“Opte por aquilo que faz o seu coração vibrar... apesar de todas as consequências.” (OSHO)
Não, não pode ser... isso é impossível. Mas esse cheiro é... ela.
Colin se debatia entre tais pensamentos de incredulidade, enquanto seus olhos permaneciam fixos sobre a jovem a poucos metros de distância, como se uma parte de seu cérebro se recusasse a acreditar que finalmente sua espera havia acabado.
Protegido por uma parede de vidro temperado ele se mantinha oculto dos olhos aflitos que vagueavam perdidos pela sala de espera, como se o buscassem com a mesma urgência que ele ansiava por tomá-la entre seus braços.
Sua companheira era perfeita.
Muito mais linda e delicada do que havia desejado.
Olhar para ela era como assistir ao alvorecer, quando os primeiros raios de sol incidem sobre o orvalho da madrugada incitando toda a natureza ao redor a se erguer para saudá-lo, exalando os mais variados aromas, enquanto pássaros de todas as espécies entoam seus cantos sem parar sobre as copas das árvores.
Ao mesmo tempo que estava maravilhado com a intensidade de sua beleza podia ver que existia certa calmaria em admirá-la, a ponto de sentir a fúria da tempestade que o dominava diariamente ser aplacada apenas pela sua presença.
De estatura baixa e frágil seria impossível que seu lobo não se rendesse aos seus encantos, fazendo-o desejar marcá-la com seu odor para afastar outros machos de sua peeira.
Notou que apesar de seus cabelos estarem presos em um coque baixo eram de um tom castanho que o recordavam os grandes carvalhos das florestas ao sul de Portugal, formando um contraste magnifico com o verde escuro de seus grandes olhos.
Eles eram tão expressivos que Colin soube na mesma hora que sua companheira seria como um lar para o seu lado primitivo.
Os lábios em forma de coração pareciam ainda mais macios sob o vermelho vibrante que agitava suas entranhas por causa da expectativa torturante para tocá-la com a máxima reverência.
Mesmo que estivesse fazendo o papel de um observador indesejado, que cobiçava para si o que jamais deveria ser corrompido, era impossível não absorver cada detalhe de sua pequena figura.
Ele simplesmente era incapaz de parar de admirá-la mesmo temendo perder o controle sobre o mal que o habitava.
A decadência de sua existência era tão profunda que cobiçar um anjo como aquele deveria ser motivo suficiente para que fosse condenado ao inferno.
Monstros como ele deveriam ser mantidos longe de tudo o que significasse pureza ou bondade, mas o destino, seu maior e pior inimigo parecia discordar de sua opinião.
Infelizmente, maldições como a que ele carregava em seu sangue sempre encontravam uma forma de tornar a existência de seus afligidos mais pesarosa e indevida. Levando-os à difícil tarefa de terem que escolher entre o certo e o errado... entre saciar suas necessidades egoístas ou poupar um inocente de compartilhar sua condenação.
E, mesmo que desejasse mantê-la longe de sua escuridão, sabia que o vínculo entre companheiros não poderia ser ignorado tão facilmente agora que seus olhos a tinham enxergado.
Ciente de que seus caminhos estavam unidos para sempre daquele dia em diante, a única coisa que poderia fazer era aceitar e se render ao inevitável.
Torcia para que a criatura angelical aceitasse seu destino ou estaria condenando a ambos a uma vida de desespero e profunda agonia.
— É ela, não é? — Sua irmã perguntou a suas costas.
— Não sei do que está falando? — Tentou desconversar, mas seus olhos estavam presos a pequena figura.
— Seus olhos estão amarelos — ela disse — não adianta negar, Colin. Eu sei que é ela.
— Ela ainda é muito jovem, Katie — trincou os dentes fechando os punhos tão fortemente que seus dedos foram tomados pela brancura.
— Precisa falar com ela.
— NÃO! — Cortou, sentindo o corpo doer.
— Não? Ficou louco? Não pode rejeitá-la, isso seria o fim dos dois — tocou seu ombro, mas ele a repeliu.
— Não a estou rejeitando. Ela é minha... jamais negaria nossa ligação — declarou rosnando como um animal.
