Capítulo 5

O peso da conversa ainda pairava sobre nós quando Isabelle mudou de assunto. Ou, pelo menos, tentou.

— E o Adam? — Ela perguntou de repente, cruzando os braços e me olhando com interesse.

Franzi o cenho.

— O que tem ele?

— Você não falou mais nada sobre ele. Achei que as coisas estavam indo bem.

Soltei uma risada curta e sem humor, girando a taça de vinho entre os dedos.

— Se ‘indo bem’ significa que ele quer algo sério e eu estou fazendo de tudo para fugir disso, então sim, está ótimo.

Isabelle suspirou, como se já esperasse essa resposta.

— Savannah…

— Não começa. — Alertei antes que ela pudesse soltar um daqueles discursos sobre como eu deveria me permitir sentir algo.

— Mas por quê? — Ela insistiu. — O Adam parece ser um cara incrível. Bonito, bem-sucedido, paciente… E, pelo que você disse, gosta mesmo de você.

Eu sabia disso.

Adam Carter era um cara bom. Bom demais para mim. Ele estava sempre presente, sempre tentando me entender, me dando espaço quando eu parecia precisar, mas nunca desistindo de tentar me alcançar.

E esse era exatamente o problema. Porque eu sabia que, em algum momento, toda essa dedicação, toda essa vontade de estar comigo poderia desaparecer assim que eu cedesse. 

Respirei fundo, olhando para o fundo vermelho da taça, como se pudesse encontrar ali a resposta para uma pergunta que me assombrava desde a infância.

— Minha mãe também achava que meu pai era incrível. — Minha voz saiu baixa, como se eu temesse dizer aquelas palavras em voz alta.

O rosto de Isabelle suavizou.

— Sav…

— Ela achava que ele era perfeito. Que eles tinham tudo. — Continuei, ignorando sua tentativa de amenizar o assunto. — E então, um dia, ele simplesmente parou de amá-la.

As lembranças eram vívidas. Tão nítidas que às vezes pareciam estar acontecendo de novo, como um pesadelo recorrente do qual eu não conseguia fugir.

Eu tinha oito anos quando vi meu pai arrumar as malas e sair de casa. Ele não gritou. Não discutiu. Apenas disse à minha mãe que não a amava mais.

O que veio depois foi muito pior. Minha mãe se partiu em pedaços bem diante dos meus olhos.

Ela deixou de comer. Deixou de sair do quarto. Chorava todas as noites, pensando que eu estava dormindo e que não podia ouvi-la. Mas eu ouvia. Eu sempre ouvia.

— Ela acreditou que amor era suficiente. — Continuei, minha voz carregada com o peso daquela lembrança. — E ele provou que não era.

Isabelle ficou em silêncio, absorvendo minhas palavras.

— Ele nunca mais voltou? — Ela perguntou depois de um tempo.

Soltei um riso amargo.

— Voltar? Não. Ele só foi começar outra vida em outro lugar.

Porque, claro, ele tinha outra família. Minha mãe descobriu meses depois. Ele já estava com outra mulher, já tinha outra filha. E nunca mais procurou por mim.

— Eu cresci ouvindo minha mãe dizer que o amor machuca. Que destrói. Que nunca dura. — Murmurei, apertando os dedos ao redor da taça. — E quer saber? Ela estava certa.

— Não, Savannah. — Isabelle se inclinou para frente. — Ela estava ferida. Mas isso não significa que amar é errado.

— Então por que o amor acaba?

Ela piscou, como se não soubesse responder. Porque não havia resposta. Eu havia passado minha vida inteira observando relacionamentos se desintegrarem. O da minha mãe. O das amigas dela. Das minhas amigas. 

Toda vez que alguém começava a se importar demais comigo, eu sentia um alarme disparar dentro de mim. Porque eu sabia como aquilo terminaria. Meu pai também amou minha mãe um dia. Ele também foi dedicado, apaixonado, disposto a tudo por ela. Até o dia em que não foi mais.

Então, como eu poderia confiar que isso não aconteceria comigo?

— É por isso que você não deixa Adam se aproximar? — Isabelle perguntou suavemente.

Não respondi de imediato. Apenas bebi o restante do vinho e coloquei a taça sobre o balcão.

— Eu não sou feita para isso, Isabelle. — Murmurei, olhando para ela. — Nunca fui.

Ela suspirou e balançou a cabeça, mas não insistiu mais. Porque no fundo, ela sabia que eu não estava pronta para mudar de ideia. Talvez… nunca estivesse.

Depois da conversa, fui para o meu quarto, enquanto Isabelle pedia uma pizza para gente jantar, Nenhuma de nós queria cozinhar. E sinceramente, não éramos boas no fogão. 

Fechei a porta do quarto atrás de mim, soltando um longo suspiro enquanto passava a mão pelos cabelos. A conversa com Isabelle ainda ecoava na minha mente. 

Eu não era alguém que se entregava fácil. Não era alguém que se iludia. E, definitivamente, não era alguém que acreditava no amor.

Mas então… por que Thomas Montserrat continuava aparecendo nos meus pensamentos?

Caí sobre a cama, encarando o teto escuro do quarto. Eu sabia a resposta. Era impossível ignorá-lo.

Aquele homem tinha algo que desafiava a lógica. Um magnetismo cruel, uma presença sufocante que fazia o ar ao seu redor pesar. Como se ele soubesse exatamente o impacto que causava e, pior, gostasse disso.

Ele era irritantemente bonito. Talvez Isabelle estivesse certa sobre ele ser perigoso. 

Não do tipo comum, previsível. Não. Thomas era perigosamente bonito. O tipo de beleza que arruinava.

Traços fortes e perfeitamente esculpidos, como se tivesse sido moldado pelas mãos de um artista obcecado pela perfeição. Olhos de um azul tão intenso que pareciam enxergar tudo o que você tentava esconder. Ombros largos, um porte impecável, o jeito como vestia seus ternos com uma arrogância natural, como se o mundo lhe pertencesse.

E, de certa forma, pertencia mesmo.

Homens como ele sempre venciam. Eles conseguiam tudo o que queriam. E quando se cansavam, simplesmente descartavam as pessoas como se nunca tivessem existido. Eu já tinha visto isso acontecer antes. Com minha mãe. Com Isabelle. E, sem dúvida, com dezenas de outras mulheres que cometeram o erro de acreditar que poderiam ser especiais para eles.

Minha mandíbula travou. Eu não era como elas. Eu não era alguém que se encantava por rostos bonitos ou palavras bem colocadas. Eu sabia o que existia por trás daquela perfeição impecável: um abismo. Frio. Calculista. Letal.

E, mesmo assim, havia algo nele que fazia meu corpo reagir antes que minha mente pudesse impedi-lo. Um perigo silencioso, constante. Porque Thomas Montserrat não apenas destruía corações. Ele destruía almas. E quem se machucava por ele nunca recebia um pedido de desculpas. Porque ele não sentia remorso. Porque ele não se importava. Apertei os olhos com força, tentando afastar a sensação incômoda que se instalava em mim.

Eu estava ali para salvar a empresa. Não para entrar em um jogo que eu sabia que perderia. E Thomas Montserrat não era nada mais do que o inimigo. E eu faria questão de lembrá-lo disso.

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