Entro em casa exausta, mas determinada a não pensar mais em Thomas Montserrat até, pelo menos, amanhã. Só que o universo parece ter outros planos. Isabelle está na sala, sentada no sofá, pintando as unhas do pé com uma paciência que eu nunca tive para essas coisas. Ela ergue os olhos quando me vê, com um sorrisinho no canto dos lábios.— Até que enfim apareceu, né? Já estava achando que a Montserrat Enterprises tinha te sequestrado.Reviro os olhos, mas acabo soltando um meio sorriso. Faz dias que evito Isabelle, não porque não quero vê-la, mas porque sei que suas perguntas viriam como uma metralhadora e, sinceramente, eu não tenho muitas respostas. Mas hoje… hoje, depois daquela reunião infernal, me vejo precisando cavar mais a fundo a vida de Thomas.Largo minha bolsa e me sento ao lado dela, observando-a passar o pincel com perfeição sobre a unha.— Como estão as coisas? — Isabelle pergunta, sem levantar o olhar, mas sei que está atenta a cada detalhe da minha expressão.— Ocupada.
Na manhã seguinte, entro na Montserrat Enterprises pronta para colocar meu plano em prática. Thomas pode até achar que está no controle, mas eu sei exatamente o que estou fazendo. A primeira coisa que faço é reunir os diretores e líderes de equipe para implementar as medidas emergenciais. Algumas mudanças vão ser drásticas, mas necessárias. Cortes de gastos desnecessário em outros departamentos que Thomas não quis mudanças, reestruturação de setores improdutivos e uma nova estratégia de marketing para recuperar a confiança do mercado.Thomas está presente, claro, recostado em sua cadeira com os braços cruzados e aquela expressão de tédio quase ensaiado — como se tivesse algo melhor para fazer.— Isso parece ambicioso, Harper — ele comenta, com a voz carregada de ironia. — Não está com medo de morder mais do que pode mastigar?Cruzo os braços e encaro diretamente nos olhos dele.— Se eu tivesse medo, Sr. Montserrat, não estaria aqui.Um sorriso lento se forma em seus lábios. Ele gosta
Chego em casa remusgando, jogando as chaves na mesa do corredor com mais força do que o necessário. Idiota. Arrogante. Pretensioso. Como alguém pode ser tão difícil? Tudo o que eu queria era que ele reconhecesse o óbvio: eu estou fazendo o que ele não conseguiu. Eu estou salvando a empresa que ele estava deixando afundar. E ainda está.Mas não, Thomas Montserrat preferiu dar de ombros e me provocar como se isso fosse um jogo. Bem, se é um jogo, ele vai perder.— Você está bem?A voz de Isabelle vem da cozinha. Respiro fundo, tentando esconder minha irritação antes de entrar, mas falho miseravelmente.Ela está sentada no balcão, tomando seu chá com a calma de quem não tem ideia da frustração que estou sentindo.— Thomas é um idiota — solto, sem rodeios.Isabelle ergue uma sobrancelha e dá um gole generoso do seu chá.— Isso não é novidade. Mas o que ele fez dessa vez?Jogo minha bolsa em cima da mesa e puxo uma cadeira.— Ele se recusa a admitir que eu estou superando ele. Que estou fa
Passei os dias seguintes fugindo de Thomas como se minha vida dependesse disso. Se tínhamos uma reunião, eu era objetiva. Dizia exatamente o necessário, sem rodeios, sem pausas desnecessárias. Nada de discussões longas. Nada de provocações. Eu terminava de falar e saía da sala antes de todo mundo.Se ele me chamava? Eu fingia que não ouvia. Se não dava para fingir, eu inventava uma desculpa qualquer.Se ele cruzava meu caminho no corredor, eu desviava, mudava a rota, entrava em outra sala. Parecia um jogo, mas eu sabia que não podia me deixar envolver. Só que, quanto mais eu fugia, mais ele aparecia na minha mente. Como se fugir dele fisicamente não impedisse a força gravitacional que ele exercia sobre mim.Era irritante. Quase sufocante. E eu tinha certeza absoluta de que ele estava percebendo.Cada vez que eu evitava seu olhar, cada vez que saía apressada de um ambiente onde ele estava, eu sentia aqueles olhos em mim. Observando. Esperando. E Thomas não era o tipo de homem que gosta
