Na manhã seguinte, entro na Montserrat Enterprises pronta para colocar meu plano em prática. Thomas pode até achar que está no controle, mas eu sei exatamente o que estou fazendo.
A primeira coisa que faço é reunir os diretores e líderes de equipe para implementar as medidas emergenciais. Algumas mudanças vão ser drásticas, mas necessárias. Cortes de gastos desnecessário em outros departamentos que Thomas não quis mudanças, reestruturação de setores improdutivos e uma nova estratégia de marketing para recuperar a confiança do mercado.
Thomas está presente, claro, recostado em sua cadeira com os braços cruzados e aquela expressão de tédio quase ensaiado — como se tivesse algo melhor para fazer.
— Isso parece ambicioso, Harper — ele comenta, com a voz carregada de ironia. — Não está com medo de morder mais do que pode mastigar?
Cruzo os braços e encaro diretamente nos olhos dele.
— Se eu tivesse medo, Sr. Montserrat, não estaria aqui.
Um sorriso lento se forma em seus lábios. Ele gosta quando eu respondo à altura. Ótimo. Então que continue se divertindo, porque eu não vou recuar. As próximas semanas são um verdadeiro teste de paciência.
Thomas me desafia a cada passo, questiona minhas decisões, provoca nas reuniões, mas… ele me observa. Eu vejo nos olhos dele. Ele percebe que as coisas estão funcionando. Que os números começam a melhorar, que os acionistas estão menos tensos.
Mas o que mais me intriga é que, apesar de tudo, ele nunca recua completamente.
Ele continua ali, me testando, como se quisesse ver até onde eu posso ir. Como se estivesse esperando que eu falhasse, ou talvez… esperando que eu provasse que estava certa.
E, pela primeira vez, eu começo a me perguntar… O que realmente passa pela mente dele?
Quando todos já tinham ido embora e a empresa estava mergulhada no silêncio do fim de expediente, recebo o relatório atualizado com os resultados dos primeiros ajustes que implementei. E eles são promissores.
Os números estão subindo, os setores estão respondendo bem às mudanças, e algumas das parcerias que estavam prestes a romper começaram a reconsiderar. Era a prova que eu precisava de que meu plano estava funcionando. Thomas precisava ver isso.
Pego o relatório e vou direto até a sala dele, já preparada para esfregar os dados na cara daquele teimoso, mas quando chego lá, está vazia. Claro. O CEO já foi para casa, enquanto eu estou aqui até tarde salvando a empresa dele.
Cruzo os braços, impaciente. Ele precisava olhar isso agora. Talvez assim ele parasse de me testar, de duvidar do meu trabalho, de me provocar a cada passo como se estivesse apenas esperando eu falhar.
Decidida, me viro e caminho até a mesa da assistente dele, que se preparava para ir pra casa.
— Você tem o endereço do Sr. Montserrat?
A mulher me olha com hesitação, mas não discute. Afinal, eu sou a pessoa que está salvando a empresa. Com um suspiro, ela me entrega um cartão com o endereço anotado atrás.
Quase uma hora depois, estou em frente ao prédio de luxo onde Thomas mora. E claro que ele mora aqui. Cobertura, segurança reforçada, um monumento ao poder e ao dinheiro.
Toco o interfone e, quando a voz dele atende, digo sem rodeios:
— Sou eu. Savannah Harper.
Há um segundo de silêncio antes do som da tranca liberar minha entrada. Ótimo.
Subo até a cobertura e, quando a porta se abre, lá está ele. Descalço, com a camisa social meio aberta e um copo de uísque na mão.
— Savannah — ele diz, com aquela voz arrastada, um meio sorriso brincando nos lábios. — A que devo essa honra?
Entro sem esperar convite e jogo o relatório na mesa de vidro da sala dele.
— Olhe. Agora.
Ele suspira, mas não parece surpreso. Nem mesmo incomodado com a minha invasão. Apenas caminha até a mesa, pega o relatório e folheia casualmente.
Então, dá de ombros.
Ele dá de ombros.
Minha paciência, que já não era grande, se esgota no mesmo instante.
— É só isso? Nada a dizer? Nenhuma objeção sarcástica ou comentário arrogante?
