SOB O DOMÍNIO DO ALFA
SOB O DOMÍNIO DO ALFA
Por: G.C.JIMÉNEZ
CAPÍTULO 1

“Um fio invisível conecta aqueles que estão destinados a se encontrarem, sem importar com o tempo, o lugar, nem a circunstância. O fio pode esticar ou enrolar, porém jamais se romperá.”  (SIR MUSE) 

Andie Sullivan estava na pior, quando a oportunidade dos sonhos caiu do céu através de um anúncio nos classificados.

A vaga para assistente pessoal remota era exatamente o que uma garota no primeiro ano de faculdade de enfermagem desejava. 

O salário acima do mercado e os horários flexíveis seriam a sua salvação antes que fosse obrigada a trancar o curso e retornar para a cidadezinha do interior com uma mão na frente e outra atrás. Por isso, não pensou duas vezes antes de enviar o currículo por e-mail e agendar a entrevista para o dia seguinte. 

Sabia que um anúncio como aquele atrairia muitos candidatos, contudo alguma coisa em seu íntimo a fez acreditar que aquela vaga seria sua e de mais ninguém. Por essa razão, passou o restante do dia pesquisando sobre as atribuições de uma assistente pessoal a fim de impressionar em sua entrevista. 

Afinal de contas, desde cedo aprendera a encarar a vida de frente e deixar as fantasias de infância no passado, pois nada nessa vida chegava de mão beijada.

Era necessário esforço para alcançar os objetivos, porque no mundo moderno não existiam príncipes montados em cavalos brancos para salvar as donzelas indefesas e, sim dragões em forma de empréstimo estudantil, ávidos por cobrarem suas mensalidades com juros exorbitantes. 

Dava graças a Deus pela criação de seus pais que a ensinaram que no mundo real, as contas vencem todo fim de mês e doenças são curadas com medicamentos caros, por isso Andie não se deixava levar por sonhos juvenis e cresceu ciente de que suas conquistas seriam fruto exclusivo do seu esforço pessoal e dedicação. 

Então, quando perdeu os pais no último ano e se viu sozinha no mundo soube que não restava outra alternativa a não ser seguir em frente, mesmo que agora um pouco mais solitária e um tiquinho mais triste.

Talvez um dia a dor do luto amenizasse em seu peito ou, aprendesse a conviver com a agonia de suas ausências. O fato era que a vida tinha que continuar e ninguém teria pena de suas mazelas. 

Foi por causa desse pensamento acerca de sua realidade que ao ser aceita no curso de enfermagem fez o que pode para se manter durante os primeiros meses, aceitando todo tipo de ocupação que pagasse o aluguel do pequeno estúdio no subúrbio da cidade e garantisse as contas em dia. 

No princípio as coisas estavam indo muito bem, até perder o emprego na antiga livraria do bairro, que declarou falência por causa do baixo fluxo de leitores que ainda se interessavam por um bom livro ao invés de ficarem horas presos nas redes sociais assistindo a dancinhas estúpidas. 

Aquilo havia sido uma lástima na sua opinião, não apenas pelo emprego, mas também por ver tantos livros bons serem vendidos a preço de banana para que o dono pudesse saldar suas dívidas com as editoras. 

Logo nas primeiras semanas após se ver no olho da rua e sem nenhuma perspectiva a sua frente, andou feito louca atrás de qualquer atividade que a ajudasse a pagar as contas. Contudo a crise parecia estar por todas as partes a fazendo duvidar de seu futuro. 

Já estava quase entregando os pontos quando, naquela manhã, suas esperanças foram renovadas ao ler os classificados. Se conseguisse aquele emprego colocaria ordem em suas finanças e não precisaria abandonar a faculdade. 

Focada em disputar a vaga para assistente, procurou entre as roupas algo que a ajudasse a causar uma boa impressão, pois sabia que o visual certo contaria pontos em seu favor. 

Pensando assim, separou uma calça social e uma blusa de seda manga ¾, com gola alta e laço no pescoço, ambas as peças na cor preta, que ficariam perfeitas junto aos escarpins vermelhos.

Adorava essa cor, sempre a achou vibrante e feminina. 

Então, com o visual certo em mãos, se concentrou no próximo passo — o de convencer o entrevistador de que ela era a melhor escolha para a função, caso contrário daria adeus a universidade. 

E, isso era inadmissível. 

Essa sua vontade de vencer na vida tinha o lado positivo, porque a permitia ir em busca de alternativas que pudessem mudar sua situação, mas também provocava crises de ansiedade que a deixavam noites em claro.

Talvez fosse isso que a estivesse incomodando quando se deitou à noite em sua cama. 

Podia jurar que havia uma energia diferente vibrando por seu corpo quando apagou as luzes do quarto.

Não saberia explicar o que exatamente estava sentindo, mas era como se tivesse a certeza de que sua vida estava prestes a tomar um novo rumo. 

E, embora não fosse uma garota supersticiosa, tampouco acreditasse em pressentimentos, se permitiu descansar com um sorriso nos lábios enquanto mergulhava em um sono profundo, cheio de imagens confusas que lhe roubaram suspiros inconscientes durante a madrugada. 

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