“Um fio invisível conecta aqueles que estão destinados a se encontrarem, sem importar com o tempo, o lugar, nem a circunstância. O fio pode esticar ou enrolar, porém jamais se romperá.” (SIR MUSE)
Andie Sullivan estava na pior, quando a oportunidade dos sonhos caiu do céu através de um anúncio nos classificados.
A vaga para assistente pessoal remota era exatamente o que uma garota no primeiro ano de faculdade de enfermagem desejava.
O salário acima do mercado e os horários flexíveis seriam a sua salvação antes que fosse obrigada a trancar o curso e retornar para a cidadezinha do interior com uma mão na frente e outra atrás. Por isso, não pensou duas vezes antes de enviar o currículo por e-mail e agendar a entrevista para o dia seguinte.
Sabia que um anúncio como aquele atrairia muitos candidatos, contudo alguma coisa em seu íntimo a fez acreditar que aquela vaga seria sua e de mais ninguém. Por essa razão, passou o restante do dia pesquisando sobre as atribuições de uma assistente pessoal a fim de impressionar em sua entrevista.
Afinal de contas, desde cedo aprendera a encarar a vida de frente e deixar as fantasias de infância no passado, pois nada nessa vida chegava de mão beijada.
Era necessário esforço para alcançar os objetivos, porque no mundo moderno não existiam príncipes montados em cavalos brancos para salvar as donzelas indefesas e, sim dragões em forma de empréstimo estudantil, ávidos por cobrarem suas mensalidades com juros exorbitantes.
Dava graças a Deus pela criação de seus pais que a ensinaram que no mundo real, as contas vencem todo fim de mês e doenças são curadas com medicamentos caros, por isso Andie não se deixava levar por sonhos juvenis e cresceu ciente de que suas conquistas seriam fruto exclusivo do seu esforço pessoal e dedicação.
Então, quando perdeu os pais no último ano e se viu sozinha no mundo soube que não restava outra alternativa a não ser seguir em frente, mesmo que agora um pouco mais solitária e um tiquinho mais triste.
Talvez um dia a dor do luto amenizasse em seu peito ou, aprendesse a conviver com a agonia de suas ausências. O fato era que a vida tinha que continuar e ninguém teria pena de suas mazelas.
Foi por causa desse pensamento acerca de sua realidade que ao ser aceita no curso de enfermagem fez o que pode para se manter durante os primeiros meses, aceitando todo tipo de ocupação que pagasse o aluguel do pequeno estúdio no subúrbio da cidade e garantisse as contas em dia.
No princípio as coisas estavam indo muito bem, até perder o emprego na antiga livraria do bairro, que declarou falência por causa do baixo fluxo de leitores que ainda se interessavam por um bom livro ao invés de ficarem horas presos nas redes sociais assistindo a dancinhas estúpidas.
Aquilo havia sido uma lástima na sua opinião, não apenas pelo emprego, mas também por ver tantos livros bons serem vendidos a preço de banana para que o dono pudesse saldar suas dívidas com as editoras.
Logo nas primeiras semanas após se ver no olho da rua e sem nenhuma perspectiva a sua frente, andou feito louca atrás de qualquer atividade que a ajudasse a pagar as contas. Contudo a crise parecia estar por todas as partes a fazendo duvidar de seu futuro.
Já estava quase entregando os pontos quando, naquela manhã, suas esperanças foram renovadas ao ler os classificados. Se conseguisse aquele emprego colocaria ordem em suas finanças e não precisaria abandonar a faculdade.
Focada em disputar a vaga para assistente, procurou entre as roupas algo que a ajudasse a causar uma boa impressão, pois sabia que o visual certo contaria pontos em seu favor.
Pensando assim, separou uma calça social e uma blusa de seda manga ¾, com gola alta e laço no pescoço, ambas as peças na cor preta, que ficariam perfeitas junto aos escarpins vermelhos.
Adorava essa cor, sempre a achou vibrante e feminina.
Então, com o visual certo em mãos, se concentrou no próximo passo — o de convencer o entrevistador de que ela era a melhor escolha para a função, caso contrário daria adeus a universidade.
E, isso era inadmissível.
Essa sua vontade de vencer na vida tinha o lado positivo, porque a permitia ir em busca de alternativas que pudessem mudar sua situação, mas também provocava crises de ansiedade que a deixavam noites em claro.
