As risadas das pessoas ao redor ecoavam dentro de seu coração e reverberavam sem causar nenhuma reação. Queria juntar-se a todos e tentar se animar, mas por mais que se esforçasse para esquecer o que tinha acontecido naquela tarde, a imagem de Elias simplesmente não saía de sua cabeça. Não conseguia não sentir a pele formigar onde ele a havia tocado, muito menos a sensação de bile e náusea que a acometia todas as vezes em que se lembrava dos dias de tormenta que passou nas mãos daquele homem durante a adolescência.
Fora uma tola ao pensar que estaria livre dele. Chegara a imaginar que agora, uma adulta, nem sentiria medo do monstro que a ferira quando menina. Mas nada mudara. Ele ainda a apavorava de uma forma paralisante, o que fazia com que se sentisse ainda mais vulnerável.
 
Vendo-o sozinho, aproximou-se o suficiente para estender-lhe a mão. Marcos aceitou-a sem nem hesitar. Em silêncio, Karen começou, então, a conduzi-lo até as escadas, onde eles subiram calados, entendendo apenas em trocas de olhares quais eram seus desejos. Ainda sem dizer nada, Karen conduziu Marcos até o quarto dele, parando diante da porta e esperando que ele a abrisse. Assim que a barreira foi eliminada, Marcos a agarrou sem nem pedir permissão ou hesitar. Fechando a porta com o pé, ele a enlaçou pela cintura e a encurralou contra uma parede com força, mas sem machucá-la. Karen só teve tempo de tomar ar antes de ser literalmente devorada pelos ávidos e experientes lábios de Marcos, que assaltaram sua boca como se daquele beijo dependesse s
Um sorriso malicioso característico se desenhava em seu rosto, enquanto olhava para a enteada de cima a baixo. — Oi, ruivinha! Espero que não esteja muito cansada de trepar com o bonitão do quarto ao lado, porque quero pegar um pouquinho para mim também. — Por um momento, Karen se viu paralisada de medo, mas quase se preparou para gritar, porém, foi interrompida por Elias, que balançou a arma, ainda apontada em sua direção. — Acho melhor você ficar caladinha, boneca, ou vou ser obrigado a te machucar. Ela sentiu lágrimas arderem no canto de seus olhos. — Por que não me deixa em paz, Elias? Agora que está solto, deveria tentar recomeçar sua vida…<
Marcos nem esperou pelo outro, pois foi logo saindo correndo, na direção das escadas, para ir ao quarto dela. Sérgio o seguiu logo atrás, ambos sendo observados por Amália. Subiu as escadas de dois em dois degraus e logo se colocou à frente da porta do quarto de Karen. — Karen? — chamou, enquanto socava a porta. Se estivesse tudo bem e fosse apenas um engano, ele certamente pareceria um louco pela atitude desesperada, mas não se importava. Seu coração batia forte no peito temendo que ela pudesse estar em apuros de alguma forma. Nenhuma resposta, porém, um som de algo quebrando dentro do quarto o deixou em alerta. Logo em seguida, um grito abafado. Feminino. De Karen.&nbs
ALGUNS DIAS DEPOIS Há alguns dias ela vinha esperando uma ligação ou um e-mail que lhe desse uma boa notícia. Não que não estivesse feliz da forma como estava. Para ser sincera, sair de Vilamares seria extremamente doloroso, mas era parte da vida real despedir-se e recomeçar. Além do mais, precisava de um emprego. Não poderia mais ficar gastando dinheiro de forma desmedida, principalmente sendo jovem e tendo força para trabalhar. E ela queria trabalhar. Queria fazer algo útil com seu tempo. Bem, na verdade, ela estava fazendo. Enquanto passava tardes deliciosas na pousada com Anne, passeando por Vilamares e as noites fazendo amor com Marcos, continuava escrevendo seu livro. Tudo estava indo tão bem, que ela tinha a previsão de termina
QUINZE DIAS DEPOIS — Se eu tivesse apostado... — Karen comentou para Anne, enquanto esta via televisão. A mais velha estava escrevendo seu livro quando uma mensagem acusou um novo e-mail, e ela foi correndo ver ao perceber que o remetente era Sérgio. — O que foi? — Anne virou-se para ela, desviando a atenção da TV. — Sérgio e Patrícia vão se casar. Estão me chamando para madrinha. — Que legal! — A menina levantou-se e colocou-se atrás da irmã, na mesa de jantar, para ver o que eles diziam.
Era a quinta vez que ele olhava o relógio, isso nos últimos dez minutos. — Ela não está atrasada? — Sérgio perguntou, nervoso como... Bem, como um noivo no altar, esperando a noiva chegar. Exatamente o que ele era. — Claro que está. Noivas se atrasam. É a regra, — Não sei quem foi que inventou esta regra estúpida... — Marcos comentou, e recebeu um olhar de aprovação de Sérgio. Depois, virou-se para Karen: — Quando nós nos casarmos, quero que chegue no horário, pois não quero ficar assim tão nervoso.&
Ela tinha medo da escuridão. Todas as vezes que olhava pela janela e percebia que, lentamente, as estrelas começavam a dançar sobre o manto negro da noite, e que o breu lançava seu fascínio e seus mistérios sobre o mundo, ela sabia que os gritos, a violência e as longas horas de terror começariam. Mas a verdade era que estava começando a aprender a ser egoísta. As sessões de espancamento que sua mãe sofria não a abalavam tanto quanto as batidas em sua porta durante a madrugada. Sabia que tudo dependia simplesmente de si mesma, de sua escolha. Se fosse uma boa menina, ninguém além dela sairia machucado. Se fizesse tudo que lhe era mandado, sua mãe e sua irmã estariam a salvo. E ela sentia o peso daquela r
Seis Anos Depois - Janeiro Amália Gonçalves amava o verão. Sua pousada, Refúgio, estava sempre pronta para receber a estação mais esperada por uma cidade praiana. O jardim do lugar despontava como se tivesse hibernado por anos e anos, e como se ainda fosse primavera. As rosas ainda tomavam suas formas, os girassóis procuravam os primeiros raios de luz e tudo estava colorido e vivo. A pousada tornava-se cada dia mais linda, e Amália se orgulhava dela como se fosse um filho. Tanto que simplesmente não conseguia deixá-la. Quando a criara, assim que o marido faleceu, deixando-a com o coração partido e uma situação financeira