KARINA
Não tinha dúvidas sobre qual seria o resultado do teste de paternidade. Mas Lucas explicou que era necessário para adicionar a evidencia ao processo. A audiência seguinte já havia sido marcada para daqui a cinco dias. Dizer que estava nervosa era pouco. Por cinco anos ele ignorou a existência desta criança e porquê agora este circo todo?? Essas questões estavam a dar comigo em doida.
Sentada no banco do parque onde eu levava Kayla para brincar, eu olhava ela divertir-se com os amigos que fez ali. Tenho de começar a prepara-la caso o juiz decida a favor de Marcos. Eu sabia que este dia chegaria, mas pensei que ainda houvesse tempo.
-Olá Karina.
A voz do Lucas interrompeu o meu monologo interior.
- Oohh. Olá Lucas. Tudo bem?
-Tudo óptimo. Tenho algumas novidades , mas nem todas boas.Soltei um longo suspiro e fiz sinal com a mão para ele continuar a falar.
-Tens que te preparar para o que vem a seguir. Tenho certeza que o advogado dele deve estar a procurar todas as coisas que abonem Marcos como o pai do ano e desculpas esfarrapadas para cinco anos de ausência na vida de Kayla.
-Quanto a ausência não tem como se desculpar , ele sempre soube da existência da filha. Ele escolheu não fazer parte da vida dela. -Andei a investigar sobre o advogado e ouvi coisas não muito agradáveis a seu respeito. Ele tem fama de jogar sujo e de ser cruel. Não duvido que ele te acuse de ter desaparecido com a criança e que só agora Marcos teve conhecimento do vosso paradeiro.Quando penso que não podia piorar Lucas vem com um balde de agua fria. Sei que ele apenas quer que eu esteja preparada e esta a fazer o trabalho dele, muito bem por sinal. Mesmo sabendo que não tenho como pagar-lhe.
-Podemos usar a carta do aborto se quiseres.
- Apesar de o odiar não queria ter que falar disso em tribunal e manchar a imagem dele dessa forma. - É a nossa melhor jogada. Mas se não quiseres eu vou respeitar. - Tem outra forma de resolver sem ir a tribunal? - Podíamos negociar por fora e fazer com que a transacção seja nos teus termos e seria seguro usar a nossa jogada numa conversa mais reservada. - Eu não quero estar frente a frente com o Marcos. -Eu vou resolver com o advogado. - Obrigada Lucas.Ele segurou minhas mãos olhando para mim. Lucas era um bom amigo e sentia a preocupação dele comigo e com Kayla.
-Farei o possível para que tenha um desfecho favorºavel para ti e para Kayla.
Aquela promessa encheu meu coracºao de esperanças. Lucas levou minhas mãos para os seus lábios e beijou levemente. A situação ficou estranha e disfarçadamente retirei minhas mãos.
Ele imediatamente levantou e despediu-se acenando para Kayla que sorria no outro canto do parque. Ficamos ali mais uma hora e voltamos para casa caminhando. Horas depois Diana chegava para nossa habitual noite de pipocas e filmes. Eu ainda estava a lutar com Kayla para terminar o jantar .-Boa noite meus amores.- Diana falou animada.
E Kayla desceu da cadeira para ir abraça-la. A casa encheu-se de risos e e vozes animadas. Diana ama minha filha como se fosse dela e não tenho duvidas que ter escolhido ela como madrinha de Kayla foi a melhor decisão que tomei.
Diana caminhou até a mesa de jantar com Kayla no colo e voltou a coloca-la na cadeira.-Minha flor, vamos terminar o jantar e depois brincamos mais.
-Sim, madrinha.Era como se Diana tivesse um toque mágico, porque Kayla terminou o jantar sem fazer mais birras .
Nos mudamos para o sofá e Kayla sentou-se entre nós encostada a Diana. O primeiro filme era de animação e Kayla dormiu antes do final.- Eu a levo para cama. - Diana falou enquanto carregava Kayla ao colo.
