Após o episódio no escritório, os irmãos de Colin relutaram em deixá-lo em paz até que foram expulsos de sua casa.
— Sério que vai fingir que nada aconteceu esta manhã? — Sua irmã colocou as mãos nos quadris pronta para o embate.
— Katie tem razão! Se tem certeza de que encontrou sua companheira deveria estar indo atrás dela nesse momento, antes que seja tarde demais — Jason reforçou.
— Mas, é exatamente isso que estou tentando dizer, Jason ele não fez nada para reivindicá-la — disse Katie exasperada.
— Fale conosco, Colin — pediu seu irmão.
— Em outro momento — foi tudo o que disse antes de pegar sua pasta e caminhar para seu quarto ainda sob os protestos dos dois.
— Colin! — Katie o chamou.
— Agora não, pestinha — a cortou sem olhar em sua direção — quero ficar sozinho, me deixem em paz! — Os dispensou.
Por mais que fossem unidos, apenas Colin estava carregando aquele peso no momento e somente ele sabia o quanto havia custado se afastar de sua companheira para que sua segurança estivesse acima de suas próprias necessidades.
Quando o ciclo da lua cheia findasse ele a traria de volta e colocaria o mundo aos seus pés e a faria o amar antes que revelasse sua natureza.
Agiria com cautela para que ela aceitasse o vínculo, caso contrário estaria condenado à morte, porque não existia nada mais devastador para um descendente de Licaon do que ser rejeitado por uma companheira.
Claro que Colin sabia que se desejasse poderia impor a força do vínculo sob suas vontades, mas ele seria incapaz de tal ato porque acreditava que ninguém deveria ser obrigado pelos laços do destino a viver ao lado de uma criatura monstruosa contra sua própria vontade.
Senão, para que serviria o livre arbítrio?
Por essa razão, lutaria pelo amor de sua companheira dia após dia até conquistá-lo, mas jamais imporia o vínculo acima de suas vontades e escolhas.
Jason e Katie podiam estar eufóricos com a notícia do seu aparecimento, mas ele preferia agir com cautela para não a assustar e acabar de uma vez por todas com suas chances de se ver livre de boa parte daquela maldição.
O lobo em seu interior teria que aceitar sua decisão se quisesse revê-la novamente.
Zelar pela preservação de sua vida para que o animal não a machucasse na ânsia de ter sua necessidade saciada era o mínimo que Colin poderia fazer pela jovem.
Sua cautela tinha motivos, pois conhecia muitas histórias de licantropos que assassinaram suas companheiras em um rompante de fúria por não terem tido a devida prudência ao revelarem a verdade sobre suas naturezas.
O pior erro que sua espécie cometia era confiar que a força do vínculo era suficiente para que uma companheira aceitasse sua nova realidade, desconsiderando que há séculos suas existências eram desacreditadas pelos contos de fadas que os retratavam como criaturas abomináveis.
Colin não cometeria o mesmo erro dos outros, ainda que para isso tivesse que suportar a dor física que a distância lhe causava agora.
Deixá-la partir não acabara com seu tormento, apenas lhe dera tempo para controlar a fúria do lobo até que estivesse na segurança de sua casa.
Mas, agora que estava sozinho podia sentir o coração ser esmagado e suas vísceras revirarem por causa do distanciamento.
Era como se uma parte de sua alma estivesse se rebelando para assumir o controle.
Quando olhou para o espelho seus olhos brilhavam em um dourado tão intenso que ele quase conseguia ver o rosto da fera se projetando sob seus traços humanos.
O animal estava com raiva, muita raiva e logo tomaria o controle de seu corpo.
Alarmado com a violência refletida no espelho, arrancou a camisa do corpo, retirou os sapatos e correu para o porão onde ficaria até que a transformação tivesse fim.
Finalmente, viveria seu tormento pela última vez, porque na próxima lua cheia ele estaria ao lado de sua peeira e ela o confortaria enquanto estivesse aprisionado dentro do corpo de um animal.
Apenas um único temor ainda residia no fundo de sua mente.
