Por Amor e Prazer
Por Amor e Prazer
Por: Larissa Braz
Capítulo 1

Maya

Pela janela, eu observava a chuva fina cair sobre o asfalto. Enquanto abotoava minha camisa, olhei as horas no relógio de pulso: quatro da manhã. O céu ainda estava escuro, e boa parte de Seattle dormia, assim como o homem atrás de mim, que se mexeu na cama. Aproximei-me dele e observei-o ressonar. Isaac é bonito e tem um corpo de dar água na boca. Ele é um eterno romântico, daqueles que te ligam no meio do dia só para ouvir a sua voz e te mandam flores sem motivo algum. Também é um grande cavalheiro; abre a porta do carro, puxa a cadeira no restaurante e só se senta depois de você. Um homem dos sonhos de qualquer mulher. Menos do meu, e eu lamento por isso.

Eu não conseguia amá-lo, embora tivesse tentado muito. Minhas amigas com certeza me chamarão de estúpida quando eu contar que acabou. Elas jamais entenderiam o que eu preciso em um homem, embora ainda não me sinta verdadeiramente pronta para o que a minha alma submissa necessita. No entanto, não posso mais me enganar com ele, porque isso também é enganá-lo. Eu sei que algum dia estarei pronta para me submeter novamente e ser de alguém, mas ser um Dominador é algo que ele não pode, mesmo se eu implorasse. Não está em sua essência dominar alguém.

Tentei por quase um ano me acostumar a ser uma namorada "normal" em um relacionamento baunilha, mas me senti sufocada e aprisionada dentro do meu próprio corpo e desejos. Não estou feliz. Não me sinto completa. E por isso não posso mais demorar para deixá-lo. Eu preciso partir. Sei que ele sofrerá, porque me ama, mas não posso mais fazer isso. Isaac merece mais do que consigo dar a ele. E eu não mereço ser reprimida por mim mesma.

— Por que não se deita comigo, só mais um pouquinho? — sussurrou ele, sonolento e rouco, abrindo um pouco dos olhos em seguida.

— Preciso estar no hospital em uma hora. — Sentei-me na beirada da cama. Ele segurou minha mão, acariciando meu dorso com seu polegar. Meus olhos se encheram de lágrimas e um doloroso nó se formou na garganta. Apertei levemente sua mão encarando-a fixamente. Senti um pouco de medo em olhá-lo nos olhos.

— Vai me deixar, não é? — perguntou, atraindo meu olhar até o seu. — Há dias sinto que quer ir embora. Existe algo que eu possa fazer para que não vá?

— Não — sussurrei, sentindo lágrimas descerem pelo rosto. Eu não queria chorar, mas não conseguia ter controle.

Isaac soltou minha mão e sentou-se.

— O que falta em mim?

— Não falta nada. Eu sou o problema. Você será perfeito para outra pessoa.

Ele riu com desgosto.

— Quero ser perfeito para você, Maya.

Tocou meu rosto, secando as lágrimas que escorriam lentamente pelas minhas bochechas.

— Acontece que eu não sou como as outras mulheres. Existe uma parte de mim que precisa de mais do que você pode oferecer. Eu desejei muito que essa parte desaparecesse, que fosse embora. Acredite, eu tentei. Mas ela ainda está aqui. Não posso partir minha alma em duas.

Seu olhar era confuso.

— Embora eu não esteja te entendendo, saber que não consigo ser o que a mulher que eu amo precisa, dói.

— Por isso não posso mais ficar. Não quero que se sinta mal quando o problema definitivamente não é você.

Ele assentiu, abaixando a cabeça, triste.

— Eu tenho que ir.

Beijei o topo de seus cabelos e me levantei, indo até a poltrona onde peguei meu casaco e a bolsa. Rapidamente ele se colocou de pé, vindo até mim, parando logo atrás.

— Não vá — suplicou. Suas palavras saíram cheias de dor ao mesmo tempo que suas mãos tocaram meus ombros, os apertando levemente.

Fechei os olhos, respirando fundo.

— Adeus, Isaac.

Não tive coragem de olhá-lo novamente. Apenas saí dali, fechando a porta logo atrás de mim. Desci os degraus vagarosamente, enquanto vestia o casaco. Ao chegar na sala, observei uma última vez o cômodo. Tivemos alguns bons momentos ali. Após ter pago aquela garrafa de vinho para mim há dez meses, viemos para sua casa e aquela foi a primeira vez que transei desde o início do meu luto persistente. Bem ali, naquele sofá amarelo ridículo. Foi bom, mesmo que eu sentisse falta de algo mais. Naquele momento, tive minha carência saciada e seu romantismo me acalentou de maneira que nem sabia estar precisando. Mas agora, acabou.

Abri a porta e senti sua aproximação, descendo a escada em silêncio. Escutei seus passos pararem no último degrau. Acho que, no fundo, ele esperava que eu não fosse e que voltasse atrás com minha decisão. Mas isso não aconteceria. Saí e andei calmamente pela esteira de pedras até meu carro, estacionado em frente à casa. Entrei e recostei-me no banco, sentindo uma pequena sensação de alívio me invadir. E, em seguida, senti-me horrível por isso.

Liguei o motor e segui o caminho para o hospital. Ao entrar no estacionamento, uma moto me ultrapassou em alta velocidade, entrando e estacionando na vaga que era reservada para mim. Freei o carro e encarei aquilo, incrédula. Havia meu nome escrito no chão. Quem é o folgado pilotando a Harley-Davidson, que parou ali como se não tivesse me visto prestes a estacionar naquele lugar?

— Eu não acredito nisso! — disse irritada, parando o carro em frente à vaga e descendo em seguida. — Com licença — chamei sua atenção.

Ele desceu da moto e virou para mim, retirando o capacete em seguida. Nunca o havia visto antes na vida.

— Este estacionamento é para os funcionários do hospital! — Tentei usar um tom educado, embora quisesse muito gritar com ele. Eram quase cinco da manhã, havia dormido apenas seis horas naquela noite, estava sem cafeína e tinha terminado meu namoro quarenta minutos atrás.

— Eu sei. Por isso parei aqui — respondeu, aproximando-se.

— E quem é você? — Já não fui mais tão educada.

Ele é cego, porra?! Meu nome está ali!

— Eu sou o doutor Gutierrez, cirurgião plástico. — Estendeu a mão para mim. — Você é enfermeira aqui?

Estreitei os olhos para ele. Caras como o Gutierrez, principalmente os que são cirurgiões plásticos, tratam enfermeiras como lixo e acham que qualquer mulher dentro do ambiente hospitalar é uma enfermeira, deixando assim claro seu pensamento machista de que mulheres não podem ser médicas e que a enfermagem está sempre abaixo dele, merecendo menos. Mas não aqui, meu caro. Não no meu hospital!

— E se eu for?

Ele recolheu sua mão ignorada por mim.

— Quem sabe terá a chance de instrumentar comigo.

O folgado piscou para mim e saiu andando em direção à entrada principal do hospital.

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