Eu fui a cozinha para aquecer o nosso jantar. Alguns minutos depois Diana estava de volta e sentou-se num dos bancos que ladeavam a ilha que seria tanto como espaço de trabalho como um lugar para uma boa conversa e uma refeiçao leve.
-Como estas? Lucas fez-me um resumo da situação.
-Sinceramente não sei. Acho que ainda tenho esperanças que Marcos desista e volte para o buraco onde esteve todos estes anos. -Como foi, vê-lo depois de anos?? - Foi ...uma montanha russa de emoções. No primeiro minuto não senti nada...depois raiva pela situação em que eles nos colocou. Claro que tive o meu momento de nostalgia, boas lembranças mas passou logo que ele abriu a boca. Ele continua o mesmo insensível, convencido e egoísta de antes.- Desabafei sem esconder minha raiva. - Wow, foi tão mau assim? -Sim. E gostaria de não ter que me cruzar com ele novamente.Bom, não menti. Apenas omiti o facto dele continuar a afectar-me emocionalmente. Mas Diana iria passar a noite a dar-me um sermão sobre cem razões pelas quais eu devo odiar Marcos. E não quero ficar a noite toda a pensar nele.
Com nossos pratos e taça de vinho em mãos , voltamos ao sofá e demos inicio a nossa maratona de filmes. Um sábado por mês era dedicado a nossa noite de filmes, era suposto alternarmos entre as nossas casas , mas a maioria das vezes era em minha casa por causa da Kayla.
Passava da meia noite quando terminamos o terceiro filme e já mostrávamos sinal de cansaço. Arrumamos a cozinha e fomos dormir.O dia começou cheio de vida com Diana e Kayla a prepararem o pequeno almoço. A mim coube a tarefa de colocar a mesa. Minutos depois sentamos a mesa e comemos enquanto ouvíamos Kayla contar a Diana suas aventuras no jardim de infância.
Havíamos planeado passar o dia na praia e estava tudo a postos para nossa saída quando oiço batidas na porta. Diana e Kayla estavam na cozinha a terminar a cesta de comidas então só me restava ir a porta.
Abri a porta e o choque de ver Marcos parado ali fez com que fechasse novamente na cara dele.- Karina, vim em paz. Vamos conversar. -Ouvi a voz dele abafada pela porta que nos separava.
Continuei em silencio rezando para ele ir embora. - Não sejas infantil Karina. Sei que estas encostada a porta. Abre e vamos conversar.Diana e Kayla apareceram nesse momento e me olhavam curiosas. Não era essa a ideia que tinha sobre o momento em que minha filha fosse ver o pai pela primeira vez.
- Karina, passa-se algo ?- Perguntou Diana estranhando meu comportamento.
- Kayla, vai buscar tua mochila de praia.- Sem demoras ela corria para o quarto.
-Marcos está aqui. O que faço?- Falei logo que tive certeza que Kayla estava longe. -Sai da frente que eu quero partir a cara do desgraçado.- Diana praticamente me empurrou para longe da porta e abriu .- Diana, não aqui. Kayla pode ver. Querendo ou não ele é pai dela.
Marcos nos olhava satisfeito por finalmente nos ver do lado de fora.
-Diana, vejo que os anos não a tornaram mais dócil.
- E vejo que a ti te tornaram mais amargo e sem carácter.- A irritação era evidente na voz da Diana. -Marcos, nós estamos de saída. - Ok. Volto mais tarde. - E sem mais uma palavra ele caminhou de volta para o seu carro e desapareceu antes que Kayla o visse.Passamos a tarde toda na praia , mas minha cabeça estava a mil por hora. " Mais tarde" ele estaria de volta e não me sentia preparada para estar frente a frente com ele. Preciso ganhar tempo.