Ele temia que quando estivessem frente a frente ela se assustasse com a força do vínculo e acabasse fugindo do seu destino, porque isso forçaria o lobo em seu interior a caçá-la e... quando a encontrasse temia ser incapaz de contê-lo, pois duvidava de que o animal fosse paciente para cativá-la antes de lhe rasgar a garganta com suas presas.
Mas, Colin Donovan estava prestes a aprender que maldições são quebradas através do poder do amor e... isso está muito além de um simples vínculo.
“Monstros existem e fantasmas também. Vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem.” (STEPHEN-KING) Todos os Donovan sabiam que quando um licantropo encontrava sua peeira era primordial que houvesse o acasalamento para que a união entre homem e lobo pudesse ser realizada, colocando assim a consciência humana acima da irracionalidade da besta.Porém, quando Colin se negou a reivindicar sua companheira acabou condenando seu lobo a um sofrimento avassalador nos dias que se seguiram. A fera aprisionada no porão de sua casa uivava incessantemente causando calafrios nos membros de sua família que se alternavam à frente de sua porta.O humor do animal oscilava entre momentos de profunda tristeza e de ira extrema, fazendo com que os pais de Colin temessem pela vida do filho, porque se o lobo desistisse de viver acabaria o levando consigo. Por causa desse receio seu pai, Daniel Donovan, permanecia em sua forma lupina desde o momento em que a lua despontara no horizonte tentando acalmar a fe
Depois da conversa tensa que Colin teve com a família, ele e Jason partiram para a ARCADIS com a missão de descobrirem quem era a garota que havia despertado o vínculo. Jason assegurou que isso não seria um problema e se empenhou em reunir todas as informações possíveis que pudesse ajudá-los nessa missão. Minutos depois reapareceu na sala de Colin com o suficiente para não apenas encontrar a jovem como também para trazê-la para mais perto. — Conseguiu? — Colin o questionou assim que o viu entrar. — Está tudo aqui — ergueu uma pasta — sua companheira esteve aqui para a entrevista a vaga de assistente pessoal. Isto aqui é a ficha dela com nome e endereço — colocou o material sobre a mesa. — Obrigado! Agora pode ir, eu cuido disso de agora em diante. — Se quiser posso entrar em contato... — Não, Jason! Você já me ajudou o bastante. Agora é comigo. Não havia mais nada que Jason pudesse fazer ali, por isso desejou boa sorte ao irmão e o deixou sozinho. Quando Colin ouviu o
“Não se pode fugir do destino, assim como não se pode negar o amor.” (DESCONHECIDO) Andie sentia-se esgotada, como se estivesse caminhando sobre uma corda bamba, onde um passo em falso significaria o fim de seus sonhos. Ela sabia que seu tempo estava acabando e que logo teria que tomar uma decisão definitiva quanto a continuar cursando a faculdade ou voltar para o interior. Se não conseguisse um emprego rapidamente não teria dinheiro nem para o supermercado da semana, avaliou olhando sua dispensa praticamente vazia. Isso só serviu para aumentar a angústia em seu peito e fazer sua cabeça latejar diante de sua incapacidade. Para completar seu quadro depressivo, desde sua entrevista na ARCADIS ela estava dormindo mal, sonhando com coisas estranhas e acordando no meio da noite com o coração a ponto de sair pela boca, como acabara de acontecer. A princípio Andie acreditou que o estresse e as preocupações estavam afetando o seu sono e por isso recorreu ao calmante que o médico havia r
Embriagada pelas emoções que explodiam em seu peito, Andie não se deu conta do tempo que ficou parada diante do homem que a fitava sem nenhum pudor, como se estivesse capturando sua alma e a aprisionando a dele. — Sr. Donovan, esta é a senhoria Sullivan. Ela veio para a entrevista a vaga de assistente — o silêncio foi quebrado pela voz da secretária. Se Andie estivesse em condições teria percebido o desconforto da jovem com a cena que se desenrolava sem que qualquer um deles disfarçasse a atração palpável que se estabelecera assim que seus olhos se encontraram. — Obrigado, Ellen. Pode ir! — Sua voz soou profunda deixando os joelhos de Andie frouxos. Colin não abandonou seu olhar em nenhum momento deixando que o vínculo fluísse sem pressa. Não queria assustá-la com gestos bruscos ou palavras antes da hora, temia que ao menor erro seu ela escapasse porta a fora assustada pela intensidade do que acontecia. Ele podia ver sua jugular pulsar violentamente por causa do desejo que come
