Capítulo 2

KARINA

O dia da audiência chegou mais rápido do que eu precisava. Felizmente , o irmão da Diana esteve sempre do meu lado e acabou não sendo o monstro de sete cabeças que eu temia.

Mas não foi possível contornar o teste de paternidade. Marcos havia ganho essa batalha.

-Muito obrigada Lucas. Não sei o que teria sido esta audiência sem ti. 

- Não tens que te preocupar com nada. Tudo vai terminar bem.

Ele tentava me por calma, mas eu continuava uma pilha de nervos. Cinco anos sem noticias do Marcos e ele me atira com uma intimação na cara.

Logo que atravessamos a porta de saída, demos de caras com Marcos que estava parado no estacionamento falando com seu advogado. Eu consegui manter minha calma em frente ao juiz mas agora nada me impedia de lhe dizer umas poucas e boas.

Antes que Lucas pudesse me impedir eu caminhava furiosa em direcção ao local onde ele estava. O momento em que ele me viu aproximar , o rosto dele fechou dando lugar a feições duras e impenetráveis que eu conhecia muito bem. Ele era intimidativo mas minha raiva me comandava e eu fui sem hesitar.

- A porcaria de uma acção judicial Marcos?!!! Pessoas normais ligam ou ao menos aparecem nos aniversários. O que pensas ganhar com isto?- Eu gritava enquanto caminhava feito louca.

 

Eu estava fora de mim. Eu queria descarregar toda minha raiva nele. Ele não se moveu e continuou a olhar sem deixar transparecer nenhuma emoção. Títpio Marcos , a parede de gelo impenmetrável.

-Acho melhor teres calma para podermos falar como duas pessoas civilizadas.

Imaginem a cara de pau do homem! O que tem de civilizado nas acções dele?Me levar a tribunal  cinco anos depois?

- Tu podes ter conseguido o teste de paternidade mas nunca chegarás perto da minha filha. Para o teu bem Marcos , fique longe de nós.

-Devias ter mais cuidado com as palavras que dizes. Devias deixar teu advogado cuidar das interacções entre as partes. - Sua arrogância só me deixa mais zangada.

- Nenhum juiz te dará a guarda depois que souber que tu querias que eu fizesse um aborto.

-Aí é que te enganas meu bem. Tu melhor que ninguém deveria saber que eu sempre consigo o que quero.

Eu nem pensei e , no segundo seguinte minha mão colidia com o rosto dele e o som do estalo fez um eco no meu cérebro. Via-se no rosto dele que foi pego de surpresa.  Ele segurou-me pelo pulso e olhou nos meus olhos. Eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Devia ter sido de medo, mas mesmo depois de anos, eu conseguia sentir atracção física por aquele homem.

- Devias controlar a tua cliente Lucas, ou ela pode acabar por dormir numa cela esta noite-  Ele falou para o meu advogado mas seus olhos continuavam focados em mim.

Aqueles olhos lindos cor de amêndoa que um dia foram minha perdição. Porém hoje o olhar era tudo menos terno ou carinhoso.Me fez recear ter ele como inimigo mas eu não iria deixar de lutar por minha filha.  Fiz força para soltar meu braço das garras dele mas cada vez que eu lutava ele me apertava mais contra o seu corpo me mantendo no lugar.

Por um instante me perdi no aroma masculino que transbordava dele , e naqueles braços fortes que me seguravam. Mas foi mesmo um instante, porque a minha raiva falou mais alto e decidi manter meu foco nisso. 

-O facto de seres mãe da minha filha não te dá direito a certas liberdades. A próxima vez que tentares algo parecido Karina, não serei benevolente.

Ele me soltou e voltou sua atenção para o seu advogado que olhava a cena estupefacto. O tom de voz apesar de ter sido ameaçador , teve um efeito embaraçoso em mim. E a maneira como ele pronunciou meu nome trouxe de volta memórias que eu pensei que tivessem sido apagadas da minha mente.

 

Ugh!!! Foca-te Karina. Não é hora e nem o lugar para ficares a recordar o passado.

-Karina, não é assim que vamos ganhar a causa. Venha, eu acompanho-te até ao teu carro.- A voz do Lucas me trouxe de volta a realidade.

Relutante,  sai  dali com Lucas a segurar-me pelos ombros e a conduzir-me entre os carros até onde o meu estava.

-Uma vez mais, obrigada Lucas. 

Ele apenas acenou com a cabeça e esperou que eu entrasse no carro e saísse dali. Não estava com cabeça nem humor para ir trabalhar , então fui para casa descansar. Felizmente hoje Kayla ficaria com meus pais. Eu sabia que não seria um dia fácil por isso pedi de antemão que ela passasse a noite lá.

