Adan
Durante o trajeto matei o tempo com perguntas banais sobre o seu trabalho, como: o processo de publicação de uma matéria e como era decidido o que iria estampar primeira capa, ou não.
Quando chegamos, os carros entraram na garagem subterrânea do prédio de três andares. Aguardamos alguns minutos. Quando os meus seguranças liberaram a nossa saída, descemos tomando um elevador direto para o último andar, o qual abrigava uma sala feita para recepcionar pequenos eventos.
Quando as portas douradas se abriram, saímos para a área que comportava tranquilamente cem pessoas. Eu já havia estado ali semanas atrás, quando recebi alguns amigos políticos.
— Uau... — murmurou observando o lugar bem decorado e iluminado. Apesar de pequeno, tudo ali inspirava luxo.
Apenas uma mesa ao centro estava posta com dois lugares. Pedi que George intermediasse a entrega da comida e os pedidos. Não queria que ninguém, nem mesmo o chef de cozinha daquele lugar incrível, fosse até ali. Primeiramente, não queria olhares curiosos e cheios de julgamentos por estar comendo com uma mulher que não era a primeira-dama. E depois, não gostaria de ser interrompido.
— Venha. — Atrevi-me completamente ao apanhar a sua mão para entrelaçar os nossos braços.
Após nos acomodar à mesa, peguei a garrafa de vinho que nos aguardava e servi duas taças. Com a permissão de Dianne, fiz os nossos pedidos.
— Então... Disse que eu não era o primeiro presidente que entrevistou, mas posso afirmar que sou o primeiro que lhe traz para jantar.
— Com toda certeza, sim! — Riu baixo. — Mas me diga, senhor presidente...
— Por favor... — interrompi-a sutilmente. — Não estamos na Casa Branca e muito menos em uma entrevista formal. Me chame pelo meu primeiro nome. Adan! — fui incisivo.
— Certo... Adan. — Sorriu. — Por que me convidou para jantar? Não havia muito mais para estender na nossa entrevista. Ser visto comigo traria ruínas para sua imagem. O que a primeira-dama pode achar disso? — Senti preocupação na sua última pergunta.
— Quantas perguntas. — Ri. — Você é uma pessoa agradável. E há muito tempo não janto em boa companhia.
Dianne levou a taça até a sua boca e tomou um generoso gole do vinho.
— E quanto a minha esposa... Já disse, ela está em outro compromisso.
— Acredito que existam companhias mais importantes que a minha.
— Mas não mais agradável e tão bela.
— Okay. — A palavra foi quase sussurrada.
— Me fale sobre você.
— Não tem muito o que ser dito sobre mim.
— Mas é claro que tem. Todos temos uma história.
— Tenho vinte e sete anos. Moro sozinha. Trabalho na Washington Times desde que me formei aos vinte e um.
— Onde se formou?
— Georgetown.
— Também me formei lá.
— Eu sei. — Sorriu.
— Os seus pais devem ter orgulho de você.
O seu sorriso desapareceu.
— Tenho certeza de que sim, onde quer que eles estejam. — Tomou mais um gole do vinho.
A sua expressão era triste. Então, entendi que eles já não estavam mais vivos neste plano.
— Sinto muito.
— Não, tudo bem. Já faz muito tempo. Eu tinha oito anos quando aconteceu. Mas, por sorte, tenho uma pessoa incrível na minha vida. O meu padrinho foi quem me criou. É ele quem ostenta todo esse orgulho por aí. — Riu. — Ele se tornou a minha família. E os seus filhos são os irmãos que nunca tive.
Os seus olhos brilharam ao falar deles. Uma coisa eu já sabia termos em comum: a dor do luto.
Dali em diante o jantar fluiu de maneira esplêndida. Estava leve como não me sentia há anos. Depois da terceira taça de vinho, já ríamos bastante. Ela fez algumas perguntas sobre como havia sido minha passagem de governador para presidente.
O resto da noite foi preenchido com assuntos tolos, mas reconfortantes, como: filmes, documentários, teatro e livros, me levando a descobrir que ela escrevia ficção no tempo livre.
— Então estou diante de uma linda escritora.
— Eu não sou escritora. Para ser um escritor, você precisa ter a sua história lida por alguém, e os meus livros não passam de arquivos no computador e rabiscos em folhas velhas pelas gavetas da casa.
— O que você escreve?
— Mistério, drama policial... Essas coisas.
— Gostaria de ler algo seu.
Ela riu.
— Não. Não gostaria.
— Do que tem medo, Dianne? Tenho certeza de que, se expusesse o seu trabalho para o mundo, muitas pessoas o comprariam.
Encarou-me.
— Não sei do que tenho medo — foi sincera. — Mas é aterrorizante imaginar alguém lendo algo meu.
Após mais uma taça, pedimos a sobremesa. Satisfeitos, nos levantamos e seguimos de volta até o elevador. No subsolo, o carro já estava a postos esperando por nós.
