A barraquinha - III

Em seguida, ele voltou os olhos para o violão, depois de ver o rosto corado da jovem que, ao menos para ele, era sem dúvidas a garota mais bonita da pista. Sandrinha percebeu o flerte do homem e gargalhou, ele era bonito até, não era dali, era um cantor de fora da cidade, e elas bem sabiam que os moços da cidade eram fogo. 

Quando menos esperavam as duas meninas foram separadas e, inesperadamente, Cida foi tirada para dançar por um rapaz que ela havia visto algumas vezes, mas com quem nunca mais havia falado desde o que aconteceu no ano anterior. Naquele momento, ele tinha um sorriso lindo nos lábios e parecia não se importa  com a reputação dela, ninguém na pista parecia ligar para aquilo, ao menos não ainda. 

Ela colocou o corpo ao do rapaz, dançando com ele e movendo o quadril no ritmo da música, esquecendo de todos os problemas ao som da voz doce do cantor enquanto o garoto a conduzia naquele forró delicioso que aquecia seu coração. Trocou de parceiro várias vezes enquanto as músicas iam passando, em dado momento se perdeu de Cida, mas não se importou com isso, seu próximo parceiro lhe trouxe licor e ela bebeu um copinho pequeno, rindo alegremente e voltando a dançar. 

Todos a conheciam como a melhor dançarina de todas as festas de São João, por isso, sempre haviam parceiros para ela nas comemorações. Porém, naquele ano, Cida não tinha muita confiança que as coisas seriam como antes, afinal, ela estava arruinada e as pessoas não se aproximavam dela, nem os homens e muito menos as mulheres. Mas, naquele São João, ela sentiu como se nada tivesse acontecido, como se ela fosse a mesma menina de 17 anos, dançando como se não houvesse amanhã e sem dever nada a ninguém. 

Sua testa já estava levemente suada, mas o seu perfume ainda era forte e o seu cheiro ficava em todos que dançavam com ela fazendo as outras meninas torcerem o nariz ao dançar com os rapazes que a deixavam na pista. O peito de Cida estava ofegante e qualquer um que a olhava podia jurar que ela brilhava, tamanha alegria que emanava dela naquele momento. Os mais velhos viam, na pista, Dona Maria dançando em sua juventude, agora mais do que nunca ela era como a mãe, o retrato da mulher que, como a filha, deixava estragos por onde passava, como um furacão.

Mas nem todo o brilho e alegria de Cidinha poderia suportar o olhar de malícia de um homem que ela jurou jamais olhar de novo em sua vida. Jonas estava de longe a olhando dançar e naquele momento o lembrou de quando a conheceu da menina inocente que ele abordou na pista e de tudo o que tiveram. Claro, não havia lhe contado sobre Ilana, sua esposa, nem sobre Milena, sua filha. Jonas não se arrependia, teve o que queria e sentia saudades, mas sua esposa o descobriu e sua versão da história foi aceita por todos, afinal, quem resistiria a uma beldade como Cida. 

Com passos de raposa, bem calculados e discretos, ele passou por entre as pessoas, aproveitando que sua esposa havia ido distrair a filha com alguns joguinhos, e foi até a pista aproveitando que o último rapaz havia deixado Cida sozinha no meio do forró. Jonas entrou no local com rapidez e, a puxando pela cintura, colou as costas de Cidinha, que estava rindo levemente enquanto gritava uma música para a banda, em seu peitoral. Segundos depois, antes que ela se virasse, Jonas aproximou sua boca da orelha dela e, inspirando profundamente o cheiro de rosas que lhe era familiar, ele sussurrou:

— Oh, minha Cida… Como senti sua falta — a voz dele era um sussurro e as mãos firmes e grandes apertaram a menina firmemente puxando a bunda dela de encontro ao quadril dele, enquanto o homem arfava. — Vamo dança um pouquinho, hm? O que tu acha? Depois te levo ali pra beber um licorzinho… 

Cida estava em choque, a voz de Jonas arrepiou sua espinha e a fez sentir náuseas, sentia nojo dele tanto quanto sentia nojo de Zé. Claro em questão de aparência, Jonas era muito mais bonito, tinha um trabalho menos pesado que o de Zé e isso o permitia se cuidar melhor, era um homem de quase trinta anos que tinha músculos fortes e um cabelo enrolado que formava algumas ondas de um tom loiro escuro. Com uma pele morena brilhante e um rosto de traços firmes, mas bonitos, ele conquistava suspiros pela vila, mas Ilana sempre foi uma mulher de por medo em qualquer um com seu ciúmes doido, então poucas mulheres tinham coragem de se meter com Jonas, as que tinham ou já não tinham mais nada a perder ou eram desavisadas, como Cida. 

O corpo dela gelou e endureceu, seus olhos se apagaram por um momento e a raiva subiu por seu coração até chegar em sua cabeça, trazendo-a para a realidade novamente e lembrando-a que estavam no meio da pista. Cida, munida de todo o ódio que sentia por Jonas, se virou para ele, gritando. 

— Vai procurar tua mulher, seu safado! — então, sem pensar duas vezes, ergueu o joelho com força, batendo bem no meio das pernas de Jonas, que curvou o corpo e apertou a destra no volume de sua calça sentindo uma dor que o fez grunhir. 

— Sua puta! Tá maluca? — ele gritou, vendo a menina correr para longe da pista. — Tá se fazendo de difícil agora? Mas cê vai ver! — depois de sussurrar isso, sentindo a dor se abrandar mais, Jonas começou a correr entre as pessoas, tentando seguir Cida entre a multidão. 

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