— Então qual é o problema? Por que não vai até ela e consuma o vínculo?
— Porque ela é... perfeita.
— E como isso poderia ser um problema?
— E como poderia não ser? — Devolveu, dolorido demais para explicar o que o atormentava.
Katie era sua irmã caçula, que mais parecia um pequeno furacão quando decidia se envolver na vida dos irmãos. Mas Colin estava anestesiado demais para ver o que a pestinha iria aprontar.
Exasperada com sua inércia, Katie tomou as rédeas da situação e quando Colin percebeu suas intenções já era tarde demais... ela já estava com a mão sobre o ombro de seu pequeno anjo perguntando se precisava de ajuda.
Ele conseguia ouvir perfeitamente a conversa de onde estava, sua audição era tão apurada como a do animal que o habitava.
— Está se sentindo bem?
Ouviu sua irmã perguntar com delicadeza, como se temesse assustá-la.
— Estou sim, obrigada.
A timidez em sua voz quase o colocou de joelhos com a vibração que o varreu em júbilo por sentir o elo se estabelecer entre ele e sua companheira.
Cada fibra de seu corpo estava sendo expandido em sua direção.
— Tem certeza? Você está pálida e suando frio. Quer um copo d’água? — Katie insistiu.
— Tenho sim, obrigada, mas não é necessário. Estou bem de verdade.
O fato de sua companheira mentir o agitou ainda mais, porque não esperava tal atitude de sua parte, não combinava com o que seus olhos viam e, por mais que desejasse gritar para que dissesse a verdade se conteve para não ter que revelar a verdade antes da hora.
Esperaria pelo fim da lua cheia ou não seria capaz de evitar que seu lobo entrasse em frenesi e a machucasse.
Por isso, quando a viu disparar na direção dos elevadores lutou com todas as suas forças para não ir em seu encalço e tomá-la para si.
Colin sabia que a jovem o acharia um louco se a colocasse sobre os ombros como um homem das cavernas e a levasse para sua casa de onde nunca mais sairia.
Porém, não imaginara que sua partida provocaria tamanha dor lacerante em seu peito ao ponto de fazê-lo se curvar contra o vidro fumê batendo os punhos em desespero.
Era como se seu coração estivesse sendo rasgado de dentro para fora enquanto o lobo rosnava furioso.
— Colin!
Katie acabara de retornar lançando-se em sua direção tentando ajudá-lo a se sentar, mas suas pernas estavam paralisadas no lugar como se tivessem criado raízes sobre o carpete escuro.
O suor brotava em grandes gotas por todo o seu rosto e seus olhos ardiam como se estivessem jogando ácido dentro deles.
— Vou chamar Jason — Katie saiu em disparada.
A pestinha poderia chamar a cavalaria que nada acalmaria seu tormento. Era lua cheia e a fera dentro de si estava a cada segundo mais forte, exigindo o controle.
Um controle que Colin não estava disposto a ceder sem que estivesse na segurança de seu porão, em sua casa, bem distante de pessoas inocentes.
— O que ele ainda está fazendo aqui, Katie? — a voz de Jason reverberou potente até seus ouvidos sensíveis.
— Eu o chamei para resolvermos o impasse do projeto para a prefeitura — anunciou já arrependida.
— Sabe que Colin não deveria mais estar aqui. Porra! Precisamos tirá-lo antes que alguém apareça e comece a fazer perguntas.
— Oh, meu Deus! Como faremos isso sem que todos vejam o que está acontecendo? — Sussurrou desesperada.
Seus irmãos tinham razão, ele precisava sair daquele lugar. O cheiro dela parecia estar impregnado por todos os lados e agitava o animal em seu interior.
Contudo, deixar a empresa naquele estado seria imprudência de sua parte, portanto lutou contra o animal em sua mente até que ele lhe cedesse o controle novamente. Enquanto isso, ele a sentia se afastar também em agonia.
À medida que os minutos avançaram o som dos seus batimentos cardíacos foram ficando cada vez mais distantes.
Até que a sentiu deixar o prédio.
A certeza de sua partida trouxe um misto de alívio e desespero ao mesmo tempo que o permitiu recuperar o controle de seu corpo antes que o pior ocorresse.
