“Nos encontramos por causalidade e nos atraímos por natureza.” (MOYA)
Tudo o que Colin Donovan desejava era um maldito ano sabático longe de toda a pressão cotidiana que sua vida profissional colocava sobre seus ombros.
Quem convivia ao seu lado sabia que a cada dia que passava seu autocontrole estava por um fio. Era nítido que mais cedo ou mais tarde as coisas sairiam dos trilhos e, se isso acontecesse, sua família seria arrastada para o maior e mais inacreditável escândalo de todos os tempos.
Porém, seus irmãos estavam relutantes em assumirem tantas responsabilidades.
Certamente o medo de ficarem sem o irmão mais velho os deixava inseguros. Por outro lado, Colin jamais tomaria tal atitude se não confiasse plenamente que seriam capazes de tocar os negócios em sua ausência.
Um dia seus irmãos compreenderiam que a necessidade daquele distanciamento era a única forma de satisfazer sua natureza primitiva sem que ele representasse um perigo para todos ao seu redor.
Enquanto isso a ARCADIS estaria em boas mãos. Eles sobreviveriam aquele ano sem ele.
O problema agora seria administrar o assédio da mídia e os clientes narcisistas que gostavam de exigir sua presença constante em cada fase dos projetos, mesmo que isso não fosse necessário.
Foi pensando nisso que tomou a decisão de contratar um assistente pessoal para lidar com esses pequenos entraves enquanto ele colocaria a mente e o corpo em ordem novamente.
Os últimos anos haviam exigido tudo de si, uma dedicação que o obrigou a negligenciar suas próprias necessidades para colocar a família em uma situação confortável depois que seus pais decidiram que era hora de deixarem os negócios sob sua responsabilidade.
Na época, Colin acreditou que estivesse pronto para o desafio, mas logo descobriu o quanto estava enganado. Todos os anos de estudo e especializações não foram suficientes para prepará-lo para a crueldade capitalista do mercado imobiliário.
Os primeiros anos à frente da ARCADIS foram turbulentos e de grandes perdas. Precisou realizar cortes na folha de pagamento, perdeu projetos importantes e enfrentou a descredibilidade no mercado. Porém, em nenhum momento desistiu.
Seus pais foram os seus maiores incentivadores e acreditaram em seu potencial, sem jamais duvidarem de suas decisões.
Foi difícil, mas com o tempo, Colin transformou a ARCADIS na maior e melhor empresa de construção civil do país.
Sua forma arrojada de administração determinou seu papel no mundo dos negócios. Atualmente era respeitado por seus concorrentes da mesma forma que os respeitava também, o que o ajudou a chegar no topo entre os melhores.
Mas agora era hora de dar um tempo. Deixar que outros tomassem seu lugar para que ele pudesse se reencontrar.
Por isso estava correndo com os preparativos, repassando o máximo de detalhes possíveis aos irmãos, bem como finalizando projetos antes de passar o bastão.
As coisas só não estavam mais adiantadas porque durante três dias a cada lua cheia, Colin Donovan precisava se ausentar da empresa alegando trabalho externo.
O que era uma grande mentira, mas isso somente sua família sabia.
Para os funcionários ele era um workaholic[1] que jamais deixaria o trabalho para ficar em casa sem fazer nada. Estavam acostumados com seu ritmo e faziam de tudo para manter a produtividade nos projetos, afinal de contas era um privilégio poder trabalhar ao lado de um arquiteto renomado.
Entretanto, como estavam acostumados com a agenda do patrão, eles estranharam sua presença no escritório naquela manhã, porque habitualmente Colin deveria estar em campo inspecionando o andamento das obras.
O que os funcionários não sabiam era que ele estava ali atendendo a um chamado urgente de sua irmã caçula, mas antes não o tivesse feito, porque isso mudaria completamente os seus planos.
[1] Termo utilizado para determinar uma pessoa que trabalha compulsivamente.
