Jade estava em seu quarto arrumando uma pequena mala, pensou que esse dia fosse demorar mais a chegar, mas ali estava ela, se preparando para voltar para a cidade de onde saiu prometendo a si mesma nunca mais voltar.
Ela guarda as roupas com cuidado e calma, não estava com pressa, tudo o que mais queria é que as horas demorassem a passar e que ela não precisasse voltar para uma cidade onde só lhe trazia más recordações. Jade suspira desanimada guardando a última peça de roupa na bagagem e depois disso ela fecha a mala. Ela se senta na cama e permite que a sua memória volte ao passado, mesmo que esse passado ainda a fizesse sofrer. Quatro anos haviam se passado desde que ela pegou um ônibus e foi para outro estado, acreditando que a distância a fizesse esquecer de acontecimentos que quase a destruíram, mas ali estava ela, revivendo em pensamentos toda aquela dor. Saber que o seu pai era quem a obrigava a voltar, a fazia se sentir ainda mais revoltada pois, foi perda de tempo deixar claro que nada que viesse dele a interessava, muito menos a herança. A riqueza de seu pai nunca lhe fez falta, assim como a presença dele, por isso preferia não ter herdado nada, seria muito melhor que ele tivesse doado tudo em vida para uma instituição de caridade. Mas o seu pior problema não era os bens que estava herdando, mas sim Henrique, a quem amou profundamente, mas que de nada adiantou se entregar de corpo e alma a uma relação onde não teve o menor valor, isso por ter confiado cegamente em alguém a quem amava. Henrique a fez mudar de cidade, a fez mudar quem era para conseguir superar a dor de ter sido traida. Se antes ela não confiava muito nas pessoas, agora era praticamente impossível conquistar a sua confiança. O único que conseguiu ultrapassar a barreira da desconfiança que Jade criou para se proteger foi Augusto, talvez por ele ter provado ser diferente, mas em relação a Henrique, ela só conseguia sentir ódio e desprezo. Agora, depois de tanto tempo, estava sendo obrigada a ir ao encontro dele, estava sendo obrigada a enfrentar aquele que havia sido o seu grande e único amor. Jade se levanta desanimada e depois de conferir mais uma vez se tudo o que iria levar estava guardado, ela vai até o quarto de Nicolas, que dormia tranquilo, com os cabelos sobre o rosto como era de costume. Nicolas era tudo para ela, mesmo tendo nascido tão pequenino, teve um bom desenvolvimento e aos três anos era uma criança alegre e esperta, além de muito inteligente. Quando descobriu que estava grávida foi um choque, pensou não ser capaz de levar uma gravidez adiante pela tristeza que sentia, mas a criança em seu ventre foi a força que ela precisava para seguir em frente, Nicolas foi o único motivo dela não desistir de tudo. Durante a gravidez Jade chorava dias a fio, mesmo que se odiasse por isso, mas era impossível saber que estava ali sozinha enquanto Henrique estava ao lado da mulher com quem a traiu, cuidando da filha que tiveram juntos. Seria sempre grata a Camila, que se mostrou ser uma amiga fiel e companheira, só não esteve ao lado dela em todo o tempo por morarem longe. Não foi fácil para Jade se ver grávida e sozinha, nunca em toda a sua vida pensou em ser mãe solteira, mas ali estava ela grávida e sem nenhum apoio, mas isso não foi motivo dela desistir da criança, seu único medo era não estar preparada para ser mãe e tinha muito medo de falhar, mas Camila sempre acreditou em sua capacidade de criar e educar uma criança, e sim, Jade estava conseguindo ser uma boa mãe, podia até ser rígida algumas vezes, mas sempre pensava ser para o melhor do seu filho. Na época, Camila ligava para ela todos os dias, diminuindo um pouco a sua solidão. Quando Nicolas nasceu Camila estava ao seu lado na sala de parto e ainda fez questão de filmar, mesmo