— Nossa! Essa foi por pouco — disse Katie à guisa de um sorriso trêmulo.
— Precisamos levá-lo para casa, Colin — Jason tocou seu ombro — lá poderemos conversar sobre o que aconteceu aqui... é a primeira vez que o vejo tão próximo de perder o controle.
Após o episódio no escritório, os irmãos de Colin relutaram em deixá-lo em paz até que foram expulsos de sua casa. — Sério que vai fingir que nada aconteceu esta manhã? — Sua irmã colocou as mãos nos quadris pronta para o embate. — Katie tem razão! Se tem certeza de que encontrou sua companheira deveria estar indo atrás dela nesse momento, antes que seja tarde demais — Jason reforçou. — Mas, é exatamente isso que estou tentando dizer, Jason ele não fez nada para reivindicá-la — disse Katie exasperada. — Fale conosco, Colin — pediu seu irmão. — Em outro momento — foi tudo o que disse antes de pegar sua pasta e caminhar para seu quarto ainda sob os protestos dos dois. — Colin! — Katie o chamou. — Agora não, pestinha — a cortou sem olhar em sua direção — quero ficar sozinho, me deixem em paz! — Os dispensou. Por mais que fossem unidos, apenas Colin estava carregando aquele peso no momento e somente ele sabia o quanto havia custado se afastar de sua companheira para que sua segura
“Monstros existem e fantasmas também. Vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem.” (STEPHEN-KING) Todos os Donovan sabiam que quando um licantropo encontrava sua peeira era primordial que houvesse o acasalamento para que a união entre homem e lobo pudesse ser realizada, colocando assim a consciência humana acima da irracionalidade da besta.Porém, quando Colin se negou a reivindicar sua companheira acabou condenando seu lobo a um sofrimento avassalador nos dias que se seguiram. A fera aprisionada no porão de sua casa uivava incessantemente causando calafrios nos membros de sua família que se alternavam à frente de sua porta.O humor do animal oscilava entre momentos de profunda tristeza e de ira extrema, fazendo com que os pais de Colin temessem pela vida do filho, porque se o lobo desistisse de viver acabaria o levando consigo. Por causa desse receio seu pai, Daniel Donovan, permanecia em sua forma lupina desde o momento em que a lua despontara no horizonte tentando acalmar a fe
Depois da conversa tensa que Colin teve com a família, ele e Jason partiram para a ARCADIS com a missão de descobrirem quem era a garota que havia despertado o vínculo. Jason assegurou que isso não seria um problema e se empenhou em reunir todas as informações possíveis que pudesse ajudá-los nessa missão. Minutos depois reapareceu na sala de Colin com o suficiente para não apenas encontrar a jovem como também para trazê-la para mais perto. — Conseguiu? — Colin o questionou assim que o viu entrar. — Está tudo aqui — ergueu uma pasta — sua companheira esteve aqui para a entrevista a vaga de assistente pessoal. Isto aqui é a ficha dela com nome e endereço — colocou o material sobre a mesa. — Obrigado! Agora pode ir, eu cuido disso de agora em diante. — Se quiser posso entrar em contato... — Não, Jason! Você já me ajudou o bastante. Agora é comigo. Não havia mais nada que Jason pudesse fazer ali, por isso desejou boa sorte ao irmão e o deixou sozinho. Quando Colin ouviu o
“Não se pode fugir do destino, assim como não se pode negar o amor.” (DESCONHECIDO) Andie sentia-se esgotada, como se estivesse caminhando sobre uma corda bamba, onde um passo em falso significaria o fim de seus sonhos. Ela sabia que seu tempo estava acabando e que logo teria que tomar uma decisão definitiva quanto a continuar cursando a faculdade ou voltar para o interior. Se não conseguisse um emprego rapidamente não teria dinheiro nem para o supermercado da semana, avaliou olhando sua dispensa praticamente vazia. Isso só serviu para aumentar a angústia em seu peito e fazer sua cabeça latejar diante de sua incapacidade. Para completar seu quadro depressivo, desde sua entrevista na ARCADIS ela estava dormindo mal, sonhando com coisas estranhas e acordando no meio da noite com o coração a ponto de sair pela boca, como acabara de acontecer. A princípio Andie acreditou que o estresse e as preocupações estavam afetando o seu sono e por isso recorreu ao calmante que o médico havia r