— Juro que estou fazendo um esforço enorme para tentar compreendê-lo, mas está difícil, irmão. Se ausentar por um ano para fazer sabe lá Deus o quê no fim do mundo, não me parece uma decisão que você tomaria. Jason Donovan andava de um lado para o outro do escritório exasperado enquanto tentava convencer Colin a desistir de largar tudo para se isolar no meio do mato. — Já expliquei meus motivos, porém você e Katie parecem ignorar completamente minha situação — passou as mãos sobre o rosto apoiando os cotovelos sobre a mesa de mogno. — Nossa situação, Colin. Nossa! Não se esqueça que logo estaremos no mesmo barco — largou o corpo sobre a cadeira à frente da mesa de seu irmão mais velho. — Esse é o ponto. Você não consegue entender minha necessidade de sumir por um tempo, porque ainda não passou pela transformação, mas quando chegar a sua hora compreenderá o quão difícil é viver com uma besta invadindo sua mente a cada lua cheia. Jason o encarou como se realmente estivesse disposto
“Opte por aquilo que faz o seu coração vibrar... apesar de todas as consequências.” (OSHO) Não, não pode ser... isso é impossível. Mas esse cheiro é... ela. Colin se debatia entre tais pensamentos de incredulidade, enquanto seus olhos permaneciam fixos sobre a jovem a poucos metros de distância, como se uma parte de seu cérebro se recusasse a acreditar que finalmente sua espera havia acabado. Protegido por uma parede de vidro temperado ele se mantinha oculto dos olhos aflitos que vagueavam perdidos pela sala de espera, como se o buscassem com a mesma urgência que ele ansiava por tomá-la entre seus braços. Sua companheira era perfeita. Muito mais linda e delicada do que havia desejado. Olhar para ela era como assistir ao alvorecer, quando os primeiros raios de sol incidem sobre o orvalho da madrugada incitando toda a natureza ao redor a se erguer para saudá-lo, exalando os mais variados aromas, enquanto pássaros de todas as espécies entoam seus cantos sem parar sobre as copas das
Após o episódio no escritório, os irmãos de Colin relutaram em deixá-lo em paz até que foram expulsos de sua casa. — Sério que vai fingir que nada aconteceu esta manhã? — Sua irmã colocou as mãos nos quadris pronta para o embate. — Katie tem razão! Se tem certeza de que encontrou sua companheira deveria estar indo atrás dela nesse momento, antes que seja tarde demais — Jason reforçou. — Mas, é exatamente isso que estou tentando dizer, Jason ele não fez nada para reivindicá-la — disse Katie exasperada. — Fale conosco, Colin — pediu seu irmão. — Em outro momento — foi tudo o que disse antes de pegar sua pasta e caminhar para seu quarto ainda sob os protestos dos dois. — Colin! — Katie o chamou. — Agora não, pestinha — a cortou sem olhar em sua direção — quero ficar sozinho, me deixem em paz! — Os dispensou. Por mais que fossem unidos, apenas Colin estava carregando aquele peso no momento e somente ele sabia o quanto havia custado se afastar de sua companheira para que sua segura
“Monstros existem e fantasmas também. Vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem.” (STEPHEN-KING) Todos os Donovan sabiam que quando um licantropo encontrava sua peeira era primordial que houvesse o acasalamento para que a união entre homem e lobo pudesse ser realizada, colocando assim a consciência humana acima da irracionalidade da besta.Porém, quando Colin se negou a reivindicar sua companheira acabou condenando seu lobo a um sofrimento avassalador nos dias que se seguiram. A fera aprisionada no porão de sua casa uivava incessantemente causando calafrios nos membros de sua família que se alternavam à frente de sua porta.O humor do animal oscilava entre momentos de profunda tristeza e de ira extrema, fazendo com que os pais de Colin temessem pela vida do filho, porque se o lobo desistisse de viver acabaria o levando consigo. Por causa desse receio seu pai, Daniel Donovan, permanecia em sua forma lupina desde o momento em que a lua despontara no horizonte tentando acalmar a fe
