GusAbri a porta de casa e logo os meus ouvidos se encheram com a discussão acalorada que acontecia entre Mary e Louise. O motivo do desentendimento era uma saia, a qual pertencia a Mary e Louise a usou sem a sua permissão.Pendurei o casaco no hall de entrada e retirei os sapatos. Passei por elas na sala de estar, sem me intrometer na briga de pré-adolescentes, e caminhei em direção à cozinha, onde Maya cortava legumes sobre a bancada.— Há quanto tempo está rolando essa briga?— Que briga? — ela perguntou, sorrindo.Parei logo atrás dela e repousei a mão na sua cintura, beijando o seu rosto em seguida.— Aquela onde duas garotas de doze anos brigam por uma saia.— Eu não estou ouvindo nem uma briga — falou em um tom humorado.Ri. Às vezes é mais fácil ignorar certas discussões das meninas do que se intrometer nelas. Maya era muito boa em fazer isso.— Okay. Então eu também não ouço nada. — Abracei-a.— Como foi o dia?— Cansativo. Passei as últimas sete horas em cirurgia. Não sinto
GusAssim como já havíamos percebido, Mateo tinha pressa em conhecer o mundo. As sete semanas se resumiram em cinco. As contrações começaram no meio da noite, acompanhadas de um sangramento preocupante, em um dia que eu estava em Portland para um seminário. Carson mandou que o helicóptero do hospital fosse me buscar enquanto Maya era levada por Teddy para o hospital. Quando enfim cheguei, ela já estava no centro cirúrgico. Eu me preparei e entrei. Fiquei todo o tempo ao seu lado. Não houve choro quando o pediatra anunciou que Mateo já havia sido retirado. Maya encarou o teto e apertou com mais força a minha mão, enquanto lágrimas desciam as têmporas.Beijei a sua testa e permaneci com os lábios em sua pele. Fechei os olhos, concentrando-me, e fiz aquilo que aprendi quando ainda era uma criança: rezar por um milagre de Deus.Então, em um instante, nossos ouvidos foram preenchidos por um choro agudo e forte. Maya e eu respiramos imensamente aliviados. Olhei em seus olhos, percebendo a m
MayaSeis anos depois...— Essa é a última mala? — Augustos perguntou para Mary, que assentiu.Ele a ajeitou na traseira do seu carro e fechou o porta-malas.Mary se virou para mim, que estava de pé logo ali, ao lado do carro, e sorriu com tristeza. Ela abraçou-me apertado, beijando o meu rosto.— Você vai ficar bem? — perguntou.— Vou, sim.Afastou-se, me olhando com receio.— Não preciso ir para a faculdade agora, mãe — disse com pesar.Mary estava sentindo muito em ter que me deixar. E eu sentia dor em ter que deixá-la ir. Estava sendo difícil me despedir dela e de Louise, que havia partido para Oxford há uma semana.— De jeito nenhum. — Acariciei a sua face.— Eu te amo — disse ela, abraçando-me outra vez.— Eu te amo, querida.Beijei o seu rosto, e ela se afastou.— A gente cuida dela — disse Mateo, abraçando a irmã pela cintura.— Eu sei que irá.Adrian se aproximou dela. Mary se abaixou à sua frente. O garotinho de três anos estava cabisbaixo. Entre ele e Mateo, ele com certeza
MayaPela janela, eu observava a chuva fina cair sobre o asfalto. Enquanto abotoava minha camisa, olhei as horas no relógio de pulso: quatro da manhã. O céu ainda estava escuro, e boa parte de Seattle dormia, assim como o homem atrás de mim, que se mexeu na cama. Aproximei-me dele e observei-o ressonar. Isaac é bonito e tem um corpo de dar água na boca. Ele é um eterno romântico, daqueles que te ligam no meio do dia só para ouvir a sua voz e te mandam flores sem motivo algum. Também é um grande cavalheiro; abre a porta do carro, puxa a cadeira no restaurante e só se senta depois de você. Um homem dos sonhos de qualquer mulher. Menos do meu, e eu lamento por isso.Eu não conseguia amá-lo, embora tivesse tentado muito. Minhas amigas com certeza me chamarão de estúpida quando eu contar que acabou. Elas jamais entenderiam o que eu preciso em um homem, embora ainda não me sinta verdadeiramente pronta para o que a minha alma submissa necessita. No entanto, não posso mais me enganar com ele,