Talvez fosse isso que a estivesse incomodando quando se deitou à noite em sua cama.
Podia jurar que havia uma energia diferente vibrando por seu corpo quando apagou as luzes do quarto.
Não saberia explicar o que exatamente estava sentindo, mas era como se tivesse a certeza de que sua vida estava prestes a tomar um novo rumo.
E, embora não fosse uma garota supersticiosa, tampouco acreditasse em pressentimentos, se permitiu descansar com um sorriso nos lábios enquanto mergulhava em um sono profundo, cheio de imagens confusas que lhe roubaram suspiros inconscientes durante a madrugada.
Andie sabia que o prédio da ARCADIS – Arquitetura, Construtora e Empreiteira, ficava no centro da cidade, em um dos endereços mais cobiçados pelo mercado imobiliário. E segundo sua pesquisa, o empreendimento pertencia a família Donovan, uma das mais tradicionais e influentes do ramo da construção civil. O patriarca, o senhor Daniel Donovan, havia sido governador do estado durante alguns anos antes de se dedicar inteiramente aos negócios, que administrara ao lado dos filhos Colin, Jason e Katie, antes de se retirar há alguns anos, deixando o posto de CEO para o filho mais velho. Colin Donovan era o arquiteto da família e vencedor de diversos prêmios internacionais por causa de sua criatividade e inovação nos projetos arquitetônicos.Devido ao seu inegável talento acabou se tornando o arquiteto favorito das celebridades e personalidades políticas. Já seu irmão, Jason Donovan, era o engenheiro civil que assinava os projetos de diversos edifícios da cidade e de outros estados, uma ver
“Nos encontramos por causalidade e nos atraímos por natureza.” (MOYA) Tudo o que Colin Donovan desejava era um maldito ano sabático longe de toda a pressão cotidiana que sua vida profissional colocava sobre seus ombros. Quem convivia ao seu lado sabia que a cada dia que passava seu autocontrole estava por um fio. Era nítido que mais cedo ou mais tarde as coisas sairiam dos trilhos e, se isso acontecesse, sua família seria arrastada para o maior e mais inacreditável escândalo de todos os tempos. Porém, seus irmãos estavam relutantes em assumirem tantas responsabilidades.Certamente o medo de ficarem sem o irmão mais velho os deixava inseguros. Por outro lado, Colin jamais tomaria tal atitude se não confiasse plenamente que seriam capazes de tocar os negócios em sua ausência. Um dia seus irmãos compreenderiam que a necessidade daquele distanciamento era a única forma de satisfazer sua natureza primitiva sem que ele representasse um perigo para todos ao seu redor. Enquanto isso a AR
— Juro que estou fazendo um esforço enorme para tentar compreendê-lo, mas está difícil, irmão. Se ausentar por um ano para fazer sabe lá Deus o quê no fim do mundo, não me parece uma decisão que você tomaria. Jason Donovan andava de um lado para o outro do escritório exasperado enquanto tentava convencer Colin a desistir de largar tudo para se isolar no meio do mato. — Já expliquei meus motivos, porém você e Katie parecem ignorar completamente minha situação — passou as mãos sobre o rosto apoiando os cotovelos sobre a mesa de mogno. — Nossa situação, Colin. Nossa! Não se esqueça que logo estaremos no mesmo barco — largou o corpo sobre a cadeira à frente da mesa de seu irmão mais velho. — Esse é o ponto. Você não consegue entender minha necessidade de sumir por um tempo, porque ainda não passou pela transformação, mas quando chegar a sua hora compreenderá o quão difícil é viver com uma besta invadindo sua mente a cada lua cheia. Jason o encarou como se realmente estivesse disposto
“Opte por aquilo que faz o seu coração vibrar... apesar de todas as consequências.” (OSHO) Não, não pode ser... isso é impossível. Mas esse cheiro é... ela. Colin se debatia entre tais pensamentos de incredulidade, enquanto seus olhos permaneciam fixos sobre a jovem a poucos metros de distância, como se uma parte de seu cérebro se recusasse a acreditar que finalmente sua espera havia acabado. Protegido por uma parede de vidro temperado ele se mantinha oculto dos olhos aflitos que vagueavam perdidos pela sala de espera, como se o buscassem com a mesma urgência que ele ansiava por tomá-la entre seus braços. Sua companheira era perfeita. Muito mais linda e delicada do que havia desejado. Olhar para ela era como assistir ao alvorecer, quando os primeiros raios de sol incidem sobre o orvalho da madrugada incitando toda a natureza ao redor a se erguer para saudá-lo, exalando os mais variados aromas, enquanto pássaros de todas as espécies entoam seus cantos sem parar sobre as copas das
