Casório forçado - II

— Mas tão cedo e tu já tá aí nessa vida — falou a amiga, aparecendo na cozinha após entrar na casa sem se importar com a ausência de um convite. — Vim te chamar para ir ali na feira comigo. 

Sandra era também uma moça de chamar muita atenção, tinha uma pele negra brilhante e bela, olhos escuros e um cabelo volumoso e enorme, que chamava atenção onde quer que ela fosse. Era bem alta e muito esbelta, facilmente poderia ser uma modelo, mas deixou esse sonho de lado, já que sua mãe não achava uma boa ideia por acreditar que todas aquelas moças acabavam como moças da vida, o que, certamente, não passava de uma ideia sem sentido algum que a mãe dela ouviu de alguma outra mulher. 

— Eu tenho que trabalhar, né — Cidinha revirou os olhos, terminando de enxaguar o último copo. — Vai fazer o que lá?

— To precisando comprar umas coisas e, além disso, a arrumação para a festa já começou, podemos ver como as coisas vão ser esse ano! — a animação de Sandra ela clara, certamente ela queria muito que Cidinha a acompanhasse, com certeza sua mãe não a deixaria ir sozinha.

— Tudo bem, painho só chega mais tarde mesmo, vamo lá, é bom que compro umas verduras também — ela respondeu, enxugando as mãos e soltando os cabelos.

A mãe de Sandra era uma das poucas mulheres que entendia a situação de Cidinha e, mesmo sem saber da história toda, se compadecia dela, pois se via na pele da menina, desse modo, não afastava Sandra de Cida, pois sabia que ela era sozinha e precisava ao menos de uma amiga verdadeira. 

— Vamos, assim voltamos rapidinho! — Sandra confirmou, animada, batendo palmas e, logo depois, empurrando a amiga para dentro do quartinho. — Vai se trocar logo! 

— Tá bom, tá bom — ela confirmou, revirando os olhos e caminhando até o quartinho.

Aquele era seu cantinho, seu pai dormia na sala para dar a ela um pouco de privacidade e o lugar tinha a cara dela. Apesar de ser bem simples, como toda a casa, via-se que era bem mimoso. Tinha cortinas de bolinhas na janelinha que não fechava, um armário pequeno com suas roupas, uma cama forrada com um lençol rosa e um mosquiteiro da mesma cor. 

Cida abriu o armário e tirou de lá um outro vestido, dessa vez florido, tirando sua camisola e o colocando, ajeitando no corpo e dando um sorriso, era um dos seus favoritos, abraçava seu corpo perfeitamente bem, deixava as coxas grossas a mostra, a bunda arrebitada e o tom laranja contratava com sua pele. Manteve os cabelos soltos e os jogou para trás, ajeitando os seios no busto do vestido e se virando para sua amiga, sorriu.

— Vamo, antes que eu desista! 

Sandrinha agarrou o braço da amiga e, depois de pegar algumas notas na gaveta onde seu pai guardava o dinheiro da pesca, saíram as duas em direção à feira da cidade. 

Enquanto caminhavam, as mulheres da comunidade as encaravam com o rosto torcido, Cida chamava atenção por onde ia e isso não era novidade, mas, depois de tudo o que havia acontecido, as moças a olhavam com raiva ou nojo. 

Em contrapartida, os homens da vila a comiam com os olhos e a desejavam sem sequer disfarçar, o que também incomodava Cidinha, mas preferia isso aos olhares irritado das mulheres. 

— Olha ela! — falou seu Jorge, assim que a Cidinha entrou na feira. 

O local era pequeno, havia algumas barracas de verduras e alguns bares, além disso, havia muitas barracas de peixes. 

— Nem vem, Jorge, deixa minha amiga quieta! — Sandra entrou no meio, ficando na frente de Cida.

Jorge era famoso por tentar desviar as meninas de seus caminhos, era bastante galante, apesar de não ser tão bonito. Em nada ele interessava a Cida, ou a Sandra. 

— É cachorro de guarda agora é, Sandrinha? Sabia não — resmungou o homem, fechando a cara para as duas e virando as coisas quando percebeu que não conseguiria o que queria. 

— Não liga amiga, esse aí parece um urubu, mas você não é carcaça não, é carne de primeira, não dá bola pra esse palhaço — Sandra falou, puxando a amiga para o lado oposto, em direção à feira. 

— Eu não ligo, mas queria que ele fosse meu maior problema — Cida respondeu, suspirando meio chorosa. 

— O que aconteceu? — Sandra perguntou, parando ao lado do centro da praça, onde começavam a arrumar a decoração de São João.

— Ah, Sandrinha! Painho quer me casar com meu primo Zé! 

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