ANDRÉ
Vocês sentem o amor de um pai? Eu nunca consegui sentir, afinal meu pai nunca disse que me amava, um carinho, um abraço eu nunca recebi. Sempre jogou na minha cara que eu não sirvo pra nada além de trazer dinheiro pra ele comprar suas drogas. Todas crianças merecem serem felizes, não acha? Somos inocentes. Tenho oito anos e vejo o mundo como adulto, a maldade que corre a todas crianças e mulheres inocentes. Não tinha ganhado uma grana boa no farol hoje, única que ganhei comprei um pão, a tiazianha teve pena, fez mais barato, eu não tinha resistido, fazia dois dias que não comia nada. Abaixei meu rosto com medo, abrindo aquela porta velha do barraco. Passei meu olhar pelo barraco, parecia um chiqueiro... do canto tinha uma mulher junto ao mru pai, ela estava núa. Luiz: Cadê meu dinheiro?-disse rude, se levantando. - Hoje não teve rendimento, eu não consegui seu dinheiro. Luiz: O que eu falei moleque?O que eu repeti pra tú? Sua desgraça! – aumentou a voz apertando meu pescoço – To esperando a miséria que você ganhar pra comprar bebida – me empurrou com força fazendo eu cair no chão, eu escutei ele sussurrar algo e tirar o cinto – Merece uma surra. Não, eu não gritava, apenas fechei os olhos com forças sentindo os cortes que já estavam abertos ardendo, era uma dor muito estranha. Que eu jamais iria esquecer no resto da minha vida, doi na alma. Ana:Deixa meu filho – escutei a voz da minha mãe baixo, de medo, vindo do outro cômodo. Sempre que meu pai me atacava, ela tentava fazer algo, mas não conseguia. -Sai, puta do caralho – ele me jogou no chão, com brutalidade – To esperando pra fumar e beber, vem sem dinheiro desgraça? Ele puxa meus cabelos me levantando. Luiz: Coloca o dinheiro aí e passa pra lá– encarei seus ohos, seus olhos que tinha uma expressão fria, de maldade. - Eu não consegui nenhuma moeda no farol – Ele abre a porta do barraco me dando vários chutes e me empurrando pra fora. Luiz: Enquanto não conseguir a porra do dinheiro, você não aparece aqui! A chuva ficava mais forte molhando minha roupa, olhei em um lugar de baixo de uma carroça com alguns lixos sendo tampados por uma lona, era único lugar que eu ia conseguir passar a noite. Me sento olhando um cachorro, ele tava com frio, tinha certeza disso.Tirei minha camiseta mesmo molhada o cobrindo devagar, mas ia ajudar ele. Ele era branco, tinha os pelos brancos e bem sujo.Coloquei minha camiseta por baixo dele fazendo ele se encolher e parar de tremer, fiz carinhos em seus pelos. Amanhã seria outro dia, mas com as mesma coisas, a mesma dor. Eu sou obrigado a ir ganhar no dinheiro no sinal, eu apenas queria ser uma criança normal, que não precisa trabalhar pra sustentar o pai viciado, e sim brincar. Eu sentia um sono enorme, mas o frio não deixava eu dormi. (...)6:00. – Moleque.- abri meus olhos aos poucos. – Sai, vai. – Um velho me encarava sério – Leva essa praga de cachorro. Peguei o cachorro no braço saindo dali, fui caminhando até o barraco do Lipe. Ele já estava do lado de fora, deixei o cachorro no chão. – Arruma uma camiseta pra mim Lipe?– Ele assentiu entrando no barraco. Lipe tinha doze anos, ele ia para o farol toda manhã comigo, mas ele tem a mãe dele que o ama de verdade. Minha mãe queria me proteger, mas meu pai não permite isso, ou seja, ela é submetida a ele. – Toma, cara. – ele me entregou uma camiseta rasgada, visto devagar e começo a caminhar com ele. O cachorro me acompanhava a cada passo meu. Lipe: De quem é? – perguntou, andando do meu lado. – Ele estava perdido. – suspirou. Lipe: Toma cuidado com o seu pai.– confirmei. Logo chegamos no sinal, tinha algumas pessoas que já estavam vendendo água, outras limpava os vidros do carro. – Quer o que garoto?-olhei com receio. – Dinheiro senhor, tem um trocado não? – ele riu debochado. – Vai trabalhar, drogadinho!– abaixei o rosto sem falar nada. Todos dias somo alvos dessas palavras, de pessoas ruins que nos fazem mais infeliz. Talvez apenas dizer que não tem um trocado e desejar um ótimo dia já me faria feliz. (...) 18:00 O vidro do carro abaixa e vejo uma mulher me encarar – O que deseja? – me olhou – Um trocado – pedi com receio. – Aqui – ela tira uma nota de vinte reais fazendo eu sorrir, levanto meu olhar analisando uma menina ruiva no banco de trás, ela sorriu largo. Senti meu coração acelerar um pouco, sorri de volta retribuindo. – Obrigada senhora, você é uma ótima pessoa – disse contente. – Senhora não mocinho, sou Angelica e minha filha Amanda. – André.