O primeiro passo para salvar a Montserrat Enterprises era simples: cortar os excessos e recuperar a liquidez. A empresa estava sangrando dinheiro. Os números eram uma bagunça, e os gastos desnecessários eram tão evidentes que até uma criança de dez anos conseguiria enxergá-los.
Cancelei contratos inúteis.
Em menos de duas semanas, a estrutura financeira da empresa já estava visivelmente mais sólida. E, claro, Thomas Montserrat odiava isso. Ele não gostava de ser contrariado, menos ainda de ser ignorado. E eu estava ignorando. Fazia questão de agir como se ele fosse só mais um CEO desesperado tentando provar que ainda tinha as rédeas da própria empresa.
Mas a verdade era uma só: se eu não estivesse ali, ele já teria perdido tudo. E o engraçado? Mesmo com o pai dele no encalço, cobrando resultado, ele ainda tentava atrapalhar.
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— Você cortou o contrato com a Luxor Tech sem me consultar.
A voz de Thomas soou atrás de mim quando saí da sala de conferências, depois de mais uma reunião onde eu lutava e ele ainda tentava me testar.
Revirei os olhos antes de me virar lentamente para encará-lo.
— Eu consultei os números. — Cruzei os braços. — E os números disseram que manter aquele contrato era um desperdício de dinheiro.
Thomas estreitou os olhos, ele estava frustrado.
— Esse contrato foi feito para inovação.
— Esse contrato foi feito para encher os bolsos do CEO da Luxor, enquanto a sua empresa continua patinando na lama.
O maxilar dele se contraiu.
Meu Deus, como era satisfatório ver Thomas Montserrat perdendo o controle.
Ele deu um passo para mais perto. Não o suficiente para me intimidar, mas o suficiente para que eu sentisse o calor da presença dele.
— Você sempre se mete onde não é chamada, Harper?
Abri um pequeno sorriso.
— Só onde sou bem paga para me meter.
Aquela resposta o pegou de surpresa.
Houve um segundo de silêncio. Um segundo inteiro onde ele me olhou de um jeito diferente, mas eu não estava com tempo para decifrar Thomas Montserrat. Então apenas me afastei, deixando ele ali, parado no meio do corredor.
Fim de conversa.
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Só que aquilo não foi o fim.
Nos dias seguintes, ele tentou de tudo.
Me interrompeu em reuniões. Fez perguntas desnecessárias só para testar minha paciência. Rejeitou minhas sugestões na frente dos diretores, apenas para vê-los discordarem dele.
Era como se ele não estivesse tentando de verdade. Como se ele apenas quisesse ver até onde eu iria.
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Naquela tarde, enquanto pegava um café na cafeteria do prédio, ouvi algo interessante.
— O velho Montserrat tá em cima dele. — alguém disse, tentando sussurrar, mas falhou grosseiramente.
— Tá feio. O conselho não tem mais paciência. Se a empresa não se recuperar logo, Thomas pode… bem, você sabe.
A outra pessoa riu baixo.
— Pode perder tudo? Pode.
Minha mão apertou a xícara.
Então… Era isso? Thomas estava sendo cobrado pelo pai e com a faca no pescoço. E mesmo assim, estava tentando me atrapalhar? Por quê? Por que ele fazia questão de tornar meu trabalho mais difícil se sabia que era a única chance de salvar a própria pele?
Eu precisava perguntar isso.
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Esperei até o final do expediente. Quando o vi passar pelo corredor, em direção ao elevador, apressei o passo e segurei a porta antes que fechasse.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Harper.
— Montserrat.
O elevador fechou, e eu apertei o botão do último andar.
— Você quer que essa empresa se salve, certo? — perguntei, virando para ele.
Thomas me olhou por um momento, como se estivesse analisando.
— Depende.
— Depende do quê?
— De quem vai levá-la à superfície.
Soltei um riso curto, sem humor.
— Bom, eu já estou fazendo isso. Então por que diabos você continua tentando me atrapalhar?
Ele não respondeu.
O elevador seguiu subindo, o silêncio entre nós tenso e carregado.
