Seis Anos Depois - Janeiro
Amália Gonçalves amava o verão. Sua pousada, Refúgio, estava sempre pronta para receber a estação mais esperada por uma cidade praiana. O jardim do lugar despontava como se tivesse hibernado por anos e anos, e como se ainda fosse primavera. As rosas ainda tomavam suas formas, os girassóis procuravam os primeiros raios de luz e tudo estava colorido e vivo.
A pousada tornava-se cada dia mais linda, e Amália se orgulhava dela como se fosse um filho. Tanto que simplesmente não conseguia deixá-la.
Quando a criara, assim que o marido faleceu, deixando-a com o coração partido e uma situação financeira confortável, sua intenção era proporcionar uma atmosfera de proteção, como se aquele lugar fosse perfeito para um porto seguro, um refúgio, assim como o nome que escolhera. Esperava que pessoas com um coração tão partido quanto o dela se hospedassem lá para se curar e buscar resignação ou simplesmente dias melhores. Talvez, ela tivesse acreditado neste ideal com afinco demais, porque, mesmo depois de sua morte, há cinco anos, ainda não conseguira deixar sua pousada para trás.
Amália morrera em um acidente em seu próprio estabelecimento. Caíra da escada ao tentar pregar um enfeite de Natal. Uma morte estúpida e sem muito charme. E não dizem que fantasmas sempre assombram o lugar onde morreram? Pois então, lá estava ela. Não gostava de pensar que continuava ali para assombrar qualquer coisa, porém, apesar de sentir uma imensa saudade do marido e uma grande ansiedade em vê-lo novamente, em qualquer outro plano, sentia que sua alma ainda tinha algum propósito naquele lugar.
Mas foi exatamente no momento em que a viu, que Amália teve certeza que sua redenção estava bem ali, à sua frente.
A jovem era pequena, esguia e bonita como uma boneca, mas de um jeito simples, sem artifícios ou gestos ensaiados. Era dona daquela beleza natural, tão difícil de se encontrar nos dias atuais; aquela beleza que se molda de acordo com a vontade de Deus e não com produtos e dinheiro. Os cabelos eram ruivos, em um tom entre o vermelho e o loiro, a pele era branca, e os olhos eram azuis da cor do mar em um dia de chuva. Pela mão ela trazia uma versão mais nova de si mesma. A adolescente ao seu lado carregava os mesmos traços belos, apenas diferenciando-se na cor do cabelo, que era castanho ao invés de ruivo. Contudo, o que mais se assemelhava nas duas era o olhar que indicava uma dor incurável, uma mágoa reprimida, que tentavam disfarçar a todo custo.
A garota mais jovem deveria ter no máximo quinze anos, mas parecia a mais ferida das duas. Seu olhar estava perdido enquanto a outra fazia o check-in. Ela olhava para o nada, contemplava a decoração e nem sequer sorria ao ver quanto o lugar era bonito.
Mas foi quando aquele olhar perdido veio em sua direção e a contemplou, como se realmente a enxergasse, que Amália compreendeu que suas suspeitas estavam certas. Ali estavam as almas que ela deveria salvar.
Nos cinco anos que permanecera na pousada, mesmo depois de sua morte, nunca ninguém a vira. Havia muitos boatos sobre sua presença fantasmagórica naquele lugar, muitas vezes cometia os deslizes de fazer um objeto cair ou quebrar com a força de seu pensamento, o que amedrontava alguns de seus funcionários e hóspedes, mas nunca fora realmente vista. Às vezes acreditava que seu neto conseguia enxergá-la, mas nunca teve a confirmação. Nunca nenhum olhar cruzou com o seu, como acontecera com a menina triste. Aquilo simplesmente encheu seu coração — se é que ainda tinha um — de esperança e felicidade.
A moça mais velha sorriu com simpatia para Dione, a recepcionista, e para Cícero, o assistente de serviços gerais que sempre ajudava os hóspedes que chegavam com a bagagem, e seguiu seu caminho. Disposta a não perdê-la de vista, Amália se dirigiu à recepção e, aproveitando que ninguém podia vê-la, observou a tela do computador, onde fora digitado o quarto onde as duas jovens ficariam. Seria no 202. Uma boa escolha de Dione, como sempre. A vista era bonita, direto para a piscina, o que poderia ajudar a alegrar aqueles corações maltratados. Mas Amália estava disposta a fazer de tudo para que aquela estadia das duas fosse o início de uma nova vida, pois algo lhe dizia que era exatamente isso que elas estavam procurando.
