O salão de reuniões estava iluminado pela luz fria dos lustres de cristal. Sentada à mesa, de frente para um grupo de diretores e acionistas, eu mantinha a postura impecável, os ombros retos, as mãos cruzadas sobre os documentos que eu mesma havia preparado.
À minha frente, Thomas Montserrat se reclinava em sua cadeira de couro preto, a expressão de quem estava prestes a se divertir às minhas custas.
Maldito.
— Então, senhorita Harper… — Ele começou, com aquela entonação casualmente arrogante que fazia meu sangue ferver. — Deixe-me ver se entendi. Acredita que pode salvar a minha empresa?
Cruzei as pernas e inclinei levemente a cabeça para o lado, sustentando seu olhar com firmeza.
— Se não acreditasse, não estaria aqui.
A sombra de um sorriso brincou no canto de sua boca.
— Interessante. Porque eu ainda não estou convencido.
Revirei os olhos, recostando-me na cadeira.
— E desde quando a sua opinião importa?
Houve um breve silêncio na sala, enquanto os diretores e acionistas trocavam olhares discretos. Thomas ergueu uma sobrancelha, claramente intrigado.
— Estou curioso. — Ele disse, tamborilando os dedos sobre a mesa. — Acha que pode me dar uma lição sobre como gerir o meu próprio... império?
— Acho que já está claro para todos que, se soubesse gerir seu império, não precisaria de mim.
A provocação fez alguns olhares se voltarem para ele. Thomas permaneceu impassível, mas eu percebi o brilho divertido em seus olhos, como se estivesse apreciando o embate.
Ele adorava um desafio. Eu não ia recuar.
— Os acionistas confiaram a mim a responsabilidade de evitar que sua incompetência afunde esta empresa de vez. — Continuei, minha voz cortante. — Se eles acreditassem que você poderia resolver isso sozinho, não teriam me contratado.
Thomas entreabriu os lábios, como se fosse responder, mas hesitou. Pela primeira vez, percebi uma mínima tensão passar por sua expressão, tão rápida que quase duvidei de tê-la visto.
Mas então, ele se inclinou para frente, os olhos se fixando nos meus com uma intensidade sufocante.
— E o que exatamente a faz pensar que pode me salvar? — Sua voz saiu mais baixa, como se fosse um segredo entre nós.
Engoli em seco. Ele estava me testando, edindo minha força, minha resistência.
Mordi o lábio e me recostei lentamente na cadeira.
— Não estou aqui para salvar você, Montserrat. — Murmurei, deliberadamente deixando minha voz cair em um tom quase intimista. — Estou aqui para salvar sua empresa.
Por um segundo, algo passou por seus olhos. Algo indecifrável.
E então, ele sorriu.
— É mesmo?
— É.
O silêncio entre nós parecia denso, carregado de eletricidade estática. Eu conseguia sentir a atenção de todos na sala, mas era como se houvesse apenas nós dois ali.
Finalmente, Thomas desviou o olhar, sua expressão voltando ao tom despreocupado de sempre.
— Muito bem. — Ele disse, com um aceno quase entediado. — Vamos ver do que você é capaz, senhorita Harper.
Mas eu vi que, talvez, pela primeira vez, Thomas Montserrat estava intrigado.
Horas depois, eu descia pelo elevador do prédio da Montserrat Enterprises, sentindo os resquícios do confronto ainda vibrando no meu corpo. Eu o tinha desafiado. E, mais do que isso, ele havia notado que eu não era como os outros.
Encostei a cabeça na parede espelhada do elevador e fechei os olhos por um instante, tentando acalmar minha mente. Mas então, a imagem dele surgiu.
O olhar afiado. A forma como ele me estudava, como se estivesse tentando analisar cada detalhe sobre mim. Como se estivesse se perguntando até onde eu poderia ir.
Meu corpo ficou tenso. Thomas Montserrat era um problema. Não só pelo perigo que ele representava para os negócios. Mas porque ele era… sufocantemente atraente.
Droga.
Do tipo que fazia você prender a respiração quando entrava em um ambiente. Alto, ombros largos, traços marcantes esculpidos com precisão absurda. Um homem que parecia ter sido feito para desestabilizar qualquer um ao seu redor.
E ele sabia disso. Sabia exatamente o efeito que causava e usava isso a seu favor.