Thomas levanta os olhos para mim e sorri de lado.
— O que você quer que eu diga, Harper? Você está fazendo um bom trabalho.
Cruzo os braços, irritada.
— Então por que diabos continua me atrapalhando?
Ele não responde de imediato. Em vez disso, caminha até o bar, serve-se de mais uísque e então levanta o copo para mim.
— Quer um?
— Não.
— Que pena. — Ele dá um gole lento, me observando por cima do copo. — Então, já que veio até aqui determinada a arrancar palavras da minha boca, sente-se.
Eu deveria recusar. Deveria ir embora e encerrar esse assunto.
Mas algo na forma como ele me encara, no jeito preguiçoso e perigoso com que ele se recosta no balcão, me faz hesitar.
E, antes que perceba, estou me sentando no sofá dele. Exatamente onde ele queria que eu estivesse.
Thomas se aproxima lentamente, ainda segurando o copo de uísque, e se senta na poltrona à minha frente. Ele descansa o braço no encosto e me observa como se estivesse se divertindo com a minha impaciência.
— Agora que estamos confortáveis… — Ele gira o líquido âmbar no copo. — Me diga, Harper, por que está tão desesperada para que eu reconheça o seu trabalho?
Reviro os olhos, cruzando as pernas.
— Isso não é sobre o que eu quero, e sim sobre o que você precisa admitir. Eu estou salvando essa empresa. E, queira ou não, isso significa que estou salvando você também.
Thomas solta um riso baixo, abafado, antes de levar o copo aos lábios.
— E quem disse que eu preciso ser salvo?
Meu sangue ferve.
— Você sabe que sim. E mais do que isso, você quer ser salvo. Só não quer admitir.
Ele inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos.
— Tem muita certeza disso, Harper.
— Mais do que você imagina.
O silêncio entre nós pesa. Eu deveria me sentir vitoriosa por jogá-lo contra a parede, mas tudo o que sinto é uma tensão no ar, algo quase elétrico, me mantendo presa no olhar intenso dele.
Thomas abandona o copo na mesa de centro e se inclina ligeiramente para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.
— Me diga… o que exatamente você acha que estou escondendo?
A pergunta me desarma por um segundo. Porque essa é a resposta que eu mais quero descobrir.
Mordo o canto do lábio, avaliando-o. Ele está me testando de novo, esperando para ver se eu recuo, se eu desvio o olhar ou hesito. Mas eu nunca hesito.
— Você quer que eu jogue minhas cartas na mesa, Montserrat? — Apoio os braços nos joelhos e me inclino para ele também, igualando nossa distância. — Tudo bem.
Thomas mantém a expressão impassível, mas vejo o brilho de desafio em seus olhos.
— Eu acho que você está sabotando a própria empresa. Que está testando os meus limites, esperando me ver falhar. Que você quer salvar essa empresa, mas ao mesmo tempo não quer. E que isso tem algo a ver com seu pai.
O silêncio que segue é denso. Thomas não se move, não pisca. Apenas me observa, avaliando cada palavra minha.
Então ele sorri.
Um sorriso lento, perigoso.
— Interessante teoria, Savannah.
A forma como ele diz meu sobrenome me arrepia, e isso me irrita. Eu não posso ser afetada por ele.
— Não é teoria, Thomas. É fato. Você só precisa ter coragem para admitir.
Ele segura meu olhar por mais um segundo, depois se inclina para trás, como se estivesse deliberadamente ignorando minhas palavras.
— Vai aceitar um drink agora?
Eu solto um suspiro exasperado e me levanto.
— Não. Eu já perdi tempo demais aqui.
Vou em direção à porta, mas antes de sair, olho por cima do ombro.
— Só não se engane achando que eu não vou descobrir o que você está escondendo. Porque eu vou.
E então eu saio, deixando Thomas Montserrat para trás. Mas sabendo que esse jogo entre nós está longe de acabar.
