Capítulo 10

Na manhã seguinte, entro na Montserrat Enterprises pronta para colocar meu plano em prática. Thomas pode até achar que está no controle, mas eu sei exatamente o que estou fazendo. 

A primeira coisa que faço é reunir os diretores e líderes de equipe para implementar as medidas emergenciais. Algumas mudanças vão ser drásticas, mas necessárias. Cortes de gastos desnecessário em outros departamentos que Thomas não quis mudanças, reestruturação de setores improdutivos e uma nova estratégia de marketing para recuperar a confiança do mercado.

Thomas está presente, claro, recostado em sua cadeira com os braços cruzados e aquela expressão de tédio quase ensaiado — como se tivesse algo melhor para fazer.

— Isso parece ambicioso, Harper — ele comenta, com a voz carregada de ironia. — Não está com medo de morder mais do que pode mastigar?

Cruzo os braços e encaro diretamente nos olhos dele.

— Se eu tivesse medo, Sr. Montserrat, não estaria aqui.

Um sorriso lento se forma em seus lábios. Ele gosta quando eu respondo à altura. Ótimo. Então que continue se divertindo, porque eu não vou recuar. As próximas semanas são um verdadeiro teste de paciência. 

Thomas me desafia a cada passo, questiona minhas decisões, provoca nas reuniões, mas… ele me observa. Eu vejo nos olhos dele. Ele percebe que as coisas estão funcionando. Que os números começam a melhorar, que os acionistas estão menos tensos.

Mas o que mais me intriga é que, apesar de tudo, ele nunca recua completamente.

Ele continua ali, me testando, como se quisesse ver até onde eu posso ir. Como se estivesse esperando que eu falhasse, ou talvez… esperando que eu provasse que estava certa.

E, pela primeira vez, eu começo a me perguntar… O que realmente passa pela mente dele?

Quando todos já tinham ido embora e a empresa estava mergulhada no silêncio do fim de expediente, recebo o relatório atualizado com os resultados dos primeiros ajustes que implementei. E eles são promissores.

Os números estão subindo, os setores estão respondendo bem às mudanças, e algumas das parcerias que estavam prestes a romper começaram a reconsiderar. Era a prova que eu precisava de que meu plano estava funcionando. Thomas precisava ver isso.

Pego o relatório e vou direto até a sala dele, já preparada para esfregar os dados na cara daquele teimoso, mas quando chego lá, está vazia. Claro. O CEO já foi para casa, enquanto eu estou aqui até tarde salvando a empresa dele.

Cruzo os braços, impaciente. Ele precisava olhar isso agora. Talvez assim ele parasse de me testar, de duvidar do meu trabalho, de me provocar a cada passo como se estivesse apenas esperando eu falhar.

Decidida, me viro e caminho até a mesa da assistente dele, que se preparava para ir pra casa. 

— Você tem o endereço do Sr. Montserrat?

A mulher me olha com hesitação, mas não discute. Afinal, eu sou a pessoa que está salvando a empresa. Com um suspiro, ela me entrega um cartão com o endereço anotado atrás. 

Quase uma hora depois, estou em frente ao prédio de luxo onde Thomas mora. E claro que ele mora aqui. Cobertura, segurança reforçada, um monumento ao poder e ao dinheiro.

Toco o interfone e, quando a voz dele atende, digo sem rodeios:

— Sou eu. Savannah Harper. 

Há um segundo de silêncio antes do som da tranca liberar minha entrada. Ótimo.

Subo até a cobertura e, quando a porta se abre, lá está ele. Descalço, com a camisa social meio aberta e um copo de uísque na mão.

— Savannah — ele diz, com aquela voz arrastada, um meio sorriso brincando nos lábios. — A que devo essa honra?

Entro sem esperar convite e jogo o relatório na mesa de vidro da sala dele.

— Olhe. Agora.

Ele suspira, mas não parece surpreso. Nem mesmo incomodado com a minha invasão. Apenas caminha até a mesa, pega o relatório e folheia casualmente.

Então, dá de ombros.

Ele dá de ombros.

