Capítulo 01

Adan

Após o banho e um desjejum digno para sustentar mais um dia no cenário político americano, caminhei para a minha sala com os homens sempre a um metro atrás de mim. George era um homem alto, forte. Apresentava ter uma idade próxima à minha. A sua feição era sempre séria. Já Seth, era um jovem bonito. Não devia ter mais que trinta anos, mas executava o seu trabalho tão bem quanto qualquer outro ali dentro. Ele tinha um bom treinamento na CIA.

Ao entrar no Salão Oval, Alex já estava esperando por mim. A mulher baixinha com cabelos pretos em uma trança, de trinta e cinco anos e olhos claros, era alguém que, com o passar dos anos, havia se tornado uma grande amiga.

— Bom dia, Alex.

— Bom dia, senhor presidente. — Ela sempre sorria ao dizer isso.

Parecia ter sido ontem que ela me chamava de louco por comunicá-la o meu desejo de concorrer à presidência.

Ainda escutava em alto e bom som a rolha do champanhe estourar quando fui eleito para governador. Havia sido presente dela quando anunciei ao público a minha candidatura. Sorrindo, disse:

— Para comemorar a sua vitória em alguns meses. — Então, bateu a garrafa de trezentos dólares sobre a minha antiga mesa.

— O que temos para hoje? — perguntei ao me sentar.

— Reunião às oito, com o representante da ONU. Às dez, com o Departamento de Estado. O senhor tem almoço marcado ao meio-dia com o governador Holk. Às duas, tem consulta médica. Às quatro, terá reunião com o Departamento do Tesouro. E encerramos a sua agenda, às seis, com uma exclusiva que prometeu à Washington Times. — Ela fechou a sua agenda e se aproximou.

Respirei fundo e acomodei-me melhor na cadeira.

— Às vezes, questiono a minha sanidade por decidir me candidatar à presidência — disse humorado.

— Tarde demais, Adan. — Ela sorriu e eu não contive uma risada.

Karl, seu assistente, entrou e informou que a sala de reunião já estava pronta e o representante da ONU aguardava por mim. Levantei-me fechando o paletó e peguei da mão de Alex a pasta que usaria na reunião.

* * *

O final do dia chegou após horas pulando de uma sala de reunião para a outra, saindo e voltando para a Casa Branca, debatendo e decidindo assuntos que interferiam desde a saúde até segurança pública, além de outros assuntos a respeito não somente da minha nação, mas a do mundo todo. Eu estava faminto e as minhas costas doíam. Tudo o que queria era comer e me deitar na cama.

Assinava alguns papéis no Salão Oval, quando Alex entrou com Karl.

— Está pronto? — perguntou ela.

Encarei-a, forçando a minha memória. Sem dúvidas, o esgotamento me fez esquecer de algo.

— São seis e quinze. Está atrasado para sua entrevista com a Washington Times, senhor presidente. — Alex se calou e olhou-me com a sobrancelha arqueada, em sinal de advertência.

Fechei os olhos e praguejei em pensamento. Como podia ter esquecido? Havia me preparado para essa entrevista mais cedo com Karl.

— Claro. Estou pronto.

Levantei-me, ajeitando a minha gravata.

— A jornalista te espera na Sala do Chá. Vou anunciar a sua chegada. — Alex virou-se e andou em direção da porta.

— Não — interrompi-a. — Eu mesmo irei me apresentar, ainda posso fazer isso. É só uma entrevista. — Sorri.

— Tudo bem.

— E quero mais uma coisa.

— O que seria?

— Não será necessária sua presença ou da assessoria de imprensa durante o b**e-papo. Me sentirei mais à vontade assim.

Alex encarou-me de cenho franzido.

— O quê? Mas...

— Ela só fará perguntas que já foram aprovadas por vocês — interrompi-a. — O que pode dar errado? Já sei lidar com jornalistas.

Ela olhava-me incrédula.

— Não posso deixar você fazer isso.

