Empurrei o prato para longe, sem fome alguma. Thomas ainda me olhava como se estivesse esperando uma resposta, mas eu não ia dar o gostinho.— Se estamos do mesmo lado, então pare de me testar — soltei, cruzando os braços.Ele riu. — Eu não te testo, Savannah. Eu provoco. Tem uma diferença.Revirei os olhos e me levantei.— Seja lá o que for, só me deixe trabalhar.Thomas inclinou a cabeça para o lado, analisando cada mínimo detalhe da minha expressão.— Você está irritada.— E de quem é a culpa?Ele se levantou também, parando ao meu lado. Muito perto.— Sua.Eu pisquei.— Minha?— Você se irrita porque se importa demais. Se não se importasse, não teria vindo até minha casa com aquele relatório, não teria questionado tanto, não estaria aqui agora, conversando comigo quando já poderia ter ido embora.Me afastei um passo, sentindo o calor do corpo dele perto demais.— Eu me importo com o meu trabalho, Thomas.— Tem certeza?Ele ergueu uma sobrancelha, o olhar penetrante, como se tenta
Eu nunca conheci outra vida além dessa. Ainda criança fui treinado para assumir os negócios da família, para seguir um caminho que nunca escolhi, mas que foi imposto a mim como se estivesse gravado em meu DNA. Meu pai fez questão de moldar cada aspecto do meu futuro, como se minha existência tivesse um único propósito: manter o império Montserrat intacto. E agora, ele mesmo queria se desfazer da empresa. Como se fosse descartável. Como se todo o esforço, cada sacrifício que fiz, não valesse nada. Eu nunca tive uma infância normal. Nunca fui um adolescente comum. Enquanto outros garotos se preocupavam com festas e garotas , eu já estava aprendendo sobre balanços financeiros, fusões e aquisições. Tive que ser diferente, focado. Tive que suportar as pressões, provar que era digno do legado Montserrat. E agora, tudo isso podia acabar porque meu pai teve uma aventura e gerou um filho bastardo. Damon. Um inútil que acredita que o mundo lhe deve alguma coisa. Cresceu sem nenhuma respons
Eu sabia que Savannah faria perguntas. Ela sempre fazia. Enquanto caminhava pelo galpão, analisando cada detalhe, eu percebia que sua mente trabalhava a mil por hora, processando tudo o que via. Seus olhos dançavam entre os monitores, os relatórios sobre as mesas, as conversas entre os funcionários. — Como você manteve isso em segredo? — ela perguntou, sem tirar os olhos de um gráfico detalhado na tela à sua frente. — Não foi fácil — admiti, parando ao lado dela. — Mas meu pai não presta atenção nos detalhes do que fazemos fora da sede. Ele confia que eu sei o que estou fazendo, então nunca questionou. Ela virou o rosto para me encarar, os lábios pressionados em uma linha fina. — E você sabe o que está fazendo? Soltei um riso baixo. — Nunca soube tanto. Ela não sorriu. — Isso ainda não me explica tudo. Por que esconder? Por que não apresentar esse projeto diretamente para ele? Cruzei os braços e suspirei, escolhendo as palavras com cuidado. — Porque não se trata
Eu percebi assim que cheguei à empresa. Savannah estava me evitando. E talvez eu devesse me sentir aliviado com isso. Talvez fosse melhor assim. Quanto menos tempo eu passasse perto dela, menos risco eu corria de ceder a esse desejo irracional que crescia dentro de mim. Mas o problema era que, mesmo quando ela não estava perto, ela ainda estava na minha mente. Eu a via através do vidro da minha sala quando ela passava pelo corredor, determinada, a postura confiante, a expressão sempre carregada de alguma certeza, um objetivo. Eu a observava quando ela saía tarde da noite, cruzando o estacionamento, com o andar firme, os ombros retos, com suas pernas longas à mostra num vestido comportado, completamente alheia ao fato de que eu estava ali, desejando-a em silêncio. E eu odiava isso. Odiava essa obsessão que começava a tomar conta de mim. Odiava o fato de que nenhuma mulher jamais tinha me feito sentir assim, e justo Savannah, que me desprezava, era quem me fazia querer perder o co
Passei os últimos dias evitando Thomas. Não porque ele me irritava — embora irritasse —, mas porque comecei a sentir algo que não deveria. Atração. Algo que não podia acontecer. Algo que eu não permitiria acontecer. Noites de insônia e conflitos internos estavam me assombrando. Era exaustivo e frustrante. E eu precisava me afastar. Claro, eu seguiria com os planos, mantendo a empresa estável até que Harry Montserrat reconsiderasse sua decisão de vendê-la, enquanto Thomas se preparava para dar sua última cartada. Mas, para isso, eu precisava de todo o meu autocontrole emocional, e físico. E isso significava me manter o mais longe possível de Thomas. Era fim de semana, minha folga. Eu precisava de algo para distrair minha mente. Coloquei minha roupa de corrida, prendi o cabelo em um rabo de cavalo e encaixei os fones nos ouvidos antes de sair para correr pelo bairro.O vento fresco da manhã me envolvia enquanto eu percorria as ruas, tentando esgotar minha energia e, principalmente,
Entrei no carro e bati a porta com mais força do que o necessário. Droga. Eu nunca tinha cometido um erro tão estúpido quanto esse. Eric tinha insistido que eu a surpreendesse, que aparecesse sem aviso, que mostrasse que a queria. Mas Savannah não era como as outras mulheres que eu conhecia. Não adiantava cercá-la. Ela era o tipo que avançava se quisesse, mas que mordia se se sentisse encurralada. E eu a encurralei. Passei as mãos pelo rosto, sentindo a frustração corroer minha paciência. Eu deveria ter sabido que seria assim. Desde o primeiro dia, ela me enfrentava de um jeito que nenhuma mulher jamais fez. Me testava. Me desafiava. Me fazia sentir um tipo de desejo que eu não queria sentir. Porque Savannah não era uma distração. Ela era um problema. A causa da minha insônia e da pulsação acelerada do meu coração, e do meu corpo. Liguei o carro e saí dali, tentando não pensar no jeito que o roupão dela tinha caído um pouco sobre o ombro, revelando pele demais. Ou na forma co
Entrei no carro e bati a porta com mais força do que o necessário. Minhas mãos tremiam no volante, meu coração disparado como se eu tivesse acabado de correr uma maratona. Droga. Eu não deveria ter vindo. Não deveria ter parado quando ouvi minha mão falar sobre ele. Não deveria ter me permitido sentir qualquer coisa quando nossos olhos se cruzaram. Mas, mais do que tudo, eu não deveria ter deixado ele me tocar. Olhei para minhas mãos, como se ainda sentisse o calor da pele dele nelas. Thomas Montserrat era um erro esperando para acontecer, e eu estava me aproximando demais desse desastre anunciado. Minha respiração estava irregular. Liguei o carro e saí dali, sentindo o olhar dele queimando minhas costas. Eu precisava esquecer isso. Esquecer como a voz dele soava rouca e baixa quando dizia meu nome. E em como sua proximidade fazia meu corpo inteiro reagir de um jeito que nunca aconteceu com ninguém. Esquecer que, por um momento, tudo dentro de mim implorou para que eu ficasse.
Estava irritado. Frustrado. E, pior do que tudo, perdido. Eu nunca me permiti esse tipo de vulnerabilidade. Sempre tive o controle de tudo, sempre soube o que fazer. Mas agora… agora eu me via refém de algo que nem conseguia explicar. Savannah. Ela estava na minha cabeça, no meu maldito sistema, e por mais que eu tentasse afastá-la, mais forte a presença dela se tornava. Eu precisava de um tempo. De um respiro. E, felizmente, uma viagem a negócios surgiu como a desculpa perfeita. Sentei no bar de sempre com Eric, observando o gelo girar dentro do meu copo antes de tomar um gole. — Você tá um pé no saco ultimamente — ele comentou, analisando meu semblante. — Obrigado pela observação — murmurei. Ele riu, balançando a cabeça. — Vai me dizer que não tem nada a ver com a sua obsessão recém-descoberta por Savannah? Lancei um olhar afiado para ele, mas não neguei. Porque negar seria inútil. — Eu vou viajar — disse, mudando de assunto. — Negócios. — Quando? — Amanhã.