Capítulo 4

O dia tinha sido longo. Exaustivo. Estressante. E, ao mesmo tempo, estranhamente satisfatório. Enquanto dirigia de volta para casa, as palavras de Thomas ainda ecoavam na minha mente. Você me odeia? Ele não fazia ideia do que realmente se passava, do peso daquela pergunta.

Ódio? Talvez fosse exagero. Mas desprezo? Isso, sim, eu sentia.

Estacionei na garagem e soltei um suspiro pesado antes de sair do carro. Minha cabeça ainda fervilhava, tanto pelas estratégias que eu precisaria traçar para salvar a Montserrat Enterprises quanto pela promessa silenciosa que eu havia feito a mim mesma.

Mas, assim que abri a porta de casa, meu foco desviou completamente ao ver uma mala largada na sala e uma silhueta familiar parada na cozinha, segurando uma taça de vinho.

— Você voltou! — Falei surpresa, fechando a porta atrás de mim.

Isabelle virou-se para mim com um sorriso cansado.

— Voltei. — Ela ergueu a taça como se brindasse. — Surpresa?

— Claro que sim! Você disse que ficaria fora mais tempo!

— Mudei de ideia. — Ela deu um gole no vinho e me olhou com aquele olhar analítico que sempre tinha. — Agora, me conta... como foi o primeiro dia no trabalho novo?

Meu estômago revirou. Eu sabia que essa conversa viria, mas agora que estava aqui, me sentia ligeiramente desconfortável.

Deixei minha bolsa sobre o sofá, tirei os sapatos e fui até a cozinha, pegando outra taça e enchendo-a de vinho. Eu ia precisar.

— Bom... eu não sabia que o destino gostava tanto de brincar comigo. — Soltei uma risada seca e Isabelle franziu o cenho.

— O que você quer dizer?

Respirei fundo e me virei para encará-la.

— Fui contratada para salvar a Montserrat Enterprises.

O sorriso no rosto dela sumiu imediatamente. Seus olhos piscaram algumas vezes, como se precisasse processar a informação.

— Você está brincando.

— Não.

— Por favor, me diz que você não aceitou esse trabalho sabendo que essa empresa é dele.

Eu me inclinei no balcão e cruzei os braços.

— Foi exatamente por isso que eu aceitei.

— Savannah! — Ela largou a taça sobre a pia e passou a mão pelos cabelos. — Você tem noção do que está fazendo?

— Tenho.

— Não, você não tem! — A voz dela subiu um pouco. — Ele é perigoso, Savannah. Ele é ardiloso, sedutor, manipulador. Ele convence qualquer pessoa de qualquer coisa! Foi assim que ele me fez acreditar que...

Ela parou, como se tivesse se dado conta de que estava prestes a reviver uma lembrança dolorosa.

— Que te amava? — Completei por ela, suavemente.

Ela apertou os lábios e desviou o olhar.

— Sim.

Por um momento, um silêncio pesado se instalou entre nós. Eu sabia o quanto esse assunto era delicado, e vê-la ali, vulnerável, com o olhar perdido, só reforçou minha decisão.

— Eu vou fazer ele pagar, Isabelle. — Minha voz saiu firme, determinada. — Por você. Pelo que ele fez. 

Isabelle me olhou, um misto de emoção e preocupação nos olhos.

— Savannah... você acha que consegue enfrentá-lo sem se envolver?

— Eu não estou me envolvendo. Eu estou enfrentando um inimigo.

Ela balançou a cabeça, parecendo frustrada.

— Mas e quando o seu trabalho acabar? Você vai sair de cena, não vai?

Eu não respondi de imediato.

— Savannah... — Ela insistiu.

— Quando eu terminar o que fui contratada para fazer, eu saio.

— Sem envolvimento pessoal. — Ela reforçou, os olhos fixos nos meus.

Suspirei, rolando minha taça entre os dedos.

— Se tudo correr como planejado, não tem motivo para isso acontecer.

Mas ela ainda não parecia convencida.

— Você ainda sente algo por ele? — Perguntei, mudando o foco da conversa.

Isabelle ficou em silêncio por alguns segundos, depois suspirou pesadamente.

— Já se passou um ano, Savannah. Muita coisa amenizou no meu coração. Mas... se eu dissesse que não sentiria absolutamente nada se o visse de novo, estaria mentindo.

Ela desviou o olhar para a taça vazia, como se estivesse absorvendo a própria confissão.

Eu apenas assenti, entendendo cada palavra.

O silêncio que se instalou depois da confissão de Isabelle era quase palpável.

Ela mantinha os olhos fixos no fundo da taça vazia, como se buscasse algo ali, uma resposta, uma certeza que talvez nunca encontrasse. Eu sabia o quanto aquele homem tinha a destruído. Eu sabia o quanto ela lutou para se reconstruir depois de Thomas Montserrat.

E ainda assim, seu coração não conseguia ser completamente imune a ele.

Apertei os dedos ao redor da minha própria taça, sentindo a tensão subir pelo meu corpo.

— Se ele estivesse aqui, agora, o que você faria? — Minha voz saiu baixa, quase hesitante.

Ela riu, mas não havia humor em seu sorriso.

— Depende. Eu estaria com um copo de vinho na mão?

— Sim.

— Então talvez eu jogasse na cara dele.

Eu deveria ter rido, mas não consegui. Porque, no fundo, eu sabia que não era tão simples assim.

— E se ele dissesse que sente muito?

Isabelle me olhou, dessa vez com um brilho estranho nos olhos.

— Você acha que Thomas Montserrat sente muito por alguma coisa?

Travei a mandíbula. Ela tinha razão. Um homem como ele não sente remorso. Não se arrepende. 

— Ele seguiu em frente. Sem olhar para trás, sem se importar com o que deixou pelo caminho. — Ela continuou, baixinho, como se falasse consigo mesma. — Eu não significava nada para ele. Ele fez com que eu acreditasse que significava, mas no final… eu era só mais uma.

A dor em sua voz me atingiu como um soco.

Eu já sabia disso, já tinha ouvido essa história antes. Mas naquele momento, com o rosto dela parcialmente iluminado pela luz amarelada da cozinha, com sua expressão dividida entre força e vulnerabilidade, foi diferente.

Eu senti aquilo como se fosse meu próprio coração sendo partido.

Apoiei os cotovelos no balcão e esfreguei o rosto, sentindo um gosto amargo subir pela minha garganta.

— Você quer que eu desista disso? — Minha voz saiu baixa.

Isabelle ficou em silêncio.

Por um momento, achei que ela fosse dizer sim.

Mas então, ela soltou um suspiro longo e me olhou com aquele olhar que só uma amiga de verdade consegue ter.

— Não.

Piscando, ergui os olhos para ela.

— Não?

— Não. — Ela balançou a cabeça, mordendo o lábio. — Eu sei que você já tomou sua decisão. Sei que você não vai parar. Mas eu precisava te avisar.

— Avisar o quê?

— Que Thomas é perigoso. — Ela sussurrou, como se dissesse algo proibido. — Não só pelos negócios, não só pelo poder que ele tem nas mãos. Mas porque ele consegue entrar na sua pele antes mesmo que você perceba. Ele seduz, ele te faz querer agradá-lo, te faz pensar que talvez... só talvez... ele não seja tão ruim assim.

Engoli em seco.

Ela estava me alertando, me dizendo para ter cuidado. Para não me deixar envolver. E, naquele momento, jurei para mim mesma que isso jamais aconteceria.  Eu não era como Isabelle. Eu não era uma garota ingênua esperando ser salva. Eu era o perigo. E Thomas Montserrat ainda não sabia disso.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP