Capítulo 3

KARINA

Não tinha dúvidas sobre qual seria o resultado do teste de paternidade. Mas Lucas explicou que era necessário para adicionar a evidencia ao processo. A audiência seguinte já havia sido marcada para daqui a cinco dias. Dizer que estava nervosa era pouco.  Por cinco anos ele ignorou a existência desta criança e porquê agora este circo todo?? Essas questões estavam a dar comigo em doida.

Sentada no banco do parque onde eu levava Kayla para brincar, eu olhava ela divertir-se com os amigos que fez ali. Tenho de começar a prepara-la caso o juiz decida a favor de Marcos.  Eu sabia que este dia chegaria, mas pensei que ainda houvesse tempo.

-Olá Karina.

A voz do Lucas interrompeu o meu monologo interior.

- Oohh. Olá Lucas. Tudo bem?

-Tudo óptimo. Tenho algumas novidades , mas nem todas boas.

Soltei um longo suspiro e fiz sinal com a mão para ele continuar a falar.

-Tens que te preparar para o que vem a seguir. Tenho certeza que o advogado dele deve estar a procurar todas as coisas que abonem Marcos como o pai do ano e desculpas esfarrapadas para cinco anos de ausência na vida de Kayla.

-Quanto a ausência não tem como se desculpar , ele sempre soube da existência da filha. Ele escolheu não fazer parte da vida dela.

-Andei a investigar sobre o advogado e ouvi coisas não muito agradáveis a seu respeito. Ele tem fama de jogar sujo e de ser cruel. Não duvido que ele te acuse de ter desaparecido com a criança e que só agora Marcos teve conhecimento do vosso paradeiro.

Quando penso que não podia piorar Lucas vem com um balde de agua fria. Sei que ele apenas quer que eu esteja preparada e esta a fazer o trabalho dele, muito bem por sinal. Mesmo sabendo que não tenho como pagar-lhe.

-Podemos usar a carta do aborto se quiseres.

- Apesar de o odiar não queria ter que falar disso em tribunal e manchar a imagem dele dessa forma. 

- É a nossa melhor jogada. Mas se não quiseres eu vou respeitar.

- Tem outra forma de resolver sem ir a tribunal?

- Podíamos negociar por fora e fazer com que a transacção seja nos teus termos e seria seguro usar a nossa jogada numa conversa mais reservada.

- Eu não quero estar frente a frente com o Marcos.

-Eu vou resolver com o advogado.

- Obrigada Lucas.

Ele segurou minhas mãos olhando para mim.  Lucas era um bom amigo e sentia a preocupação dele comigo e com Kayla.

-Farei o possível para que tenha um desfecho favorºavel para ti e para Kayla.

Aquela promessa encheu meu coracºao de esperanças. Lucas levou minhas mãos para os seus lábios e beijou levemente.  A situação ficou estranha e disfarçadamente retirei minhas mãos.

Ele imediatamente levantou e despediu-se acenando para Kayla que sorria no outro canto do parque. Ficamos ali mais uma hora e voltamos para casa caminhando.

Horas depois Diana chegava para nossa habitual noite de pipocas e filmes. Eu ainda estava a lutar com Kayla para terminar o jantar .

-Boa noite meus amores.- Diana falou animada.

E Kayla desceu da cadeira para ir abraça-la. A casa encheu-se de risos e e vozes animadas.  Diana ama minha filha como se fosse dela e não tenho duvidas que ter escolhido ela como madrinha de Kayla foi a melhor decisão que tomei.

Diana caminhou até a mesa de jantar com Kayla no colo e voltou a coloca-la na cadeira.

-Minha flor, vamos terminar o jantar e depois brincamos mais.

-Sim, madrinha.

Era como se Diana tivesse um toque mágico, porque Kayla terminou o jantar sem fazer mais birras .

Nos mudamos para o sofá e Kayla sentou-se entre nós encostada a Diana. O primeiro filme era de animação e Kayla dormiu antes do final.