Apertei os olhos com força, amaldiçoando a mim mesma por sequer deixar esse pensamento invadir minha mente. Eu não era esse tipo de mulher. Eu não me deslumbrava com rostos bonitos ou sorrisos cheios de segundas intenções. Porque eu sabia exatamente o estrago que uma beleza como aquela poderia causar.
Poderia levar tempo para superar. Ou uma vida inteira. Ou… talvez nunca fosse possível se recuperar. Porque homens como Thomas não pedem desculpas. Eles não sentem remorso. E eu nunca permitiria que um homem como ele entrasse na minha vida.
O elevador chegou ao térreo e eu saí com passos firmes, recuperando o controle. Eu venceria esse jogo. E, no final, Thomas Montserrat seria apenas mais um nome na minha lista de vitórias. Mesmo que, no fundo, algo me dissesse que resistir a ele… poderia ser o maior desafio da minha vida.
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O saguão do prédio da Montserrat Enterprises estava quase vazio àquela hora. O expediente já tinha acabado há algum tempo, mas eu ainda carregava uma pilha de documentos contra o peito, revisando mentalmente cada um dos problemas que precisavam ser resolvidos na empresa.
A noite recém caía, e o céu estava carregado de nuvens escuras, uma tempestade se formando no horizonte. O vento frio soprava forte, levantando os fios soltos do meu cabelo e arrepiando minha pele sob o blazer.
Ótimo. Como se o dia já não estivesse complicada o suficiente. Cruzei os braços, impaciente, enquanto esperava trazerem meu carro. Foi então que senti sua presença.
Thomas.
Ele apareceu na minha visão periférica, parado a uma distância segura, falando ao telefone com sua voz grave e controlada. Firme. Decidido. Exatamente como ele era.
Seu terno impecável se ajustava ao corpo com perfeição absurda, os ombros largos destacando sua presença dominante. Ele segurava o celular junto ao ouvido, a expressão inalterável, como se nada pudesse abalar seu controle absoluto. Eu quis ignorá-lo, mas era impossível ignorar Thomas Montserrat.
Foi então que o vento soprou mais forte. E, antes que eu pudesse reagir, os papéis que eu segurava voaram das minhas mãos.
— Merda! — Praguejei, girando nos calcanhares e correndo atrás deles.
Os documentos se espalharam pelo estacionamento, arrastados pelo vento. Eu me abaixei rapidamente, tentando pegá-los antes que a situação ficasse ainda pior. Foi quando uma mão masculina surgiu ao meu lado.
Minha respiração travou.
Olhei para cima e encontrei Thomas, ajoelhado perto de mim, segurando alguns dos papéis com uma facilidade irritante.
— Acho que esses são seus. — Ele disse, estendendo os documentos para mim.
Aquela voz. Aquela m*****a voz. Baixa, rouca, carregada com um toque de diversão contida. Como se estivesse gostando do fato de que, por um instante, eu precisava dele.
Engoli em seco e peguei os papéis de sua mão, tentando ignorar a proximidade desconcertante.
— Obrigada. — Murmurei, relutante.
Ele não respondeu. Apenas me observou, os olhos azuis escuros analisando cada detalhe da minha expressão, como se procurasse alguma fenda na minha armadura. Eu odeio esse olhar. Porque ele me fazia sentir vulnerável.
Me endireitei rapidamente, apertando os papéis contra o peito, mas Thomas permaneceu ali, parado perto demais.
O vento continuava soprando forte, bagunçando meu cabelo e desalinhando os fios dele também — e pela primeira vez, eu o vi de um jeito um pouco menos… intocável. Seu cabelo escuro estava levemente desgrenhado, uma mecha caindo sobre a testa. Ele ainda era impecável, mas de uma maneira mais crua.
Eu me forcei a desviar o olhar.
— É raro te ouvir agradecer. — Ele comentou, e o tom de diversão em sua voz fez meu estômago se contrair.
Revirei os olhos.
— E é raro te ver ajudando alguém.
Ele riu baixinho, o som baixo e com um tipo de satisfação que me irritou.
— Talvez você não me conheça tão bem quanto pensa, Savannah.
Meu nome nos lábios dele me fez travar a mandíbula. Ele percebeu. Ele sempre percebia.
Respirei fundo, tentando recuperar o controle da situação.
— Talvez. — Respondi, forçando um tom indiferente. — Mas até agora, tudo o que vi só confirmou o que eu já sabia.
Os lábios dele se curvaram no que não era exatamente um sorriso.
Era um desafio.
— Então acho que você ainda tem muito a descobrir.
