KARINA
O dia da audiência chegou mais rápido do que eu precisava. Felizmente , o irmão da Diana esteve sempre do meu lado e acabou não sendo o monstro de sete cabeças que eu temia.
Mas não foi possível contornar o teste de paternidade. Marcos havia ganho essa batalha.-Muito obrigada Lucas. Não sei o que teria sido esta audiência sem ti.
- Não tens que te preocupar com nada. Tudo vai terminar bem.Ele tentava me por calma, mas eu continuava uma pilha de nervos. Cinco anos sem noticias do Marcos e ele me atira com uma intimação na cara.
Logo que atravessamos a porta de saída, demos de caras com Marcos que estava parado no estacionamento falando com seu advogado. Eu consegui manter minha calma em frente ao juiz mas agora nada me impedia de lhe dizer umas poucas e boas.Antes que Lucas pudesse me impedir eu caminhava furiosa em direcção ao local onde ele estava. O momento em que ele me viu aproximar , o rosto dele fechou dando lugar a feições duras e impenetráveis que eu conhecia muito bem. Ele era intimidativo mas minha raiva me comandava e eu fui sem hesitar.
- A porcaria de uma acção judicial Marcos?!!! Pessoas normais ligam ou ao menos aparecem nos aniversários. O que pensas ganhar com isto?- Eu gritava enquanto caminhava feito louca.
Eu estava fora de mim. Eu queria descarregar toda minha raiva nele. Ele não se moveu e continuou a olhar sem deixar transparecer nenhuma emoção. Títpio Marcos , a parede de gelo impenmetrável.
-Acho melhor teres calma para podermos falar como duas pessoas civilizadas.
Imaginem a cara de pau do homem! O que tem de civilizado nas acções dele?Me levar a tribunal cinco anos depois?
- Tu podes ter conseguido o teste de paternidade mas nunca chegarás perto da minha filha. Para o teu bem Marcos , fique longe de nós.
-Devias ter mais cuidado com as palavras que dizes. Devias deixar teu advogado cuidar das interacções entre as partes. - Sua arrogância só me deixa mais zangada. - Nenhum juiz te dará a guarda depois que souber que tu querias que eu fizesse um aborto. -Aí é que te enganas meu bem. Tu melhor que ninguém deveria saber que eu sempre consigo o que quero.Eu nem pensei e , no segundo seguinte minha mão colidia com o rosto dele e o som do estalo fez um eco no meu cérebro. Via-se no rosto dele que foi pego de surpresa. Ele segurou-me pelo pulso e olhou nos meus olhos. Eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Devia ter sido de medo, mas mesmo depois de anos, eu conseguia sentir atracção física por aquele homem.
- Devias controlar a tua cliente Lucas, ou ela pode acabar por dormir numa cela esta noite- Ele falou para o meu advogado mas seus olhos continuavam focados em mim.
Aqueles olhos lindos cor de amêndoa que um dia foram minha perdição. Porém hoje o olhar era tudo menos terno ou carinhoso.Me fez recear ter ele como inimigo mas eu não iria deixar de lutar por minha filha. Fiz força para soltar meu braço das garras dele mas cada vez que eu lutava ele me apertava mais contra o seu corpo me mantendo no lugar.
Por um instante me perdi no aroma masculino que transbordava dele , e naqueles braços fortes que me seguravam. Mas foi mesmo um instante, porque a minha raiva falou mais alto e decidi manter meu foco nisso.-O facto de seres mãe da minha filha não te dá direito a certas liberdades. A próxima vez que tentares algo parecido Karina, não serei benevolente.
Ele me soltou e voltou sua atenção para o seu advogado que olhava a cena estupefacto. O tom de voz apesar de ter sido ameaçador , teve um efeito embaraçoso em mim. E a maneira como ele pronunciou meu nome trouxe de volta memórias que eu pensei que tivessem sido apagadas da minha mente.
Ugh!!! Foca-te Karina. Não é hora e nem o lugar para ficares a recordar o passado.
-Karina, não é assim que vamos ganhar a causa. Venha, eu acompanho-te até ao teu carro.- A voz do Lucas me trouxe de volta a realidade.
Relutante, sai dali com Lucas a segurar-me pelos ombros e a conduzir-me entre os carros até onde o meu estava.
-Uma vez mais, obrigada Lucas.