— Mas não é uma decisão sua. Só quero privacidade, sou capaz de fazer isso sozinho.

Alex respirou fundo.

— Okay... Como desejar. Vou estar do lado de fora da sala com a assessoria, caso precise de nós — cedeu insatisfeita.

Deixamos o Salão Oval e caminhamos até a Sala do Chá.

Seth abriu a porta e entrou, se posicionando ao canto. Entrei logo depois. George veio atrás de mim e fechou-a, permanecendo diante da madeira branca talhada à mão.

Uma mulher estava parada próximo da vidraça mais adiante. Ela usava um belo vestido cinza um tanto justo ao corpo e de comprimento com alguns centímetros abaixo dos joelhos. As suas panturrilhas tinham um desenho perfeito em cima do salto alto. Os meus olhos se voltaram para a sua cintura torneada e o seu bumbum um tanto avantajado. O quadril era um pouco mais largo do que o da minha esposa. A sua pele parecia porcelana e os seus longos cabelos castanho-claros escorriam pelas costas em ondas que me convidavam a tocá-las.

Ela digitava algo rapidamente no celular quando se virou ao sentir a minha presença na sala. O seu rosto era redondo, o nariz levemente arrebitado e os lábios não eram tão carnudos, mas eu beijaria com muito gosto. Os belos olhos escuros eram pequenos e quase se fecharam graciosamente quando sorriu para mim.

— Boa noite, srta. Heller. — Sorri. Aquela mulher tinha algo no olhar. Senti uma vibração incomum no ar quando nos entreolhamos.

— Senhor presidente... — A sua voz era doce, firme e gentil. — É um prazer conhecê-lo. — Estendeu a sua mão na minha direção.

Sem perder tempo, segurei-a resistindo a vontade de levá-la até os meus lábios e beijar o seu dorso.

— O prazer é meu. Desculpe pelo atraso. — Não consegui soltar a sua mão.

— Tudo bem. O senhor é um dos homens mais ocupados do mundo — brincou.

O seu perfume floral e adocicado encheu os meus pulmões, deixando-me brevemente anestesiado.

— Me chame de Adan, por favor.

Eu estava seduzido, tinha certeza. Ela abriu outro sorriso gentil e desviou o seu olhar até as nossas mãos por alguns segundos.

— Perdoe-me, presidente. Mas, segundo as normas de onde trabalho, devo tratá-lo por seu título.

Soltou a minha mão.

— Certo — concordei um pouco decepcionado.

Dei um passo para trás. O seu cheiro estava causando reações no meu corpo. Sentia-me ansioso, era estranho.

— Sente-se, por favor. — Indiquei a poltrona ao seu lado, onde ela se acomodou rapidamente.

— Onde está a srta. Bokker e a sua assessoria? Devemos aguardar?

Sentei-me na poltrona à sua frente, observando-a cruzar as pernas e jogar os cabelos para trás do ombro.

— Alex e os outros foram dispensados.

A mulher me olhou surpresa.

— Eu não preciso de pessoas me coordenando durante uma entrevista, a qual já conhecem bem as perguntas — falei humorado.

Ela sorriu minimamente e abaixou a cabeça por alguns segundos, enquanto abria um caderno. Ao me encarar de novo, o seu sorriso estava maior. Uau! Aquilo era digno de um quadro.

— Bom... Com a sua permissão, eu gostaria de gravar esta entrevista em áudio. — Assenti. — Ótimo! Farei algumas observações nos meus papéis durante a nossa conversa. Da lista de quinze perguntas que mandei para a sua secretária, apenas cinco foram aprovadas. Saiba que não irei fazer comentários críticos ou perguntas que não poderá responder. A Washington Times entende que a sua chegada no poder é recente para responder por erros que não foram cometidos pelo seu governo. Tenho certeza de que, entre as perguntas, tópicos irão surgir e a nossa entrevista irá fluir bem. Sinta-se à vontade.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo