Dianne
Passei toda a manhã seguinte com borboletas no estômago. Havia demorado mais que o normal para escolher a roupa para o trabalho. Nos lábios, um raro batom vermelho. No corpo, um vestido preto de mangas cavadas, justo e de comprimento até os joelhos. Um pequeno decote nos seios chamava a atenção discretamente.
Os cabelos, que normalmente ficavam presos, estavam soltos e lisos. Eu estava muito ansiosa para vê-lo de novo. Olhando o meu reflexo no espelho, sorri aceitando que estava caprichando tanto no visual somente para atrair o olhar tão intenso do presidente.
Alguns minutos depois das onze, uma movimentação do lado de fora da minha sala chamou a minha atenção. As pessoas estavam todas paralisadas e de pé. Ele havia chegado, sem dúvidas.
Ao sair, logo o vi cercado por seus seguranças. Ele cumprimentava o meu editor-chefe, apertando a sua mão com firmeza. Os olhos de Adan saíram do homem à sua frente, vindo diretamente até os meus. Era como se ele soubesse exatamente para onde olhar. As minhas mãos estavam frias. Sentia-me nervosa e ainda mais ansiosa. Ele sorriu e andou na minha direção.
— Seja bem-vindo à Washington Times, senhor presidente. — Estendi a minha mão.
Ele a pegou com cuidado e acariciou o dorso com o seu polegar, causando um arrepio no meu braço.
— Obrigado, srta. Heller.
— É a primeira vez que o presidente deixa a Casa Branca para vir até aqui ser fotografado.
— Já devia saber que gosto do arriscado — falou baixo.
Sorri recordando do nosso jantar.
— Venha. Vou levá-lo até o andar de cima, onde temos uma sala preparada para a sessão fotográfica. Por aqui.
Tomei à frente e o guiei até o elevador. Os seus homens nos colocaram no fundo, e se posicionaram à frente.
— Como foi sua semana? — perguntou.
— Transcorreu tudo muito bem. E pelo que li em alguns lugares, a sua também foi produtiva.
Ele sorriu abertamente.
— Tem lido sobre mim, srta. Heller?
— Faz parte do meu trabalho me manter informada sobre a política do meu país.
Ele riu.
As portas do elevador se abriram e os seus seguranças nos deram passagem. Andamos pelas baias e ele acenou e cumprimentou algumas pessoas pelo caminho. Entramos na última sala aos fundos.
— Lucca? — chamei pelo fotógrafo que estava de costas para nós. Assim que ele se virou, os seus olhos se arregalaram e a sua boca se abriu em surpresa.
— Senhor p-presidente... — gaguejou.
— Este é Lucca Fernandes. Nosso fotógrafo.
— Muito prazer, rapaz. — Adan apertou a mão de Lucca, que sorria como bobo.
— Não sabe o enorme prazer que é fotografá-lo, senhor. Será algo rápido, prometo. Não vamos tomar muito do seu tempo. Eu gostaria que soubesse que votei no senhor.
Adan riu.
— Obrigado.
— Podemos começar, Lucca? — perguntei.
— Claro. Por favor, venham.
O fundo sóbrio dava destaque ao belo homem de pé à sua frente. Ao canto, atrás dele, a bandeira da nação americana estava estiada junto a do estado de Washington. Adan tinha um olhar penetrante que transmitia total confiança e seriedade. Eu apenas o admirava de pé, no cantinho. Não poderia haver hora mais errada, mas eu estava excitada.
A sessão de fotos não durou muito. Foi tudo muito rápido. Trinta e cinco minutos depois havia acabado. Após um ligeiro b**e-papo com Lucca e o agradecer pelo serviço, Adan caminhou até mim com um pequeno sorriso no canto dos lábios.
— Então... como me saí?
— Foi ótimo, senhor presidente. Venha. Vamos voltar para o andar de baixo. O meu editor quer trocar algumas palavras com o senhor.
— A minha secretária disse que a entrevista está incrível. Estou ansioso para ler.
Foi inevitável sorrir. Eu estava orgulhosa de mim mesma.
— Também estou ansiosa pela publicação.
— Almoce comigo hoje.
O seu convite pegou-me completamente desprevenida.
— Desculpe. Não posso.
— E por que não? — perguntou desapontado.
— Já tenho compromisso. Mas agradeço, senhor.
O que esse homem tem na cabeça? Imagina o que a mídia faria com ele se fosse visto almoçando comigo. E pior era que, no fundo, eu adoraria. Porém, sabia que não devia.
Voltamos para o andar de baixo e logo o meu editor veio nos encontrar.
— Senhor presidente... Me dê cinco minutos do seu tempo? Prometo ser rápido.
— Cinco minutos são seus. — Adan sorriu, simpático.
— Bom... — chamei a sua atenção. — Foi bom revê-lo, senhor. Avisarei para a sua secretária a data da publicação, assim que ela for definida. Isso não deve demorar.
Estendi a minha mão para ele. Adan hesitou por alguns segundos. Quando a apanhou, levou até os seus lábios e beijou as primeiras falanges dos meus dedos. Aquilo estremeceu as minhas mãos.
— Até mais, srta. Heller.
Os seus olhos tão intensos que me encaravam fixamente, desceram sem pressa para os meus lábios. Adan engoliu em seco. Acho que eu não era a única afetada com a nossa proximidade.
— Com licença.
Retirei-me voltando para a minha sala. O meu corpo estava quente. Por que Adan me afetava tanto? Eu tinha vontade de tirar a roupa para aquele homem.
Antes de entrar na minha sala, olhei por cima do ombro e o observei ser conduzido por Ezra. Entrei, e Sarah veio logo atrás com um sorrisinho bobo. Ela era uma colega de trabalho legal. Meio maluca, mas uma boa pessoa e engraçada.
— O que houve?
— O presidente beijou a sua mão — disse baixo, tentando conter a sua euforia.
Fechei a porta.
— Diz aí... Entrevistá-lo não deixou você de calcinha molhada? — Sentou-se na cadeira à minha frente.
“Ah, Sarah... Você não imagina como esse homem me afeta.”
— Não. Eu sou bastante profissional no que faço — respondi séria, sentando-me à mesa.
— Dizem as más-línguas que ele e a mulher vivem um casamento de aparência. Já notou como são frios um com o outro em público? Não acho que seja apenas conservadorismo. Essa relação me cheira a conveniência.
Sim, eu já havia notado. Era bem nítido para quem quisesse ver que não havia mais paixão entre eles. Era ainda mais nítido no seu olhar quando direcionado para mim. Um homem apaixonado por sua mulher, não convidaria outra para jantar ou almoçar.
— Deve ser infeliz levar uma vida assim.
De longe avistei Theo chegar. Como sempre, ele estava muito bonito. Terno de alta costura, alto, forte e olhar faceiro. Apanhei a minha bolsa e o celular, e deixei a minha sala caminhando na sua direção. Aos cantos se ouvia sussurros e risadinhas assanhadas. O maldito poderia ser sósia do cineasta Michael B. Jordan. Meu amigo-irmão era um homem lindo!
— Olha só para você... Está muito linda! — Sorriu.
— Você também não está nada mal — disse feliz em vê-lo, e o abracei apertado. — Como você está?
— Bem. — Soltou-me e encarou algo atrás de mim. — Uau! Aquele é o presidente? — perguntou incrédulo. Olhei para trás e vi Adan nos observar de dentro da sala do Ezra. — Isso explica todo o processo cauteloso para subir até aqui. Já estava quase te ligando para me encontrar lá embaixo. — Por que ele está aqui?
— Veio fazer as fotos para a capa da revista.
— Ansiosa?
— Bastante. Mas ainda não tem data de publicação. Vamos? Estou faminta.
Ele assentiu e abraçou a minha cintura. Juntos, caminhamos em direção ao elevador.