Nicolas tendo se antecipado e, não apenas isso, para poder ajudar a amiga, Camila antecipou as férias na empresa e com Jade passou todos os dias de suas férias, fazendo coisas que nunca imaginou fazer, cuidando de um bebê recém nascido. Nicolas nasceu com oito meses, mas mesmo assim era uma criança saudável, o seu único problema era a sua deficiência de ferro no sangue, sendo necessário ter uma alimentação adequada para que não sofresse de anemia, quando isso acontecia ele tinha que ser medicado, para ajudar na produção de glóbulos vermelhos e hemoglobina. A preocupação de Jade era por Nicolas ter o mesmo tipo sanguíneo que Henrique, um tipo raro de sangue. Como se fosse castigo, olhar para Nicolas era ver Henrique, mas ela nunca lhe falou sobre o pai e jamais os apresentaria, estava determinada a deixar Nicolas decidir sobre o conhecer ou não quando ele tivesse idade para decidir tal coisa. Jade afasta com carinho os cabelos que caiam no rosto do filho, o olhando, ela sorri triste, por saber que a vida dele iria se parecer com a sua, seria criado longe do pai, assim ela acreditava.Depois de dar um beijo no filho, Jade volta para o seu quarto, ela já estava com tudo organizado, havia feito um planejamento e sabia exatamente o que iria fazer e como. Decidida a ficar apenas o tempo necessário para resolver as questões inadiaveis, levava pouca coisa, se tudo corresse como planejado logo estaria de volta. Seus planos era colocar a casa e o apartamento que lhe foi deixado à venda, os imóveis alugados continuariam alugados, quanto as ações da empresa estava disposta a vender e, se ninguém se interessasse em comprar, seria capaz de fazer uma doação, apenas para se livrar de algo que a ligasse a Henrique. Aguiar, seu pai, não apenas assumia um cargo importante na empresa, mas era um dos acionistas da empresa de Henrique, por isso ela foi convocada para uma assembleia geral, e nessa assembleia ela ofereceria as suas ações. Na verdade, Jade torcia para que alguém a procurasse antes, e lhe fisesse uma proposta, as venderia por qualquer valor, o importante era se livrar
Usando todas as economias que tinha, Jade decidiu mudar de cidade, optando por morar em outro estado, não queria correr o risco de Henrique encontrá-la, isso é, se ele a procurasse, já que estaria ocupado com a filha recém nascida e a amante de resguardo, assim ela pensou na época. Decidiu recomeçar do zero, disposta encontrar um trabalho tão bom ou um cargo melhor do que o que ocupava antes, mas ao descobrir a gravidez pensou ser difícil conseguir um emprego formal, por isso, Jade decidiu por em prática o que tinha aprendido nos anos que morou com a sua avó, costurar. Aos poucos ela conseguiu montar uma pequena confecção que crescia gradativamente, e atualmente a sua marca lhe dava uma boa lucratividade. Na manhã seguinte, depois de passar quase toda a noite em claro, Jade acorda com alguém em sua cama, fazendo festa. — Mamãe, é hoje que vamu viaja? — Nicolas pergunta animado.— Hummmm... ainda não está na hora de acordar rapazinho.— Tá sim mamãe, eu já domi muito e a mamãe tamb
Henrique percebe o nervosismo de Camila e decide investigar mais um pouco, tentando descobrir ser Jade a pessoa com quem ela falava ao telefone.— Essa sua amiga é a médica que vai te atender? — Ela o olha sem saber o que responde — Disse ontem que precisava sair mais cedo hoje para ir a uma consulta, eu escutei você falando com alguém, mas como ouvi você falando agora ao telefone que vai buscar alguém no aeroporto, me pergunto se é a médica — Por todo esse questionamento Camila não esperava. — Não... não — Camila arruma as coisas de sua mesa visivelmente nervosa — Essa minha amiga está vindo passar alguns dias comigo, como ela não é daqui, vou buscá-la no aeroporto e ela irá comigo na consulta, é só isso — Camila tenta ser o mais natural possível.— Você sempre foi péssima em mentir — Henrique ajeita a manga do paletó — Traga a declaração do médico amanhã, eu mesmo quero ver.— Sim senhor — Camila responde revirando os olhos, sem se preocupar de não ter nenhuma declaração para apre