Embriagada pelas emoções que explodiam em seu peito, Andie não se deu conta do tempo que ficou parada diante do homem que a fitava sem nenhum pudor, como se estivesse capturando sua alma e a aprisionando a dele. — Sr. Donovan, esta é a senhoria Sullivan. Ela veio para a entrevista a vaga de assistente — o silêncio foi quebrado pela voz da secretária. Se Andie estivesse em condições teria percebido o desconforto da jovem com a cena que se desenrolava sem que qualquer um deles disfarçasse a atração palpável que se estabelecera assim que seus olhos se encontraram. — Obrigado, Ellen. Pode ir! — Sua voz soou profunda deixando os joelhos de Andie frouxos. Colin não abandonou seu olhar em nenhum momento deixando que o vínculo fluísse sem pressa. Não queria assustá-la com gestos bruscos ou palavras antes da hora, temia que ao menor erro seu ela escapasse porta a fora assustada pela intensidade do que acontecia. Ele podia ver sua jugular pulsar violentamente por causa do desejo que come
“A fuga é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar.” (S. FREUD) Enquanto esteve nos braços de Colin Donovan, Andie não pensou nas consequências de seus atos, tampouco se importou com o que ele poderia pensar a respeito de seu comportamento liberal, mas agora que as emoções intempestivas haviam soltado suas amarras a vergonha pesava sobre seus ombros. Nem poderia culpar Colin por achá-la uma mulher leviana, facilmente impressionável e que não pensava duas vezes antes de se jogar nos braços de um estranho. Certamente, importante do jeito que ele era, devia estar acostumado com esse tipo de mulheres se jogando aos seus pés. Mas, Andie não era desse jeito e, por essa razão se sentia mortificada. Não tinha mais idade para agir feito uma adolescente inconsequente, tampouco lhe faltava caráter para se valer de subterfúgios para atrair atenção de um homem para si. Oh, meu Deus! O que foi que eu fiz? Pensou cobrindo o rosto com as mãos desesper
A primeira coisa que Andie fez ao entrar em seu estúdio foi arrancar as roupas e se enfiar debaixo do chuveiro. A água fria ajudaria a amenizar a quentura que a castigava e apagaria os sinais de sua indiscrição. Talvez até aplacasse os pensamentos impiedosos que a recriminavam por fugir da ARCADIS feito uma criminosa, quando na verdade deveria se sentir aliviada por estar longe da influência de Colin Donovan e seu charme irresistível.Contudo, um lado seu continuava revoltado com sua atitude covarde e não a deixaria esquecer do homem que castigara seus lábios com beijos possessivos. Somente a mera lembrança do momento fugaz que compartilharam foi suficiente para provocar arrepios por toda a sua pele. Se fechasse bem os olhos Andie conseguiria sentir a barba macia de Colin roçando a curva de seu pescoço e seus dedos pressionando sua cintura. “Doce Jesus, isso é loucura!”, gemeu ao deslizar a esponja por entre as pernas notando sua intimidade sensível e desejosa como jamais estivera
“As mulheres não foram feitas para a fuga. Quando correm é porque desejam ser perseguidas.” (ROUSSEAU) Quando Andie reuniu coragem para sair do banheiro estava determinada a não se deixar intimidar pela presença imponente de Colin em seu minúsculo apartamento, tampouco permitiria que a forte atração confundisse seus sentidos.Um homem como ele não iria querer nada sério com uma garota como ela quando poderia ter qualquer outra, muito mais bonita e interessante. Além do mais, pertenciam a mundos diferentes. Mas, bastou pousar seus olhos sobre ele para que sua determinação esmorecesse como em um passe de mágica, quando o encontrou distraído folheando um livro sobre endemias. Ele parecia extremamente à vontade para alguém que nunca havia estado ali antes. — Gosto do cheiro do seu shampoo. Jasmim combina com você. — Ele disse sem interromper a leitura. Andie puxou o ar desviando sua atenção do estremecimento que suas palavras causaram. — Por que está aqui? — Perguntou, tentando u