CAPÍTULO 5

“Opte por aquilo que faz o seu coração vibrar... apesar de todas as consequências.” (OSHO) 

Não, não pode ser... isso é impossível. Mas esse cheiro é... ela. 

Colin se debatia entre tais pensamentos de incredulidade, enquanto seus olhos permaneciam fixos sobre a jovem a poucos metros de distância, como se uma parte de seu cérebro se recusasse a acreditar que finalmente sua espera havia acabado. 

Protegido por uma parede de vidro temperado ele se mantinha oculto dos olhos aflitos que vagueavam perdidos pela sala de espera, como se o buscassem com a mesma urgência que ele ansiava por tomá-la entre seus braços. 

Sua companheira era perfeita. 

Muito mais linda e delicada do que havia desejado. 

Olhar para ela era como assistir ao alvorecer, quando os primeiros raios de sol incidem sobre o orvalho da madrugada incitando toda a natureza ao redor a se erguer para saudá-lo, exalando os mais variados aromas, enquanto pássaros de todas as espécies entoam seus cantos sem parar sobre as copas das árvores. 

Ao mesmo tempo que estava maravilhado com a intensidade de sua beleza podia ver que existia certa calmaria em admirá-la, a ponto de sentir a fúria da tempestade que o dominava diariamente ser aplacada apenas pela sua presença.

De estatura baixa e frágil seria impossível que seu lobo não se rendesse aos seus encantos, fazendo-o desejar marcá-la com seu odor para afastar outros machos de sua peeira. 

Notou que apesar de seus cabelos estarem presos em um coque baixo eram de um tom castanho que o recordavam os grandes carvalhos das florestas ao sul de Portugal, formando um contraste magnifico com o verde escuro de seus grandes olhos.

Eles eram tão expressivos que Colin soube na mesma hora que sua companheira seria como um lar para o seu lado primitivo.

Os lábios em forma de coração pareciam ainda mais macios sob o vermelho vibrante que agitava suas entranhas por causa da expectativa torturante para tocá-la com a máxima reverência. 

Mesmo que estivesse fazendo o papel de um observador indesejado, que cobiçava para si o que jamais deveria ser corrompido, era impossível não absorver cada detalhe de sua pequena figura.

Ele simplesmente era incapaz de parar de admirá-la mesmo temendo perder o controle sobre o mal que o habitava. 

A decadência de sua existência era tão profunda que cobiçar um anjo como aquele deveria ser motivo suficiente para que fosse condenado ao inferno. 

Monstros como ele deveriam ser mantidos longe de tudo o que significasse pureza ou bondade, mas o destino, seu maior e pior inimigo parecia discordar de sua opinião. 

Infelizmente, maldições como a que ele carregava em seu sangue sempre encontravam uma forma de tornar a existência de seus afligidos mais pesarosa e indevida. Levando-os à difícil tarefa de terem que escolher entre o certo e o errado... entre saciar suas necessidades egoístas ou poupar um inocente de compartilhar sua condenação. 

E, mesmo que desejasse mantê-la longe de sua escuridão, sabia que o vínculo entre companheiros não poderia ser ignorado tão facilmente agora que seus olhos a tinham enxergado.

Ciente de que seus caminhos estavam unidos para sempre daquele dia em diante, a única coisa que poderia fazer era aceitar e se render ao inevitável. 

Torcia para que a criatura angelical aceitasse seu destino ou estaria condenando a ambos a uma vida de desespero e profunda agonia. 

— É ela, não é? — Sua irmã perguntou a suas costas. 

— Não sei do que está falando? — Tentou desconversar, mas seus olhos estavam presos a pequena figura. 

— Seus olhos estão amarelos — ela disse — não adianta negar, Colin. Eu sei que é ela. 

— Ela ainda é muito jovem, Katie — trincou os dentes fechando os punhos tão fortemente que seus dedos foram tomados pela brancura. 

— Precisa falar com ela. 

— NÃO! — Cortou, sentindo o corpo doer. 

— Não? Ficou louco? Não pode rejeitá-la, isso seria o fim dos dois — tocou seu ombro, mas ele a repeliu. 

— Não a estou rejeitando. Ela é minha... jamais negaria nossa ligação — declarou rosnando como um animal. 

— Então qual é o problema? Por que não vai até ela e consuma o vínculo? 

— Porque ela é... perfeita. 

— E como isso poderia ser um problema? 