Ele disse aquilo como uma promessa. Antes que eu pudesse responder, o manobrista chegou com meu carro. Eu me virei imediatamente, querendo escapar daquela tensão sufocante que parecia me prender no lugar. Mas enquanto eu entrava no carro, sentia o olhar de Thomas sobre mim.
E pela primeira vez, me perguntei se talvez resistir a ele fosse um desafio maior do que eu imaginava.
Droga.
Assim que estacionei o carro em frente ao prédio onde morava, soltei um longo suspiro e fechei os olhos por um momento, tentando dissipar a tensão que ainda vibrava em meu corpo. Eu odiava essa sensação, de estar… dividida.Saí do carro e subi rapidamente até o meu apartamento, torcendo para que Isabelle já estivesse no quarto ou ocupada com outra coisa. Eu simplesmente não estava pronta para suas perguntas afiadas sobre Thomas Montserrat. Ela me conhecia bem demais. E eu… bem, eu ainda não tinha respostas para as perguntas que ela certamente faria.Fechei a porta do quarto atrás de mim e me encostei nela, soltando a respiração que nem percebi que estava prendendo. Então, aquilo aconteceu.O instante em que Thomas me ajudou a recolher os papéis. A forma como seus dedos roçaram nos meus quando me entregou os documentos. A maneira como sua presença era sufocante, intensa a ponto de fazer minha pele formigar, de uma forma irritantemente involuntária. Eu odiava isso."Ele está jogando com
O primeiro passo para salvar a Montserrat Enterprises era simples: cortar os excessos e recuperar a liquidez. A empresa estava sangrando dinheiro. Os números eram uma bagunça, e os gastos desnecessários eram tão evidentes que até uma criança de dez anos conseguiria enxergá-los.Cancelei contratos inúteis.Revisitei fornecedores.Realinhei investimentos.Em menos de duas semanas, a estrutura financeira da empresa já estava visivelmente mais sólida. E, claro, Thomas Montserrat odiava isso. Ele não gostava de ser contrariado, menos ainda de ser ignorado. E eu estava ignorando. Fazia questão de agir como se ele fosse só mais um CEO desesperado tentando provar que ainda tinha as rédeas da própria empresa.Mas a verdade era uma só: se eu não estivesse ali, ele já teria perdido tudo. E o engraçado? Mesmo com o pai dele no encalço, cobrando resultado, ele ainda tentava atrapalhar.✧ » ◇ « ✧ » ✦ « ✧ » ◇ « ✧— Você cortou o contrato com a Luxor Tech sem me consultar.A voz de Thomas soou atrás
Entro em casa exausta, mas determinada a não pensar mais em Thomas Montserrat até, pelo menos, amanhã. Só que o universo parece ter outros planos. Isabelle está na sala, sentada no sofá, pintando as unhas do pé com uma paciência que eu nunca tive para essas coisas. Ela ergue os olhos quando me vê, com um sorrisinho no canto dos lábios.— Até que enfim apareceu, né? Já estava achando que a Montserrat Enterprises tinha te sequestrado.Reviro os olhos, mas acabo soltando um meio sorriso. Faz dias que evito Isabelle, não porque não quero vê-la, mas porque sei que suas perguntas viriam como uma metralhadora e, sinceramente, eu não tenho muitas respostas. Mas hoje… hoje, depois daquela reunião infernal, me vejo precisando cavar mais a fundo a vida de Thomas.Largo minha bolsa e me sento ao lado dela, observando-a passar o pincel com perfeição sobre a unha.— Como estão as coisas? — Isabelle pergunta, sem levantar o olhar, mas sei que está atenta a cada detalhe da minha expressão.— Ocupada.
