Adan
Frustrado, segui para a minha habitação naquele grande labirinto branco. Na cozinha, após um banho, preparava um sanduíche.
— Ainda acordado. Algum problema? — perguntou Estela.
— Não. Só estava com fome. Tratar de negócios durante o jantar não nos deixa comer direito. E você? O que faz acordada?
— Estava lendo um livro. Quer que eu faça um suco?
Olhei-a surpreso. Há muito tempo não se oferecia para fazer algo para mim.
— Sim, por favor.
Enquanto ela espremia as laranjas, terminei o meu sanduíche e sentei-me do outro lado da ilha.
— O Baile Beneficente é em algumas semanas. Já escolheu qual instituição irá beneficiar? — Colocou gelo dentro do copo à minha frente.
— Ainda não. — Mordi o sanduíche.
— Estou sentindo algo diferente em você. Os seus ombros não estão mais caídos.
“Diferente? O que estaria diferente em mim?”
— E o que seria?
— Não sei dizer. — Sorriu. — Vou me deitar. Boa noite, Adan.
— Boa noite, Estela.
Ela se foi e eu me perguntei novamente o que estaria diferente em mim.
Sentado na minha cama, lendo a licitação, pensei em Dianne. Peguei o meu celular e busquei por seu número na minha agenda. Será que ela ainda estaria acordada? Já era tarde. Decidi arriscar e ligar.
— Alô — atendeu no terceiro toque.
— Boa noite, Dianne.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos.
— Adan? — A sua voz soou incrédula.
Ri baixo.
— Espero não estar atrapalhando. É tarde para nos falarmos?
— Não, não. Tudo bem? Em que posso ajudá-lo?
— O que estava fazendo?
— Ah... Bom... Assistindo TV e bebendo uma taça de vinho.
Como queria estar com ela assistindo TV e dividindo uma taça de vinho.
— O que está assistindo?
— Um seriado no canal dez.
— Qual? — Eu queria saber o seu gosto para seriados. Seria o mesmo que o meu?
— O Mentalista.
Sorri pegando o controle da TV jogado nos pés da cama. Liguei-a e coloquei no canal dez. Em seguida, mutei a TV.
— Eu adoro o Patrick Jane.
Ela riu.
— Ele é fascinante.
— Assim como você... — Aquilo saiu mais alto do que eu queria.
Ela fez silêncio.
— Por que ligou? — perguntou baixinho.
— Venha me ver amanhã. Tenho um convite para você.
— Que tipo de convite?
— Venha me ver, Dianne. Ao meio-dia. Okay? Não vai se arrepender.
Ela hesitou por um instante.
— Certo, eu irei.
— Ótimo! Boa noite. Durma bem, querida.
— Até amanhã, Adan. — A sua voz soou sexy.
Encerrei a chamada com um enorme sorriso.
* * *
A manhã seguinte demorou séculos para passar. O tempo parecia ter parado. Cheguei a checar o relógio que carregava no punho e me levantar para verificar as horas no outro que estava pendurado na parede. Eles pareciam não estar funcionando. As reuniões pareciam mais longas. Em meio a assuntos importantes, me pegava pensando nela e logo me repreendia. Eu precisava estar atento e cem por cento dentro daqueles assuntos debatidos à mesa.
Quando a segunda reunião daquela manhã finalmente acabou, segui para a minha sala. O horário marcado com Dianne havia sido proposital. Almoçaríamos juntos, enquanto eu a convidaria para vir trabalhar na Casa Branca, perto de mim. Tinha certeza de que ela não rejeitaria. Isso era um grande passo na sua carreira como jornalista política.
— Senhor presidente... — Karl se aproximou, enquanto eu caminhava pelo corredor movimentado. — O almoço já está servido no Salão Oval. E a srta. Heller acabou de chegar.
— Onde ela está? — perguntei ansioso.
— No saguão principal, senhor.
— Obrigado. Eu mesmo vou até ela.
Mudei o meu trajeto dando meia-volta e fui para o saguão.
— Dianne... — chamei a sua atenção ao me aproximar.
Lentamente, ela se virou. Estava linda usando um vestido cinturado de linho branco com botões pretos. A saia drapeada descia cobrindo os seus joelhos. Nos pés, sapatos vermelhos de bico fino e salto bem alto a deixavam sexy. Gostaria de vê-la com aqueles sapatos e nada mais.
— Senhor presidente... — disse sorridente.
Apanhei a sua mão e apertei de leve, puxando-a sutilmente na minha direção. Dei um beijo no rosto dela. Os cantos dos meus lábios tocaram os seus de propósito. Senti ela ficar tensa. A minha outra mão, que repousava na sua cintura, apertou-a de leve.
— Venha. Vamos até a minha sala.
Ao entrar no Salão Oval, ela sorriu.
— É muito maior do que parece ser nas fotografias.
— É sim.
Ela olhava tudo com muita curiosidade.
— Pedi que preparassem o nosso almoço. — Só então ela olhou para a comprida mesa de centro entre os dois sofás de três lugares.
— Não era necessário se incomodar.
— Sente-se, Dianne. Vamos comer.