  - Eu a levo para cama. - Diana falou enquanto carregava Kayla ao colo.

Eu fui a cozinha para aquecer o nosso jantar. Alguns minutos depois Diana estava de volta e sentou-se num dos bancos que ladeavam a ilha que seria tanto como espaço de trabalho como um lugar para uma boa conversa e uma refeiçao leve.

-Como estas? Lucas  fez-me um resumo da situação.

-Sinceramente não sei. Acho que ainda tenho esperanças que Marcos desista e volte para o buraco onde  esteve todos estes anos.

-Como foi, vê-lo depois de anos??

- Foi ...uma montanha russa de emoções. No primeiro minuto não senti nada...depois raiva pela situação em que eles nos colocou.  Claro que tive o meu momento de nostalgia, boas lembranças mas passou logo que ele abriu a boca. Ele continua o mesmo insensível, convencido e egoísta  de antes.- Desabafei sem esconder minha raiva.

- Wow, foi tão mau assim?

-Sim. E gostaria de não ter que me cruzar com ele novamente.

Bom, não menti. Apenas omiti o facto dele continuar a afectar-me emocionalmente. Mas Diana iria passar a noite a dar-me um sermão sobre cem razões pelas quais eu devo odiar Marcos.  E não quero ficar a noite toda a pensar nele.

Com nossos pratos e taça de vinho em mãos , voltamos ao sofá e demos inicio a nossa maratona de filmes. Um sábado por mês era dedicado a nossa noite de filmes, era suposto alternarmos entre as nossas casas , mas a maioria das vezes era em minha casa por causa da Kayla.

Passava da meia noite quando terminamos o terceiro filme e já mostrávamos sinal de cansaço. Arrumamos a cozinha e fomos dormir.

O dia começou cheio de vida com Diana e Kayla a prepararem o pequeno almoço. A mim coube a tarefa de colocar a mesa. Minutos depois sentamos a mesa e comemos enquanto ouvíamos Kayla contar a Diana suas aventuras no jardim de infância.

Havíamos planeado passar o dia na praia e estava tudo a postos para nossa saída  quando oiço batidas na porta.  Diana e Kayla estavam na cozinha a terminar a cesta de comidas então só me restava ir a porta.

Abri a porta e o choque de ver Marcos parado ali fez com que fechasse novamente na cara dele.

- Karina, vim em paz. Vamos conversar. -Ouvi a voz dele abafada pela porta que nos separava.

Continuei em silencio rezando para ele ir embora.

- Não sejas infantil Karina. Sei que estas encostada a porta. Abre e vamos conversar.

Diana e Kayla apareceram nesse momento e me olhavam curiosas.  Não era essa a ideia que tinha sobre o momento em que minha filha fosse ver o pai pela primeira vez.

- Karina, passa-se algo ?- Perguntou Diana estranhando meu comportamento.

- Kayla, vai buscar tua mochila de praia.-  Sem demoras ela corria para o quarto.

-Marcos está aqui. O que faço?- Falei logo que tive certeza que Kayla estava longe.

-Sai da frente que eu quero partir a cara do desgraçado.- Diana praticamente me empurrou para longe da porta e abriu .

- Diana, não aqui. Kayla pode ver. Querendo ou não ele é pai dela.  

Marcos nos olhava satisfeito por finalmente nos ver do lado de fora.

-Diana, vejo que os anos não a tornaram mais dócil. 

- E vejo que a ti te tornaram mais amargo e sem carácter.- A irritação era evidente na voz da Diana.

-Marcos, nós estamos de saída.

- Ok. Volto mais tarde. - E sem mais uma palavra ele caminhou de volta para o seu carro e desapareceu antes que Kayla o visse.

Passamos a tarde toda na praia , mas minha cabeça estava a mil por hora. " Mais tarde" ele estaria de volta e não me sentia preparada para estar frente a frente com ele. Preciso ganhar tempo.

Saímos da praia e passamos rapidamente por casa para levar uma muda de roupa para o dia seguinte e fomos passar a noite com a Diana.

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