Capítulo 6

O salão de reuniões estava iluminado pela luz fria dos lustres de cristal. Sentada à mesa, de frente para um grupo de diretores e acionistas, eu mantinha a postura impecável, os ombros retos, as mãos cruzadas sobre os documentos que eu mesma havia preparado.

À minha frente, Thomas Montserrat se reclinava em sua cadeira de couro preto, a expressão de quem estava prestes a se divertir às minhas custas.

Maldito.

— Então, senhorita Harper… — Ele começou, com aquela entonação casualmente arrogante que fazia meu sangue ferver. — Deixe-me ver se entendi. Acredita que pode salvar a minha empresa?

Cruzei as pernas e inclinei levemente a cabeça para o lado, sustentando seu olhar com firmeza.

— Se não acreditasse, não estaria aqui.

A sombra de um sorriso brincou no canto de sua boca.

— Interessante. Porque eu ainda não estou convencido.

Revirei os olhos, recostando-me na cadeira.

— E desde quando a sua opinião importa?

Houve um breve silêncio na sala, enquanto os diretores e acionistas trocavam olhares discretos. Thomas ergueu uma sobrancelha, claramente intrigado.

— Estou curioso. — Ele disse, tamborilando os dedos sobre a mesa. — Acha que pode me dar uma lição sobre como gerir o meu próprio... império?

— Acho que já está claro para todos que, se soubesse gerir seu império, não precisaria de mim.

A provocação fez alguns olhares se voltarem para ele. Thomas permaneceu impassível, mas eu percebi o brilho divertido em seus olhos, como se estivesse apreciando o embate.

Ele adorava um desafio. Eu não ia recuar.

— Os acionistas confiaram a mim a responsabilidade de evitar que sua incompetência afunde esta empresa de vez. — Continuei, minha voz cortante. — Se eles acreditassem que você poderia resolver isso sozinho, não teriam me contratado.

Thomas entreabriu os lábios, como se fosse responder, mas hesitou. Pela primeira vez, percebi uma mínima tensão passar por sua expressão, tão rápida que quase duvidei de tê-la visto.

Mas então, ele se inclinou para frente, os olhos se fixando nos meus com uma intensidade sufocante.

— E o que exatamente a faz pensar que pode me salvar? — Sua voz saiu mais baixa, como se fosse um segredo entre nós.

Engoli em seco. Ele estava me testando, edindo minha força, minha resistência.

Mordi o lábio e me recostei lentamente na cadeira.

— Não estou aqui para salvar você, Montserrat. — Murmurei, deliberadamente deixando minha voz cair em um tom quase intimista. — Estou aqui para salvar sua empresa. 

Por um segundo, algo passou por seus olhos. Algo indecifrável.

E então, ele sorriu.

— É mesmo?

— É.

O silêncio entre nós parecia denso, carregado de eletricidade estática. Eu conseguia sentir a atenção de todos na sala, mas era como se houvesse apenas nós dois ali.

Finalmente, Thomas desviou o olhar, sua expressão voltando ao tom despreocupado de sempre.

— Muito bem. — Ele disse, com um aceno quase entediado. — Vamos ver do que você é capaz, senhorita Harper.

Mas eu vi que, talvez, pela primeira vez, Thomas Montserrat estava intrigado.

Horas depois, eu descia pelo elevador do prédio da Montserrat Enterprises, sentindo os resquícios do confronto ainda vibrando no meu corpo. Eu o tinha desafiado. E, mais do que isso, ele havia notado que eu não era como os outros.

Encostei a cabeça na parede espelhada do elevador e fechei os olhos por um instante, tentando acalmar minha mente. Mas então, a imagem dele surgiu.

O olhar afiado. A forma como ele me estudava, como se estivesse tentando analisar cada detalhe sobre mim. Como se estivesse se perguntando até onde eu poderia ir.

Meu corpo ficou tenso. Thomas Montserrat era um problema. Não só pelo perigo que ele representava para os negócios. Mas porque ele era… sufocantemente atraente.

Droga. 

Do tipo que fazia você prender a respiração quando entrava em um ambiente. Alto, ombros largos, traços marcantes esculpidos com precisão absurda. Um homem que parecia ter sido feito para desestabilizar qualquer um ao seu redor.

E ele sabia disso. Sabia exatamente o efeito que causava e usava isso a seu favor.

Apertei os olhos com força, amaldiçoando a mim mesma por sequer deixar esse pensamento invadir minha mente. Eu não era esse tipo de mulher. Eu não me deslumbrava com rostos bonitos ou sorrisos cheios de segundas intenções. Porque eu sabia exatamente o estrago que uma beleza como aquela poderia causar.