— Thomas. — Cruzei os braços. — Por que você parece determinado a me tornar o seu maior obstáculo, quando eu sou a única pessoa realmente interessada em tirar essa empresa da falência?
Ele virou o rosto levemente, como se gostasse do que estava ouvindo, como se estivesse se divertindo.
Aquilo me irritou.
— O que foi? Você não quer salvar a empresa?
Ele não disse nada. Não respondeu. Não piscou. Nada.
Apenas me olhou, e pela primeira vez tive a sensação de que ele escondia alguma coisa.
O elevador apitou, indicando o andar.
A porta abriu, mas Thomas não saiu imediatamente.
Ele inclinou a cabeça levemente e, antes de dar o primeiro passo, sorriu de canto.
— Boa noite, Harper.
E então foi embora.
Filho da mãe.
Fiquei ali, olhando para a porta aberta, enquanto um pensamento irritante não saía da minha cabeça. Eu estava salvando a Montserrat Enterprises. Mas, de alguma forma, não sabia se estava realmente salvando Thomas Montserrat.Não sabia se ele queria ser salvo.
No dia seguinte, cheguei ao escritório decidida a manter o foco. Quando entrei na sala de reuniões, encontrei os diretores já reunidos, todos de olhos atentos às minhas novas propostas. Thomas, como sempre, estava encostado na cadeira de couro, expressão despreocupada, um meio sorriso no rosto. O maldito sempre parecia se divertir com tudo.
— Senhores, — comecei, projetando meus slides na tela — precisamos agir rápido. Já cortamos os gastos desnecessários e estamos trazendo a empresa de volta ao equilíbrio, mas ainda há um problema essencial: a confiança dos investidores. Sem ela, toda essa recuperação pode ser em vão.
Os acionistas murmuraram entre si, considerando minhas palavras. Thomas apenas arqueou uma sobrancelha, como se já estivesse entediado.
— E qual seria sua solução mágica, Harper? — perguntou, com seu costumeiro sarcasmo.
Mantive a compostura. Ele queria me tirar do eixo. Não conseguiria.
— Uma reformulação estratégica, novos investimentos e uma abordagem agressiva para restaurar a credibilidade da Montserrat Enterprises no mercado. Já tenho contatos interessados, e se fecharmos um novo contrato com um parceiro sólido, podemos reverter o cenário atual. — Pausei por um segundo antes de concluir: — Mas para isso funcionar, precisamos que você pare de sabotar sua própria empresa.
Os diretores ficaram em silêncio.
Thomas inclinou a cabeça levemente,.
— E o que te faz pensar que estou sabotando? — perguntou, cruzando os braços.
Respirei fundo. Eu tinha ouvido os rumores nos corredores. Sabia que Thomas estava sob pressão do pai e do conselho, mas não conseguia entender por que ele parecia insistir em dificultar tudo.
— Porque se quisesse salvar essa empresa, estaria do meu lado, e não jogando contra. Então, me diga, Montserrat… — Pousei as mãos na mesa, encarando-o diretamente. — Você quer salvar a Montserrat Enterprises ou não?
O silêncio na sala era absoluto. Todos esperavam a resposta dele.
Thomas, no entanto, não respondeu imediatamente. Em vez disso, seus olhos deslizaram lentamente pelo meu rosto, como se estivesse ponderando algo que ninguém mais sabia.
Finalmente, ele deu de ombros.
— Eu diria que gosto de assistir uma boa batalha. — Sua voz era baixa, provocativa. — E você parece determinada a ganhar essa, Harper.
Estreitei os olhos.
Algo estava errado.
E eu precisava descobrir o que era antes que fosse tarde demais.