AdanQuem era ele? Os dois pareciam íntimos. Seria seu namorado? Isso me causava um sentimento estranho. O modo como ele abraçou o seu corpo... senti inveja! Por que não poderia ser eu?O homem à minha frente não parava de falar nem por um segundo. Eu já nem sabia mais qual era o assunto daquela conversa.— Me fale sobre Dianne — interrompi-o, assim que a vi sair.O cara parecia um astro da NBA, tinha pinta de estrela. Será que era por homens assim que ela se atraía, jovens e cheios de glamour?— Bom... Ela é um prodígio. Foi indicada pela faculdade para o estágio. Em poucos anos evoluiu e conquistou o seu espaço com muito respeito nesta revista.— Gosto dela.O homem riu.— Sim, todos aqui adoram Dianne. Ela é uma pessoa incomum, mas de um jeito...— Extraordinário — completei a sua frase.Enquanto sentia graça por sua inteligência e profissionalismo, eu achava aquele lugar pequeno demais para ela, embora a Washington Times fosse uma grande revista. E pensar nisso me fez lembrar que
AdanFrustrado, segui para a minha habitação naquele grande labirinto branco. Na cozinha, após um banho, preparava um sanduíche.— Ainda acordado. Algum problema? — perguntou Estela.— Não. Só estava com fome. Tratar de negócios durante o jantar não nos deixa comer direito. E você? O que faz acordada?— Estava lendo um livro. Quer que eu faça um suco?Olhei-a surpreso. Há muito tempo não se oferecia para fazer algo para mim.— Sim, por favor.Enquanto ela espremia as laranjas, terminei o meu sanduíche e sentei-me do outro lado da ilha.— O Baile Beneficente é em algumas semanas. Já escolheu qual instituição irá beneficiar? — Colocou gelo dentro do copo à minha frente.— Ainda não. — Mordi o sanduíche.— Estou sentindo algo diferente em você. Os seus ombros não estão mais caídos.“Diferente? O que estaria diferente em mim?”— E o que seria?— Não sei dizer. — Sorriu. — Vou me deitar. Boa noite, Adan.— Boa noite, Estela.Ela se foi e eu me perguntei novamente o que estaria diferente em
AdanEla me encarava com um olhar surpreso e a boca entreaberta, incrédula. Levantei e me sentei ao seu lado, bem perto. O seu perfume era tão intenso e suave ao mesmo tempo.— Está mesmo me fazendo este convite? — Assenti. — Isso é... É incrível, Adan — disse quase sem ar, sorrindo. Os seus olhos brilhavam, ela estava feliz. Senti vontade de abraçá-la. — Espero ser capaz deste trabalho.— Estive lendo os seus trabalhos. Você é plenamente capaz, querida.Gosto da ideia de ter você por perto desenvolvendo de forma sensata as notícias que sairão daqui.— Estou surpresa, mas contente. É uma mudança que não esperava.— Precisa de tempo para pensar?Ela pareceu pensar por alguns segundos, mas negou em um gesto com a cabeça.— Ótimo. — Ri aliviado. Por míseros segundos tive medo dela dizer que sim, que precisaria pensar melhor. — Quando pode começar?— Preciso terminar alguns trabalhos, mas posso estar aqui na próxima semana.— Gostaria de poder ter uma sala somente para seu uso, mas como n
DianneNa quinta, cheguei as oito e meia no trabalho. Ao sair do elevador, os meus colegas me aplaudiram de pé. Aquela com certeza seria a reportagem do ano. A Washington Times, apesar de ser uma revista grande e conceituada, nunca na sua história de trinta e oito anos havia conseguido uma exclusiva com um presidente recém-eleito. Ainda mais sendo ele um homem que havia marcado a nação com a sua campanha, trajetória política e uma porcentagem de votos tão alta.Adan Bremner era tão querido pelos americanos, quanto Obama foi. E por isso eu esperava que a minha matéria fizesse dele um governante ainda mais amado pelo seu povo. Todos acreditavam nele. Eu acreditava.— Obrigada, pessoal — agradeci emocionada. Sentiria falta de estar no meio daquela equipe formada por mais de vinte pessoas.— Você recebeu flores, coloquei na sua mesa — disse Sarah, acompanhando-me.Quando entrei na sala, a mesa estava repleta de flores e o ambiente cheirava a jardim. Um buquê de tulipas amarelas havia sido
DianneNa segunda-feira, eu cheguei bem cedo no trabalho. Não conseguia me acalmar, mesmo após duas xícaras de chá de camomila e limão. Esperava há vinte minutos pelo assistente da secretária do presidente, no saguão da grande Casa Branca.— Senhorita Heller...— Sim.— Desculpe a demora. Sou Karl Gardin.— É um prazer, Karl.Apertamos as mãos.— Seja bem-vinda à Casa Branca. Venha comigo. Eu mesmo irei lhe levar até o local onde irá trabalhar. O presidente gostaria de estar aqui para lhe dar as boas-vindas, mas ele tinha os seus compromissos no Capitólio esta manhã.— Tudo bem.— Ele realmente gostou de você. Todos aqui estão falando sobre a sua chegada. Eu li a sua matéria. Ficou ótima. — Sorriu para mim.Karl era um homem bonito. Devia ter a minha idade, talvez um ou dois anos a mais. Magro, bem alto, loiro e olhos azuis. Alguém com quem eu, com certeza, sairia para tomar alguns drinques, mas não para sexo. Sem chance!— Me sinto lisonjeada. Obrigada.— Esta é a sala da associação.
