Querido Presidente
Querido Presidente
Por: Larissa Braz
Prólogo

Adan

Presidente dos Estados Unidos da América, aos quarenta e dois anos.

Esse é o sonho de carreira de muitos políticos, mas apenas um poderá alcançar a cada quatro anos. Eu era o presidente mais jovem a possuir este título.

Sentado no Salão Oval, às dez da noite, encarava um quadro na parede com a minha figura pintada na sua tela. A última reunião havia sido encerrada duas horas atrás, mas eu continuava ali. Não porque ainda havia algo para ser feito, mas porque estava prolongando ao máximo o momento de atravessar os corredores até o lado, onde residia dentro da Casa Branca.

Há seis meses, eu ocupava aquele espaço, morava naquela casa de paredes tão brancas onde eu governava uma nação. Há malditos seis meses continuava a sustentar uma mentira na minha vida. Uma infeliz mentira, devo dizer.

Suspirando fundo, apanhei o copo sobre a mesa e derramei na minha boca o último gole de um bom e caro uísque, sentindo descer por minha garganta o calor tão brevemente aconchegante que desaparecia no esôfago. Nem todo o uísque do mundo faria com que esse calor chegasse aonde eu mais sentia a sua falta: no meu peito.

Levantei-me da cadeira e apanhei o meu paletó sobre o encosto. Deixei o Salão Oval e caminhei pelo corredor com dois seguranças no encalço. Aquilo ainda era estranho. Ao chegar na parte onde habitava, a porta foi aberta por um dos homens que me acompanhava. Logo que

entrei, ele a fechou.

Ali, sozinho ao menos naquele espaço, respirei aliviado e me permiti sorrir minimamente, sentindo o cansaço latejar os meus ombros.

— Você demorou! — A voz de Estela ecoou atrás de mim.

Engoli em seco ao fechar os olhos por alguns segundos. Guardei as mãos nos bolsos da calça e girei os calcanhares na sua direção.

— Boa noite, querida esposa — ironizei.

Ela sorriu falsamente.

— Estava sozinho, espero. Ou estava trancafiado naquela sala com a sua secretária? — Havia tamanha repulsa na sua voz. Era sempre assim quando Estela falava de Alex, a minha secretária há oito anos.

O meu sorriso aumentou deixando os meus dentes aparentes. Era engraçado o seu comportamento. Até parecia que ela ainda me amava.

Caminhei na sua direção e apanhei o seu queixo delicado com os meus dedos. Ergui um pouco o seu rosto para poder encará-la nos olhos. O perfume da mulher por quem um dia fui apaixonado, entranhou nas minhas narinas. Era estranho que nem saudade do passado eu não sentia mais.

— Já disse, Estela. Alex é somente a minha secretária. — E realmente era. Fiquei muito feliz de poder trazê-la comigo do meu cargo de governador. Alex era excelente no que fazia. Não conhecia ninguém melhor para ser minha secretária.

Estela sorriu com tamanho desprezo. Era tão grande quanto o que eu sentia por ela naquele momento. Afastando a minha mão do seu rosto, ela sustentou o meu olhar por mais alguns segundos e se virou seguindo pelo corredor, à direita.

Ela ainda era tão linda quanto o dia em que a conheci, anos atrás. Mesmo hoje, aos quarenta anos e com algumas linhas de expressão no rosto, tinha uma beleza marcante. Era uma pena que as coisas acabaram entre nós, uma vez que nos amamos de verdade. E era ainda mais digno de pena como o nosso casamento se desfez. Dia a dia. Noite após noite.

A cada semana que se passava, um pedaço se desfazia, tornando-se nada. Era triste nenhum de nós ser maduro e humano o suficiente para acabar com esse relacionamento que se tornou algo conveniente para ambos. Perguntava-me quem teria primeiro a dignidade de encerrar a nossa história.

Quando ela tomou a decisão de dormimos em quartos separados, já não nos tocávamos intimamente há dois anos. Honestamente, respirei aliviado com o seu anúncio. Aquela atmosfera densa quando nos deitávamos para dormir era extremamente exaustiva.

Àquela altura, eu já não sentia mais nada por Estela, e isso me doía. Como podia acabar assim uma história de amor tão intensa como a que vivemos juntos? Às vezes, sentia que foi ela quem deixou de amar primeiro. E sem resposta, os meus sentimentos se foram.

Sentia falta de tocá-la. Ou será que sentia falta de tocar um corpo feminino do modo mais íntimo que existe? Há três anos não fazia isso. Nem sequer me lembrava de como era o gosto de uma boceta, ou a sensação de dois corpos nus se roçando, ofegantes.

Uma pequena pressão surgiu dentro da minha calça. Levei a mão até ela e apertei de leve, fechando os olhos. Suspirando cheio de frustrações, segui para o meu quarto. Quando governador já era impossível ir à procura de outra mulher para pura satisfação carnal. Agora, presidente do país, esse pensamento não devia sequer existir na minha cabeça.

Debaixo do chuveiro, eu apreciava a água gelada nos meus ombros, enquanto me masturbava pensando na mulher nua da última revista pornô que vi. Isso fazia uns vinte anos. Cômico ou triste? Após gozar, sempre vinha aquele sentimento depressivo de infelicidade amorosa.

“Quando terei colhões o suficiente para acabar de vez com esse casamento?”

A verdade é que eu tinha medo de magoar Estela ao me separar. Ela foi minha parceira, amiga e cúmplice por longos quinze anos. Passamos por muitas coisas para que eu chegasse até aqui, mesmo dormindo em camas separadas. Lutamos lado a lado contra o machismo para que ela alcançasse a sua realização profissional. Passamos pela perda trágica do nosso único filho e por inúmeras derrotas, até mesmo financeira. E por tudo isso, sentia que ainda devia muito para ela. No fundo, ainda amava Estela. Mas como uma grande amiga.

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