AdanNo dia seguinte, saí um pouco mais cedo da Casa Branca. Quando o carro parou em frente ao prédio, pensei se realmente devia fazer isso. Seria certo envolver mais alguém? Envolver logo ele?— Tenho que fazer isso.Abri a porta e desci. Os seguranças se juntaram a mim.— Acho melhor que fiquem aqui. Não demoro.— Aqui não é seguro, senhor.— Não quero chamar tanto a atenção.Seth respirou fundo. Ele pensou em contestar, mas não fez. Apenas assentiu.Entrei no prédio e me aproximei do porteiro, que se levantou em um pulo quando me viu.— Sr. Bremner... O senhor aqui — disse um pouco nervoso. — É um prazer vê-lo.Olhei para a plaqueta brilhante no seu peito. O seu primeiro nome era Edmundo.— Olá, Edmundo.Sorri, tentando ser simpático.— Em que posso ajudar o senhor?— Estou aqui para ver Theo Scott.— Claro.Apanhou o telefone rapidamente e digitou alguns números antes de levá-lo a orelha.— Senhor Scott... Adan Bremner está aqui para vê-lo. Sim. Sim, senhor.Desligou o telefone.—
AdanNa madrugada, trancado no meu escritório, limpava a pistola. Aprendi aquilo com o meu avô. Por muitas vezes, eu e os meus irmãos pensamos em vendê-la. Houve dias de muita fome na minha infância, mas minha mãe nunca permitiu.Alguns anos mais tarde, o meu irmão mais velho a entregou para mim. Disse que não queria aquilo na mesma casa que a sua filha. Ele estava certo. Também nunca quis levar isso para casa, sempre ficou no banco. Desde esse dia, era a primeira vez que pegava nela. E a usaria em uma semana se aquele maldito celular tocasse.Como se fosse a força do meu pensamento, o celular à mesa tocou. Olhei-o nervoso. Coloquei a arma sobre a mesa e apanhei-o. Apertei o botão e levei-o até a orelha, calmamente.— É você?Um minuto de silêncio. Uma risada roca e escrota ecoou do outro lado da linha.— É você!— Então acho que é comigo que quer falar.Outra risada.— Está a fim de negociar? Sei que é um homem de boas negociações.— Estou. Qual é a sua proposta, Paco?O meu coração
AdanEntrei no extenso corredor que levava às despensas, câmara fria, casa de gás e uma vasta cozinha gourmet, que comportava até cinquenta trabalhadores.Algumas poucas pessoas passaram por mim. Fui cumprimentado com acenos singelos e sorrisos discretos. Mais adiante senti cheiro de cigarro. Entortei o nariz para esse odor que me incomodava veemente.De repente, surgiu uma figura à minha frente. Ele usava o smoking enviado por mim, mas nos pés calçava velhos sapatos gastos. O homem não parecia ter ao menos se dado o trabalho de tomar um banho. Uma parte dos cabelos estava pregada no couro cabeludo e a outra parte arrepiados no topo da cabeça. A sua pele manchada, olheiras profundas e mais rugas que deveria ter na sua idade. Ele estava um tanto diferente, mas o reconheci. Era o mesmo homem peçonhento daquele maldito vídeo.Quando os meus olhos enfim encontraram os seus, senti algo ferver dentro de mim. Fúria, talvez. As minhas mãos estremeceram levemente. A respiração mudou. A tensão
AdanDeitado no chão, ele colocou a ponta do dedo no meio de sua testa.— Aqui, presidente — falou baixo e sorriu.O maldito risinho debochado e covarde. Minha pele esquentou enquanto eu o encarava mais uma vez recordando daquele maldito vídeo que queimava meu cérebro diariamente.— Você não é... capaz — disse ao tentar se levantar.E como se meu dedo tivesse tomado a decisão por mim, o gatilho foi apertado. Seu corpo terminou de se deitar no chão branco. O sangue escorreu em abundância de sua cabeça. Seus olhos ainda me encaravam. A ponta de seu dedo fora arrancada pela bala agora cravada em sua cabeça.Olhei para as minhas mãos e não conseguia me dar conta ou entender que realmente fui capaz de matar um homem. Eu parecia meio anestesiado. Agora não sentia nada. Absolutamente nada! Nem raiva, ódio ou desespero. Meu coração ainda batia forte.— Preciso prosseguir — disse para mim mesmo.Olhei a minha volta pensando em como explodir tudo ali. Esse era o plano, mas ainda não sabia como
