Entro em casa exausta, mas determinada a não pensar mais em Thomas Montserrat até, pelo menos, amanhã. Só que o universo parece ter outros planos. Isabelle está na sala, sentada no sofá, pintando as unhas do pé com uma paciência que eu nunca tive para essas coisas. Ela ergue os olhos quando me vê, com um sorrisinho no canto dos lábios.
— Até que enfim apareceu, né? Já estava achando que a Montserrat Enterprises tinha te sequestrado.
Reviro os olhos, mas acabo soltando um meio sorriso. Faz dias que evito Isabelle, não porque não quero vê-la, mas porque sei que suas perguntas viriam como uma metralhadora e, sinceramente, eu não tenho muitas respostas. Mas hoje… hoje, depois daquela reunião infernal, me vejo precisando cavar mais a fundo a vida de Thomas.
Largo minha bolsa e me sento ao lado dela, observando-a passar o pincel com perfeição sobre a unha.
— Como estão as coisas? — Isabelle pergunta, sem levantar o olhar, mas sei que está atenta a cada detalhe da minha expressão.
— Ocupada. Focada em tirar aquela empresa da lama.
Ela assente, soprando as unhas recém-pintadas.
— E o senhor insuportável?
Suspiro.
— Sabotando meu trabalho.
Isabelle franze a testa e finalmente me olha.
— Como assim?
— Ele… não sei. Ele me contratou, ou melhor, o conselho me contratou, porque sabem que eu sou boa no que faço. Mas ao mesmo tempo, ele parece determinado a me desafiar a cada passo. É como se estivesse jogando contra o próprio time.
— Talvez ele não queira que você tenha sucesso.
Penso por um instante. Seria isso? Mas não faz sentido. Se a empresa afundar, ele afunda junto.
— Não sei, Belle. O problema é que eu ouço coisas nos corredores. O pai dele está pressionando, o conselho também, e eu não consigo entender por que diabos ele não está facilitando as coisas. Se ele quer salvar a empresa, por que me atrapalha?
Isabelle suspira, voltando a atenção para as unhas.
— Porque ele é um Montserrat, Savannah. Eles não deixam nada ser fácil.
Cruzo os braços, encarando um ponto qualquer na parede.
— Me diz uma coisa, Belle… Quando vocês estavam juntos, Thomas era dedicado à empresa?
Isabelle franze a testa com a pergunta, mas não demora muito a responder.
— Sim, totalmente. Ele era praticamente um viciado em trabalho. A empresa sempre foi a prioridade dele. — Ela faz uma pausa e morde o lábio, pensativa. — Mas a relação dele com o pai nunca pareceu ser das melhores.
Isso me faz arquear uma sobrancelha.
— E você sabe por quê?
Ela dá de ombros, ainda secando as unhas com um sopro leve.
— Não faço ideia. Mas Thomas sempre dizia que era casado com a empresa, que dava o sangue e o suor pelo trabalho.
Solto uma risada sarcástica, cruzando os braços.
— Bom, então o sangue e o suor dele viraram pó, porque agora eu estou lá tentando salvar a droga da empresa.
Isabelle ri, mas logo me encara com um olhar avaliador.
— Você tá se metendo fundo demais nisso, Savannah. Não pode esquecer que seu trabalho é salvar a empresa, não ele.
— Confia em mim, Belle. Thomas Montserrat é o último homem no planeta que eu tentaria salvar. — Me levanto e pego minha bolsa. — Depois que essa missão estiver cumprida, eu vou me presentear com boas férias nas Maldivas.
— Ah, isso sim é um ótimo plano! — Isabelle sorri.
Eu também sorrio, mas, por dentro, minha mente ainda fervilha com perguntas. Se Thomas sempre foi obcecado pelo trabalho, por que diabos parece estar sabotando a própria empresa agora?
No meu quarto, jogo a bolsa na poltrona e me deixo cair na cama, encarando o teto. Minha mente não desliga. Thomas Montserrat era um enigma. Um mistério que eu não estava interessada em desvendar, mas que, de alguma forma, parecia me desafiar a entender.
Se ele sempre foi tão obcecado pela empresa, por que agora parecia estar se esforçando para vê-la falhar? Seria um jogo de poder com o pai? Um ato de rebeldia tardia? Ou talvez ele tivesse um plano que ninguém mais enxergava?
Reviro na cama, apoiando a cabeça no braço. Não. Thomas não quer perder a empresa. Isso eu tenho certeza. O problema é que, por algum motivo, ele está jogando contra mim.