Depois da conversa tensa que Colin teve com a família, ele e Jason partiram para a ARCADIS com a missão de descobrirem quem era a garota que havia despertado o vínculo. Jason assegurou que isso não seria um problema e se empenhou em reunir todas as informações possíveis que pudesse ajudá-los nessa missão. Minutos depois reapareceu na sala de Colin com o suficiente para não apenas encontrar a jovem como também para trazê-la para mais perto. — Conseguiu? — Colin o questionou assim que o viu entrar. — Está tudo aqui — ergueu uma pasta — sua companheira esteve aqui para a entrevista a vaga de assistente pessoal. Isto aqui é a ficha dela com nome e endereço — colocou o material sobre a mesa. — Obrigado! Agora pode ir, eu cuido disso de agora em diante. — Se quiser posso entrar em contato... — Não, Jason! Você já me ajudou o bastante. Agora é comigo. Não havia mais nada que Jason pudesse fazer ali, por isso desejou boa sorte ao irmão e o deixou sozinho. Quando Colin ouviu o
“Não se pode fugir do destino, assim como não se pode negar o amor.” (DESCONHECIDO) Andie sentia-se esgotada, como se estivesse caminhando sobre uma corda bamba, onde um passo em falso significaria o fim de seus sonhos. Ela sabia que seu tempo estava acabando e que logo teria que tomar uma decisão definitiva quanto a continuar cursando a faculdade ou voltar para o interior. Se não conseguisse um emprego rapidamente não teria dinheiro nem para o supermercado da semana, avaliou olhando sua dispensa praticamente vazia. Isso só serviu para aumentar a angústia em seu peito e fazer sua cabeça latejar diante de sua incapacidade. Para completar seu quadro depressivo, desde sua entrevista na ARCADIS ela estava dormindo mal, sonhando com coisas estranhas e acordando no meio da noite com o coração a ponto de sair pela boca, como acabara de acontecer. A princípio Andie acreditou que o estresse e as preocupações estavam afetando o seu sono e por isso recorreu ao calmante que o médico havia r
Embriagada pelas emoções que explodiam em seu peito, Andie não se deu conta do tempo que ficou parada diante do homem que a fitava sem nenhum pudor, como se estivesse capturando sua alma e a aprisionando a dele. — Sr. Donovan, esta é a senhoria Sullivan. Ela veio para a entrevista a vaga de assistente — o silêncio foi quebrado pela voz da secretária. Se Andie estivesse em condições teria percebido o desconforto da jovem com a cena que se desenrolava sem que qualquer um deles disfarçasse a atração palpável que se estabelecera assim que seus olhos se encontraram. — Obrigado, Ellen. Pode ir! — Sua voz soou profunda deixando os joelhos de Andie frouxos. Colin não abandonou seu olhar em nenhum momento deixando que o vínculo fluísse sem pressa. Não queria assustá-la com gestos bruscos ou palavras antes da hora, temia que ao menor erro seu ela escapasse porta a fora assustada pela intensidade do que acontecia. Ele podia ver sua jugular pulsar violentamente por causa do desejo que come
“A fuga é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar.” (S. FREUD) Enquanto esteve nos braços de Colin Donovan, Andie não pensou nas consequências de seus atos, tampouco se importou com o que ele poderia pensar a respeito de seu comportamento liberal, mas agora que as emoções intempestivas haviam soltado suas amarras a vergonha pesava sobre seus ombros. Nem poderia culpar Colin por achá-la uma mulher leviana, facilmente impressionável e que não pensava duas vezes antes de se jogar nos braços de um estranho. Certamente, importante do jeito que ele era, devia estar acostumado com esse tipo de mulheres se jogando aos seus pés. Mas, Andie não era desse jeito e, por essa razão se sentia mortificada. Não tinha mais idade para agir feito uma adolescente inconsequente, tampouco lhe faltava caráter para se valer de subterfúgios para atrair atenção de um homem para si. Oh, meu Deus! O que foi que eu fiz? Pensou cobrindo o rosto com as mãos desesper