mesa da cozinha. Ao atender quase chorou de felicidade ao descobrir que havia sido selecionada para a segunda fase do processo seletivo, devendo comparecer à ARCADIS logo após o horário do almoço. 

Ao conferir as horas percebeu que se quisesse chegar a tempo de disputar a vaga precisaria correr, pois dessa vez não poderia se dar ao luxo de pegar um táxi, teria que pegar o metrô que naquele horário, certamente, estaria lotado de passageiros. 

Escolheu um vestido verde simples, porém com um caimento leve que chegava à altura dos joelhos e que ficaria perfeito com seus escarpins vermelho. Amarrou os cabelos em um rabo de cavalo, passou rímel nos olhos e um batom carmim nos lábios, fazendo uma rápida inspeção quando terminou, constatando que sua imagem era sóbria, porém elegante. 

Quem a visse naquele momento jamais imaginaria que se tratava de uma simples estudante de enfermagem em busca de um emprego. Ela mais parecia uma secretária executiva de uma grande empresa. 

Sem perder tempo deixou o pequeno estúdio e correu para a estação, que como previsto começava a lotar. Mas, nem mesmo todo esse inconveniente foi capaz de abalar seu entusiasmo, creditando sua animação a possibilidade de conseguir um emprego que garantiria sua permanência na faculdade. 

Ao chegar à ARCADIS recebeu o crachá de visitante e caminhou apressadamente para os elevadores enquanto tentava acalmar seu coração que batia feito um bumbo em seus ouvidos, obrigando-a a puxar o ar diversas vezes para baixar um pouco a ansiedade. 

Ciente de que se encontrava em desvantagem em relação aos outros candidatos que tentariam a vaga para assistente, fez uma prece pedindo que Deus a abençoasse e que por um milagre conseguisse o emprego, ou quem sabe uma outra ocupação por ali mesmo na empresa. Do jeito que sua vida estava indo, Andie seria capaz de aceitar até o serviço como copeira. 

Precisava daquele emprego... na verdade, ela precisava de qualquer emprego que resolvesse seus problemas. 

— Boa tarde, tenho uma entrevista para a vaga de assistente pessoal — se dirigiu a secretária da gerente do RH. 

— Boa tarde! Deve ser a senhorita Sullivan, não? — Perguntou a secretária com polidez. 

— Sim, sou Andie Sullivan. Recebi uma ligação esta manhã informando que fui selecionada para a segunda fase do processo seletivo. 

— Recebi ordens para levá-la até a sala de reuniões. O senhor Donovan a está aguardando. Por favor, siga-me. 

Saber que seria recebida por um dos sócios a deixou inquieta, mas disfarçou seu nervosismo acompanhando a jovem que abria caminho em meio a diversas pilhas de trabalho, enquanto olhava ao redor em busca de outros candidatos. O que foi estranho, porque não encontrou com mais ninguém pelo caminho. 

À medida que foram se aproximando de uma grande parede de vidro temperado, Andie sentiu a ansiedade crescer dentro do peito e o coração disparar como um louco, fazendo brotar uma fina camada de suor nas palmas de suas mãos.  

Agora não, por favor”, suplicou em pensamento. Se começasse a passar mal naquele momento poderia dar adeus as suas chances de conseguir o emprego, porque ninguém em sã consciência contrataria uma pessoa doente como assistente pessoal. Precisava de um tempo para se recompor, mas antes que pudesse pedir que a jovem lhe mostrasse onde ficava o banheiro, a porta a sua frente foi aberta e Andie estremeceu sob o jugo da sensação de reconhecimento que sentiu ao se ver diante da silhueta de um homem em pé de frente para a janela com vista para os arranha-céus da cidade.  

De repente, a garganta fechou entorno da emoção e cada célula de seu corpo vibrou fazendo uma lágrima brotar sem que Andie a impedisse... o tempo parou ao seu redor e toda a sua vida foi reiniciada a partir daquele instante. 

Quando o estranho se virou em sua direção e a fitou com suas irises claras, uma lágrima involuntária escorreu por sua bochecha disparando novamente o cronometro da vida, enquanto se sentia sugada para dentro daquele olhar. 

Então... a magia os envolveu. 

Um encontro raro. 

Uma dádiva concedida a poucos humanos. 

Um elo inquebrável que uniria seus caminhos de agora em diante. 

Uma força maior que a razão que os faria cativos do sentimento mais poderoso... o amor entre companheiros. 

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