Capítulo 4

MARCOS

Eu sabia que havia sido uma péssima jogada ter deixado isto para depois. Eu estava em vantagem, tinha o elemento surpresa a meu favor,  e teria tido pouco trabalho a convence-la a dar-me a guarda. Contava encontra-la sozinha, a presença da Diana não teria ajudado e foi isso que atrapalhou meus planos.

Agora, estou aqui a olhar para porta dela e não ha sinal de uma alma viva naquela casa. Não me resta mais nada senão tentar novamente, em outra ocasião. Mas preciso dar tempo, amanhã ela estará com as armas carregadas para me receber.

O meu humor já estava péssimo quando cheguei ao trabalho. Piorou drasticamente quando fui informado que havia uma reunião marcada e que haviam se esquecido de informar-me com antencedencia e que seria com a gestáo de topo da empresa. Não estava com paciência para aturar os lambe botas de plantão a fazerem figura de idiotas por uma promoção a partner. Eu queria o lugar, estava a trabalhar para isso. E esse é um dos motivos pelo qual fui atrás da minha filha.

Eu gosto de trabalhar aqui, e sou dos melhores gestores da empresa. Mas o velho Lázaro é da velha guarda, super conservador e digamos que o meu estilo de vida não vai de encontro com o perfil que ele quer para um partner. Casado e com filhos , sim. E a miúda será meu passaporte para o paraíso.

A reunião durou mais do que deveria e saí de la soltando fogo. Entrei na minha sala e Isaac estava lá, sentado demasiado a vontade.

-O que fazes aqui?- Perguntei dispensado as formalidades.

-Bom dia para ti também . Vejo que alguém caiu da cama do lado errado hoje.

- Poupe-me as gracinhas que não estou com paciência. Vá directo ao assunto.

-O advogado da Karina procurou-me e quer evitar a batalha no tribunal para poupar a criança. Pediu para desistirmos da acção .

-E porquê eu faria isso?

- Ele ameaçou expor que tu ordenaste que Karina fizesse um aborto quando soubeste da gravidez.

Eu devia ter resolvido isto ontem. Hoje seria um problema a menos para mim e me concentraria no resto do meu plano.

-O que sugeres?

-Não vais gostar  mas , é um argumento bom. E se essa informação vazar podes dizer adeus ao teu sonho de ser partner. O velho nunca iria deixar algo assim passar. Minha outra sugestão é desistires deste processo e deixar a Karina em paz. 

Estava fora de questão. Eu tinha um plano e ele me levava directo para onde eu queria estar.

-Ok. Prometo pensar no assunto.

- Não temos muito tempo. A próxima audiência é já quinta-feira.

Ele levantou-se e saiu. Trabalhar sob pressão é meu pão de cada dia, e isto não é diferente. A porta da minha sala abriu e levantei a cabeça para ver o velho Lázaro fechar a porta atrás dele e sentar-se a minha frente. Para um homem de 70 anos ele estava em muito boa forma .

-Marcos, saíste da sala de reuniões como se fosses tirar o pai da forca. Passa-se algo?

- Não, apenas tinha um assunto urgente que precisava da minha intervenção.-Mentir para ele não era das coisas mais inteligentes a fazer mas não tive outra saída.

- Sabes que és um dos jovens que com certeza será o futuro desta empresa. Sempre preparado e competente. São qualidades que aprecio em ti. Mas a vida é muito mais que isso meu filho.

E la vem o sermão. Hoje realmente não é um bom dia.

- Eu espero que não percebas tarde demais que desperdiçaste a vida somente com trabalho. Tenho esperanças que mudes e ai talvez comeces a pensar em ser mais que um gestor. Com as tuas qualificações seria uma honra tornar-te partner.-  Ele falou esperando uma reacção minha.

Ele sabia que eu queria o lugar, e estava a pressionar-me. Malditas regras da sociedade. Eu não devia precisar me comprometer com mulher nenhuma para chegar ao topo. Eu mereço o lugar e a prova disso e a carteira de clientes que trouxe para esta empresa. Mas é inútil discutir com ele.

-Aprecio bastante as conversas que temos e algumas delas puseram-me a pensar. Realmente a vida é curta demais para me focar somente em trabalho e decidi que é hora de assentar e constituir minha família. 

-Deixas-me orgulhoso com tão boas noticias. Quem é a feliz contemplada?

- Chama-se Lia e estamos juntos ha algum tempo. Na verdade eu é que não me decidia, mas ela já falava nisto ha algum tempo.

-Parabéns. Espero ser convidado a festa de noivado. Não perderia por nada. Ele levantou-se e aproximou-se para um abraço.

