Prólogo 2 pt- O início de um pesadelo

Horas mais tarde, eu acordei.

Mas, algo havia acontecido durante meu sono.

Assim que abri os olhos, percebi que minha visão estava embaçada, tentei me levantar da cama, mas não conseguia. Me sentia fraco e a cabeça estava girando. Eu não enxergava um palmo a minha frente sem ser borrões e sombras, e o braço estava dormente. Com muita dificuldade olhei para baixo e vi que tinha um elástico segurando minha circulação e um pontinho arroxeado ao redor do que parecia ser um furo.

Alguém havia me drogado.

Passei a mão na cintura. O coldre ainda estava lá. Mas, minha arma havia desaparecido. Por um momento de sobriedade, me lembrei de Kate. Olhei para o lado, mas ela não estava lá. Me forcei a levantar outra vez, e por fim, sentei na cama. Apoiei os braços no colchão e me pus de pé. Não conseguia andar um passo sem sentir que minhas pernas, poderiam ceder a qualquer momento. Comecei a chamar por Kate e nada de resposta. Fechei os olhos e parei, precisava de um minuto antes de tentar andar.

Uma ligeira tontura me tomava, mas me mantive firme e depois de quase arrancar os olhos de tanto cocá-los, finalmente consegui abri-los e enxergar melhor. O apartamento estava intacto, sem nenhum móvel fora do lugar. Com exceção do sangue. Havia sangue para todo o lado, e eu observei as marcas na parede e no chão, havia uma trilha que levava para a porta de entrada....

Talvez Kate, tivesse sido arrastada.

Eu estava numa cena de crime, e diretamente ligado a ela!

Continuei chamando.

Seja lá, o que havia acontecido ali, eu não escutei nada. Não vi nada e no momento era a única pessoa presente. Eu não podia entrar em desespero, precisaria manter a calma, lembrar do tratamento com a terapeuta e manter a razão funcionando. Voltei alguns passos até aonde me lembrei que havia deixado o celular. Mas, ele também não estava. Olhei de relance e vi algo brilhando debaixo da cama. Por um momento, eu temia que fosse algo relacionado a Kate, então fui olhar.

Me apoiei na beirada da cama e na mesinha de cabeceira e consegui me equilibrar o suficiente para me abaixar e examinar, mesmo que de maneira comprometedora, já que eu não enxergava cem por cento ainda. Eu vi um pingente e puxei. Era a corrente que eu dei pra Kate no natal passado. Me esforcei mais um pouco e me abaixei ainda mais, eu sabia que precisava ligar para o capitão e avisar o que estava acontecendo. Não consegui muito êxito devido as náuseas. Ajoelhei com dificuldade e apenas estiquei o braço. Tateei até bater em algo gelado, fechei a mão e senti que era retangular. Meu bipe.

Quando puxei, realmente era meu aparelho. E nele tinha uma digital ensanguentada. Eu não podia limpar, era evidência. E como eu iria ligar?

Me lembrei do carro. A questão era sua localização, do outro lado da rua. Eu teria que andar até lá, descer os dois lances de escadas e ainda atravessar. Justamente com a minha dificuldade de andar, eu precisaria tentar. Quanto mais tempo eu demorasse a relatar pra delegacia e ficasse perambulando no ambiente, mais eu contaminaria o ambiente com as minhas digitais. Peguei o bipe com cuidado para não borrar a digital e fui andando passo a passo, me apoiando na parede até chegar próximo a cozinha...

Quando eu vi, fiquei aturdido. Eu estava acostumado com cenas como aquelas, mas não com pessoas que eu conhecia. Alicia, a amiga de Kate do apartamento ao lado, estava morta na cozinha. Havia um corte de ponta a ponta em sua garganta, e uma poça de sangue.

Mas, por que ela está aqui? Cadê a Kate?

Pensamentos e mais pensamentos começavam a me inundar, perguntas e mais perguntas. Eu não tinha tempo para procurar respostas. Mantive os passos firmes até chegar na porta de entrada. Sem nenhum sinal de arrombamento, nem de força, mas o sangue continuava em borrões na parede, pareciam marcas de dedos. Continuei observando meu trajeto e vi rastros de sangue que saiam de dentro da casa, provavelmente da Kate. Quem havia me drogado e matado a Alicia, havia levado ela.

O prédio onde as duas garotas moravam, não era seguro, assim como o bairro. Circulavam traficantes, usuários e todo tipo de gente. Infelizmente aquele ela o imóvel mais acessível a Kate.

Eu nunca quis me comprometer com ajuda financeira, era um vínculo que eu evitava a todo custo. E agora, eu estava no meio desse furacão. Muito provavelmente quem fez aquilo, havia visto meu distintivo ao lado da jaqueta e não quis me matar também. Aparentemente, aquilo parecia planejado. Quem quer que fosse, conhecia as garotas.

Cheguei no lance de escadas e me deparei com alguns usuários subindo para os andares de cima, eu fazia vista grossa, por que não era meu departamento, mas eles também faziam vista grossa para mim e não mexiam mais com a Kate. Parecia tudo resolvido, até aquele momento. Todos que passavam por mim, me olhavam assustados. Eu pensei que fosse, por que eu me parecia com eles...

Minha visão já estava um pouco melhor, nada que me ajudasse com aqueles degraus escuros, mas eu estava perto. As paredes pichadas, acabaram servindo de bussola. Foi tudo bem, até os últimos cinco, onde eu acabei não conseguindo levantar a perna e tropecei. A queda acabou me gerando um roxo na testa e uns hematomas no braço. Quando cheguei na entrada do prédio, ouvi gritos de cima. Eu percebi, que havia esquecido de fechar a porta. Acelerei mais ainda os passos, eu precisava garantir que ninguém conseguisse ligar antes de mim. Eu sabia que aquilo iria me deixar encrencado até o pescoço.

Ao tocar na calçada, senti o ar gelado contra o rosto e avistei meu carro do outro lado da rua, um Toyota Corola cinza escuro, meu rádio estava no painel. Com todo esforço que fizera e a droga no meu organismo, que eu não fazia ideia de qual era, quando mais eu respirava, mais ficava enjoado. Eu corri o mais rápido que conseguia, evitando a buzina do carro que passava por mim, e cheguei até a porta do veículo.

A situação era pior do que eu imaginava.

Mesmo drogado e anestesiado, eu estava com a camisa ensanguentada, foi então que pude entender a reação das pessoas que passaram por mim. Eu também tinha um corte na mão, que só notei quando tentei abrir a maçaneta do motorista. Depois disso, eu me sentei, peguei o rádio e fiz uma chamada para a minha delegacia. Falei com o meu capitão e fiquei no carro aguardando as viaturas chegarem.

Tudo o que aconteceu em seguida, foi uma sucessão de caos.

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