Por Acaso
Por Acaso
Por: Monik Régis
Um

ANDRÉ

Vocês sentem o amor de um pai? Eu nunca consegui sentir, afinal meu pai nunca disse que me amava, um carinho, um abraço eu nunca recebi.

Sempre jogou na minha cara que eu não sirvo pra nada além de trazer dinheiro pra ele comprar suas drogas.

Todas crianças merecem serem felizes, não acha? Somos inocentes.

Tenho oito anos e vejo o mundo como adulto, a maldade que corre a todas crianças e mulheres inocentes.

Não tinha ganhado uma grana boa no farol hoje, única que ganhei comprei um pão, a tiazianha teve pena, fez mais barato, eu não tinha resistido, fazia dois dias que não comia nada.

Abaixei meu rosto com medo, abrindo aquela porta velha do barraco. Passei meu olhar pelo barraco, parecia um chiqueiro... do canto tinha uma mulher junto ao mru pai, ela estava núa.

Luiz: Cadê meu dinheiro?-disse rude, se levantando.

- Hoje não teve rendimento, eu não consegui seu dinheiro.

Luiz: O que eu falei moleque?O que eu repeti pra tú? Sua desgraça! – aumentou a voz apertando meu pescoço – To esperando a miséria que você ganhar pra comprar bebida – me empurrou com força fazendo eu cair no chão, eu escutei ele sussurrar algo e tirar o cinto – Merece uma surra.

Não, eu não gritava, apenas fechei os olhos com forças sentindo os cortes que já estavam abertos ardendo, era uma dor muito estranha. Que eu jamais iria esquecer no resto da minha vida, doi na alma.

Ana:Deixa meu filho – escutei a voz da minha mãe baixo, de medo, vindo do outro cômodo.

Sempre que meu pai me atacava, ela tentava fazer algo, mas não conseguia.

-Sai, puta do caralho – ele me jogou no chão, com brutalidade – To esperando pra fumar e beber, vem sem dinheiro desgraça?

Ele puxa meus cabelos me levantando.

Luiz: Coloca o dinheiro aí e passa pra lá– encarei seus ohos, seus olhos que tinha uma expressão fria, de maldade.

- Eu não consegui nenhuma moeda no farol – Ele abre a porta do barraco me dando vários chutes e me empurrando pra fora.

Luiz: Enquanto não conseguir a porra do dinheiro, você não aparece aqui!

A chuva ficava mais forte molhando minha roupa, olhei em um lugar de baixo de uma carroça com alguns lixos sendo tampados por uma lona, era único lugar que eu ia conseguir passar a noite.

Me sento olhando um cachorro, ele tava com frio, tinha certeza disso.Tirei minha camiseta mesmo molhada o cobrindo devagar, mas ia ajudar ele.

Ele era branco, tinha os pelos brancos e bem sujo.Coloquei minha camiseta por baixo dele fazendo ele se encolher e parar de tremer, fiz carinhos em seus pelos.

Amanhã seria outro dia, mas com as mesma coisas, a mesma dor. Eu sou obrigado a ir ganhar no dinheiro no sinal, eu apenas queria ser uma criança normal, que não precisa trabalhar pra sustentar o pai viciado, e sim brincar.

Eu sentia um sono enorme, mas o frio não deixava eu dormi.

(...)6:00.

– Moleque.- abri meus olhos aos poucos. – Sai, vai. – Um velho me encarava sério – Leva essa praga de cachorro.

Peguei o cachorro no braço saindo dali, fui caminhando até o barraco do Lipe.

Ele já estava do lado de fora, deixei o cachorro no chão.

– Arruma uma camiseta pra mim Lipe?– Ele assentiu entrando no barraco.

Lipe tinha doze anos, ele ia para o farol toda manhã comigo, mas ele tem a mãe dele que o ama de verdade.

Minha mãe queria me proteger, mas meu pai não permite isso, ou seja, ela é submetida a ele.

– Toma, cara. – ele me entregou uma camiseta rasgada, visto devagar e começo a caminhar com ele.

O cachorro me acompanhava a cada passo meu.

Lipe: De quem é? – perguntou, andando do meu lado.

– Ele estava perdido. – suspirou.

Lipe: Toma cuidado com o seu pai.– confirmei.

Logo chegamos no sinal, tinha algumas pessoas que já estavam vendendo água, outras limpava os vidros do carro.

– Quer o que garoto?-olhei com receio.

– Dinheiro senhor, tem um trocado não? – ele riu debochado.

– Vai trabalhar, drogadinho!– abaixei o rosto sem falar nada.

Todos dias somo alvos dessas palavras, de pessoas ruins que nos fazem mais infeliz. Talvez apenas dizer que não tem um trocado e desejar um ótimo dia já me faria feliz.

(...)

18:00

O vidro do carro abaixa e vejo uma mulher me encarar

– O que deseja? – me olhou

– Um trocado – pedi com receio.

– Aqui – ela tira uma nota de vinte reais fazendo eu sorrir, levanto meu olhar analisando uma menina ruiva no banco de trás, ela sorriu largo.

Senti meu coração acelerar um pouco, sorri de volta retribuindo.

– Obrigada senhora, você é uma ótima pessoa – disse contente.

– Senhora não mocinho, sou Angelica e minha filha Amanda.

– André.-ela assentiu.

– Espero lhe ver novamente. Tenha garra nisso aí– apontou com a cabeça – um dia tú irá sair daí!

Lipe: André! – escuto Lipe na calçada que está com o cachorro – Quantos conseguiu?

– Vinte e cinco reais, cinquenta centavos.

Lipe: Treze e dez – olhamos a padaria e entre olhamos, correndo até lá.

Lipe: Quanto está, dona?– apontei pro pão de queijo enorme, recheado de frango.

Aquilo chegava a dar água na boca, estava com muita fome.

–Cinco reais – ele pediu dois.

– Não tem água não, tia?– ela assentiu me entregando dois copos descartáveis.

Pegamos o lanche indo direto pra calçada. Não tinha melhor coisa do que matar a fome, como eu sabia oque era uma fome, eu dividia um pouco do meu lanche com o cachorro, até mesmo consegui comprar mais um salgado apenas pra ele.

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