***
Karen suspirou aliviada, como não fazia há muito tempo. A paz que invadia seu peito era como um bálsamo, um doce acalanto, depois de tantas tempestades e provações. Aquele lugar era ideal para começar uma nova caminhada. E finalmente não estava sozinha. Depois de sete anos, seu mundo estava completo novamente.
Anne, sua irmã, tirava as poucas roupas que tinha da mochila e as guardava dentro do armário, em movimentos automáticos e desinteressados. Desde que a buscara no orfanato, naquela mesma manhã, a menina ainda não falara muito, ainda não sorrira, mas Karen tinha fé que chegaria o dia em que ela se abriria e que poderiam finalmente recuperar o tempo perdido.
─ Ei... ─ Karen chamou, enquanto se aproximava da caçula. Segurou, portanto, seus braços e a virou para si. ─ Está gostando do lugar?
─ É bonito ─ elogiou da mesma forma como mexia em suas coisas, totalmente indiferente.
─ Podemos ir para outro lugar, se você preferir. ─ Havia doçura na voz de Karen, mas Anne simplesmente deu de ombros e se afastou.
O olhar e os modos da mais nova faziam com que Karen pensasse que ela a culpava de alguma coisa. Não que pudesse julgá-la ou recriminá-la por isso. A menina tinha o direito de estar confusa ou desconfiada, pois Karen não podia sequer imaginar as coisas pelas quais ela tinha passado durante todo esse tempo. Via em seus olhos aquela mesma dor que enxergara na noite em que viveram o maior pesadelo de suas vidas, porém, naquela época podia tomá-la em seus braços e confortá-la, agora, aquela mocinha bonita era quase uma estranha.
Mas Karen não queria pensar naquilo; elas teriam uma vida inteira para se redescobrirem e voltarem a se amar incondicionalmente como antes. Naquele momento, queria pensar no local onde estava.
Era muito mais bonito do que nas fotos que vira no website. A acomodação que escolhera era quase um miniapartamento, com dois quartos e uma saleta. A vista de seu quarto era encantadora e lhe proporcionava uma visão bem completa da parte externa da pousada. Ela conseguia ver a piscina, que não era enorme, mas possuía um tamanho significativo, via o pequeno jardim, e até mesmo o que seus olhos não podiam enxergar. Ela via ─ ou sentia ─ paz. Havia algo de especial naquele lugar, algo de reconfortante que a fazia acreditar que tinha escolhido o local certo para se refugiar. E não era o nome simpático daquela pousada ─ Refúgio ─ que lhe remetia àquela ideia de abrigo. Não, não era apenas isso. Karen conseguia sentir em seu coração que poderia ser feliz ali, que sua estadia seria abençoada pelos anjos. Esperava apenas que chegasse o momento em que Anne também sentisse o mesmo. Queria fazê-la se sentir segura, protegida... Queria que ela soubesse que jamais seria maltratada ou abandonada novamente.
Sozinha no quarto que seria seu, também começou a arrumar suas coisas dentro do armário. Assim como Anne, ela também não tinha muitas coisas que fossem suas, apenas algumas roupas simples, alguns livros e um porta-retratos que levava consigo para onde quer que fosse. Era aquela fotografia que não permitia que ela desanimasse nos momentos mais difíceis, quando tudo que queria era ficar deitada na cama dura e fria da pensão onde morara logo após a morte da mãe, porém, precisava trabalhar. Era aquela foto, onde as três, Karen, Anne e a falecida mãe sorriam, que lhe dava a certeza de que um dia tudo estaria melhor.
Beijando o vidro que protegia o retrato, Karen o colocou sobre a pequena escrivaninha que mobiliava o quarto, além da cama, do armário e o cabideiro. A acomodação que lhe fora reservada era muito aconchegante, exatamente o que ela precisava. Além disso, os lençóis tinham um cheiro gostoso de sabão, as cortinas tinham uma linda cor de ameixa e havia flores espalhadas em pequenos vasinhos, exalando um aroma primaveril muito agradável. Era isso que fazia a diferença.