Ele apenas acenou com a cabeça e esperou que eu entrasse no carro e saísse dali. Não estava com cabeça nem humor para ir trabalhar , então fui para casa descansar. Felizmente hoje Kayla ficaria com meus pais. Eu sabia que não seria um dia fácil por isso pedi de antemão que ela passasse a noite lá.
Claro que não dei a eles os reais motivos. Se antes eles não era fans de Marcos , agora só ia juntar mais lenha a fogueira. E querendo ou não ele é o pai da Kayla.MARCOS
Cinco anos depois e não estava preparado para ver Karina novamente. Sim, fui um covarde por entrar com a acção em tribunal quando eu podia ir la e tentar convence-la a dar-me a guarda.
Em minha defesa, tenho certeza absoluta que ela nem abriria a porta para mim. Nisso não a censuro, eu faria o mesmo. E por isso cá estamos. O nosso último encontro deixou um sabor amargo que eu pensei que tivesse passado. Mas no minuto que ela entrou na sala de audiência foi como se tivéssemos voltado no tempo. Excepto, pelo facto de , hoje, ela não ser mais uma miúda de olhos arregalados e a cabeça cheia de sonhos que me fazia sentir um adolescente do lado dela. A mulher que atravessou a porta da sala de audiencia carregava uma aura diferente. Caminhava com passos firmes como se o mundo se curvasse ao seu comando. O vestido preto não escondia as curvas do seu corpo mais maduro e apesar de chegar-lhe até ao joelho consigo ter uma ideia das pernas delineadas e da curva das suas ancas. Karia tinha se transformado em uma mulher confiante, decidida e transbordava sensualidade nos pequenos gestos sem o mínimo esforço. Não esperava que ela conseguisse um advogado bom em tão curto espaço de tempo , mas isso é apenas um mero detalhe. Eu tinha um plano e estava muito bem preparado. Se antes eu estava hipnotizado simplesmente pela aparência dela, agora depois daquele tapa na minha cara, não consiguia tirar a imagem dela da minha cabeça. Quem diria que a minha pequena e frágil Karina se transformaria nesta mulher furacão. Tentei fingir que conversava com Isaac , meu amigo e advogado, enquanto ela e o advogado se afastavam mas a verdade é que não conseguia tirar os olhos dela. Depois que ela foi embora é que consegui devolver a minha atenção para o homem que estava a minha frente e dei de caras com ele a olhar-me atentamente com um meio sorriso no rosto. Com cara de culpado, decidi fingir que não tinha visto que tinha sido apanhado a olhar para Karina.-Devo admitir, não esperava ver esse dia chegar tão cedo.- Isaac fala entre risos.
- Do que estás a falar? - O dia que uma mulher conseguisse tirar-te a concentração tempo suficiente para te dar um estalo nessa tua cara presunçosa meu amigo.No instante que a tive em meus braços parte do meu cérebro parou de funcionar. Até ao momento não sei de onde surgiu a força que me impediu de beija-la ali , em publico.
Só posso estar a ficar louco...
-Ela apanhou-me desprevenido, e honestamente não pensei que ela chegaria a tanto. Preciso ter em mente que ela não é mais a miúda que eu conhecia.
- Decididamente não. Com todo respeito, ela é um mulherão. Em outras circunstâncias com certeza iria atrás dela.Bom, talvez até eu iria. Mas não seria ingénuo para cair nas mãos dela novamente. Se aos 18 ela foi capaz de criar uma armadilha para me prender, não quero imaginar do que ela é capaz hoje.
Abanei a cabeça tentando sacudir as imagens dela da minha cabeça.-Pensei que viesses com a Lia hoje, para impressionar o juiz. A perspectiva de uma família, uma base sólida para o crescimento saudável de uma criança pode influenciar na decisão.
- Ela tinha uma reunião importante. - Eu não consigo entender essa vossa relação. - Não ha nada para não entender. Eu preciso me casar para o bem da minha carreira e Lia foi a escolha óbvia em todas as mulheres com quem tive um relacionamento. É ambiciosa e precisa dos contactos e facilidades que esta parceria pode trazer. -Bom , se é que pode chamar-se relacionamento o que tens tido nos últimos anos. - De certa forma é, mas uma versão melhorada em que ninguém faz promessas nem deve satisfações. -Ok. Prepara-te , porque casamento será o oposto.Não vou perder meu tempo tentando explicar que Lia não tem esse tipo de expectativas. Isto é uma parceria de negócios com benefícios sexuais.