O caminho até a sua casa foi feito em um silêncio confortável, enquanto ela digitava no celular. Dez minutos depois estacionamos próximo ao meio-fio. Seth abriu a porta e desci mesmo sob o seu olhar de protesto. Estendi a minha mão para Dianne e ajudei-a sair.
— Nos dê mais espaço, Seth. — O homem estava a trinta centímetros de distância. Ele se afastou em dois passos e assim me senti um pouco confortável.
— Obrigada pelo jantar. Foi uma noite muito agradável. Vou criar uma introdução na reportagem falando um pouco sobre quem é Adan Bremner. As pessoas gostam disso. Sentir simpatia pelo presidente é algo bom.
— Isso parece ótimo. — Dei um passo para mais perto do seu corpo. Como queria terminar a noite com um beijo seu. Agora sem batom, os seus lábios eram extremamente convidativos. — Boa noite, Dianne.
Com a mão esquerda na sua cintura, me inclinei e beijei o seu rosto. Um beijo suave, apreciando o toque da sua pele na minha boca. Ela prendeu a respiração, surpresa. Quando me distanciei, sorri e caminhei de volta para o carro. Antes que eu me acomodasse no banco, ela destrancou a porta e entrou na sua casa.
Ao sentar-me, senti uma pequena pressão dentro da calça. Olhei para baixo observando a minha excitação.
DianneAcordei com o despertador às seis. Depois daquele jantar, demorei horas para dormir. Era surreal. Eu havia jantado com o presidente dos Estados Unidos. Parecia cena de um livro clichê de romance.Ainda podia sentir o seu perfume tão bom e o toque dos seus lábios na minha bochecha. Seria insano dizer que senti atração por aquele homem? Adan era um pouco mais alto do que imaginava, devia ter um pouco menos de um metro e oitenta. Noventa quilos, eu diria. Os seus cabelos pretos eram marcados nas têmporas por alguns fios brancos que começavam a surgir e por uma mecha grisalha acima da testa, no lado esquerdo. Aquilo era um charme imenso que o marcava desde jovem. Os seus fios pareciam tão sedosos, senti vontade de tocar. Os seus olhos castanhos com um leve toque acobreado me cativaram assim que os nossos olhares de encontraram.Percebi a minha calcinha umedecer. Levei a minha mão entre as minhas pernas e senti o quanto estava excitada só de pensar nele. Sem dúvida, aquele homem hav
DiannePassei toda a manhã seguinte com borboletas no estômago. Havia demorado mais que o normal para escolher a roupa para o trabalho. Nos lábios, um raro batom vermelho. No corpo, um vestido preto de mangas cavadas, justo e de comprimento até os joelhos. Um pequeno decote nos seios chamava a atenção discretamente.Os cabelos, que normalmente ficavam presos, estavam soltos e lisos. Eu estava muito ansiosa para vê-lo de novo. Olhando o meu reflexo no espelho, sorri aceitando que estava caprichando tanto no visual somente para atrair o olhar tão intenso do presidente.Alguns minutos depois das onze, uma movimentação do lado de fora da minha sala chamou a minha atenção. As pessoas estavam todas paralisadas e de pé. Ele havia chegado, sem dúvidas.Ao sair, logo o vi cercado por seus seguranças. Ele cumprimentava o meu editor-chefe, apertando a sua mão com firmeza. Os olhos de Adan saíram do homem à sua frente, vindo diretamente até os meus. Era como se ele soubesse exatamente para onde o
AdanQuem era ele? Os dois pareciam íntimos. Seria seu namorado? Isso me causava um sentimento estranho. O modo como ele abraçou o seu corpo... senti inveja! Por que não poderia ser eu?O homem à minha frente não parava de falar nem por um segundo. Eu já nem sabia mais qual era o assunto daquela conversa.— Me fale sobre Dianne — interrompi-o, assim que a vi sair.O cara parecia um astro da NBA, tinha pinta de estrela. Será que era por homens assim que ela se atraía, jovens e cheios de glamour?— Bom... Ela é um prodígio. Foi indicada pela faculdade para o estágio. Em poucos anos evoluiu e conquistou o seu espaço com muito respeito nesta revista.— Gosto dela.O homem riu.— Sim, todos aqui adoram Dianne. Ela é uma pessoa incomum, mas de um jeito...— Extraordinário — completei a sua frase.Enquanto sentia graça por sua inteligência e profissionalismo, eu achava aquele lugar pequeno demais para ela, embora a Washington Times fosse uma grande revista. E pensar nisso me fez lembrar que