“A fuga é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar.” (S. FREUD) Enquanto esteve nos braços de Colin Donovan, Andie não pensou nas consequências de seus atos, tampouco se importou com o que ele poderia pensar a respeito de seu comportamento liberal, mas agora que as emoções intempestivas haviam soltado suas amarras a vergonha pesava sobre seus ombros. Nem poderia culpar Colin por achá-la uma mulher leviana, facilmente impressionável e que não pensava duas vezes antes de se jogar nos braços de um estranho. Certamente, importante do jeito que ele era, devia estar acostumado com esse tipo de mulheres se jogando aos seus pés. Mas, Andie não era desse jeito e, por essa razão se sentia mortificada. Não tinha mais idade para agir feito uma adolescente inconsequente, tampouco lhe faltava caráter para se valer de subterfúgios para atrair atenção de um homem para si. Oh, meu Deus! O que foi que eu fiz? Pensou cobrindo o rosto com as mãos desesper
A primeira coisa que Andie fez ao entrar em seu estúdio foi arrancar as roupas e se enfiar debaixo do chuveiro. A água fria ajudaria a amenizar a quentura que a castigava e apagaria os sinais de sua indiscrição. Talvez até aplacasse os pensamentos impiedosos que a recriminavam por fugir da ARCADIS feito uma criminosa, quando na verdade deveria se sentir aliviada por estar longe da influência de Colin Donovan e seu charme irresistível.Contudo, um lado seu continuava revoltado com sua atitude covarde e não a deixaria esquecer do homem que castigara seus lábios com beijos possessivos. Somente a mera lembrança do momento fugaz que compartilharam foi suficiente para provocar arrepios por toda a sua pele. Se fechasse bem os olhos Andie conseguiria sentir a barba macia de Colin roçando a curva de seu pescoço e seus dedos pressionando sua cintura. “Doce Jesus, isso é loucura!”, gemeu ao deslizar a esponja por entre as pernas notando sua intimidade sensível e desejosa como jamais estivera
“As mulheres não foram feitas para a fuga. Quando correm é porque desejam ser perseguidas.” (ROUSSEAU) Quando Andie reuniu coragem para sair do banheiro estava determinada a não se deixar intimidar pela presença imponente de Colin em seu minúsculo apartamento, tampouco permitiria que a forte atração confundisse seus sentidos.Um homem como ele não iria querer nada sério com uma garota como ela quando poderia ter qualquer outra, muito mais bonita e interessante. Além do mais, pertenciam a mundos diferentes. Mas, bastou pousar seus olhos sobre ele para que sua determinação esmorecesse como em um passe de mágica, quando o encontrou distraído folheando um livro sobre endemias. Ele parecia extremamente à vontade para alguém que nunca havia estado ali antes. — Gosto do cheiro do seu shampoo. Jasmim combina com você. — Ele disse sem interromper a leitura. Andie puxou o ar desviando sua atenção do estremecimento que suas palavras causaram. — Por que está aqui? — Perguntou, tentando u
Quando Colin saiu, Andie se jogou de costas sobre a cama e levou as mãos até os cabelos sem saber como digerir tudo o que haviam conversado. A franqueza com que ele deixara claro suas intenções de repetir o que haviam compartilhado em seu escritório, despertara sentimentos profundos em seu coração. Contudo, precisava ser racional, não podia se deixar levar por um punhado de palavras bem-ditas. Mas então se lembrou do brilho que viu em seus olhos cristalinos. Colin em nenhum momento desviou do seu olhar, ao contrário, ele se expos corajosamente sem qualquer receio de ser rechaçado, ao passo que ela continuava recuando e tentando sufocar as emoções dentro do peito. Bufou exasperada com o rumo de seus pensamentos. Claramente dividida entre a razão e suas emoções, Andie decidiu ir até a pequena escrivaninha e rasgar uma folha de seu caderno para escrever os prós e os contras de sua situação. De um lado elencou as diversas contas a pagar e os gastos com o curso de enfermagem. D