Minha paciência, que já não era grande, se esgota no mesmo instante.

— É só isso? Nada a dizer? Nenhuma objeção sarcástica ou comentário arrogante?

Thomas levanta os olhos para mim e sorri de lado.

— O que você quer que eu diga, Harper? Você está fazendo um bom trabalho.

Cruzo os braços, irritada.

— Então por que diabos continua me atrapalhando?

Ele não responde de imediato. Em vez disso, caminha até o bar, serve-se de mais uísque e então levanta o copo para mim.

— Quer um?

— Não.

— Que pena. — Ele dá um gole lento, me observando por cima do copo. — Então, já que veio até aqui determinada a arrancar palavras da minha boca, sente-se.

Eu deveria recusar. Deveria ir embora e encerrar esse assunto.

Mas algo na forma como ele me encara, no jeito preguiçoso e perigoso com que ele se recosta no balcão, me faz hesitar.

E, antes que perceba, estou me sentando no sofá dele. Exatamente onde ele queria que eu estivesse.

Thomas se aproxima lentamente, ainda segurando o copo de uísque, e se senta na poltrona à minha frente. Ele descansa o braço no encosto e me observa como se estivesse se divertindo com a minha impaciência.

— Agora que estamos confortáveis… — Ele gira o líquido âmbar no copo. — Me diga, Harper, por que está tão desesperada para que eu reconheça o seu trabalho?

Reviro os olhos, cruzando as pernas.

— Isso não é sobre o que eu quero, e sim sobre o que você precisa admitir. Eu estou salvando essa empresa. E, queira ou não, isso significa que estou salvando você também.

Thomas solta um riso baixo, abafado, antes de levar o copo aos lábios.

— E quem disse que eu preciso ser salvo?

Meu sangue ferve.

— Você sabe que sim. E mais do que isso, você quer ser salvo. Só não quer admitir.

Ele inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos.

— Tem muita certeza disso, Harper.

— Mais do que você imagina.

O silêncio entre nós pesa. Eu deveria me sentir vitoriosa por jogá-lo contra a parede, mas tudo o que sinto é uma tensão no ar, algo quase elétrico, me mantendo presa no olhar intenso dele.

Thomas abandona o copo na mesa de centro e se inclina ligeiramente para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.

— Me diga… o que exatamente você acha que estou escondendo?

A pergunta me desarma por um segundo. Porque essa é a resposta que eu mais quero descobrir.

Mordo o canto do lábio, avaliando-o. Ele está me testando de novo, esperando para ver se eu recuo, se eu desvio o olhar ou hesito. Mas eu nunca hesito.

— Você quer que eu jogue minhas cartas na mesa, Montserrat? — Apoio os braços nos joelhos e me inclino para ele também, igualando nossa distância. — Tudo bem.

Thomas mantém a expressão impassível, mas vejo o brilho de desafio em seus olhos.

— Eu acho que você está sabotando a própria empresa. Que está testando os meus limites, esperando me ver falhar. Que você quer salvar essa empresa, mas ao mesmo tempo não quer. E que isso tem algo a ver com seu pai.

O silêncio que segue é denso. Thomas não se move, não pisca. Apenas me observa, avaliando cada palavra minha.

Então ele sorri.

Um sorriso lento, perigoso.

— Interessante teoria, Savannah.

A forma como ele diz meu sobrenome me arrepia, e isso me irrita. Eu não posso ser afetada por ele.

— Não é teoria, Thomas. É fato. Você só precisa ter coragem para admitir.

Ele segura meu olhar por mais um segundo, depois se inclina para trás, como se estivesse deliberadamente ignorando minhas palavras.

— Vai aceitar um drink agora?

Eu solto um suspiro exasperado e me levanto.

— Não. Eu já perdi tempo demais aqui.

Vou em direção à porta, mas antes de sair, olho por cima do ombro.

— Só não se engane achando que eu não vou descobrir o que você está escondendo. Porque eu vou.

E então eu saio, deixando Thomas Montserrat para trás. Mas sabendo que esse jogo entre nós está longe de acabar.

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