DianneA sua mão alisou a minha barriga uma última vez. Então, a beijou em despedida e sussurrou algo para ela, inaudível para mim. Os seus olhos transbordavam lágrimas incessantemente.— Vou sentir falta — disse ele antes de retirar a sua mão.Olhou-me por alguns segundos e acariciou o meu rosto suado. Adan entrou na enorme banheira inflável posta no meio do quarto e se sentou atrás de mim, ainda vestindo a calça social e a sua camisa branca.Há dezessete horas eu sentia dor. Já havia gritado, chorado, jurado nunca mais engravidar e até mesmo não deixar que Adan me tocasse outra vez. Mas lá estava ele, dentro da água fria, ajudando-me a dar à luz.— Dez centímetros — avisou o médico após verificar a minha dilatação.Estava cansada e já havia me arrependido de ter tomado a decisão de um parto natural, na casa do lago. Àquela altura, eu queria uma anestesia, mas era tarde demais.— É hora de fazer força, Dianne — falou Karen.Neguei com a cabeça. A dor agora era constante, ela não vinh
Dianne— Olha, querida. São peixinhos.Sophia estendeu a mão em direção da água, abrindo-a e fechando, como se chamasse os peixinhos. Era assim que ela fazia com os gatos quando queria chamá-los até ela. E incrivelmente eles entendiam.Apanhei um pouquinho da água fria com a mão e joguei na sua. O verão estava chegando ao fim. A minha menina completava cinco meses naquele dia.Adan remava a canoa em uma ponta, enquanto nós duas estávamos sentadas na outra. A manhã estava quente. Sophia parecia gostar de quando fazíamos isso. Em breve, o frio chegaria e teríamos de achar outra programação para fazermos com ela.Voltamos para a margem e saímos do barco. Andei com ela pelo jardim enquanto Adan guardava a canoa. Ele veio ao nosso encontro e pegou-a dos meus braços. Ficamos um pouco mais ali até que voltamos para casa.À noite, enquanto eu arrumava a cozinha do jantar, Adan colocou Sophia para dormir. Ele veio até mim e abraçou-me por trás enquanto eu limpava a bancada.— Temos colaborador
DianneBorboletas reviraram o meu estômago, tornando o enjoo mais forte. Não era possível que eu vomitaria em Adan. Seria uma cena desajeitada que nem nos meus livros eu me atreveria a escrever.Uma ansiedade enorme brotou em mim, fazendo-me agora esquentar por dentro. Ele fechou a minha mão e beijou os nós dos meus dedos. Adan era meu amor verdadeiro. O meu um terço. Aquele alguém que eu não sabia precisar tanto até encontrar. Aquele alguém que eu nunca deixaria ir. Acho que sim. Sim, eu queria esse próximo passo.Para mim, a nossa história pareceu errada no começo. Mas nós dois nunca fomos nada tão certo a se acontecer nesse mundo. Mesmo com tantas dificuldades no caminho, nunca desistimos um do outro. E isso é a maior prova de amor possível: não desistir no primeiro buraco no caminho.Ambos conseguimos gerar a maior perfeição já vista por mim. Geramos a Sophia. Mesmo se um dia nós dois deixarmos de existir, porque talvez nem tudo seja eterno, ela será o maior rastro do que vivemos
AdanPresidente dos Estados Unidos da América, aos quarenta e dois anos.Esse é o sonho de carreira de muitos políticos, mas apenas um poderá alcançar a cada quatro anos. Eu era o presidente mais jovem a possuir este título.Sentado no Salão Oval, às dez da noite, encarava um quadro na parede com a minha figura pintada na sua tela. A última reunião havia sido encerrada duas horas atrás, mas eu continuava ali. Não porque ainda havia algo para ser feito, mas porque estava prolongando ao máximo o momento de atravessar os corredores até o lado, onde residia dentro da Casa Branca.Há seis meses, eu ocupava aquele espaço, morava naquela casa de paredes tão brancas onde eu governava uma nação. Há malditos seis meses continuava a sustentar uma mentira na minha vida. Uma infeliz mentira, devo dizer.Suspirando fundo, apanhei o copo sobre a mesa e derramei na minha boca o último gole de um bom e caro uísque, sentindo descer por minha garganta o calor tão brevemente aconchegante que desaparecia