A barraquinha - II

— Ah, Cida, mar tu tá bonita mulher!  — Sandra falou, sorrindo para a amiga com muita animação. — Todo mundo vai te olha assim, duvido tu não arranjar um marido melhor hoje! 

— Num fala bobagem, mulher — Cidinha reclamou, rindo levemente. — Tu também tá muito bonita! Tua mãe que fez o vestido foi?

Sandra usava um vestido vermelho que combinava com ela, tinha uma saia rodada com alguns babados e um decote sutil, mas muito bonito e até um pouco sensual. Ela usava um colarzinho dourado delicado e seus cabelos estavam soltos livres como o vento e como ela mesma. Seus lábios estavam brilhantes e seu rosto ostentava uma maquiagem bem leve que, pela primeira vez, Cida a viu usar. 

— Foi, acredita? Ela também passou essas coisa em mim — Sandrinha apontou para o rosto levemente maquiado. — Disse que eu já to na idade de me arrumar como mulher. 

— Pois cê ficou foi bonita! — Cidinha elogiou, entrelaçando o braço ao da amiga e começando a caminhar. — Cê ta falando que eu vou arrumar um marido melhor, mas desse jeito quem vai acabar recebendo uma proposta de casamento é tu! Tá muito linda! 

As garotas gargalharam enquanto caminhavam em direção a pequena praça. No caminho, as bandeirolas tremulavam com o vento e elas viam tudo colorido com os enfeites da festa, havia laços de palha amarrados nas árvores, bandeirolas penduradas em todo canto e, mesmo antes da praça, as barraquinhas de licor já começavam a aparecer. 

Claro, elas não eram as únicas indo para a festa, homens e mulheres da vida também saiam de suas casas prontos para ter a noite mais divertida de suas vidas. Todos que passavam pelas duas garotas não podiam desviar os olhares, afinal, a beleza delas era impossível de se ignorar. 

Quando chegaram à praça, se depararam com tudo muito iluminado. No centro, havia uma grande fogueira que iluminava com sua luz avermelhada tudo ao redor, havia também várias barraquinhas de diversas coisas maçã do amor, uvas com chocolate, cocada, milho, pamonha e muito mais, o cheiro era de dar água na boca. 

O local já estava cheio como um formigueiro, mas ninguém se importava com isso, o forró alto enchia toda parte e a banda tocava com uma empolgação só vista no São João. Mais perto da fogueira, havia um espaço cercado por uma cerquinha de madeira decorada onde os casais dançavam o arrasta pé com animação, bem coladinhos como manda o ritmo. 

Mais ao longe havia uma roda gigante montada, uma das maiores atrações daquele São João, os casais faziam fila para comprar os ingressos e fazer o passeio que dava vista para toda a praça ornamentada. Perto dali, as barraquinhas de jogos começavam a abrir, tiro ao alvo, derrube as latas, pescaria e muitos outros jogos para que todos pudessem se divertir, inclusive a barraca do beijo, que já estava bem iluminada e bem decorada. 

Era pequena, um cubiculozinho de madeira com uma janelinha onde, vez ou outra, meninas paravam para tentar a sorte de receber o beijinho do rapaz que elas estavam afim. Os garotos, por sua vez, eram vendados e beijavam as meninas sem saber quem ao certo estavam beijando, era essa a magia da barraca do beijo se o beijo fosse bom, o menino teria que dar um jeito de descobrir quem era a menina. 

— Oh, vamo comprar um algodão-doce e ir dar uma volta na roda gigante, depois vamo dançar um pouquinho, o que tu acha? — Sandrinha falou, com uma empolgação que até lhe afinava a voz. 

— Vamos! Mas se esse treco cair com a gente em cima, eu vou te matar — Cida falou, um pouco assustada com a roda gigante. 

Era a primeira vez que uma atração como aquela ia até a vila, então, era a primeira vez que as garotas viam algo como aquilo, se não nas conversas das meninas que passavam as férias nas cidades grandes. 

As duas meninas passaram por entre as pessoas, ouvindo alguns cochichos aqui e ali e recebendo alguns olhares tortos, mas sem se importar com aquilo. Elas seguiram para a barraquinha de algodão-doce e compraram os seus, indo em seguida para a fila da roda gigante e não demorando a embarcar no brinquedo, rindo enquanto olhavam a vila de cima, apontando vez ou outra para algum local que viam de la.

Quando o passeio acabou, elas correram em direção à pista de dança e, assim que chegaram, viram uma música começar e não perderam tempo, entrando no local e correndo para o meio da pista começando a dançar juntas o forro leve que tocava. 

Quando voltou os olhos para a banda, Cida viu o vocalista lhe dar um sorrisinho maroto e uma piscadela enquanto cantava: 

Eu quero um beijo de cinema americano;

Fechar os olhos, fugir do perigo;

Matar bandido, prender ladrão;

A minha vida vai virar novela;

Eu quero amor, eu quero amar;

Eu quero o amor de Lisbela…

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