Eu devia sentir-me mal por estar a contar-lhe esta mentira. Mas eu quero o lugar e farei qualquer coisa para chegar la.

Quando ele saiu eu tive certeza que não tinha volta. Eu precisava resolver o impasse com Karina o quanto antes. Imediatamente peguei minhas chaves e o celular e num instante estava a entrar no meu carro em direcção ao meu objectivo.

Quando cheguei a porta dela parei por um instante para puxar ar e me preparar. Bati na porta duas vezes e ela abriu . Nada me preparou para imagem que estava a minha frente e fiquei por alguns segundos sem conseguir dizer uma só palavra. O vestido que ela trazia ajustava as suas curvas. na perfeição e apesar de ela estar descalça a imagem continuava irresistivelmente sedutora.

- Não te esperava tão cedo. - A voz dela me devolveu ao presente.

-E porquê não? Deixaste-me pendurado ontem.

-Achei que eras um homem demasiado ocupado para estar todos os dias a minha porta.

-Não me vais convidar a entrar?- Perguntei tentado parecer calmo quando no fundo estava irritado com a maneira confiante que ela me recebeu.

Ela afastou-se deixando espaço para eu passar.  A casa era pequena mas o espaço foi bem aproveitado. Chegava a ser aconchegaste e com um ambiente que te dava boas vindas.

Ela fez sinal para que me sentasse no sofá e ela sentou-se em uma poltrona oposta a mim cruzando as pernas. Engoli em seco , seguindo o movimento das suas pernas. Droga!!

Ajustei a gravata que parecia sufocar-me agora e falei tentando ao máximo ignorar o que ela fazia comigo.

-Precisamos entrar em acordo Karina.

-Quero crer que meu advogado já vos contactou.-  Eu esperava ver alguma emoção no rosto dela mas nada. Ela realmente recarregou as armas para mim. Mas eu sou melhor que ela nisto.

- Já. E eu não gostaria de alastrar isto até ao tribunal se pudermos chegar a um meio termo.

- Não existe meio-termo. Sei que as razões que te levam a procurar por nós nada tem haver com o facto de estares disposto a fazer parte da vida de Kayla. Tu continuas o mesmo egoísta de sempre. Então poupe o desgosto a minha filha e nos esqueça como fizeste nestes cinco anos.

Respirei fundo e levantei porque não conseguia pensar com ela no meu ângulo de visão.

-Eu posso ter mudado. Tu não me deste nenhuma chance de mostrar.

Ela levantou e caminhou até a porta. O balançar das suas ancas a cada passo que dava não ajudava em nada a minha causa. O que se passa comigo?

Ela abriu a porta e virou-se para mim mantendo a postura imparcial que teve durante os poucos minutos que estive ali. Estava a levar porrada num jogo que eu conheço bem demais. Eu precisava virar o jogo.

-Não vou ficar a ouvir essas mentiras que contas as pessoas que não te conhecem tão bem quanto eu. Tenha continuação de um bom dia Marcos e nos vemos no tribunal.

Caminhei até ela e fechei a porta. Pela primeira vez vi alguma emoção naquele rosto. E era choque, e raiva. É melhor que nada.

Eu encostei nela encurralando-a contra a porta.

-E eu não sou um desses miúdos que tratas como se fossem teus animais de estimação , Karina. Acredite, estou a fazer-te um favor vindo aqui negociar. Eu tenho os meios e os contactos para tirar-te a guarda da miúda. Mas tudo que peço é poder ve-la algumas vezes. Mas se insistires querida, ai saberás o quanto mudei e posso ser bem pior do que tu alguma vez imaginaste.

Os olhos dela pareciam estar vermelhos de tanta raiva e eu lutava para controlar minha própria respiração. Por alguns segundos o silencio reinou e eu esperava ansioso pelo contra-ataque.

-Não tenho medo de ti Marcos. Se é guerra que tu queres, é isso que terás.- Ela falou em tom ameaçador encostando-se mais a mim na tentativa de obrigar-me a recuar.

Eu já estava por um fio desde que ela abriu a porta para mim e esta proximidade era demais para suportar. O tecido leve deaquele vestido roçava conta minhas roupas. O aroma fresco do seu cabelo recém lavado estava a deixar-me louco. Contra minha vontade meus olhos estavam fixos naqueles lábios carnudos despidos do batom cor de vinho que ela usou na audiencia no nosso reencontro. O juízo saiu pela janela quando eu segurei seu pescoço e a beijei. Ela não se mexeu e era de esperar. Mas eu nem quis saber. Eu fui com tudo, sedento e cansado de lutar contra o desejo por aquela mulher que povoava meus pensamentos dia e noite.

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