Capítulo 7

Assim que estacionei o carro em frente ao prédio onde morava, soltei um longo suspiro e fechei os olhos por um momento, tentando dissipar a tensão que ainda vibrava em meu corpo. Eu odiava essa sensação, de estar… dividida.

Saí do carro e subi rapidamente até o meu apartamento, torcendo para que Isabelle já estivesse no quarto ou ocupada com outra coisa. Eu simplesmente não estava pronta para suas perguntas afiadas sobre Thomas Montserrat. Ela me conhecia bem demais. E eu… bem, eu ainda não tinha respostas para as perguntas que ela certamente faria.

Fechei a porta do quarto atrás de mim e me encostei nela, soltando a respiração que nem percebi que estava prendendo. Então, aquilo aconteceu.

O instante em que Thomas me ajudou a recolher os papéis. A forma como seus dedos roçaram nos meus quando me entregou os documentos. A maneira como sua presença era sufocante, intensa a ponto de fazer minha pele formigar, de uma forma irritantemente involuntária. Eu odiava isso.

"Ele está jogando com você, Savannah". A voz na minha cabeça soou fria e objetiva. É assim que ele age. Seduz. Confunde. Faz você baixar a guarda. E quando percebe, já está completamente envolvida.

Mordi o lábio e balancei a cabeça, tentando afastar a sensação incômoda que se agarrava a mim. Aproximei-me da janela e a abri, deixando o vento frio da noite invadir o quarto, mas não adiantava. O que eu sentia não era físico. Era psicológico.  E eu odiava cada segundo disso.

Passei as mãos pelos cabelos, frustrada, enquanto minha mente trabalhava em excesso. Ele estava jogando. Claro que estava. Ele não sabia ser de outra forma. Thomas Montserrat não era um homem altruísta. Ele não ajudava ninguém por bondade. Ajudou porque queria me desconcertar e porque queria plantar uma semente de dúvida em mim. E o pior? Ele conseguiu.

Apertei os olhos com força e soltei um suspiro impaciente. Isso acaba aqui. Eu não era como as outras mulheres que ele manipulava com seu sorriso arrogante e aquele maldito olhar quase hipnotizante. 

Eu estava ali para salvar a empresa. Ponto. Era isso que eu fazia. E já tinha tirado empresas da beira da falência antes. Empresas muito maiores e mais complicadas que a dele. Thomas Montserrat não ia atrapalhar meu trabalho. E se tentasse? Bem… eu não hesitaria em abandonar o barco e deixá-lo afundar sozinho. Eu não estava ali para salvá-lo. Nunca estive. E nunca estaria.

Com essa certeza renovada, fechei a janela e caminhei até a cama. Amanhã era um novo dia. E eu trataria Thomas Montserrat exatamente como ele merecia. Como um problema a ser resolvido. Ou… descartado.

O plano era simples.

Distância. Frieza. Profissionalismo.

Eu já tinha lidado com CEOs arrogantes antes. Homens poderosos que achavam que podiam comprar qualquer coisa—inclusive respeito e obediência. Thomas Montserrat não era diferente. Afinal, por que seria? Ele era a personificação da elite intocável: milionário, herdeiro, inteligente e incrivelmente perigoso no jogo corporativo. E eu era boa no que fazia.

Eu sabia como salvar empresas, como lidar com egos inflados e como impor minha presença em salas dominadas por homens que não queriam ouvir uma mulher falando sobre cálculos e estratégias melhores do que eles. Então, manter Thomas Montserrat à distância não deveria ser difícil.

Certo? Errado.

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Na manhã seguinte, entrei na Montserrat Enterprises determinada a colocar minha estratégia em prática. Eu ignorei o fato de que o ar condicionado parecia menos frio do que a sensação que eu queria projetar para ele. Minha expressão era neutra e minha postura firme. Eu estava pronta.

Mas ele também estava.

Ao entrar na sala de reuniões, onde os diretores e acionistas já estavam acomodados, minha respiração travou por um instante ao vê-lo.

Droga.

Thomas estava impecável.

O terno escuro realçava ainda mais os ombros largos e a presença dominante. Ele estava sentado na cabeceira da mesa, uma perna casualmente cruzada sobre a outra, os dedos tamborilando o tampo de madeira com tédio calculado. Os olhos azuis deslizaram lentamente até mim assim que entrei, e então, ele sorriu.

Maldito fosse aquele sorriso.