Ela se acomodou em um dos sofás e eu fiz o mesmo, à sua frente.
— Então... Qual é o convite que tem para me fazer? Estou curiosa.
Sorri.
— Pedi ao chef de cozinha que preparasse dois sanduíches de frango defumado com nozes — desconversei-a. — É o meu favorito, espero que você goste. — Destampei a bandeja.
— Eu adoro. — Sorriu.
Começamos a comer enquanto contava a ela a primeira impressão que tive daquela sala quando entrei, ainda governador. Depois falamos sobre as fotos para a entrevista. Dianne disse estar difícil escolher. Todas estavam ótimas. Quando terminamos, destampei a outra bandeja. Ali havia duas sobremesas.
— Tartelete de frutas vermelhas com raspas de chocolate amargo.
Dianne riu baixinho.
— É uma das minhas sobremesas favoritas.
Eu não tinha certeza, mas suspeitava. Ela havia postado três fotos daquela sobremesa, somente no último mês.
— Bom... Que sorte a minha por aceitar a sugestão da cozinha. — Sorri, dissimulado.
— O nosso almoço está acabando e você não disse nada sobre o convite.
— Ah, sim. Eu conversei mais do que cinco minutos com o seu chefe ontem. Ele te elogiou bastante. Gostei de conhecer você, Dianne. — O seu sorriso singelo se curvou mais ao elogio. — Gostaria de saber se você quer trabalhar aqui como uma correspondente da Washington Times.
AdanEla me encarava com um olhar surpreso e a boca entreaberta, incrédula. Levantei e me sentei ao seu lado, bem perto. O seu perfume era tão intenso e suave ao mesmo tempo.— Está mesmo me fazendo este convite? — Assenti. — Isso é... É incrível, Adan — disse quase sem ar, sorrindo. Os seus olhos brilhavam, ela estava feliz. Senti vontade de abraçá-la. — Espero ser capaz deste trabalho.— Estive lendo os seus trabalhos. Você é plenamente capaz, querida.Gosto da ideia de ter você por perto desenvolvendo de forma sensata as notícias que sairão daqui.— Estou surpresa, mas contente. É uma mudança que não esperava.— Precisa de tempo para pensar?Ela pareceu pensar por alguns segundos, mas negou em um gesto com a cabeça.— Ótimo. — Ri aliviado. Por míseros segundos tive medo dela dizer que sim, que precisaria pensar melhor. — Quando pode começar?— Preciso terminar alguns trabalhos, mas posso estar aqui na próxima semana.— Gostaria de poder ter uma sala somente para seu uso, mas como n
DianneNa quinta, cheguei as oito e meia no trabalho. Ao sair do elevador, os meus colegas me aplaudiram de pé. Aquela com certeza seria a reportagem do ano. A Washington Times, apesar de ser uma revista grande e conceituada, nunca na sua história de trinta e oito anos havia conseguido uma exclusiva com um presidente recém-eleito. Ainda mais sendo ele um homem que havia marcado a nação com a sua campanha, trajetória política e uma porcentagem de votos tão alta.Adan Bremner era tão querido pelos americanos, quanto Obama foi. E por isso eu esperava que a minha matéria fizesse dele um governante ainda mais amado pelo seu povo. Todos acreditavam nele. Eu acreditava.— Obrigada, pessoal — agradeci emocionada. Sentiria falta de estar no meio daquela equipe formada por mais de vinte pessoas.— Você recebeu flores, coloquei na sua mesa — disse Sarah, acompanhando-me.Quando entrei na sala, a mesa estava repleta de flores e o ambiente cheirava a jardim. Um buquê de tulipas amarelas havia sido
DianneNa segunda-feira, eu cheguei bem cedo no trabalho. Não conseguia me acalmar, mesmo após duas xícaras de chá de camomila e limão. Esperava há vinte minutos pelo assistente da secretária do presidente, no saguão da grande Casa Branca.— Senhorita Heller...— Sim.— Desculpe a demora. Sou Karl Gardin.— É um prazer, Karl.Apertamos as mãos.— Seja bem-vinda à Casa Branca. Venha comigo. Eu mesmo irei lhe levar até o local onde irá trabalhar. O presidente gostaria de estar aqui para lhe dar as boas-vindas, mas ele tinha os seus compromissos no Capitólio esta manhã.— Tudo bem.— Ele realmente gostou de você. Todos aqui estão falando sobre a sua chegada. Eu li a sua matéria. Ficou ótima. — Sorriu para mim.Karl era um homem bonito. Devia ter a minha idade, talvez um ou dois anos a mais. Magro, bem alto, loiro e olhos azuis. Alguém com quem eu, com certeza, sairia para tomar alguns drinques, mas não para sexo. Sem chance!— Me sinto lisonjeada. Obrigada.— Esta é a sala da associação.