Saímos da praia e passamos rapidamente por casa para levar uma muda de roupa para o dia seguinte e fomos passar a noite com a Diana.MARCOSEu sabia que havia sido uma péssima jogada ter deixado isto para depois. Eu estava em vantagem, tinha o elemento surpresa a meu favor, e teria tido pouco trabalho a convence-la a dar-me a guarda. Contava encontra-la sozinha, a presença da Diana não teria ajudado e foi isso que atrapalhou meus planos.Agora, estou aqui a olhar para porta dela e não ha sinal de uma alma viva naquela casa. Não me resta mais nada senão tentar novamente, em outra ocasião. Mas preciso dar tempo, amanhã ela estará com as armas carregadas para me receber.O meu humor já estava péssimo quando cheguei ao trabalho. Piorou drasticamente quando fui informado que havia uma reunião marcada e que haviam se esquecido de informar-me com antencedencia e que seria com a gestáo de topo da empresa. Não estava com paciência para aturar os lambe botas de plantão a fazerem figura de idiotas por uma promoção a partner. Eu queria o lugar, estava a trabalhar para isso. E esse é um dos motivos pelo qual fui atrás da minha
KARINANão sei dizer em que momento é que deixamos de lançar facas um para o outro e ficamos entrelaçados num beijo . Mas a verdade é que eu não sabia se o empurrava ou se o puxava mais para mim.Devia estar a correr para o lado oposto ao dele mas me vi a enrolar meus braços no seu pescoço e me render ao beijo e caricias. A raiva deu lugar a todo aquele fogo que me consumia enquanto ele me devorada sem piedade. E foi quase doloroso quando ele interrompeu o beijo do nada. Levei uns segundos para entender o que aconteceu e quando finalmente olhei para ele e vi o olhar de deboche e satisfação no rosto dele eu queria desaparecer.- Agora que começamos a entender-nos, queres reavaliar os termos da guerra que queres travar contra mim?Afastei-me horrorizada. Como fui capaz de me deixar levar, como fui deixar isto acontecer? Marcos não é alguém que eu deva baixar a guarda. Tudo é calculado ao detalhe para atingir seus objectivos. Não sei se eu estava com mais raiva de mim ou dele , mas não i
KARINADepois de ter conversado com Kayla e ter explicado da melhor maneira que pude as mudanças que iriam ocorrer na nossa vida , liguei para Lucas para informar que Marcos terias os domingos para ver a filha. Ele falaria com o outro advogado para que fizesse chegar ao Marcos.Quando o domingo chegou , eu estava nervosa. Diana ofereceu-se para vir mas eu recusei. Ela não gosta do Marcos e eu precisava que este dia fosse o mais tranquilo possivel.Mas passei o dia todo a ver minha filha ansiosa a espreitar pela janela, atenta a todos sons , esperando o pai chegar. E ele não veio. Tive que inventar uma desculpa para conseguir convencer Kayla a ir para cama.Outra semana passou e no domingo seguinte Marcos não deu as caras. Eu estava a segurar-me para não ir atras dele e estrangula-lo. Porque essa era a minha vontade.O terceiro domingo foi a gota d’água. Kayla durmiu a chorar porque não entendia porquê o pai não queria conhece-la.Acordamos no dia seguinte e ela não quis ir ao jardim
MARCOSO momento que Lia entrou na sala eu me senti como se estivesse sentado em uma bomba prestes a explodir. As duas se encaravam e o silencio era de cortar o coração-Karina, podemos continuar esta conversa outro dia?- Não. - Ela respondeu sem desviar o olhar da Lia.-Olha querida, alguns de nós tem assuntos mais importantes a tratar. Portanto, se nos desses licença...- Eu só preciso que o seu queridinho se comprometa a sair da minha vida e me ponho a milhas.Isto precisa parar antes que aconteça o pior.-Lia, eu trato disto. De-me cinco minutos e ja conversamosPara meu alivio, Lia e Karina são completamente diferentes. Enquanto Karina teria discutido e desafiado a minha ordem, Lia não precisou que eu dissesse duas vezes. Saiu da sala sem dizer nem uma palavra.- Eu não abrirei mão do meu direito de ver a miuda uma vez por semana.-Porquê não? Não estas a usa-lo.-Prometo que este fim de semana não faltarei. Agora podes deixar- me trabalhar?Aparentemente ela estava satisfeita c