Ele era a definição de um Don Juan—se Don Juan tivesse a arrogância de um rei que soubesse que ninguém jamais ousaria destroná-lo. Mas eu não era qualquer um. Eu era a única pessoa naquela sala que não precisava dele.

Então apenas endireitei os ombros e continuei andando, sentando-me à mesa com um aceno breve para os outros diretores.

— Senhores, vamos começar. — Minha voz soou controlada. Segura. Indiferente.

Thomas não disse nada, mas eu sentia o olhar dele queimando minha pele.

A reunião transcorreu de maneira fluida. Apresentei os primeiros planos de reestruturação, mostrei estatísticas e estratégias para aumentar a liquidez da empresa e recuperar a confiança do mercado.

Tudo estava saindo perfeitamente.

Até ele abrir a boca.

— Interessante. — Thomas inclinou-se para frente, os dedos entrelaçados sob o queixo. — Mas me diga, Harper, você realmente acredita que esse plano pode dar certo? Tenho minhas dúvidas. 

O silêncio na sala foi instantâneo. Alguns diretores trocaram olhares desconfortáveis. Ele estava me desafiando, mas eu não vacilei.

Virei-me lentamente para encará-lo e inclinei a cabeça, fingindo ponderar.

— Eu acredito que sua empresa precisa de um plano sólido para não afundar de vez. Agora, se você é capaz de fazer isso sem mim, Sr. Thomas… — Abri um pequeno sorriso. Cruel. Calculado. — Então por que estou aqui?

O canto da boca dele se curvou levemente. 

— Boa pergunta. — Ele murmurou, os olhos presos aos meus.

— A resposta é simples. — Inclinei-me um pouco para frente, deixando meu tom mais baixo, mas ainda firme. Letal. — Os acionistas e diretores não confiam na sua capacidade de reverter isso sozinho.

Eu vi quando a diversão nos olhos dele se intensificou. Ele não ficou irritado. Pelo contrário, ele gostou do meu ataque.

Filho da mãe.

— Então, basicamente, você está dizendo que minha incompetência é a razão para a sua presença aqui.

— Exatamente.

Mais um silêncio na sala. Os diretores pareciam não saber se deviam intervir ou apenas assistir o espetáculo.

Thomas me olhou por um longo instante, depois riu baixinho.

Riu.

E aquilo fez alguma coisa girar no meu estômago. Ótimo. Agora ele achava graça.

— Interessante, Savannah. Você fala como se tivesse tudo sob controle.

— Porque eu tenho.

Seu olhar caiu sobre minha boca por um breve segundo antes de voltar para os meus olhos.

Eu fingi que não reparei.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Veremos.

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A reunião terminou, e enquanto os diretores se dispersavam, eu continuei organizando algumas anotações, tentando ignorar o fato de que Thomas ainda estava ali. Ele não saiu. Não disse nada. Apenas me observava, recostado contra a mesa, os braços cruzados, esperando.

Respirei fundo e fingi não notar.

Eu sou imune a ele.

Sou imune a ele.

Sou imune…

Droga.

Peguei minhas coisas e caminhei em direção à porta, mas, no momento em que passei por ele, Thomas se moveu.

Se inclinou levemente, perto o bastante para que sua voz soasse baixa e carregada de algo que fez cada fibra do meu corpo se retesar.

— Você fala bem, Savannah. Mas eu me pergunto… — Ele fez uma pausa sutil, o suficiente para criar um maldito suspense. — Você realmente acredita em tudo isso que está dizendo?

Fiz a pior coisa que poderia fazer. O encarei, e aquilo foi um erro. Porque os olhos dele estavam perigosamente próximos, analisando cada traço da minha expressão como se procurasse algo que eu não queria que ele encontrasse.

Mas então eu me lembrei de quem ele era. E de quem eu era.

Abri um pequeno sorriso.

— O que importa não é o que eu acredito, Thomas. É o que os acionistas acreditam.

Ele piscou devagar, o sorriso crescendo.

— Toque certeiro, Harper.

Meu sobrenome na voz dele.

Maldito fosse.

Passei por ele sem olhar para trás. Eu não ia cair no truque dele. Eu não ia ceder.

Só que, enquanto eu saía da sala, meu coração batia rápido demais.

E pela primeira vez, uma pequena parte de mim se perguntava se eu estava mentindo para mim mesma.

Droga, droga, droga...

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