Após organizar suas poucas coisas dentro do armário, ela pegou seu celular para dar um telefonema importante. Desde a morte de sua mãe, ela mantinha contato com o policial que a ajudara naquela noite trágica. Ele se tornara um amigo... uma espécie de conselheiro... algo como um pai. O pai que Karen nunca teve. Fora ele que encontrara uma pensão decente e barata para ela ficar, que conseguira uma vaga como garçonete em um restaurante limpo e de pessoas honestas, e que sempre lhe enviava dinheiro, por mais que ela insistisse que não precisava. Karen acreditava que ele fosse apaixonado por sua mãe. Não era casado na época e jamais de casou. Certa vez chegou a cogitar a hipótese de adotá-la, mas a moça preferiu que não, pois sabia que ele tinha muitos problemas pessoais, então, não precisava de mais um, muito menos na forma de uma garota traumatizada que acordava todas as noites gritando, assustada com pesadelos. Ele não merecia isso.
─ Senhor Olavo? É Karen. ─ identificou-se, depois de buscar o número e ele atender.
─ Olá, menina! Que bom ouvir notícias suas! ─ ele sempre ficava feliz ao falar com ela. Daquela vez parecia também aliviado, uma vez que Karen não entrava em contato há mais de dois meses. ─ Como você está?
─ Estou com Anne, senhor.
Aquela frase resumia tudo. Olavo sabia que a luta diária de Karen, que a forma como abdicava de sua adolescência para juntar dinheiro, que sua falta de vaidade, tinham um propósito: ela queria recuperar a irmã caçula. E aquela pequena guerreira conseguira realizar seu sonho.
─ Você conseguiu, menina! Finalmente conseguiu. ─ falou, mostrando-se emocionado.
─ Sim, eu consegui. ─ a voz de Karen começava a ficar um pouco embargada por conta de suas lágrimas. ─ Estou em Vilamares. Em uma linda pousada. Com a minha irmã, nada poderia estar mais perfeito.
─ E como ela está?
─ Não sei, sinceramente não sei. Ela ainda não conversou comigo... parece um pouco chateada. Acho que me culpa por alguma coisa.
─ Ela é apenas uma menina; e era uma criança quando tudo aconteceu. Precisa lhe dar um pouco. Vai ver que tudo irá se encaixar ─ falou com a doçura de sempre.
─ É o que eu espero. Na verdade, esperei por isso minha vida inteira.
Ele sabia ao quê ela se referia. E também esperava que ela tivesse um pouco de paz. Finalmente.
Após um breve momento de silêncio, Karen prosseguiu, com um suspiro:
─ Eu devo tudo isso ao senhor. Não estaria aqui, nesta situação confortável que estou hoje, se não fosse sua bondade e seus cuidados. Não sei o que teria acontecido se tivesse que enfrentar tudo sozinha ─ desabafou. Ela já havia dito frases como aquela muitas vezes, em muitas ocasiões em que precisou agradecer a Olavo pelas coisas maravilhosas que fez por ela, mas, talvez, nenhuma das outras vezes tivesse soado tão genuína, tão emocional.
─ Não me deve nada, menina. Conseguiu tudo isso por seu valor, por seu trabalho duro. Eu apenas ajudei um pouco.
─ Não, foi muito mais do que isso. O senhor foi um anjo em minha vida. Jamais serei capaz de pagar... ─ Karen iria continuar, mas foi interrompida.
─ Nem ouse falar em pagamento, querida. Fiz muito menos do que poderia ter feito, e você sabe disso. E pretendo sempre estar aqui para quando precisar.
─ Espero que não precise mais.
─ Eu também, menina. Eu também. Quero que seja feliz.
─ Eu serei, senhor Olavo. Agora eu serei.
Com promessas de que ligaria para lhe dar notícias constantes, Karen desligou o telefone.