AdanFrustrado, segui para a minha habitação naquele grande labirinto branco. Na cozinha, após um banho, preparava um sanduíche.— Ainda acordado. Algum problema? — perguntou Estela.— Não. Só estava com fome. Tratar de negócios durante o jantar não nos deixa comer direito. E você? O que faz acordada?— Estava lendo um livro. Quer que eu faça um suco?Olhei-a surpreso. Há muito tempo não se oferecia para fazer algo para mim.— Sim, por favor.Enquanto ela espremia as laranjas, terminei o meu sanduíche e sentei-me do outro lado da ilha.— O Baile Beneficente é em algumas semanas. Já escolheu qual instituição irá beneficiar? — Colocou gelo dentro do copo à minha frente.— Ainda não. — Mordi o sanduíche.— Estou sentindo algo diferente em você. Os seus ombros não estão mais caídos.“Diferente? O que estaria diferente em mim?”— E o que seria?— Não sei dizer. — Sorriu. — Vou me deitar. Boa noite, Adan.— Boa noite, Estela.Ela se foi e eu me perguntei novamente o que estaria diferente em
AdanEla me encarava com um olhar surpreso e a boca entreaberta, incrédula. Levantei e me sentei ao seu lado, bem perto. O seu perfume era tão intenso e suave ao mesmo tempo.— Está mesmo me fazendo este convite? — Assenti. — Isso é... É incrível, Adan — disse quase sem ar, sorrindo. Os seus olhos brilhavam, ela estava feliz. Senti vontade de abraçá-la. — Espero ser capaz deste trabalho.— Estive lendo os seus trabalhos. Você é plenamente capaz, querida.Gosto da ideia de ter você por perto desenvolvendo de forma sensata as notícias que sairão daqui.— Estou surpresa, mas contente. É uma mudança que não esperava.— Precisa de tempo para pensar?Ela pareceu pensar por alguns segundos, mas negou em um gesto com a cabeça.— Ótimo. — Ri aliviado. Por míseros segundos tive medo dela dizer que sim, que precisaria pensar melhor. — Quando pode começar?— Preciso terminar alguns trabalhos, mas posso estar aqui na próxima semana.— Gostaria de poder ter uma sala somente para seu uso, mas como n
DianneNa quinta, cheguei as oito e meia no trabalho. Ao sair do elevador, os meus colegas me aplaudiram de pé. Aquela com certeza seria a reportagem do ano. A Washington Times, apesar de ser uma revista grande e conceituada, nunca na sua história de trinta e oito anos havia conseguido uma exclusiva com um presidente recém-eleito. Ainda mais sendo ele um homem que havia marcado a nação com a sua campanha, trajetória política e uma porcentagem de votos tão alta.Adan Bremner era tão querido pelos americanos, quanto Obama foi. E por isso eu esperava que a minha matéria fizesse dele um governante ainda mais amado pelo seu povo. Todos acreditavam nele. Eu acreditava.— Obrigada, pessoal — agradeci emocionada. Sentiria falta de estar no meio daquela equipe formada por mais de vinte pessoas.— Você recebeu flores, coloquei na sua mesa — disse Sarah, acompanhando-me.Quando entrei na sala, a mesa estava repleta de flores e o ambiente cheirava a jardim. Um buquê de tulipas amarelas havia sido
DianneNa segunda-feira, eu cheguei bem cedo no trabalho. Não conseguia me acalmar, mesmo após duas xícaras de chá de camomila e limão. Esperava há vinte minutos pelo assistente da secretária do presidente, no saguão da grande Casa Branca.— Senhorita Heller...— Sim.— Desculpe a demora. Sou Karl Gardin.— É um prazer, Karl.Apertamos as mãos.— Seja bem-vinda à Casa Branca. Venha comigo. Eu mesmo irei lhe levar até o local onde irá trabalhar. O presidente gostaria de estar aqui para lhe dar as boas-vindas, mas ele tinha os seus compromissos no Capitólio esta manhã.— Tudo bem.— Ele realmente gostou de você. Todos aqui estão falando sobre a sua chegada. Eu li a sua matéria. Ficou ótima. — Sorriu para mim.Karl era um homem bonito. Devia ter a minha idade, talvez um ou dois anos a mais. Magro, bem alto, loiro e olhos azuis. Alguém com quem eu, com certeza, sairia para tomar alguns drinques, mas não para sexo. Sem chance!— Me sinto lisonjeada. Obrigada.— Esta é a sala da associação.
DianneDianne— Senhor presidente... Como foi a manhã? — perguntou Karl tentando ser gentil, ou puxar o saco do homem. Ainda estava na dúvida.— Olá, Karl. Foi produtiva. Obrigado por apresentar o lugar para Dianne, mas eu assumo a partir daqui. Pode ir.Karl olhou para mim e depois assentiu para Adan com um sorriso sem graça, seguindo para fora.— Olá, querida.A minha calcinha umedeceu ao ouvi-lo me chamar assim novamente.— Boa tarde, senhor presidente. — As palavras saíram baixas.Ele se aproximou.— Como foi a manhã do seu primeiro dia?— As coisas aqui são um pouco loucas e tudo acontece muito rápido, mas gostei do agito. — Sorri.— Queria eu poder ter te levado para esse tour, mas o menino chegou na frente.— Ele só quis ser gentil.— Ele é um bom rapaz. Mas tenho certeza de que o tour não foi completo. Os funcionários têm acesso restrito, mas o meu acesso é ilimitado — gabou-se de forma humorada.— Claro, eu acredito. Afinal, você é o presidente.Ele riu.— Posso fazer isso ag