Capítulo 3

Maya

Ao passar pela porta da frente da casa do meu pai, escutei risadas vindo da sala de jantar. Tirei o casaco e o deixei sobre o encosto do sofá, junto da bolsa. Caminhei em direção a eles e parei no batente da porta, observando minhas filhas interagirem com os avós. Sempre que presencio esses momentos, penso em como minha mãe adoraria tudo isso se estivesse aqui. As netas a amariam incondicionalmente, assim como eu a amei.

Os olhos do meu pai se ergueram, encontrando os meus.

— Maya... Não ouvimos você chegar.

— Oi, mamãe — cumprimentaram as gêmeas, em uníssono.

— Oi, meninas.

— Venha, Maya. Seu lugar já está à mesa — disse Clear.

Aproximei-me deles e sentei ao lado de Louise.

— A vovó Clear fez uma torta de espinafre com ricota. Está muito boa. Experimente um pedaço. — Louise cortou uma enorme fatia e serviu em meu prato.

— Obrigada, meu amor.

— Também tem suco de cenoura com laranja — falou Mary, servindo um copo para mim e o colocando à minha frente.

— Obrigada, querida.

— De nada, mamãe.

— Meninas, contem para a mamãe sobre o nosso projeto — disse meu pai.

— O vovô vai fazer uma casa na árvore — explicou Mary.

— Isso. E vai ser rosa — completou Louise.

— E quando essa construção vai acontecer?

— No verão. Pensei que as meninas poderiam vir ficar aqui durante as férias.

— Claro. Elas podem.

— Você não está comendo. Coma a torta, mamãe! — Louise pegou o garfo da minha mão e cortou um pedaço, levando-o até a minha boca. — Não está gostosa, querida? — Sorriu para mim, estreitando os olhos verdes-acinzentados. Ela é exatamente como Victor, e não estou me referindo às manias e à cor dos olhos. Estou falando do seu espírito. Autoritária e impaciente, mas sempre amorosa.

— Está uma delícia.

Um belo sorriso se abriu, exibindo os seus dentes da frente, que cresciam um pouco tortos após a troca.

Todos jantamos e depois comemos torta de maçã na sobremesa, enquanto as meninas tagarelavam sobre o dia na escola e tarde com o avô. Quando elas subiram para pegar os seus pertences, caminhei até a lareira da sala e me servi de uma dose de uísque.

— Dia difícil? — perguntou meu pai, sentando-se no sofá atrás de mim.

— Apenas cansativo. Aceita? — ofereci-lhe uma dose, que ele negou com a cabeça.

Sentei-me na poltrona ao seu lado e dei um gole na bebida.

— Poderíamos jantar aqui neste final de semana. Convide o Isaac. Estou a fim de fazer um churrasco.

Passei as mãos no cabelo, jogando-o para trás, e respirei fundo antes de dar outro gole.

— Isaac e eu não estamos mais juntos.

— Por quê? — perguntou surpreso.

— Porque eu não o amo como deveria amar para passar o resto da minha vida com ele. Falta algo. — Limitei-me a dizer. Meu pai não precisa, de fato, saber o que me falta.

— Esse algo que falta nele... é algo que vai encontrar em outro cara? Ou algo que tinha no Victor e que você quer de toda maneira encontrar em outro alguém? Porque se for isso que espera para finalmente se sentir satisfeita em um relacionamento, talvez nunca aconteça.

Ele pegou o copo da minha mão e deu um gole na bebida, devolvendo-o quase vazio.

— Eu sei que não dá para substituir. E mesmo se desse, não faria. Tudo o que vivi com o Victor... não vou conseguir viver com outra pessoa. Até porque já não sou mais a mesma mulher. Mas acredito que o que procuro posso encontrar em outro homem, só não no Isaac. — Esvaziei o restante do uísque e me levantei, colocando o copo sobre a lareira, em uma bandeja.

Mary e Louise desceram com suas mochilas. Elas se despediram dos avós e depois entraram no carro. Em silêncio, seguimos para casa. Ao abrir a porta, a escuridão nos recebeu com melancolia. Mesmo quase seis anos depois, ainda é difícil lidar com esse vazio. Já não é mais tão grande, mas não menos doloroso.

— Vocês já tomaram banho no vovô?

— Sim — respondeu Mary.

— Então têm dez minutos para estarem na cama. Eu já vou ver vocês.

— A gente pode ver um pouquinho de TV? — pediu Louise.

— Já são oito horas. O relógio já badalou para as princesinhas de dez anos. Já para a cama!

Resmungando, elas subiram para o segundo piso. Guardei as mochilas, tirei a roupa da secadora e coloquei outras na máquina de lavar. Nem mesmo depois da morte do Victor, eu sentia a necessidade de ter empregados todos os dias. Antes, as meninas tinham uma babá, mas meu pai, desde a sua aposentadoria, faz questão de cuidar delas depois da escola. E eu tinha a Jane, ela me ajuda com a limpeza uma vez por semana, e uma empresa terceirizada cuida do jardim e da piscina mensalmente. Noberto já há muitos anos é apenas amigo da família e não mais o nosso motorista. Ele também havia se aposentado.

Quando subi, encontrei as meninas se deitando. Verifiquei se as janelas estavam fechadas e acendi o abajur. Louise sempre revirava os olhos quando eu acendia aquele cogumelo gigante. Ela achava muito bobo a irmã ainda ter medo do escuro. Às vezes a zoava por isso. Mas a psicóloga disse que é algo que Mary lidaria normalmente e sozinha. Isso surgiu após o falecimento do Victor.

— Boa noite, meninas. — Cobri uma e depois a outra. — Escovaram os dentes?

— Sim — responderam juntas.

— Eu amo muito vocês. — Beijei a testa da Louise e depois de Mary, que agarrou a minha mão quando tentei me afastar.

— Pode ficar um pouquinho aqui? — pediu.

Assenti, sentando-me na beirada da sua cama.

— Você salvou vidas hoje? — perguntou Louise.

— Eu ressuscitei um homem hoje. — Elas me olharam impressionadas.

— Como? — A curiosidade chegou em uníssono.

— Fazendo massagem cardíaca.

— Posso ver isso um dia? — perguntou Mary.

— Se um dia você for médica, sim.

Ela riu.

— Eu tenho sentido saudade de você, mamãe. — Louise estendeu a sua mão para mim. Eu a segurei e sentei-me no chão, entre as camas, encostando-me na de Mary.

— Eu também sinto muita saudade de vocês.

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