DianneDianne— Senhor presidente... Como foi a manhã? — perguntou Karl tentando ser gentil, ou puxar o saco do homem. Ainda estava na dúvida.— Olá, Karl. Foi produtiva. Obrigado por apresentar o lugar para Dianne, mas eu assumo a partir daqui. Pode ir.Karl olhou para mim e depois assentiu para Adan com um sorriso sem graça, seguindo para fora.— Olá, querida.A minha calcinha umedeceu ao ouvi-lo me chamar assim novamente.— Boa tarde, senhor presidente. — As palavras saíram baixas.Ele se aproximou.— Como foi a manhã do seu primeiro dia?— As coisas aqui são um pouco loucas e tudo acontece muito rápido, mas gostei do agito. — Sorri.— Queria eu poder ter te levado para esse tour, mas o menino chegou na frente.— Ele só quis ser gentil.— Ele é um bom rapaz. Mas tenho certeza de que o tour não foi completo. Os funcionários têm acesso restrito, mas o meu acesso é ilimitado — gabou-se de forma humorada.— Claro, eu acredito. Afinal, você é o presidente.Ele riu.— Posso fazer isso ag
DianneAo chegar na sala, aquele lugar já estava abarrotado de gente.“Como essas pessoas chegaram aqui tão rápido?”Alguns minutos depois, o meu celular vibrou nas minhas mãos. Era uma mensagem da Sarah com o link da publicação feito há três minutos no site da Washington Times. Havia ficado ótimo. Ela revelou a novidade e fez um rápido e específico resumo sobre a instituição escolhida.— Oi, Dianne.Olhei para o lado e lá estava um ex-colega de faculdade, que também fazia parte da associação. Eu havia imaginado que ele não tinha me reconhecido, já que em momento algum veio falar comigo. Na verdade, ninguém ainda havia vindo cumprimentar ou só apenas ser curioso. Todos naquela sala se comportavam como concorrência. Era quase zero o nível de socialização entre as pessoas ali.— Travis... — disse em cumprimento.— Gostando do trabalho novo?— Sim, obrigada por perguntar.— Foi mal não ter ido falar com você ainda, eu ando muito ocupado.“Sério? Você está sentado três mesas à minha esquer
AdanAquela mensagem doeu. Eu sentia coisas mais fortes do que atração sexual por ela. Sentia que era Dianne quem podia me fazer feliz outra vez. E estava a perdendo antes mesmo de tê-la. Isso era trágico. Por mais difícil que fosse, eu precisava respeitá-la. Iria tentar ao máximo manter-me longe, mas suspeitava que não teria forças para isso. Era péssimo!Quando a vi conversar com Estela, percebi no seu olhar o desconforto. Dianne precisava saber que os nossos sentimentos não estavam destruindo nenhum lar ou quebrando corações. O peso que carregava devia ser horrivelmente sufocante.À noite, quando quase todos haviam ido embora, resolvi ir até a sala da associação. Se eu tivesse muita sorte, ela ainda estaria lá, e sozinha. E se não estivesse, eu conseguia ir até a sua casa.Ao me aproximar da porta, Dianne estava de pé ao lado da mesa. Ela preparava-se para ir embora. Entrei e cuidadosamente olhei para todos os lados. Não havia ninguém além de nós ali.— Me esperem aqui fora — disse