Entro em casa exausta, mas determinada a não pensar mais em Thomas Montserrat até, pelo menos, amanhã. Só que o universo parece ter outros planos. Isabelle está na sala, sentada no sofá, pintando as unhas do pé com uma paciência que eu nunca tive para essas coisas. Ela ergue os olhos quando me vê, com um sorrisinho no canto dos lábios.— Até que enfim apareceu, né? Já estava achando que a Montserrat Enterprises tinha te sequestrado.Reviro os olhos, mas acabo soltando um meio sorriso. Faz dias que evito Isabelle, não porque não quero vê-la, mas porque sei que suas perguntas viriam como uma metralhadora e, sinceramente, eu não tenho muitas respostas. Mas hoje… hoje, depois daquela reunião infernal, me vejo precisando cavar mais a fundo a vida de Thomas.Largo minha bolsa e me sento ao lado dela, observando-a passar o pincel com perfeição sobre a unha.— Como estão as coisas? — Isabelle pergunta, sem levantar o olhar, mas sei que está atenta a cada detalhe da minha expressão.— Ocupada.
Na manhã seguinte, entro na Montserrat Enterprises pronta para colocar meu plano em prática. Thomas pode até achar que está no controle, mas eu sei exatamente o que estou fazendo. A primeira coisa que faço é reunir os diretores e líderes de equipe para implementar as medidas emergenciais. Algumas mudanças vão ser drásticas, mas necessárias. Cortes de gastos desnecessário em outros departamentos que Thomas não quis mudanças, reestruturação de setores improdutivos e uma nova estratégia de marketing para recuperar a confiança do mercado.Thomas está presente, claro, recostado em sua cadeira com os braços cruzados e aquela expressão de tédio quase ensaiado — como se tivesse algo melhor para fazer.— Isso parece ambicioso, Harper — ele comenta, com a voz carregada de ironia. — Não está com medo de morder mais do que pode mastigar?Cruzo os braços e encaro diretamente nos olhos dele.— Se eu tivesse medo, Sr. Montserrat, não estaria aqui.Um sorriso lento se forma em seus lábios. Ele gosta
Chego em casa remusgando, jogando as chaves na mesa do corredor com mais força do que o necessário. Idiota. Arrogante. Pretensioso. Como alguém pode ser tão difícil? Tudo o que eu queria era que ele reconhecesse o óbvio: eu estou fazendo o que ele não conseguiu. Eu estou salvando a empresa que ele estava deixando afundar. E ainda está.Mas não, Thomas Montserrat preferiu dar de ombros e me provocar como se isso fosse um jogo. Bem, se é um jogo, ele vai perder.— Você está bem?A voz de Isabelle vem da cozinha. Respiro fundo, tentando esconder minha irritação antes de entrar, mas falho miseravelmente.Ela está sentada no balcão, tomando seu chá com a calma de quem não tem ideia da frustração que estou sentindo.— Thomas é um idiota — solto, sem rodeios.Isabelle ergue uma sobrancelha e dá um gole generoso do seu chá.— Isso não é novidade. Mas o que ele fez dessa vez?Jogo minha bolsa em cima da mesa e puxo uma cadeira.— Ele se recusa a admitir que eu estou superando ele. Que estou fa
Passei os dias seguintes fugindo de Thomas como se minha vida dependesse disso. Se tínhamos uma reunião, eu era objetiva. Dizia exatamente o necessário, sem rodeios, sem pausas desnecessárias. Nada de discussões longas. Nada de provocações. Eu terminava de falar e saía da sala antes de todo mundo.Se ele me chamava? Eu fingia que não ouvia. Se não dava para fingir, eu inventava uma desculpa qualquer.Se ele cruzava meu caminho no corredor, eu desviava, mudava a rota, entrava em outra sala. Parecia um jogo, mas eu sabia que não podia me deixar envolver. Só que, quanto mais eu fugia, mais ele aparecia na minha mente. Como se fugir dele fisicamente não impedisse a força gravitacional que ele exercia sobre mim.Era irritante. Quase sufocante. E eu tinha certeza absoluta de que ele estava percebendo.Cada vez que eu evitava seu olhar, cada vez que saía apressada de um ambiente onde ele estava, eu sentia aqueles olhos em mim. Observando. Esperando. E Thomas não era o tipo de homem que gosta