Chego em casa remusgando, jogando as chaves na mesa do corredor com mais força do que o necessário. Idiota. Arrogante. Pretensioso. Como alguém pode ser tão difícil? Tudo o que eu queria era que ele reconhecesse o óbvio: eu estou fazendo o que ele não conseguiu. Eu estou salvando a empresa que ele estava deixando afundar. E ainda está.Mas não, Thomas Montserrat preferiu dar de ombros e me provocar como se isso fosse um jogo. Bem, se é um jogo, ele vai perder.— Você está bem?A voz de Isabelle vem da cozinha. Respiro fundo, tentando esconder minha irritação antes de entrar, mas falho miseravelmente.Ela está sentada no balcão, tomando seu chá com a calma de quem não tem ideia da frustração que estou sentindo.— Thomas é um idiota — solto, sem rodeios.Isabelle ergue uma sobrancelha e dá um gole generoso do seu chá.— Isso não é novidade. Mas o que ele fez dessa vez?Jogo minha bolsa em cima da mesa e puxo uma cadeira.— Ele se recusa a admitir que eu estou superando ele. Que estou fa
Passei os dias seguintes fugindo de Thomas como se minha vida dependesse disso. Se tínhamos uma reunião, eu era objetiva. Dizia exatamente o necessário, sem rodeios, sem pausas desnecessárias. Nada de discussões longas. Nada de provocações. Eu terminava de falar e saía da sala antes de todo mundo.Se ele me chamava? Eu fingia que não ouvia. Se não dava para fingir, eu inventava uma desculpa qualquer.Se ele cruzava meu caminho no corredor, eu desviava, mudava a rota, entrava em outra sala. Parecia um jogo, mas eu sabia que não podia me deixar envolver. Só que, quanto mais eu fugia, mais ele aparecia na minha mente. Como se fugir dele fisicamente não impedisse a força gravitacional que ele exercia sobre mim.Era irritante. Quase sufocante. E eu tinha certeza absoluta de que ele estava percebendo.Cada vez que eu evitava seu olhar, cada vez que saía apressada de um ambiente onde ele estava, eu sentia aqueles olhos em mim. Observando. Esperando. E Thomas não era o tipo de homem que gosta
No final da tarde, minha assistente entrou apressada na minha sala com um bilhete em mãos.— Senhorita Harper, Harry Montserrat pediu para encontrá-la hoje.Meu olhar se ergueu imediatamente do relatório à minha frente.Harry Montserrat. Era óbvio que esse pedido viria mais cedo ou mais tarde. O verdadeiro poder por trás da Montserrat Enterprises.Peguei o bilhete e li rapidamente. Era um convite formal, direto. Ele queria me ver em sua residência. A mansão dos Montserrat, que eu já conhecia. Há dois anos, fui a um evento lá. Na época, estava salvando uma empresa pertencente a um dos poucos amigos próximos de Harry. Lembrei-me bem da imponência do lugar, da arquitetura clássica, da grandiosidade que parecia existir apenas para lembrar a todos que estavam diante de um império. E, agora, aquele império estava à beira do colapso.Ajustei a postura na cadeira, sentindo algo se encaixar no fundo da minha mente. Minha contratação veio dele. Não de Thomas. De Harry Montserrat. Talvez isso ex
O carro de Thomas deslizou pela estrada como se ele soubesse exatamente para onde estava indo. Eu, por outro lado, não fazia a menor ideia.Cruzei os braços e encostei no banco, sem disfarçar a irritação.— Se isso for um sequestro, já aviso que não sou uma boa refém.Thomas soltou um suspiro e manteve os olhos fixos na estrada.— Se fosse um sequestro, você não estaria sentada tão confortável.Revirei os olhos.O silêncio entre nós ficou incômodo, quase sufocante. Eu não gostava de ser arrastada para situações sem explicação, principalmente quando envolviam um homem como Thomas.Depois de um tempo, a paisagem mudou. Saímos do centro movimentado da cidade para uma área mais afastada, onde as luzes eram mais escassas e o ambiente parecia muito mais íntimo. Quando ele finalmente parou o carro, franzi a testa. Um restaurante. Pequeno, elegante e discreto. O tipo de lugar onde pessoas ricas vinham para escapar do caos da cidade e resolver negócios longe dos olhos do público.Thomas saiu
