Preparativos - II

— Amiga, é o seguinte. Você precisa enfrentar seu pai e dizer não, porque olha, aquele homem te olhou com uma cara de safado, que eu fiquei até com nojo. Ele não disfarçou em nada a vontade que ele tá de te pegar viu. Pelo menos seu Antônio quer deixar o casamento pra depois do São joão… Já pensou se fosse hoje mesmo? Do jeito que o povo já gosta de falar, ia comentar era que tu tá grávida.

— Ave Maria, Sandra. Era pra me ajudar ou pra me botar medo?

— Desculpa, não era a intenção. Mas pensa, hoje a gente vai dançar muito juntas e você vai poder se divertir antes da sentença. Deixa pra pensar nisso depois, mulher, que logo é dia de muito arrasta pé.

— Olha, você tem razão. Eu vou curtir os festejos, depois eu enrolo meu pai o máximo até conseguir dar um jeito dele mudar de ideia. Agora, vem cá, você por algum acaso já escolheu a roupa? — nessa hora, Sandra deu um grito agudo, lembrando que não tinha terminado de colar os farrapos no vestido rodado, nem levado as compras pra mãe, que deveria estar aguardando há mais de uma hora.

— Cidinha do céu, ainda bem que cê me lembrou, mulher. Tô indo agora pra casa pra entregar isso a mainha e ver o restante do meu vestido. Quer que eu passe aqui pra gente descer juntas?

— Claro! Vou terminar de organizar o meu também, pois quero ir bem bonita. Já que o povo da cidade gosta tanto de fofocar e falar da gente, vamo pelo menos dar um motivo bom, num é não? Inclusive, já que ocê vai sair, vê se sai pela sala, num vai pela cozinha não que é bom que eles acham que cê ta aqui ainda e num me chamam pra ficar perto daquele homem, tá bom? — a menina então abriu a porta do quarto e viu a amiga sair de fininho, e nesse meio tempo, tentou escutar um pouco da conversa que vinha de fora, mas sem sucesso.

Na cozinha, Zé ainda continuava tentando convencer o senhor que quanto mais rápido acontecer o casamento, melhor. 

— Mas, seu Antônio, pense comigo. Se vai casar daqui 3, 4 dias, o que é que custa casar logo agora? O senhor não quer que Cida tenha logo um marido? Eu já tô aqui certo, já aceitei, e senhor bem sabe que depois do que ela aprontou aí pelas vizinhança, ninguém mais vai aceitar casar com ela. Então, pensa direito no que ta querendo fazer, porque vai que eu desisto logo. O que num ta faltando é moça bonita e direita — mesmo sabendo que ninguém o desejava, pelo seu modo grosso e seu descuido, Zé tentava ao máximo fazer seu futuro sogro acreditar em suas palavras, para que o casamento acontecesse logo. 

Ele não via a hora de pôr as mãos no corpo da mulher que lhe fora prometido, pois o desejava a tanto tempo e nem acreditou quando recebeu a proposta do casório. Quanto mais tempo se passava, mais indignado ele ficava de não ter Cida na sua cama todas as noites apenas para o servir.

— Calma, filho, não é assim que funciona. Tem que ir com calma. Já vão ter as festas, o povo ta tudo na correria com a fogueira, num vai matar ninguém esperar uns 3 dias não, pode ficar tranquilo. Eu já lhe dei minha palavra que ela vai se casar com você, num já dei? Pois, então, eu num sei pra que esse aguniamento todo.

Enquanto mexia a xícara para poder esfriar o café, Zé continuava a insistência:

 — Seu Antônio, vamo fazer o seguinte, então, nem hoje, nem mais pra frente. Assim que acabar o São João, a gente monta esse casamento e acaba logo com isso, ok? Já pode anunciar o povo, falar que Cida vai casar comigo, porque assim já fica todo mundo esperto que as coisas vão desenrolar rápido. 

— Então pronto, fica combinado assim. Depois do São João, ocêis casam e fica tudo certo. Agora deixa eu ir ali que eu preciso ainda montar a fogueira e ver com a Cida pra ela limpar os peixe pra mim, tá bom? Cê me dá licença. — Então Antônio levantou e começou a sair. 

Zé o acompanha e se despede, imaginando que finalmente conseguiu o que queria, e que logo logo teria uma mulher nua em sua cama, bela o suficiente pra passar noites em claro.

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