Após o episódio no escritório, os irmãos de Colin relutaram em deixá-lo em paz até que foram expulsos de sua casa. — Sério que vai fingir que nada aconteceu esta manhã? — Sua irmã colocou as mãos nos quadris pronta para o embate. — Katie tem razão! Se tem certeza de que encontrou sua companheira deveria estar indo atrás dela nesse momento, antes que seja tarde demais — Jason reforçou. — Mas, é exatamente isso que estou tentando dizer, Jason ele não fez nada para reivindicá-la — disse Katie exasperada. — Fale conosco, Colin — pediu seu irmão. — Em outro momento — foi tudo o que disse antes de pegar sua pasta e caminhar para seu quarto ainda sob os protestos dos dois. — Colin! — Katie o chamou. — Agora não, pestinha — a cortou sem olhar em sua direção — quero ficar sozinho, me deixem em paz! — Os dispensou. Por mais que fossem unidos, apenas Colin estava carregando aquele peso no momento e somente ele sabia o quanto havia custado se afastar de sua companheira para que sua segura
“Monstros existem e fantasmas também. Vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem.” (STEPHEN-KING) Todos os Donovan sabiam que quando um licantropo encontrava sua peeira era primordial que houvesse o acasalamento para que a união entre homem e lobo pudesse ser realizada, colocando assim a consciência humana acima da irracionalidade da besta.Porém, quando Colin se negou a reivindicar sua companheira acabou condenando seu lobo a um sofrimento avassalador nos dias que se seguiram. A fera aprisionada no porão de sua casa uivava incessantemente causando calafrios nos membros de sua família que se alternavam à frente de sua porta.O humor do animal oscilava entre momentos de profunda tristeza e de ira extrema, fazendo com que os pais de Colin temessem pela vida do filho, porque se o lobo desistisse de viver acabaria o levando consigo. Por causa desse receio seu pai, Daniel Donovan, permanecia em sua forma lupina desde o momento em que a lua despontara no horizonte tentando acalmar a fe
Depois da conversa tensa que Colin teve com a família, ele e Jason partiram para a ARCADIS com a missão de descobrirem quem era a garota que havia despertado o vínculo. Jason assegurou que isso não seria um problema e se empenhou em reunir todas as informações possíveis que pudesse ajudá-los nessa missão. Minutos depois reapareceu na sala de Colin com o suficiente para não apenas encontrar a jovem como também para trazê-la para mais perto. — Conseguiu? — Colin o questionou assim que o viu entrar. — Está tudo aqui — ergueu uma pasta — sua companheira esteve aqui para a entrevista a vaga de assistente pessoal. Isto aqui é a ficha dela com nome e endereço — colocou o material sobre a mesa. — Obrigado! Agora pode ir, eu cuido disso de agora em diante. — Se quiser posso entrar em contato... — Não, Jason! Você já me ajudou o bastante. Agora é comigo. Não havia mais nada que Jason pudesse fazer ali, por isso desejou boa sorte ao irmão e o deixou sozinho. Quando Colin ouviu o
“Não se pode fugir do destino, assim como não se pode negar o amor.” (DESCONHECIDO) Andie sentia-se esgotada, como se estivesse caminhando sobre uma corda bamba, onde um passo em falso significaria o fim de seus sonhos. Ela sabia que seu tempo estava acabando e que logo teria que tomar uma decisão definitiva quanto a continuar cursando a faculdade ou voltar para o interior. Se não conseguisse um emprego rapidamente não teria dinheiro nem para o supermercado da semana, avaliou olhando sua dispensa praticamente vazia. Isso só serviu para aumentar a angústia em seu peito e fazer sua cabeça latejar diante de sua incapacidade. Para completar seu quadro depressivo, desde sua entrevista na ARCADIS ela estava dormindo mal, sonhando com coisas estranhas e acordando no meio da noite com o coração a ponto de sair pela boca, como acabara de acontecer. A princípio Andie acreditou que o estresse e as preocupações estavam afetando o seu sono e por isso recorreu ao calmante que o médico havia r