Capítulo 8

O primeiro passo para salvar a Montserrat Enterprises era simples: cortar os excessos e recuperar a liquidez. A empresa estava sangrando dinheiro. Os números eram uma bagunça, e os gastos desnecessários eram tão evidentes que até uma criança de dez anos conseguiria enxergá-los.

Cancelei contratos inúteis.

Revisitei fornecedores.

Realinhei investimentos.

Em menos de duas semanas, a estrutura financeira da empresa já estava visivelmente mais sólida. E, claro, Thomas Montserrat odiava isso. Ele não gostava de ser contrariado, menos ainda de ser ignorado. E eu estava ignorando. Fazia questão de agir como se ele fosse só mais um CEO desesperado tentando provar que ainda tinha as rédeas da própria empresa.

Mas a verdade era uma só: se eu não estivesse ali, ele já teria perdido tudo. E o engraçado? Mesmo com o pai dele no encalço, cobrando resultado, ele ainda tentava atrapalhar.

✧ » ◇ « ✧ » ✦ « ✧ » ◇ « ✧

— Você cortou o contrato com a Luxor Tech sem me consultar.

A voz de Thomas soou atrás de mim quando saí da sala de conferências, depois de mais uma reunião onde eu lutava e ele ainda tentava me testar.

Revirei os olhos antes de me virar lentamente para encará-lo.

— Eu consultei os números. — Cruzei os braços. — E os números disseram que manter aquele contrato era um desperdício de dinheiro.

Thomas estreitou os olhos, ele estava frustrado.

— Esse contrato foi feito para inovação.

— Esse contrato foi feito para encher os bolsos do CEO da Luxor, enquanto a sua empresa continua patinando na lama.

O maxilar dele se contraiu.

Meu Deus, como era satisfatório ver Thomas Montserrat perdendo o controle.

Ele deu um passo para mais perto. Não o suficiente para me intimidar, mas o suficiente para que eu sentisse o calor da presença dele.

— Você sempre se mete onde não é chamada, Harper?

Abri um pequeno sorriso.

— Só onde sou bem paga para me meter.

Aquela resposta o pegou de surpresa.

Houve um segundo de silêncio. Um segundo inteiro onde ele me olhou de um jeito diferente, mas eu não estava com tempo para decifrar Thomas Montserrat. Então apenas me afastei, deixando ele ali, parado no meio do corredor.

Fim de conversa.

✧ » ◇ « ✧ » ✦ « ✧ » ◇ « ✧

Só que aquilo não foi o fim.

Nos dias seguintes, ele tentou de tudo.

Me interrompeu em reuniões. Fez perguntas desnecessárias só para testar minha paciência. Rejeitou minhas sugestões na frente dos diretores, apenas para vê-los discordarem dele. 

Era como se ele não estivesse tentando de verdade. Como se ele apenas quisesse ver até onde eu iria.

✧ » ◇ « ✧ » ✦ « ✧ » ◇ « ✧

Naquela tarde, enquanto pegava um café na cafeteria do prédio, ouvi algo interessante.

— O velho Montserrat tá em cima dele. — alguém disse, tentando sussurrar, mas falhou grosseiramente. 

— Tá feio. O conselho não tem mais paciência. Se a empresa não se recuperar logo, Thomas pode… bem, você sabe.

A outra pessoa riu baixo.

— Pode perder tudo? Pode.

Minha mão apertou a xícara.

Então… Era isso? Thomas estava sendo cobrado pelo pai e com a faca no pescoço. E mesmo assim, estava tentando me atrapalhar? Por quê? Por que ele fazia questão de tornar meu trabalho mais difícil se sabia que era a única chance de salvar a própria pele?

Eu precisava perguntar isso.

✧ » ◇ « ✧ » ✦ « ✧ » ◇ « ✧

Esperei até o final do expediente. Quando o vi passar pelo corredor, em direção ao elevador, apressei o passo e segurei a porta antes que fechasse.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Harper.

— Montserrat.

O elevador fechou, e eu apertei o botão do último andar.

— Você quer que essa empresa se salve, certo? — perguntei, virando para ele.