-ela assentiu. – Espero lhe ver novamente. Tenha garra nisso aí– apontou com a cabeça – um dia tú irá sair daí! Lipe: André! – escuto Lipe na calçada que está com o cachorro – Quantos conseguiu? – Vinte e cinco reais, cinquenta centavos. Lipe: Treze e dez – olhamos a padaria e entre olhamos, correndo até lá. Lipe: Quanto está, dona?– apontei pro pão de queijo enorme, recheado de frango. Aquilo chegava a dar água na boca, estava com muita fome. –Cinco reais – ele pediu dois. – Não tem água não, tia?– ela assentiu me entregando dois copos descartáveis. Pegamos o lanche indo direto pra calçada. Não tinha melhor coisa do que matar a fome, como eu sabia oque era uma fome, eu dividia um pouco do meu lanche com o cachorro, até mesmo consegui comprar mais um salgado apenas pra ele.ANDRÉPassei meu olhar pelo cômodo, abrindo a porta devagar, no canto da mesa estava meu pai, ele cheirava um dos seus pinos, quando seu olhar bateu no meu, senti seu olhar furioso, ele deu uma olhada pro cachorro. Pedi mentalmente pra Deus me livrar pelo menos esse dia.Luiz: Tira logo esse nojento daqui!– Bob então saiu pela porta.Suspirei fundo, olhando baixo.Luiz: me dá logo o dinheiro – entreguei o que sobrou dos lanches – Cadê o resto?– Consegui apenas...– ele segurou em meu cabelo me dando um tapa no rosto.Luiz: Seu infeliz! – meu nariz ardeu, indicando choro, porém me segurei naquele momento, apenas uma lágrima solitária desceu em meu rosto.Quando ele deu brecha, eu fui rápido em direção do outro cômodo, afinal, não queria apanhar mais. Encarei minha mãe, sentada no canto do cômodo enquanto encarava tudo a sua volta. Ela tem um depressão profunda, já tentou se suicidar várias vezes, porém nunca conseguiu.Sua depressão é tão forte que ela não consegue fazer nada no dia a
ANDRÉ Abri meus olhos com a claridade, a dor do meu corpo ficou mais forte quando levantei, eu tinha amanhecido no mesmo lugar.Os cortes estavam abertos e o sangue se destacavam pra caralho, como ardia.Levantei com dificuldades, vesti aquelas roupas rasgada, sai do barraco indo direto ao encontro do Lipe.– Eu quero matar meu pai – falei.Lipe: Cara, oque aconteceu?– Meu pai, sempre é ele!Lipe: Porque não sai de lá? Ou sei lá, pô, sei que dói demais ver você dessa maneira.– Como?Lipe: Eu não sei, irmão, mas vamos logo.Passamos o dia todo no farol, tá ligado que era ruim demais enfrentar sol, mas pior mesmo era enfrentar com chuva, os carros mal parava pra nós, nem conseguimos muito dinheiro.Lipe: Tá ligado irmão, um dia seremos cantores e vamos comprar todos brinquedos – sorri com ele, correndo até a padaria, o cheiro do salgado fez meu estômago revirar de fome, porém, eu não tinha dinheiro hoje pra comprar, apenas consegui dois reais.Lipe: Quanto ta?– Quatro reais.Lipe: M
ANDRÉ Levantei meu corpo, sentindo uma dor enorme, não queria sair dali, afinal, estava com meu corpo todo machucado e doendo. Assim que levantei, admirei a cena que meu pai não estava no barraco, pela primeira vez na vida de manhã.Assim que sai do barraco, Lipe já me esperava, fomos mais um dia pro farol. Eu estava sentindo algo em meu peito, uma angústia muito ruim. Papo reto? Fiquei com maior medo e me sentindo humilhado, todo momento eu lembrava do dia anterior, pior sensação.Lipe: Tú está pensativo...– Lipe, vamos tentar fazer mais um dinheiro do dia.Ficamos mais um dia pra rua, a mesma rotina de sempre, porem, estava sentindo algo dentro do meu peito. Algo bem forte, eu não conseguia segurar, era o ódio. O ódio enorme de tudo em minha volta, pensamentos que minhas esperanças foram todas destruídas.Assim que fechei a porta da barraco, meu pai já caminhou em minha direção. Dessa vez ele não perguntou sobre dinheiro, ele apenas me espancou, me bateu com um cinto fino e com u
ANDRE Olhei para os lados, a chuva caia forte na cidade, depois de varias horas caminhando, único lugar pra nós protegermos foi uma via que levava uma cidade a outra. O frio estava me matando por dentro, assim como a fome. Minha mãe estava tremendo de frio.Olhei para os lados, percebendo uma padaria aberta.– Mãe, fica aqui...– A encarei – vou ver se consigo algo, tudo bem?Ela não disse nada. Sai dali, caminhando rápido até uma padaria, eu estava molhado, assim que encararam, a cliente da padaria me olhou com nojo.Xxx: O que uma criança assim faz aqui– negou, debochando – Aqui é padaria de alto nível, moleque, vai pra essas outras...Xxx: Deixa ele, tú quer algo?– olhei baixo, admirando o salgado –Não tem dinheiro pra comprar? Eu compro um pra você! Me serve três salgados desse aqui, moça – O rapaz pegou três salgados, me entregando – Vá, moleque, é teu– me entregou.Consegui um copo de água, peguei meu caminho, voltando até onde minha mãe estava, com pouca claridade a procurei co