— E como poderia não ser? — Devolveu, dolorido demais para explicar o que o atormentava. 

Katie era sua irmã caçula, que mais parecia um pequeno furacão quando decidia se envolver na vida dos irmãos. Mas Colin estava anestesiado demais para ver o que a pestinha iria aprontar. 

Exasperada com sua inércia, Katie tomou as rédeas da situação e quando Colin percebeu suas intenções já era tarde demais... ela já estava com a mão sobre o ombro de seu pequeno anjo perguntando se precisava de ajuda. 

Ele conseguia ouvir perfeitamente a conversa de onde estava, sua audição era tão apurada como a do animal que o habitava. 

— Está se sentindo bem? 

Ouviu sua irmã perguntar com delicadeza, como se temesse assustá-la. 

Estou sim, obrigada

A timidez em sua voz quase o colocou de joelhos com a vibração que o varreu em júbilo por sentir o elo se estabelecer entre ele e sua companheira. 

Cada fibra de seu corpo estava sendo expandido em sua direção. 

Tem certeza? Você está pálida e suando frio. Quer um copo d’água? — Katie insistiu. 

Tenho sim, obrigada, mas não é necessário. Estou bem de verdade. 

O fato de sua companheira mentir o agitou ainda mais, porque não esperava tal atitude de sua parte, não combinava com o que seus olhos viam e, por mais que desejasse gritar para que dissesse a verdade se conteve para não ter que revelar a verdade antes da hora.

Esperaria pelo fim da lua cheia ou não seria capaz de evitar que seu lobo entrasse em frenesi e a machucasse. 

Por isso, quando a viu disparar na direção dos elevadores lutou com todas as suas forças para não ir em seu encalço e tomá-la para si.

Colin sabia que a jovem o acharia um louco se a colocasse sobre os ombros como um homem das cavernas e a levasse para sua casa de onde nunca mais sairia. 

Porém, não imaginara que sua partida provocaria tamanha dor lacerante em seu peito ao ponto de fazê-lo se curvar contra o vidro fumê batendo os punhos em desespero.

Era como se seu coração estivesse sendo rasgado de dentro para fora enquanto o lobo rosnava furioso. 

— Colin! 

Katie acabara de retornar lançando-se em sua direção tentando ajudá-lo a se sentar, mas suas pernas estavam paralisadas no lugar como se tivessem criado raízes sobre o carpete escuro.

O suor brotava em grandes gotas por todo o seu rosto e seus olhos ardiam como se estivessem jogando ácido dentro deles. 

— Vou chamar Jason — Katie saiu em disparada. 

A pestinha poderia chamar a cavalaria que nada acalmaria seu tormento. Era lua cheia e a fera dentro de si estava a cada segundo mais forte, exigindo o controle. 

Um controle que Colin não estava disposto a ceder sem que estivesse na segurança de seu porão, em sua casa, bem distante de pessoas inocentes. 

— O que ele ainda está fazendo aqui, Katie? — a voz de Jason reverberou potente até seus ouvidos sensíveis. 

— Eu o chamei para resolvermos o impasse do projeto para a prefeitura — anunciou já arrependida. 

— Sabe que Colin não deveria mais estar aqui. Porra! Precisamos tirá-lo antes que alguém apareça e comece a fazer perguntas. 

— Oh, meu Deus! Como faremos isso sem que todos vejam o que está acontecendo? — Sussurrou desesperada. 

Seus irmãos tinham razão, ele precisava sair daquele lugar. O cheiro dela parecia estar impregnado por todos os lados e agitava o animal em seu interior. 

Contudo, deixar a empresa naquele estado seria imprudência de sua parte, portanto lutou contra o animal em sua mente até que ele lhe cedesse o controle novamente. Enquanto isso, ele a sentia se afastar também em agonia.

À medida que os minutos avançaram o som dos seus batimentos cardíacos foram ficando cada vez mais distantes. 

Até que a sentiu deixar o prédio. 

A certeza de sua partida trouxe um misto de alívio e desespero ao mesmo tempo que o permitiu recuperar o controle de seu corpo antes que o pior ocorresse. 

— Nossa! Essa foi por pouco — disse Katie à guisa de um sorriso trêmulo. 

— Precisamos levá-lo para casa, Colin — Jason tocou seu ombro — lá poderemos conversar sobre o que aconteceu aqui... é a primeira vez que o vejo tão próximo de perder o controle. 

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