KARINATive meu momento de lucidez instantes após ter sido consumida pela loucura que era estar a escassos centímetros de Marcos. Afastei-me lentamente porque , honestamente estava ser dificil manter meu equilibrio.-Isto é uma péssima ideia, - MurmurreiEle , tal como eu, lutava para sair do transe.-Concordo. Acho que está mais do que na hora de ir embora. Boa noite Karina.Desta vez não houve formalidades ele apenas deu meia volta e saiu o mais rápido que pôde. Depois que a porta fechou , relaxei e sentei no sofá por alguns minutos.O que estou a fazer com a minha vida? Eu estava bem , feliz até, antes de ele voltar e acabar com minha paz. Daqui em diante irei pôr a Diana a supervisionar as visitas. Fora de questão ficar num espaço confinado com aquele homem. Fui para cama com ele na cabeça , o que só resultou em sonhos molhados a noite toda.Dia seguinte estava de péssimo humor e atrasada. Até a hora que cheguei a loja ja havia proferido uma dúzia de obscenidades a vários conduto
MARCOSEu cheguei ao escritório questionando minha sanidade mental. Entrei na minha sala sorrindo feito um idiota. Bom, não vou mentir que algumas coisas mudaram nos últimos dias. Não pensei que fosse querer passar tempo com minha filha. Mas , a miúda deve ter saído a mãe porque estou viciado.Quase tive um acidente quando travei bruscamente em frente a loja de brinquedos depois de ter visto aquela monstrousidade de boneco de peluche. Mas valeu a pena cada centavo depois de ver o sorriso dela.Yep, estou a ficar louco. E apesar de estar completamente fascinado pela Kayla, foi impossivel ignorar Karina . Aquela saia que abraçava suas coxas na perfeição, a racha frontal que deixava ver parte da sua perna e me convidada a querer ver mais, a blusa de uma transparencia que atiçava minha curiosidade e aqueles sapatos vermelhos que deixavam minha imaginação correr solta. Se ela fosse minha eu não a deixava ir trabalhar assim vestida. E como um adolescente usei uma desculpa parva para vê-
KARINAFiquei mais de 15 minutos a olhar para o ecrã tentando entender o que estava a acontecer. Não sabia como lidar com o novo comportamento do Marcos. Deixei o celular de lado e voltei minha atenção a quantidade de caixas a minha frente. Era dia de inventário e havia recebido nova mercadoria. Diana iria ficar com Kayla esta noite porque eu não tinha hora para sair do trabalho. Estava imersa no trabalho quando meu celular toca. Vi o nome do Marcos no ecrã e ignorei. As duas meninas que haviam ficado para ajudar estavam num canto exaustas. Olhei para hora e lhes dei razão. Já passava das oito da noite.-Acho que por hoje chega. Podem ir .Elas levantaram-se imediatamente e foram levar as bolsas. Eu levei algumas caixas para dentro do pequeno armazém nos fundos da loja. Precisava de um banho e algo para comer. Meu estômago fez um barulho como se estivesse a concordar comigo.Sai do armazém já com um plano para quando chegasse a casa. Caminhava despreocupada para minha sala quando a
MARCOSO que estava eu a pensar quando fui la. É óbvio que ela me odeia. Eu preciso me concentrar no que realmente interessa e parar de fantasiar com a família perfeita.Parei no primeiro bar que vi. Só me dei conta do quanto o lugar era sinistro quando já estava no balcão. Pedi um duplo de whisky e bebi tudo num único gole. Paguei e saí imediatamente.Logo que entrei no carro o celular tocou. Atendi com o sistema de bluetoth do carro para ter as mãos livres e conduzir. Queria sair dali o quanto antes.-Alô.-Marcos, onde estás? Estou a horas a tua espera. Tínhamos um jantar hoje ou esqueceste?- Lia gritava irritada.Droga. Eu me esqueci totalmente. Como iria ao tal jantar com meu corpo com cheiro a sexo, meu humor destruido por aquela mulher que acabava de dar-me um momento de prazer e depois atirou-me a rua como se não se importasse. -Inventa uma desculpa. Não estou com cabeça para isso hoje.- Marco, tu sabes que tua mãe não me vai deixar em paz se não vieres. - Lia faz questão d