No final da tarde, minha assistente entrou apressada na minha sala com um bilhete em mãos.— Senhorita Harper, Harry Montserrat pediu para encontrá-la hoje.Meu olhar se ergueu imediatamente do relatório à minha frente.Harry Montserrat. Era óbvio que esse pedido viria mais cedo ou mais tarde. O verdadeiro poder por trás da Montserrat Enterprises.Peguei o bilhete e li rapidamente. Era um convite formal, direto. Ele queria me ver em sua residência. A mansão dos Montserrat, que eu já conhecia. Há dois anos, fui a um evento lá. Na época, estava salvando uma empresa pertencente a um dos poucos amigos próximos de Harry. Lembrei-me bem da imponência do lugar, da arquitetura clássica, da grandiosidade que parecia existir apenas para lembrar a todos que estavam diante de um império. E, agora, aquele império estava à beira do colapso.Ajustei a postura na cadeira, sentindo algo se encaixar no fundo da minha mente. Minha contratação veio dele. Não de Thomas. De Harry Montserrat. Talvez isso ex
O carro de Thomas deslizou pela estrada como se ele soubesse exatamente para onde estava indo. Eu, por outro lado, não fazia a menor ideia.Cruzei os braços e encostei no banco, sem disfarçar a irritação.— Se isso for um sequestro, já aviso que não sou uma boa refém.Thomas soltou um suspiro e manteve os olhos fixos na estrada.— Se fosse um sequestro, você não estaria sentada tão confortável.Revirei os olhos.O silêncio entre nós ficou incômodo, quase sufocante. Eu não gostava de ser arrastada para situações sem explicação, principalmente quando envolviam um homem como Thomas.Depois de um tempo, a paisagem mudou. Saímos do centro movimentado da cidade para uma área mais afastada, onde as luzes eram mais escassas e o ambiente parecia muito mais íntimo. Quando ele finalmente parou o carro, franzi a testa. Um restaurante. Pequeno, elegante e discreto. O tipo de lugar onde pessoas ricas vinham para escapar do caos da cidade e resolver negócios longe dos olhos do público.Thomas saiu
O ar dentro da sala de reuniões era pesado, como se até as paredes estivessem cientes da tensão. Meus passos soavam altos sobre o chão de mármore enquanto eu caminhava, mantendo a postura impecável, como uma mulher que não se intimida facilmente.Savannah Harper, consultora de grandes empresas. Uma mulher que sabia exatamente como fazer negócios e, mais importante, como lidar com homens como ele. Homens que acreditavam que o mundo se curvava diante do seu poder.Thomas Montserrat, CEO da Montserrat Enterprises, herdeiro de um império bilionário. Ele não era apenas um homem de negócios. Ele era um ícone. E por mais que eu tivesse ouvido falar dele, nada me preparou para encontrá-lo frente a frente.Ele estava parado ao lado da janela panorâmica, observando a cidade com a frieza de alguém que a possui.Quando ele se virou e nossos olhares se encontraram, o impacto foi imediato. Aquele olhar penetrante, desnudava tudo sem dizer uma palavra. Ele me analisava como se fosse uma equação que
A porta do escritório se fechou com um leve estalo, mas a sensação de estar presa naquele lugar, sob a mesma cobertura que Thomas Montserrat, me seguiu até o corredor. Eu poderia sentir o peso do seu olhar, mesmo quando ele não estava mais tão perto. Naquele momento, ele já era uma presença que eu não conseguiria ignorar.Respirei fundo, tentando afastar a sensação de estar completamente absorvida pela sua aura, pela maneira como ele me desafiava a cada vez que fala, com cada gesto. Não era apenas o poder dele que me afetava. Era algo mais profundo. Quando passei pela porta do prédio e saí para a rua, as ruas movimentadas da cidade pareciam mais tranquilas, como se o mundo tivesse recuado por um momento, me dando espaço para respirar. Mas minha mente estava longe da calma da cidade. Eu nunca tinha odiado alguém da maneira como odiava Thomas. Não era um ódio visceral, mas algo mais sutil, uma amargura que crescia a cada momento que ele estava ao meu redor. Algo que eu cultivava há te