Bom , mesmo se explicasse duvido muito que ele fosse entender.-Então fico a espera que me confirmes a data para fazer o teste de paternidade.- Falo , mudando o assunto,.
- Claro, tenho que entrar em consenso com o advogado dela primeiro. -Tudo bem. Então falamos depois.No meu caminho de volta ao escritório Karina inundava meus pensamentos. Parecia que a imagem dela se agarrava a mim para não desaparecer A última coisa que preciso agora é de uma distracção. Uma linda e devastadora distracção.
KARINANão tinha dúvidas sobre qual seria o resultado do teste de paternidade. Mas Lucas explicou que era necessário para adicionar a evidencia ao processo. A audiência seguinte já havia sido marcada para daqui a cinco dias. Dizer que estava nervosa era pouco. Por cinco anos ele ignorou a existência desta criança e porquê agora este circo todo?? Essas questões estavam a dar comigo em doida.Sentada no banco do parque onde eu levava Kayla para brincar, eu olhava ela divertir-se com os amigos que fez ali. Tenho de começar a prepara-la caso o juiz decida a favor de Marcos. Eu sabia que este dia chegaria, mas pensei que ainda houvesse tempo.-Olá Karina.A voz do Lucas interrompeu o meu monologo interior.- Oohh. Olá Lucas. Tudo bem?-Tudo óptimo. Tenho algumas novidades , mas nem todas boas.Soltei um longo suspiro e fiz sinal com a mão para ele continuar a falar.-Tens que te preparar para o que vem a seguir. Tenho certeza que o advogado dele deve estar a procurar todas as coisas que
MARCOSEu sabia que havia sido uma péssima jogada ter deixado isto para depois. Eu estava em vantagem, tinha o elemento surpresa a meu favor, e teria tido pouco trabalho a convence-la a dar-me a guarda. Contava encontra-la sozinha, a presença da Diana não teria ajudado e foi isso que atrapalhou meus planos.Agora, estou aqui a olhar para porta dela e não ha sinal de uma alma viva naquela casa. Não me resta mais nada senão tentar novamente, em outra ocasião. Mas preciso dar tempo, amanhã ela estará com as armas carregadas para me receber.O meu humor já estava péssimo quando cheguei ao trabalho. Piorou drasticamente quando fui informado que havia uma reunião marcada e que haviam se esquecido de informar-me com antencedencia e que seria com a gestáo de topo da empresa. Não estava com paciência para aturar os lambe botas de plantão a fazerem figura de idiotas por uma promoção a partner. Eu queria o lugar, estava a trabalhar para isso. E esse é um dos motivos pelo qual fui atrás da minha
KARINANão sei dizer em que momento é que deixamos de lançar facas um para o outro e ficamos entrelaçados num beijo . Mas a verdade é que eu não sabia se o empurrava ou se o puxava mais para mim.Devia estar a correr para o lado oposto ao dele mas me vi a enrolar meus braços no seu pescoço e me render ao beijo e caricias. A raiva deu lugar a todo aquele fogo que me consumia enquanto ele me devorada sem piedade. E foi quase doloroso quando ele interrompeu o beijo do nada. Levei uns segundos para entender o que aconteceu e quando finalmente olhei para ele e vi o olhar de deboche e satisfação no rosto dele eu queria desaparecer.- Agora que começamos a entender-nos, queres reavaliar os termos da guerra que queres travar contra mim?Afastei-me horrorizada. Como fui capaz de me deixar levar, como fui deixar isto acontecer? Marcos não é alguém que eu deva baixar a guarda. Tudo é calculado ao detalhe para atingir seus objectivos. Não sei se eu estava com mais raiva de mim ou dele , mas não i
KARINADepois de ter conversado com Kayla e ter explicado da melhor maneira que pude as mudanças que iriam ocorrer na nossa vida , liguei para Lucas para informar que Marcos terias os domingos para ver a filha. Ele falaria com o outro advogado para que fizesse chegar ao Marcos.Quando o domingo chegou , eu estava nervosa. Diana ofereceu-se para vir mas eu recusei. Ela não gosta do Marcos e eu precisava que este dia fosse o mais tranquilo possivel.Mas passei o dia todo a ver minha filha ansiosa a espreitar pela janela, atenta a todos sons , esperando o pai chegar. E ele não veio. Tive que inventar uma desculpa para conseguir convencer Kayla a ir para cama.Outra semana passou e no domingo seguinte Marcos não deu as caras. Eu estava a segurar-me para não ir atras dele e estrangula-lo. Porque essa era a minha vontade.O terceiro domingo foi a gota d’água. Kayla durmiu a chorar porque não entendia porquê o pai não queria conhece-la.Acordamos no dia seguinte e ela não quis ir ao jardim