No final da tarde, minha assistente entrou apressada na minha sala com um bilhete em mãos.— Senhorita Harper, Harry Montserrat pediu para encontrá-la hoje.Meu olhar se ergueu imediatamente do relatório à minha frente.Harry Montserrat. Era óbvio que esse pedido viria mais cedo ou mais tarde. O verdadeiro poder por trás da Montserrat Enterprises.Peguei o bilhete e li rapidamente. Era um convite formal, direto. Ele queria me ver em sua residência. A mansão dos Montserrat, que eu já conhecia. Há dois anos, fui a um evento lá. Na época, estava salvando uma empresa pertencente a um dos poucos amigos próximos de Harry. Lembrei-me bem da imponência do lugar, da arquitetura clássica, da grandiosidade que parecia existir apenas para lembrar a todos que estavam diante de um império. E, agora, aquele império estava à beira do colapso.Ajustei a postura na cadeira, sentindo algo se encaixar no fundo da minha mente. Minha contratação veio dele. Não de Thomas. De Harry Montserrat. Talvez isso ex
O carro de Thomas deslizou pela estrada como se ele soubesse exatamente para onde estava indo. Eu, por outro lado, não fazia a menor ideia.Cruzei os braços e encostei no banco, sem disfarçar a irritação.— Se isso for um sequestro, já aviso que não sou uma boa refém.Thomas soltou um suspiro e manteve os olhos fixos na estrada.— Se fosse um sequestro, você não estaria sentada tão confortável.Revirei os olhos.O silêncio entre nós ficou incômodo, quase sufocante. Eu não gostava de ser arrastada para situações sem explicação, principalmente quando envolviam um homem como Thomas.Depois de um tempo, a paisagem mudou. Saímos do centro movimentado da cidade para uma área mais afastada, onde as luzes eram mais escassas e o ambiente parecia muito mais íntimo. Quando ele finalmente parou o carro, franzi a testa. Um restaurante. Pequeno, elegante e discreto. O tipo de lugar onde pessoas ricas vinham para escapar do caos da cidade e resolver negócios longe dos olhos do público.Thomas saiu
Cruzei os braços e encarei Thomas com a firmeza de quem não aceitaria mais rodeios. Ele suspirou pesadamente, passando a mão pelos cabelos, claramente frustrado com minha insistência.— Se eu te contar, você promete que não vai abrir a boca para ninguém? — Ele finalmente cedeu, mas sua expressão deixava claro que ele odiava estar fazendo isso.— Prometo. — Minha resposta veio rápida e certeira.Thomas me estudou por alguns segundos, como se estivesse decidindo se eu era confiável ou não. Então, ele se inclinou levemente para frente, apoiando os antebraços na mesa, e disse:— Meu pai teve um caso extraconjugal anos atrás. Dessa relação nasceu um filho. Meu meio-irmão.Minha mente processou as palavras devagar.— E o que isso tem a ver com a venda da empresa?Thomas soltou uma risada amarga.— Tem tudo a ver. Esse cara é um desastre ambulante. Vive se metendo em confusão, gastando dinheiro com negócios duvidosos, e agora quer uma fatia do império Montserrat.Arqueei uma sobrancelha.— E
O silêncio entre nós parecia pesado. O carro seguia pelas ruas iluminadas, mas minha atenção não estava na paisagem pela janela. Estava nele.Eu não queria olhar. Não queria reparar. Mas fiz exatamente isso.Thomas dirigia com uma mão no volante, a outra repousando casualmente no câmbio. A luz da rua entrava pelo vidro, iluminando seu rosto em ângulos dramáticos—o maxilar forte, o traço reto do nariz, a forma distraída como ele mordia o lábio inferior. Ele fazia isso com frequência, e agora eu percebia o quanto isso era...Não.Virei o rosto, irritada comigo mesma. Ele não era atraente. Ele era um problema. Mas meu corpo não entendia isso tão bem quanto minha mente.— Você está tensa.A voz dele quebrou o silêncio, com uma diversão contida. — E você ainda está aqui. Coincidência?Thomas soltou uma risada baixa, rouca, e aquele som percorreu minha espinha como um arrepio involuntário.— Sempre com uma resposta afiada, Savannah. Mas seu tom me diz outra coisa.Ele virou a cabeça leveme