DianneDianne— Senhor presidente... Como foi a manhã? — perguntou Karl tentando ser gentil, ou puxar o saco do homem. Ainda estava na dúvida.— Olá, Karl. Foi produtiva. Obrigado por apresentar o lugar para Dianne, mas eu assumo a partir daqui. Pode ir.Karl olhou para mim e depois assentiu para Adan com um sorriso sem graça, seguindo para fora.— Olá, querida.A minha calcinha umedeceu ao ouvi-lo me chamar assim novamente.— Boa tarde, senhor presidente. — As palavras saíram baixas.Ele se aproximou.— Como foi a manhã do seu primeiro dia?— As coisas aqui são um pouco loucas e tudo acontece muito rápido, mas gostei do agito. — Sorri.— Queria eu poder ter te levado para esse tour, mas o menino chegou na frente.— Ele só quis ser gentil.— Ele é um bom rapaz. Mas tenho certeza de que o tour não foi completo. Os funcionários têm acesso restrito, mas o meu acesso é ilimitado — gabou-se de forma humorada.— Claro, eu acredito. Afinal, você é o presidente.Ele riu.— Posso fazer isso ag
DianneAo chegar na sala, aquele lugar já estava abarrotado de gente.“Como essas pessoas chegaram aqui tão rápido?”Alguns minutos depois, o meu celular vibrou nas minhas mãos. Era uma mensagem da Sarah com o link da publicação feito há três minutos no site da Washington Times. Havia ficado ótimo. Ela revelou a novidade e fez um rápido e específico resumo sobre a instituição escolhida.— Oi, Dianne.Olhei para o lado e lá estava um ex-colega de faculdade, que também fazia parte da associação. Eu havia imaginado que ele não tinha me reconhecido, já que em momento algum veio falar comigo. Na verdade, ninguém ainda havia vindo cumprimentar ou só apenas ser curioso. Todos naquela sala se comportavam como concorrência. Era quase zero o nível de socialização entre as pessoas ali.— Travis... — disse em cumprimento.— Gostando do trabalho novo?— Sim, obrigada por perguntar.— Foi mal não ter ido falar com você ainda, eu ando muito ocupado.“Sério? Você está sentado três mesas à minha esquer
AdanAquela mensagem doeu. Eu sentia coisas mais fortes do que atração sexual por ela. Sentia que era Dianne quem podia me fazer feliz outra vez. E estava a perdendo antes mesmo de tê-la. Isso era trágico. Por mais difícil que fosse, eu precisava respeitá-la. Iria tentar ao máximo manter-me longe, mas suspeitava que não teria forças para isso. Era péssimo!Quando a vi conversar com Estela, percebi no seu olhar o desconforto. Dianne precisava saber que os nossos sentimentos não estavam destruindo nenhum lar ou quebrando corações. O peso que carregava devia ser horrivelmente sufocante.À noite, quando quase todos haviam ido embora, resolvi ir até a sala da associação. Se eu tivesse muita sorte, ela ainda estaria lá, e sozinha. E se não estivesse, eu conseguia ir até a sua casa.Ao me aproximar da porta, Dianne estava de pé ao lado da mesa. Ela preparava-se para ir embora. Entrei e cuidadosamente olhei para todos os lados. Não havia ninguém além de nós ali.— Me esperem aqui fora — disse
AdanA semana havia sido turbulenta. Trabalhando até tarde e acordando muito cedo. Quase todos os compromissos estavam sendo fora da Casa Branca. Foi preciso que eu fizesse uma rápida viagem para Nova Iorque.Ver Dianne estava sendo quase impossível. Estávamos tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Chamei-a na minha sala com desculpas esfarrapadas, somente para abraçar e poder beijá-la. Ah, aquela boca... Já me permitia imaginar ela tocando outras partes do meu corpo que não fosse meus lábios, rosto e pescoço. Quase gozei na calça quando ela mordiscou o lóbulo da minha orelha. Não teve como me conter, gemi o seu nome.Perguntava-me quando eu teria um tempo com ela. Um tempo longo e só nosso, fosse na sua casa ou em um hotel. Estava começando a ficar quase impossível não me incendiar perto dela. Precisávamos de mais. Mas antes precisávamos achar um jeito.— Oi — disse ao me aproximar dela, assustando-a. Dianne estava de pé em frente à máquina de café. Mais uma vez, já era bem tarde e el
DianneO dia estava se arrastando. Era terrível saber que eu ficaria seis dias sem ver o Adan. Questionava-me quando essa situação toda iria mudar. Estava muito apaixonada e isso era ruim, em partes.Ele havia pedido a minha ajuda para conseguir encerrar a sua história com Estela. Eu o entendia. Era difícil. Eles estiveram um ao lado do outro por anos. Na cabeça de Adan, ele tinha uma dívida eterna com ela, disse sentir que lhe devia tudo por estar ali com o seu apoio. Talvez achasse injusto colocá-la para fora da sua vida, logo agora que vivia o ápice da sua carreira política.Adan havia saído da pobreza extrema. Ele e os seus outros três irmãos foram criados somente por sua mãe. O pai nunca foi presente. A sua história era admirável. Ele trabalhava desde os treze anos. Cursou a faculdade graças a uma bolsa de estudos. Formou-se com honras. Desde a sua formatura entrou para a política e começou a fazer a sua história, deixar a sua marca no mundo.Ficou conhecido como o bom candidato,