MARCOSO momento que Lia entrou na sala eu me senti como se estivesse sentado em uma bomba prestes a explodir. As duas se encaravam e o silencio era de cortar o coração-Karina, podemos continuar esta conversa outro dia?- Não. - Ela respondeu sem desviar o olhar da Lia.-Olha querida, alguns de nós tem assuntos mais importantes a tratar. Portanto, se nos desses licença...- Eu só preciso que o seu queridinho se comprometa a sair da minha vida e me ponho a milhas.Isto precisa parar antes que aconteça o pior.-Lia, eu trato disto. De-me cinco minutos e ja conversamosPara meu alivio, Lia e Karina são completamente diferentes. Enquanto Karina teria discutido e desafiado a minha ordem, Lia não precisou que eu dissesse duas vezes. Saiu da sala sem dizer nem uma palavra.- Eu não abrirei mão do meu direito de ver a miuda uma vez por semana.-Porquê não? Não estas a usa-lo.-Prometo que este fim de semana não faltarei. Agora podes deixar- me trabalhar?Aparentemente ela estava satisfeita c
KARINATive meu momento de lucidez instantes após ter sido consumida pela loucura que era estar a escassos centímetros de Marcos. Afastei-me lentamente porque , honestamente estava ser dificil manter meu equilibrio.-Isto é uma péssima ideia, - MurmurreiEle , tal como eu, lutava para sair do transe.-Concordo. Acho que está mais do que na hora de ir embora. Boa noite Karina.Desta vez não houve formalidades ele apenas deu meia volta e saiu o mais rápido que pôde. Depois que a porta fechou , relaxei e sentei no sofá por alguns minutos.O que estou a fazer com a minha vida? Eu estava bem , feliz até, antes de ele voltar e acabar com minha paz. Daqui em diante irei pôr a Diana a supervisionar as visitas. Fora de questão ficar num espaço confinado com aquele homem. Fui para cama com ele na cabeça , o que só resultou em sonhos molhados a noite toda.Dia seguinte estava de péssimo humor e atrasada. Até a hora que cheguei a loja ja havia proferido uma dúzia de obscenidades a vários conduto
MARCOSEu cheguei ao escritório questionando minha sanidade mental. Entrei na minha sala sorrindo feito um idiota. Bom, não vou mentir que algumas coisas mudaram nos últimos dias. Não pensei que fosse querer passar tempo com minha filha. Mas , a miúda deve ter saído a mãe porque estou viciado.Quase tive um acidente quando travei bruscamente em frente a loja de brinquedos depois de ter visto aquela monstrousidade de boneco de peluche. Mas valeu a pena cada centavo depois de ver o sorriso dela.Yep, estou a ficar louco. E apesar de estar completamente fascinado pela Kayla, foi impossivel ignorar Karina . Aquela saia que abraçava suas coxas na perfeição, a racha frontal que deixava ver parte da sua perna e me convidada a querer ver mais, a blusa de uma transparencia que atiçava minha curiosidade e aqueles sapatos vermelhos que deixavam minha imaginação correr solta. Se ela fosse minha eu não a deixava ir trabalhar assim vestida. E como um adolescente usei uma desculpa parva para vê-
KARINAFiquei mais de 15 minutos a olhar para o ecrã tentando entender o que estava a acontecer. Não sabia como lidar com o novo comportamento do Marcos. Deixei o celular de lado e voltei minha atenção a quantidade de caixas a minha frente. Era dia de inventário e havia recebido nova mercadoria. Diana iria ficar com Kayla esta noite porque eu não tinha hora para sair do trabalho. Estava imersa no trabalho quando meu celular toca. Vi o nome do Marcos no ecrã e ignorei. As duas meninas que haviam ficado para ajudar estavam num canto exaustas. Olhei para hora e lhes dei razão. Já passava das oito da noite.-Acho que por hoje chega. Podem ir .Elas levantaram-se imediatamente e foram levar as bolsas. Eu levei algumas caixas para dentro do pequeno armazém nos fundos da loja. Precisava de um banho e algo para comer. Meu estômago fez um barulho como se estivesse a concordar comigo.Sai do armazém já com um plano para quando chegasse a casa. Caminhava despreocupada para minha sala quando a