MayaEntrei novamente no carro e estacionei na próxima vaga livre. Será muito divertido colocar esse babaca em seu devido lugar!— Bom dia, dra. White.— Bom dia, dr. Carson — cumprimentei-o ao descer.— Por que parou aqui? Sua vaga é lá na frente.— O cirurgião plástico que você contratou estacionou a motinha dele na minha vaga.— Eu sinto muito. Vou pedir que ele retire — disse um tanto preocupado.— Não! — Sorri para ele. — Achei que ele tem um ego bem grande, deixe-me murchar isso primeiro.Carson riu.— Não vai fazê-lo pedir demissão como o último fez. Está difícil de achar um bom cirurgião plástico.— Se isso acontecer, prometo que encontrarei um dos melhores. Alguém que não pense que toda mulher trabalhando em um hospital é a enfermeira, como se isso fosse a escória da medicina e exercer essa função fosse desmerecedora para a carreira de alguém.— Por que os plásticos são assim, hein?— Porque alguém em algum momento, em algum lugar o fez acreditar que é Deus.Carson assentiu e
MayaAo passar pela porta da frente da casa do meu pai, escutei risadas vindo da sala de jantar. Tirei o casaco e o deixei sobre o encosto do sofá, junto da bolsa. Caminhei em direção a eles e parei no batente da porta, observando minhas filhas interagirem com os avós. Sempre que presencio esses momentos, penso em como minha mãe adoraria tudo isso se estivesse aqui. As netas a amariam incondicionalmente, assim como eu a amei.Os olhos do meu pai se ergueram, encontrando os meus.— Maya... Não ouvimos você chegar.— Oi, mamãe — cumprimentaram as gêmeas, em uníssono.— Oi, meninas.— Venha, Maya. Seu lugar já está à mesa — disse Clear.Aproximei-me deles e sentei ao lado de Louise.— A vovó Clear fez uma torta de espinafre com ricota. Está muito boa. Experimente um pedaço. — Louise cortou uma enorme fatia e serviu em meu prato.— Obrigada, meu amor.— Também tem suco de cenoura com laranja — falou Mary, servindo um copo para mim e o colocando à minha frente.— Obrigada, querida.— De na
MayaA mão da Mary começou a fazer carinho no meu cabelo, pressionando os dedos levemente enquanto os deslizava pela cabeça.— Por que você não trabalha menos? — ela perguntou.— Porque estou passando pela residência. É uma etapa importante na formação de medicina. Só mais um mês e eu não precisarei mais trabalhar tanto, prometo.— Eu entendo — disse Louise.— Obrigada por serem mocinhas compreensivas.— Você e Isaac terminaram? — perguntou Mary, mudando radicalmente de assunto.— A gente ouviu você falar com o vovô.— Sim, nós terminamos.— Por quê? — questionou Louise.— Às vezes, os namoros não são para sempre.— Que nem o namoro da Ashley — Louise falou para Mary.— Quem é Ashley?— A nossa colega de classe. Ela namorava o Jacob, mas eles terminaram na semana passada — explicou Mary. — Eles achavam que seria para sempre.Essa fofoca me assustou um pouco.— Okay. — Empertiguei a coluna, um pouco tensa. — Vocês estão dizendo que a Ashley, uma menina de dez anos, namorava o Jacob, um
MayaO despertador tocou às quatro da manhã. Levantei e segui para o banheiro. Se eu não amasse tanto a medicina, já teria abandonado essa carreira. O trabalho estava tomando todo o meu tempo com as minhas filhas. Quando foi que as coleguinhas começaram a namorar? Não faz muito tempo e elas estavam vestidas de princesas, calçando pantufas de unicórnio, usando asas enormes e chifres brilhantes na cabeça. Agora elas querem saber quando podem namorar e fofocam sobre o término dos outros.— Se você estivesse aqui, Victor... Surtaria.Vestida, desci para a cozinha. Na cafeteira, o café havia acabado de ficar pronto. Servi um copo térmico para a viagem e vesti o meu casaco. A porta dos fundos foi aberta e meu pai passou por ela.— Bom dia, querida.— Bom dia, pai. — Dei-lhe um beijo no rosto. — Já vou indo. Dê um beijo nelas por mim quando acordarem. E não deixe a Louise te enrolar com o horário. Ela não perdeu os sapatos nem o papel importante para a aula. Elas não podem perder o primeiro t