ANDRÉ Um gesto, uma palavra, ou seja, um carinho poderia mudar a vida de qualquer uma criança. Quando uma criança recebe o devido valor, ela cresce com esperanças, com sonhos, caso ela receber o desprezo e o ódio, a criança torna-se mais um adulto no mundo que carrega o ódio dentro de si por culpa de um doador de espermatozoide.Lidar com alguns pensamentos dentro da própria cabeça é difícil, pois teu pior inimigo é tua própria mente, cara.Dia após dia, noite após noite, luta após luta e minha cabeça nunca sai do meu passado, você aprende a conviver, porém nada e ninguém consegue te fazer esquecer. Menor: Alá, qual foi? Nós estamos conversando contigo — suspirei baixo, passando a mão no pescoço — Tú é muito otario, pô, todo dia viajando, parceiro.— Qual é? Vai cuidar dos teus câos, caralho, e não sou teu parceiro não, pelo jeito quem está viajando é tú — os outros me encararam, negando.D7: A reunião está encerrada, geral saindo — quando dei as costas, D7 murmurou — Tú fica, Mural
MURALHAEnxuguei meu rosto com a toalha, soltando um suspiro baixo, me encarei no espelho, descendo o olhar pelas cicatrizes no peito, correndo até meu braço, mesmo com tantos músculos, as cicatrizes ainda faziam parte do meu corpo.Depois de anos, continuo sem confiar em ninguém, e garanto que continuarei sem confiar em ninguém pelo resto da minha vida. Papo de família? Não existe mais na minha cabeça.Depois que minha mãe fugiu pelas ruas, coloquei em mente que nenhum ser humano liga para os sentimentos dos filhos. Fiz meu café da manhã e rápido, em seguida meti o pé onde os cria estavam.D7: Aê, na moral? Tem um playboy devendo alta quantia em drogas - caminhou na minha direção. Arquiei a sobrancelha, tentando decifrar o papo dele.- E? - cruzei os braços - Eu não cuido dessa parte não, qual é? D7: É que geral já foram atrás...- Aê, na moral?- chamei atenção de todos - Eu tô dando meu papo, vocês recebem pra que mermo? Pra fazer os corres do dia a dia, rapá! Agora vem com papinho
AmandaEstava encerrando mais um período no meu trabalho, trabalho em uma clínica de psicologia, sou psicóloga a um ano, formada e com vários certificados. A psicologia é algo muito delicado, você tratará cada cliente com muito amor e carinho, levando por um bom período de vida. Já lidei com pessoas com alto nível de depressão, vê-la mudando e voltando a saber lidar com problemas é algo sem explicação. Porém nem tudo é fácil, já tive mais de dois clientes que não soube lidar e acabou em suicídio. Tirei meu salto alto, amarrando meu cabelo em coque, guardei meu óculos de sol, colocando o de grau. Minha logo surgiu no meu campo de visão.Angélica: Boa tarde, como foi hoje?- Mesmo de sempre - sorri - cadê o pai? Angélica: Ela está trabalhando ainda...- sussurrou.- Hum... estou precisando sair um pouco, dar uma caminhada pelo calçadão. Angélica: Sim, mas dá última vez seu pai...- Ele não achou bom. Mãe, eu tenho vinte e quatro anos - levantei, pegando minha bolsa - Aliás, ainda não
MuralhaMenor caminhou até meu encontro, tirei o olhar do meu celular o encarando. Era papel do D7 vim me passar alguma informação, mas pelo jeito ele ficou bolado com nossa conversa de ontem, rapá.Menor: Calculei o passo de tod9s da família do Jorginho — arquiei a sobrancelha.— E?Menor: A filha mais velha é uma famosa boqueteira que descer a favela, já a mais nova — deu um sorriso de lado — É outra parada, gostosinha... — Não quero saber esse papo, moro? Manda logo as informação, sem papo torto, tio — encarei ele. Menor: Está aí a informação, o endereço, caso querer...— Quero o seguinte, primeiro um susto, depois a parada ficará séria — peguei meu rádio — Aê, preciso de mais dois na minha sala — travei meu maxilar. Menor: Qual será o próximo passo?— aguardei os outros dois entrarem.— Quero um sequestro bem elaborado, tá ligado? A filha mais nova, vocês irão mantê-la em cativeiro até o dia que o desgraçado me pagar! Menor: Tô dentro, pô — sorriu — Posso ficar no cativeiro com