Na manhã seguinte, entro na Montserrat Enterprises pronta para colocar meu plano em prática. Thomas pode até achar que está no controle, mas eu sei exatamente o que estou fazendo. A primeira coisa que faço é reunir os diretores e líderes de equipe para implementar as medidas emergenciais. Algumas mudanças vão ser drásticas, mas necessárias. Cortes de gastos desnecessário em outros departamentos que Thomas não quis mudanças, reestruturação de setores improdutivos e uma nova estratégia de marketing para recuperar a confiança do mercado.Thomas está presente, claro, recostado em sua cadeira com os braços cruzados e aquela expressão de tédio quase ensaiado — como se tivesse algo melhor para fazer.— Isso parece ambicioso, Harper — ele comenta, com a voz carregada de ironia. — Não está com medo de morder mais do que pode mastigar?Cruzo os braços e encaro diretamente nos olhos dele.— Se eu tivesse medo, Sr. Montserrat, não estaria aqui.Um sorriso lento se forma em seus lábios. Ele gosta
Chego em casa remusgando, jogando as chaves na mesa do corredor com mais força do que o necessário. Idiota. Arrogante. Pretensioso. Como alguém pode ser tão difícil? Tudo o que eu queria era que ele reconhecesse o óbvio: eu estou fazendo o que ele não conseguiu. Eu estou salvando a empresa que ele estava deixando afundar. E ainda está.Mas não, Thomas Montserrat preferiu dar de ombros e me provocar como se isso fosse um jogo. Bem, se é um jogo, ele vai perder.— Você está bem?A voz de Isabelle vem da cozinha. Respiro fundo, tentando esconder minha irritação antes de entrar, mas falho miseravelmente.Ela está sentada no balcão, tomando seu chá com a calma de quem não tem ideia da frustração que estou sentindo.— Thomas é um idiota — solto, sem rodeios.Isabelle ergue uma sobrancelha e dá um gole generoso do seu chá.— Isso não é novidade. Mas o que ele fez dessa vez?Jogo minha bolsa em cima da mesa e puxo uma cadeira.— Ele se recusa a admitir que eu estou superando ele. Que estou fa
Passei os dias seguintes fugindo de Thomas como se minha vida dependesse disso. Se tínhamos uma reunião, eu era objetiva. Dizia exatamente o necessário, sem rodeios, sem pausas desnecessárias. Nada de discussões longas. Nada de provocações. Eu terminava de falar e saía da sala antes de todo mundo.Se ele me chamava? Eu fingia que não ouvia. Se não dava para fingir, eu inventava uma desculpa qualquer.Se ele cruzava meu caminho no corredor, eu desviava, mudava a rota, entrava em outra sala. Parecia um jogo, mas eu sabia que não podia me deixar envolver. Só que, quanto mais eu fugia, mais ele aparecia na minha mente. Como se fugir dele fisicamente não impedisse a força gravitacional que ele exercia sobre mim.Era irritante. Quase sufocante. E eu tinha certeza absoluta de que ele estava percebendo.Cada vez que eu evitava seu olhar, cada vez que saía apressada de um ambiente onde ele estava, eu sentia aqueles olhos em mim. Observando. Esperando. E Thomas não era o tipo de homem que gosta
No final da tarde, minha assistente entrou apressada na minha sala com um bilhete em mãos.— Senhorita Harper, Harry Montserrat pediu para encontrá-la hoje.Meu olhar se ergueu imediatamente do relatório à minha frente.Harry Montserrat. Era óbvio que esse pedido viria mais cedo ou mais tarde. O verdadeiro poder por trás da Montserrat Enterprises.Peguei o bilhete e li rapidamente. Era um convite formal, direto. Ele queria me ver em sua residência. A mansão dos Montserrat, que eu já conhecia. Há dois anos, fui a um evento lá. Na época, estava salvando uma empresa pertencente a um dos poucos amigos próximos de Harry. Lembrei-me bem da imponência do lugar, da arquitetura clássica, da grandiosidade que parecia existir apenas para lembrar a todos que estavam diante de um império. E, agora, aquele império estava à beira do colapso.Ajustei a postura na cadeira, sentindo algo se encaixar no fundo da minha mente. Minha contratação veio dele. Não de Thomas. De Harry Montserrat. Talvez isso ex
O carro de Thomas deslizou pela estrada como se ele soubesse exatamente para onde estava indo. Eu, por outro lado, não fazia a menor ideia.Cruzei os braços e encostei no banco, sem disfarçar a irritação.— Se isso for um sequestro, já aviso que não sou uma boa refém.Thomas soltou um suspiro e manteve os olhos fixos na estrada.— Se fosse um sequestro, você não estaria sentada tão confortável.Revirei os olhos.O silêncio entre nós ficou incômodo, quase sufocante. Eu não gostava de ser arrastada para situações sem explicação, principalmente quando envolviam um homem como Thomas.Depois de um tempo, a paisagem mudou. Saímos do centro movimentado da cidade para uma área mais afastada, onde as luzes eram mais escassas e o ambiente parecia muito mais íntimo. Quando ele finalmente parou o carro, franzi a testa. Um restaurante. Pequeno, elegante e discreto. O tipo de lugar onde pessoas ricas vinham para escapar do caos da cidade e resolver negócios longe dos olhos do público.Thomas saiu