Assim que terminou a ligação, ela saiu do quarto em busca de Anne. Não queria deixar a irmã sozinha por muito tempo; não queria que ela se sentisse novamente abandonada ou rejeitada, nem que passasse muito tempo sozinha, pois não fazia ideia de que tipo de pensamentos assolavam sua mente.
Estava prestes a começar a descer as escadas que a levariam para o primeiro andar, onde ficava o hall, quando ouviu uma delicada voz feminina chamar:
─ Senhorita... senhorita... ─ imaginando que a pessoa estivesse falando com ela, Karen se virou, em busca de quem lhe chamava. Deparou-se, portanto, com uma bonita senhora de aproximadamente setenta anos, apesar de não aparentar a idade, com cabelos lisos, brancos, caindo na altura dos ombros. Seus olhos azuis brilhavam de uma forma quase sobrenatural, e havia uma luz ao seu redor, como se ela fosse um anjo. Claro que aquilo era apenas uma impressão, mas, de alguma forma, sentiu uma espécie de afinidade com aquela mulher. E confiança fora uma coisa que ela aprendera a poupar.
─ Pois não. Posso ajudar? ─ indagou de forma simpática e solicita.
─ Você deixou cair isto. ─ A senhora se aproximou, parecendo tão confusa quanto Karen, enquanto estendia a mão para ela, onde um pequeno laço de fita cor de rosa repousava.
─ Não é meu ─ informou. ─ Mas, de qualquer forma, obrigada. ─ Sorriu.
─ Não há de quê.
Karen acenou com a cabeça, como se estivesse se despedindo, tentando afastar da cabeça a impressão de que aquilo fora apenas um pretexto da idosa para falar com ela. Não queria e nem podia se permitir voltar a ser a pessoa assustada e desconfiada que fora alguns anos atrás, por isso, sentiu-se um pouco envergonhada. Era apenas uma senhora tentando ser simpática, afinal. Contudo, ao perceber aquela estranha sensação, Karen compreendeu que ainda tinha um longo caminho a percorrer antes de começar a levar uma vida normal.
Enquanto observava a moça descer as escadas, pensava que fora ousada demais em sua primeira aproximação. Queria apenas verificar se ela podia vê-la assim como a irmã, mas não imaginara ter sucesso em sua tentativa. Por sorte encontrara aquela delicada fitinha de seda para poder ter o que falar ou seria uma situação constrangedora. Mas não era isso que importava, o que realmente ocupava sua mente naquele momento era a constatação de que fora vista. Aquilo lhe assustava e a deixava excitada ao mesmo tempo. Não haveria mais uma eternidade de solidão nem de silêncio, sua estranha existência teria um significado a partir daquele momento. Porém, para tentar ajudar aquelas duas almas sofridas, precisava descobrir mais sobre elas. E
Um raio cortou o ar, um trovão entoou sua canção assustadora e a tempestade se formou em poucos minutos. Anne não gostava de tempestades, e Karen sabia disso. Sabia que quando ela era pequena, sempre corria para seu quarto todas as vezes que havia a promessa de um temporal, ou quando o clarão de um relâmpago clareava a noite. Ela acreditava que era o anúncio da chegada de monstros ou fantasmas, e embora Karen sempre tivesse lhe ensinado que essas coisas não existiam, ela ainda procurava a proteção da irmã mais velha. Porém, daquela vez foi diferente. Claro que já fazia muito tempo desde a última noite que passaram juntas, e Karen lamentava que logo a primeira já estivesse sendo coroada por uma chuva bem forte, porém, acreditava que velhos hábitos nunca desapareciam. Uma vez com medo de tempesta
Ele andava de um lado para o outro, ansioso como sempre. Não estava buscando uma pousada com ares acolhedores, mas fora o melhor que encontrou. Ao menos estava longe o suficiente de todas as terríveis lembranças... esperava apenas que não lhe fizessem muitas perguntas, especialmente aquelas que não estava disposto a responder. Além de perguntas, ele também odiava surpresas. Odiava não saber o que o esperava, odiava ser surpreendido, mas fora exatamente o que acontecera quando a porta daquele lugar foi aberta. Não esperava ser recebido, àquela hora, em uma noite tão fria, por uma mulher tão jovem. E, céus, como ela era bonita! Tinha uma expressão assustada, vulnerável e inocente, em um rosto angelical e delicado. Parecia uma daquelas mulheres de filmes antigos que sua mãe gostava de assistir quando el