Seria orgulho? O ego dele sendo ferido porque uma mulher foi contratada para consertar o que ele destruiu? Clássico.
Ou ele estava apostando no meu fracasso? Me deixando fazer todo o trabalho duro só para no fim dar um golpe e levar o crédito? Também seria típico.
Ou, talvez, tivesse algo muito maior acontecendo nos bastidores. Algo que eu ainda não conseguia enxergar.
Eu preciso descobrir. Preciso entender o que diabos Thomas Montserrat está escondendo.
Na manhã seguinte, entro na Montserrat Enterprises pronta para colocar meu plano em prática. Thomas pode até achar que está no controle, mas eu sei exatamente o que estou fazendo. A primeira coisa que faço é reunir os diretores e líderes de equipe para implementar as medidas emergenciais. Algumas mudanças vão ser drásticas, mas necessárias. Cortes de gastos desnecessário em outros departamentos que Thomas não quis mudanças, reestruturação de setores improdutivos e uma nova estratégia de marketing para recuperar a confiança do mercado.Thomas está presente, claro, recostado em sua cadeira com os braços cruzados e aquela expressão de tédio quase ensaiado — como se tivesse algo melhor para fazer.— Isso parece ambicioso, Harper — ele comenta, com a voz carregada de ironia. — Não está com medo de morder mais do que pode mastigar?Cruzo os braços e encaro diretamente nos olhos dele.— Se eu tivesse medo, Sr. Montserrat, não estaria aqui.Um sorriso lento se forma em seus lábios. Ele gosta
Chego em casa remusgando, jogando as chaves na mesa do corredor com mais força do que o necessário. Idiota. Arrogante. Pretensioso. Como alguém pode ser tão difícil? Tudo o que eu queria era que ele reconhecesse o óbvio: eu estou fazendo o que ele não conseguiu. Eu estou salvando a empresa que ele estava deixando afundar. E ainda está.Mas não, Thomas Montserrat preferiu dar de ombros e me provocar como se isso fosse um jogo. Bem, se é um jogo, ele vai perder.— Você está bem?A voz de Isabelle vem da cozinha. Respiro fundo, tentando esconder minha irritação antes de entrar, mas falho miseravelmente.Ela está sentada no balcão, tomando seu chá com a calma de quem não tem ideia da frustração que estou sentindo.— Thomas é um idiota — solto, sem rodeios.Isabelle ergue uma sobrancelha e dá um gole generoso do seu chá.— Isso não é novidade. Mas o que ele fez dessa vez?Jogo minha bolsa em cima da mesa e puxo uma cadeira.— Ele se recusa a admitir que eu estou superando ele. Que estou fa
Passei os dias seguintes fugindo de Thomas como se minha vida dependesse disso. Se tínhamos uma reunião, eu era objetiva. Dizia exatamente o necessário, sem rodeios, sem pausas desnecessárias. Nada de discussões longas. Nada de provocações. Eu terminava de falar e saía da sala antes de todo mundo.Se ele me chamava? Eu fingia que não ouvia. Se não dava para fingir, eu inventava uma desculpa qualquer.Se ele cruzava meu caminho no corredor, eu desviava, mudava a rota, entrava em outra sala. Parecia um jogo, mas eu sabia que não podia me deixar envolver. Só que, quanto mais eu fugia, mais ele aparecia na minha mente. Como se fugir dele fisicamente não impedisse a força gravitacional que ele exercia sobre mim.Era irritante. Quase sufocante. E eu tinha certeza absoluta de que ele estava percebendo.Cada vez que eu evitava seu olhar, cada vez que saía apressada de um ambiente onde ele estava, eu sentia aqueles olhos em mim. Observando. Esperando. E Thomas não era o tipo de homem que gosta
No final da tarde, minha assistente entrou apressada na minha sala com um bilhete em mãos.— Senhorita Harper, Harry Montserrat pediu para encontrá-la hoje.Meu olhar se ergueu imediatamente do relatório à minha frente.Harry Montserrat. Era óbvio que esse pedido viria mais cedo ou mais tarde. O verdadeiro poder por trás da Montserrat Enterprises.Peguei o bilhete e li rapidamente. Era um convite formal, direto. Ele queria me ver em sua residência. A mansão dos Montserrat, que eu já conhecia. Há dois anos, fui a um evento lá. Na época, estava salvando uma empresa pertencente a um dos poucos amigos próximos de Harry. Lembrei-me bem da imponência do lugar, da arquitetura clássica, da grandiosidade que parecia existir apenas para lembrar a todos que estavam diante de um império. E, agora, aquele império estava à beira do colapso.Ajustei a postura na cadeira, sentindo algo se encaixar no fundo da minha mente. Minha contratação veio dele. Não de Thomas. De Harry Montserrat. Talvez isso ex
O carro de Thomas deslizou pela estrada como se ele soubesse exatamente para onde estava indo. Eu, por outro lado, não fazia a menor ideia.Cruzei os braços e encostei no banco, sem disfarçar a irritação.— Se isso for um sequestro, já aviso que não sou uma boa refém.Thomas soltou um suspiro e manteve os olhos fixos na estrada.— Se fosse um sequestro, você não estaria sentada tão confortável.Revirei os olhos.O silêncio entre nós ficou incômodo, quase sufocante. Eu não gostava de ser arrastada para situações sem explicação, principalmente quando envolviam um homem como Thomas.Depois de um tempo, a paisagem mudou. Saímos do centro movimentado da cidade para uma área mais afastada, onde as luzes eram mais escassas e o ambiente parecia muito mais íntimo. Quando ele finalmente parou o carro, franzi a testa. Um restaurante. Pequeno, elegante e discreto. O tipo de lugar onde pessoas ricas vinham para escapar do caos da cidade e resolver negócios longe dos olhos do público.Thomas saiu
O ar dentro da sala de reuniões era pesado, como se até as paredes estivessem cientes da tensão. Meus passos soavam altos sobre o chão de mármore enquanto eu caminhava, mantendo a postura impecável, como uma mulher que não se intimida facilmente.Savannah Harper, consultora de grandes empresas. Uma mulher que sabia exatamente como fazer negócios e, mais importante, como lidar com homens como ele. Homens que acreditavam que o mundo se curvava diante do seu poder.Thomas Montserrat, CEO da Montserrat Enterprises, herdeiro de um império bilionário. Ele não era apenas um homem de negócios. Ele era um ícone. E por mais que eu tivesse ouvido falar dele, nada me preparou para encontrá-lo frente a frente.Ele estava parado ao lado da janela panorâmica, observando a cidade com a frieza de alguém que a possui.Quando ele se virou e nossos olhares se encontraram, o impacto foi imediato. Aquele olhar penetrante, desnudava tudo sem dizer uma palavra. Ele me analisava como se fosse uma equação que
A porta do escritório se fechou com um leve estalo, mas a sensação de estar presa naquele lugar, sob a mesma cobertura que Thomas Montserrat, me seguiu até o corredor. Eu poderia sentir o peso do seu olhar, mesmo quando ele não estava mais tão perto. Naquele momento, ele já era uma presença que eu não conseguiria ignorar.Respirei fundo, tentando afastar a sensação de estar completamente absorvida pela sua aura, pela maneira como ele me desafiava a cada vez que fala, com cada gesto. Não era apenas o poder dele que me afetava. Era algo mais profundo. Quando passei pela porta do prédio e saí para a rua, as ruas movimentadas da cidade pareciam mais tranquilas, como se o mundo tivesse recuado por um momento, me dando espaço para respirar. Mas minha mente estava longe da calma da cidade. Eu nunca tinha odiado alguém da maneira como odiava Thomas. Não era um ódio visceral, mas algo mais sutil, uma amargura que crescia a cada momento que ele estava ao meu redor. Algo que eu cultivava há te
A reunião terminou com uma sensação no ar de que nada tinha sido resolvido, mas tudo tinha sido observado. Eu sentia os olhares dos diretores e acionistas fixados em mim enquanto saía da sala. Alguns pareciam satisfeitos com as explicações, outros, menos confiantes. A verdade é que todos estavam mais preocupados com o futuro da empresa do que com as minhas palavras, mas eu sabia que o único que realmente importava era Thomas Montserrat.Ele estava ali, no centro de tudo, mas agora não era mais o centro da minha atenção. Eu estava conversando com Richard Sanders, um dos diretores mais experientes da empresa, que tinha sido um dos poucos dispostos a ouvir minhas ideias com mais atenção. Ele parecia genuinamente interessado nas soluções que eu estava propondo.— Não é fácil, Savannah. Eu sei que ele tem um jeito... peculiar de lidar com as coisas, mas você parece ter a abordagem certa para salvar isso tudo. — Richard falou, com a voz baixa, como se temesse ser ouvido.Eu sorri levemente,