Capítulo 9

Entro em casa exausta, mas determinada a não pensar mais em Thomas Montserrat até, pelo menos, amanhã. Só que o universo parece ter outros planos. Isabelle está na sala, sentada no sofá, pintando as unhas do pé com uma paciência que eu nunca tive para essas coisas. Ela ergue os olhos quando me vê, com um sorrisinho no canto dos lábios.

— Até que enfim apareceu, né? Já estava achando que a Montserrat Enterprises tinha te sequestrado.

Reviro os olhos, mas acabo soltando um meio sorriso. Faz dias que evito Isabelle, não porque não quero vê-la, mas porque sei que suas perguntas viriam como uma metralhadora e, sinceramente, eu não tenho muitas respostas. Mas hoje… hoje, depois daquela reunião infernal, me vejo precisando cavar mais a fundo a vida de Thomas.

Largo minha bolsa e me sento ao lado dela, observando-a passar o pincel com perfeição sobre a unha.

— Como estão as coisas? — Isabelle pergunta, sem levantar o olhar, mas sei que está atenta a cada detalhe da minha expressão.

— Ocupada. Focada em tirar aquela empresa da lama.

Ela assente, soprando as unhas recém-pintadas.

— E o senhor insuportável?

Suspiro.

— Sabotando meu trabalho.

Isabelle franze a testa e finalmente me olha.

— Como assim?

— Ele… não sei. Ele me contratou, ou melhor, o conselho me contratou, porque sabem que eu sou boa no que faço. Mas ao mesmo tempo, ele parece determinado a me desafiar a cada passo. É como se estivesse jogando contra o próprio time.

— Talvez ele não queira que você tenha sucesso.

Penso por um instante. Seria isso? Mas não faz sentido. Se a empresa afundar, ele afunda junto.

— Não sei, Belle. O problema é que eu ouço coisas nos corredores. O pai dele está pressionando, o conselho também, e eu não consigo entender por que diabos ele não está facilitando as coisas. Se ele quer salvar a empresa, por que me atrapalha?

Isabelle suspira, voltando a atenção para as unhas.

— Porque ele é um Montserrat, Savannah. Eles não deixam nada ser fácil.

Cruzo os braços, encarando um ponto qualquer na parede.

— Me diz uma coisa, Belle… Quando vocês estavam juntos, Thomas era dedicado à empresa?

Isabelle franze a testa com a pergunta, mas não demora muito a responder.

— Sim, totalmente. Ele era praticamente um viciado em trabalho. A empresa sempre foi a prioridade dele. — Ela faz uma pausa e morde o lábio, pensativa. — Mas a relação dele com o pai nunca pareceu ser das melhores.

Isso me faz arquear uma sobrancelha.

— E você sabe por quê?

Ela dá de ombros, ainda secando as unhas com um sopro leve.

— Não faço ideia. Mas Thomas sempre dizia que era casado com a empresa, que dava o sangue e o suor pelo trabalho.

Solto uma risada sarcástica, cruzando os braços.

— Bom, então o sangue e o suor dele viraram pó, porque agora eu estou lá tentando salvar a droga da empresa.

Isabelle ri, mas logo me encara com um olhar avaliador.

— Você tá se metendo fundo demais nisso, Savannah. Não pode esquecer que seu trabalho é salvar a empresa, não ele.

— Confia em mim, Belle. Thomas Montserrat é o último homem no planeta que eu tentaria salvar. — Me levanto e pego minha bolsa. — Depois que essa missão estiver cumprida, eu vou me presentear com boas férias nas Maldivas.

— Ah, isso sim é um ótimo plano! — Isabelle sorri.

Eu também sorrio, mas, por dentro, minha mente ainda fervilha com perguntas. Se Thomas sempre foi obcecado pelo trabalho, por que diabos parece estar sabotando a própria empresa agora?

No meu quarto, jogo a bolsa na poltrona e me deixo cair na cama, encarando o teto. Minha mente não desliga. Thomas Montserrat era um enigma. Um mistério que eu não estava interessada em desvendar, mas que, de alguma forma, parecia me desafiar a entender.

Se ele sempre foi tão obcecado pela empresa, por que agora parecia estar se esforçando para vê-la falhar? Seria um jogo de poder com o pai? Um ato de rebeldia tardia? Ou talvez ele tivesse um plano que ninguém mais enxergava?

Reviro na cama, apoiando a cabeça no braço. Não. Thomas não quer perder a empresa. Isso eu tenho certeza. O problema é que, por algum motivo, ele está jogando contra mim.

Seria orgulho? O ego dele sendo ferido porque uma mulher foi contratada para consertar o que ele destruiu? Clássico.

Ou ele estava apostando no meu fracasso? Me deixando fazer todo o trabalho duro só para no fim dar um golpe e levar o crédito? Também seria típico.

Ou, talvez, tivesse algo muito maior acontecendo nos bastidores. Algo que eu ainda não conseguia enxergar.

Eu preciso descobrir. Preciso entender o que diabos Thomas Montserrat está escondendo.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App