Claro que não dei a eles os reais motivos. Se antes eles não era fans de Marcos , agora só ia juntar mais lenha a fogueira. E querendo ou não ele é o pai da Kayla.

MARCOS

Cinco anos depois e não estava preparado para ver Karina novamente. Sim, fui um covarde por entrar com a acção em tribunal quando eu podia ir la e tentar convence-la a dar-me a guarda.

Em minha defesa, tenho certeza absoluta que ela nem abriria a porta para mim. Nisso não a censuro, eu faria o mesmo. E por isso cá estamos.

O nosso último encontro deixou um sabor amargo que eu pensei que tivesse passado. Mas no minuto que ela entrou na sala de audiência foi como se tivéssemos voltado no tempo. Excepto, pelo facto de , hoje,  ela não ser mais uma miúda  de olhos arregalados e a cabeça cheia de sonhos que me fazia sentir um adolescente do lado dela. A mulher  que atravessou a porta da sala de audiencia carregava uma aura diferente. Caminhava com passos firmes como se o mundo se curvasse ao seu comando. O vestido preto não escondia as curvas do seu corpo mais maduro e apesar de chegar-lhe até ao joelho consigo ter uma ideia das pernas delineadas e da curva das suas ancas. Karia tinha se transformado em uma mulher confiante, decidida e transbordava sensualidade nos pequenos gestos sem o mínimo esforço.

Não esperava que ela conseguisse um advogado bom em tão curto espaço de tempo , mas isso é apenas um mero detalhe. Eu tinha um plano e estava muito bem preparado.

Se antes eu estava hipnotizado simplesmente pela aparência dela, agora depois daquele tapa na minha cara, não consiguia tirar a imagem dela da minha cabeça. Quem diria que a minha pequena e frágil Karina se transformaria nesta  mulher furacão. 

Tentei fingir que conversava com Isaac , meu amigo e  advogado, enquanto ela e o advogado se afastavam mas a verdade é que não conseguia tirar os olhos dela. Depois que ela foi embora é que consegui devolver a  minha atenção para o homem que estava a minha frente e dei de caras com ele a olhar-me atentamente com um meio sorriso no rosto.

Com cara de culpado, decidi fingir que não tinha visto que tinha sido apanhado a olhar para Karina.

-Devo admitir, não esperava ver esse dia chegar tão cedo.- Isaac fala entre risos.

- Do que estás a falar?

- O dia que uma mulher conseguisse tirar-te a concentração tempo suficiente para te dar um estalo nessa tua cara presunçosa meu amigo.

No instante que a tive em meus braços parte do meu cérebro parou de funcionar. Até ao momento não sei de onde surgiu a força que me impediu de beija-la ali , em publico.

Só posso estar a ficar louco...

-Ela apanhou-me desprevenido, e honestamente não pensei que ela chegaria a tanto. Preciso ter em mente que ela não é mais a miúda que eu conhecia.

- Decididamente não. Com todo respeito, ela é um mulherão. Em outras circunstâncias com certeza iria atrás dela.

Bom, talvez até eu iria. Mas não seria ingénuo para cair nas mãos dela novamente. Se aos 18 ela foi capaz de criar uma armadilha para me prender, não quero imaginar do que ela é capaz hoje.

Abanei a cabeça tentando sacudir as imagens dela da minha cabeça.

-Pensei que viesses com a Lia hoje, para impressionar o juiz. A perspectiva de uma família, uma base sólida para o crescimento saudável de uma criança pode influenciar na decisão.

- Ela tinha uma reunião importante.

- Eu não consigo entender essa vossa relação.

- Não ha nada para não entender. Eu preciso me casar para o bem da minha carreira e Lia foi a escolha óbvia em todas as mulheres com quem tive um relacionamento. É ambiciosa e precisa dos contactos e facilidades que esta parceria pode trazer.

-Bom , se é que pode chamar-se relacionamento o que tens tido nos últimos anos.

- De certa forma é, mas uma versão melhorada em que ninguém faz promessas nem deve satisfações. 

-Ok. Prepara-te , porque casamento será o oposto. 

Não vou perder meu tempo tentando  explicar que Lia não tem esse tipo de expectativas. Isto é uma parceria de negócios com benefícios sexuais.

Bom , mesmo se explicasse duvido muito que ele fosse entender.

-Então fico a espera que me confirmes a data para fazer o teste de paternidade.- Falo , mudando o assunto,.

- Claro, tenho que entrar em consenso com o advogado dela primeiro.

-Tudo bem. Então falamos depois.

No meu caminho de volta ao escritório  Karina inundava meus pensamentos. Parecia que a imagem dela se agarrava a mim  para não desaparecer  A última coisa que preciso agora é de uma distracção. Uma linda e devastadora distracção.

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