O ar dentro da sala de reuniões era pesado, como se até as paredes estivessem cientes da tensão. Meus passos soavam altos sobre o chão de mármore enquanto eu caminhava, mantendo a postura impecável, como uma mulher que não se intimida facilmente.Savannah Harper, consultora de grandes empresas. Uma mulher que sabia exatamente como fazer negócios e, mais importante, como lidar com homens como ele. Homens que acreditavam que o mundo se curvava diante do seu poder.Thomas Montserrat, CEO da Montserrat Enterprises, herdeiro de um império bilionário. Ele não era apenas um homem de negócios. Ele era um ícone. E por mais que eu tivesse ouvido falar dele, nada me preparou para encontrá-lo frente a frente.Ele estava parado ao lado da janela panorâmica, observando a cidade com a frieza de alguém que a possui.Quando ele se virou e nossos olhares se encontraram, o impacto foi imediato. Aquele olhar penetrante, desnudava tudo sem dizer uma palavra. Ele me analisava como se fosse uma equação que
A porta do escritório se fechou com um leve estalo, mas a sensação de estar presa naquele lugar, sob a mesma cobertura que Thomas Montserrat, me seguiu até o corredor. Eu poderia sentir o peso do seu olhar, mesmo quando ele não estava mais tão perto. Naquele momento, ele já era uma presença que eu não conseguiria ignorar.Respirei fundo, tentando afastar a sensação de estar completamente absorvida pela sua aura, pela maneira como ele me desafiava a cada vez que fala, com cada gesto. Não era apenas o poder dele que me afetava. Era algo mais profundo. Quando passei pela porta do prédio e saí para a rua, as ruas movimentadas da cidade pareciam mais tranquilas, como se o mundo tivesse recuado por um momento, me dando espaço para respirar. Mas minha mente estava longe da calma da cidade. Eu nunca tinha odiado alguém da maneira como odiava Thomas. Não era um ódio visceral, mas algo mais sutil, uma amargura que crescia a cada momento que ele estava ao meu redor. Algo que eu cultivava há te
A reunião terminou com uma sensação no ar de que nada tinha sido resolvido, mas tudo tinha sido observado. Eu sentia os olhares dos diretores e acionistas fixados em mim enquanto saía da sala. Alguns pareciam satisfeitos com as explicações, outros, menos confiantes. A verdade é que todos estavam mais preocupados com o futuro da empresa do que com as minhas palavras, mas eu sabia que o único que realmente importava era Thomas Montserrat.Ele estava ali, no centro de tudo, mas agora não era mais o centro da minha atenção. Eu estava conversando com Richard Sanders, um dos diretores mais experientes da empresa, que tinha sido um dos poucos dispostos a ouvir minhas ideias com mais atenção. Ele parecia genuinamente interessado nas soluções que eu estava propondo.— Não é fácil, Savannah. Eu sei que ele tem um jeito... peculiar de lidar com as coisas, mas você parece ter a abordagem certa para salvar isso tudo. — Richard falou, com a voz baixa, como se temesse ser ouvido.Eu sorri levemente,
O dia tinha sido longo. Exaustivo. Estressante. E, ao mesmo tempo, estranhamente satisfatório. Enquanto dirigia de volta para casa, as palavras de Thomas ainda ecoavam na minha mente. Você me odeia? Ele não fazia ideia do que realmente se passava, do peso daquela pergunta.Ódio? Talvez fosse exagero. Mas desprezo? Isso, sim, eu sentia.Estacionei na garagem e soltei um suspiro pesado antes de sair do carro. Minha cabeça ainda fervilhava, tanto pelas estratégias que eu precisaria traçar para salvar a Montserrat Enterprises quanto pela promessa silenciosa que eu havia feito a mim mesma.Mas, assim que abri a porta de casa, meu foco desviou completamente ao ver uma mala largada na sala e uma silhueta familiar parada na cozinha, segurando uma taça de vinho.— Você voltou! — Falei surpresa, fechando a porta atrás de mim.Isabelle virou-se para mim com um sorriso cansado.— Voltei. — Ela ergueu a taça como se brindasse. — Surpresa?— Claro que sim! Você disse que ficaria fora mais tempo!—