Ele só podia estar ficando louco. Louco! Estava ali naquela cidade para se curar, para reunir os pedaços de seu coração partido e colá-lo outra vez. Já era sua segunda parada naquela estranha e solitária road trip[1] de férias, e esperava não levar muito mais tempo para resolver aquele problema. A mamata não poderia durar para sempre. Sendo assim, não conseguia compreender por que se preocupara com a garota, muito menos com a irmã. Elas não eram problema seu. Não eram sua responsabilidade. A única pessoa de quem deveria ter cuidado, protegido, traíra sua confiança e estava agora no fundo do poço. Passara a sentir-se um pouco solitário nos últimos meses, mas talvez fosse melhor assim. Quanto
Havia vozes animadas conversando, o tilintar de copos, pratos e xícaras encostando uns nos outros, havia risadas e um cheiro delicioso de pão fresquinho no ar. Karen estava no paraíso. Era bem verdade que preferia que Anne estivesse ali com ela, sentada à mesa, comendo com vontade e começando a se abrir; ou pelo menos apenas conversando sobre qualquer coisa. De fato, estava tão preocupada por ela não comer que nem se importaria se ficasse somente em silêncio. Já havia descido há pelo menos quinze minutos e estava ansiosa, sempre olhando para a entrada do pequeno salão que servia como restaurante, ainda acreditando que ela iria aparecer. Contudo, um rosto familiar apareceu no lugar da adolescente. Era Sérgio, parecendo muito bonito com sua blusa polo branca
Anne não voltara para o quarto, porém, Karen não estava preocupada, porque conseguia enxergá-la na piscina, tomando sol. Usava um maiô um pouco gasto, mas que com certeza fora escolhido estrategicamente para esconder seus hematomas, cuja origem ela ainda desconhecia. Enquanto a menina estivesse ali, tudo estaria bem, e ela precisava concordar que aquele quarto, talvez, fosse pequeno demais para elas. O silêncio entre duas pessoas podia ser ainda mais sufocante do que a solidão, mais torturante do que os gritos e as discussões. E cada vez que Anne lhe dirigia um olhar indiferente ou que lhe cuspia uma de suas palavras ríspidas, Karen sentia-se morrer um pouco. Não era uma morte de corpo, era seu espírito que morria lentamente. Seu único propósito na vida sempre fora recuperar a irmã, cumprir a promessa que fizera par
Já que tinha uma festa para ir, Karen decidiu que seria uma boa hora para comprar algo novo para vestir. Para si mesma e para Anne. Odiava fazer gastos desnecessários, mas sabia que se revirasse sua mala de cima a baixo não encontraria nada legal para uma festa. E o mesmo aconteceria com a irmã. Pediu que Sérgio e Amália ficassem de olho na garota por algumas horinhas e partiu para o centro de Vilamares, pronta para comprar algo que fosse charmoso e fresco ao mesmo tempo, já que o tempo parecia começar a esquentar. Vasculhou as lojas em busca de algo ideal e encontrou para si um lindo floral acinturado, em tons de azul e branco, com uma saia delicada e rodada, frente única. Possuía uma sandália não muito nova de salto alto, preta, que combinaria perfeitam
Capítulo Quatro Bem, não era exatamente o que ela imaginava. O mar não tinha ondas, apenas marolas, e a praia era tão pequena que mal poderia caber uma família inteira. Mas o que ela poderia saber sobre uma família, se jamais tivera uma, pelo menos não uma que fosse normal. O cheiro e o barulho do mar eram inebriantes. Sentada na areia, sem nem se importar se iria estragar ou sujar o belo vestido, que ganhara de presente de alguém que ela nem sabia quem era, Anne contemplava o horizonte. Nunca tivera oportunidade de ver o mar, o que poderia ser considerado um absurdo, afinal nascera e crescera no Rio de Janeiro, mas a verdade era que ela sequer havia começado a viver. Não queria pensar que sua irmã fora responsável por qualquer coisa boa, porém, precisava admitir que aquele er