Thomas me olhou por um momento, como se estivesse analisando.

— Depende.

— Depende do quê?

— De quem vai levá-la à superfície.

Soltei um riso curto, sem humor.

— Bom, eu já estou fazendo isso. Então por que diabos você continua tentando me atrapalhar?

Ele não respondeu.

O elevador seguiu subindo, o silêncio entre nós tenso e carregado.

— Thomas. — Cruzei os braços. — Por que você parece determinado a me tornar o seu maior obstáculo, quando eu sou a única pessoa realmente interessada em tirar essa empresa da falência?

Ele virou o rosto levemente, como se gostasse do que estava ouvindo, como se estivesse se divertindo.

Aquilo me irritou.

— O que foi? Você não quer salvar a empresa?

Ele não disse nada. Não respondeu. Não piscou. Nada.

Apenas me olhou, e pela primeira vez tive a sensação de que ele escondia alguma coisa.

O elevador apitou, indicando o andar.

A porta abriu, mas Thomas não saiu imediatamente.

Ele inclinou a cabeça levemente e, antes de dar o primeiro passo, sorriu de canto.

— Boa noite, Harper.

E então foi embora.

Filho da mãe.

Fiquei ali, olhando para a porta aberta, enquanto um pensamento irritante não saía da minha cabeça. Eu estava salvando a Montserrat Enterprises. Mas, de alguma forma, não sabia se estava realmente salvando Thomas Montserrat.Não sabia se ele queria ser salvo.

No dia seguinte, cheguei ao escritório decidida a manter o foco. Quando entrei na sala de reuniões, encontrei os diretores já reunidos, todos de olhos atentos às minhas novas propostas. Thomas, como sempre, estava encostado na cadeira de couro, expressão despreocupada, um meio sorriso no rosto. O maldito sempre parecia se divertir com tudo.

— Senhores, — comecei, projetando meus slides na tela — precisamos agir rápido. Já cortamos os gastos desnecessários e estamos trazendo a empresa de volta ao equilíbrio, mas ainda há um problema essencial: a confiança dos investidores. Sem ela, toda essa recuperação pode ser em vão.

Os acionistas murmuraram entre si, considerando minhas palavras. Thomas apenas arqueou uma sobrancelha, como se já estivesse entediado.

— E qual seria sua solução mágica, Harper? — perguntou, com seu costumeiro sarcasmo.

Mantive a compostura. Ele queria me tirar do eixo. Não conseguiria.

— Uma reformulação estratégica, novos investimentos e uma abordagem agressiva para restaurar a credibilidade da Montserrat Enterprises no mercado. Já tenho contatos interessados, e se fecharmos um novo contrato com um parceiro sólido, podemos reverter o cenário atual. — Pausei por um segundo antes de concluir: — Mas para isso funcionar, precisamos que você pare de sabotar sua própria empresa.

Os diretores ficaram em silêncio.

Thomas inclinou a cabeça levemente,.

— E o que te faz pensar que estou sabotando? — perguntou, cruzando os braços.

Respirei fundo. Eu tinha ouvido os rumores nos corredores. Sabia que Thomas estava sob pressão do pai e do conselho, mas não conseguia entender por que ele parecia insistir em dificultar tudo.

— Porque se quisesse salvar essa empresa, estaria do meu lado, e não jogando contra. Então, me diga, Montserrat… — Pousei as mãos na mesa, encarando-o diretamente. — Você quer salvar a Montserrat Enterprises ou não?

O silêncio na sala era absoluto. Todos esperavam a resposta dele.

Thomas, no entanto, não respondeu imediatamente. Em vez disso, seus olhos deslizaram lentamente pelo meu rosto, como se estivesse ponderando algo que ninguém mais sabia.

Finalmente, ele deu de ombros.

— Eu diria que gosto de assistir uma boa batalha. — Sua voz era baixa, provocativa. — E você parece determinada a ganhar essa, Harper.

Estreitei os olhos.

Algo estava errado.

E eu precisava descobrir o que era antes que fosse tarde demais.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App