Poderia levar tempo para superar. Ou uma vida inteira. Ou… talvez nunca fosse possível se recuperar. Porque homens como Thomas não pedem desculpas. Eles não sentem remorso. E eu nunca permitiria que um homem como ele entrasse na minha vida.

O elevador chegou ao térreo e eu saí com passos firmes, recuperando o controle. Eu venceria esse jogo. E, no final, Thomas Montserrat seria apenas mais um nome na minha lista de vitórias. Mesmo que, no fundo, algo me dissesse que resistir a ele… poderia ser o maior desafio da minha vida.

✧ » ◇ « ✧ » ✦ « ✧ » ◇ « ✧

O saguão do prédio da Montserrat Enterprises estava quase vazio àquela hora. O expediente já tinha acabado há algum tempo, mas eu ainda carregava uma pilha de documentos contra o peito, revisando mentalmente cada um dos problemas que precisavam ser resolvidos na empresa.

A noite recém caía, e o céu estava carregado de nuvens escuras, uma tempestade se formando no horizonte. O vento frio soprava forte, levantando os fios soltos do meu cabelo e arrepiando minha pele sob o blazer.

Ótimo. Como se o dia já não estivesse complicada o suficiente. Cruzei os braços, impaciente, enquanto esperava trazerem meu carro. Foi então que senti sua presença.

Thomas.

Ele apareceu na minha visão periférica, parado a uma distância segura, falando ao telefone com sua voz grave e controlada. Firme. Decidido. Exatamente como ele era.

Seu terno impecável se ajustava ao corpo com perfeição absurda, os ombros largos destacando sua presença dominante. Ele segurava o celular junto ao ouvido, a expressão inalterável, como se nada pudesse abalar seu controle absoluto. Eu quis ignorá-lo, mas era impossível ignorar Thomas Montserrat.

Foi então que o vento soprou mais forte. E, antes que eu pudesse reagir, os papéis que eu segurava voaram das minhas mãos.

— Merda! — Praguejei, girando nos calcanhares e correndo atrás deles.

Os documentos se espalharam pelo estacionamento, arrastados pelo vento. Eu me abaixei rapidamente, tentando pegá-los antes que a situação ficasse ainda pior. Foi quando uma mão masculina surgiu ao meu lado.

Minha respiração travou.

Olhei para cima e encontrei Thomas, ajoelhado perto de mim, segurando alguns dos papéis com uma facilidade irritante.

— Acho que esses são seus. — Ele disse, estendendo os documentos para mim.

Aquela voz. Aquela m*****a voz. Baixa, rouca, carregada com um toque de diversão contida. Como se estivesse gostando do fato de que, por um instante, eu precisava dele.

Engoli em seco e peguei os papéis de sua mão, tentando ignorar a proximidade desconcertante.

— Obrigada. — Murmurei, relutante.

Ele não respondeu. Apenas me observou, os olhos azuis escuros analisando cada detalhe da minha expressão, como se procurasse alguma fenda na minha armadura. Eu odeio esse olhar. Porque ele me fazia sentir vulnerável.

Me endireitei rapidamente, apertando os papéis contra o peito, mas Thomas permaneceu ali, parado perto demais.

O vento continuava soprando forte, bagunçando meu cabelo e desalinhando os fios dele também — e pela primeira vez, eu o vi de um jeito um pouco menos… intocável. Seu cabelo escuro estava levemente desgrenhado, uma mecha caindo sobre a testa. Ele ainda era impecável, mas de uma maneira mais crua.

Eu me forcei a desviar o olhar.

— É raro te ouvir agradecer. — Ele comentou, e o tom de diversão em sua voz fez meu estômago se contrair.

Revirei os olhos.

— E é raro te ver ajudando alguém.

Ele riu baixinho, o som baixo e com um tipo de satisfação que me irritou.

— Talvez você não me conheça tão bem quanto pensa, Savannah.

Meu nome nos lábios dele me fez travar a mandíbula. Ele percebeu. Ele sempre percebia.

Respirei fundo, tentando recuperar o controle da situação.

— Talvez. — Respondi, forçando um tom indiferente. — Mas até agora, tudo o que vi só confirmou o que eu já sabia.

Os lábios dele se curvaram no que não era exatamente um sorriso.

Era um desafio.

— Então acho que você ainda tem muito a descobrir.

Ele disse aquilo como uma promessa. Antes que eu pudesse responder, o manobrista chegou com meu carro. Eu me virei imediatamente, querendo escapar daquela tensão sufocante que parecia me prender no lugar. Mas enquanto eu entrava no carro, sentia o olhar de Thomas sobre mim.

E pela primeira vez, me perguntei se talvez resistir a ele fosse um desafio maior do que eu imaginava.

Droga. 

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