Quando Henrique conheceu Sofia, ela lhe ofereceu tudo que ele gostava entre quatro paredes, mas ouvir ela dizer que Jade não sabia o agradar na cama o deixou irado, pois não era verdade, Jade era perfeita demais para ele, foi isso que ele constatou quando se viu sem ela. Depois de quatro longos anos ele ainda pensava em Jade, sentia uma imensa saudade daquela que soube o conquistar com o seu jeito simples e inseguro. Sentia a falta dela em tudo o que faziam juntos, como jantar aos risos, passear de mãos dadas, dançarem colados, mesmo quando era só os dois eles dançavam em um clima bem romântico. Sentia falta da respiração dela em seu pescoço quando dormiam juntos e a falta dela pela manhã quando ele dormia em seu apartamento, ou ela no dele. Nunca pensou sentir tanta a falta de alguém, e era muito dificil continuar sem ela, era como se lhe faltasse algo, e o que mais lhe doía era saber ter sido ele quem a fez ir embora. Henrique sonhava reencontrá-la para lhe pedir perdão e lhe
Henrique permanecia em sua sala, andando de um lado para o outro, atormentado pelas lembranças do passado e com a possibilidade de ser Jade a amiga com quem Camila falava ao telefone e que estava chegando. Depois de um tempo sem conseguir se concentrar no trabalho e se sentindo angustiado com a sua desconfiança, Henrique decide dar uma de detetive, primeiro ele liga para o setor onde Camila trabalhava e descobre que ela estava saindo para o almoço. Em uma atitude impensada ele também sai, cancelando todos os seus compromissos na parte da tarde. Decidido a descobrir quem era a tal amiga, Henrique resolve seguir Camila, mas iria de taxi, qualquer taxista a seguiria de perto por um bom dinheiro, e assim aconteceu, até ele ser deixado no aeroporto. Ele demora um pouco para encontrá-la entre as pessoas, mas ao vê-la de longe se mantém atento, ela estava sentada despreocupada e ele a observa com cuidado para não ser visto e nem perdê-la de vista. Quase uma hora depois ele a vê falando
Elas vão embora rindo de qualquer coisa, como se a vida fosse só flores. Não era a primeira vez que Jade voltava a cidade, ela tinha ido ao enterro do pai, mas preferiu assistir a cerimônia de longe, de que adiantava ir no velório dele se quando ele estava vivo ela nunca aceitou falar com ele? Esse foi o motivo de preferir que todos acreditassem que ela não tinha ido. Ela não ficou na cidade, preferiu ir embora no mesmo dia e voltar quando se sentisse mais confortável. — Eu as vezes penso em como seria se eu aceitasse falar com ele, mas me sentia traindo a memória da minha mãe, quando pensava nessa possibilidade — Jade confessa a amiga quando já estavam no apartamento de Camila. — Jade, eu acho que você deveria ter dado uma chance ao seu pai, eu confesso que gostava muito do senhor Aguiar. — Agora é tarde, mas eu não me arrependo, eu sei o quanto a minha mãe foi infeliz. — Como eu já te disse antes, seu pai era uma boa pessoa, eu não conheci a sua mãe, mas o seu pai sim, e se q
No dia marcado para a assembleia geral na empresa de Henrique, Jade se arruma com esmero, queria estar confiante e segura ao enfrentar aquele que pensou nunca mais ver. Ela tinha escolhido a dedo o vestido que usava, não queria que as pessoas pensassem que a velha Jade ainda existia. Todos que ela conhecia estariam presentes, inclusive o senhor Jaime, pai de Henrique, que sempre a elogiou por sua dedicação ao trabalho, nunca duvidando de sua capacidade de crescer profissionalmente. Jade havia acordado cedo, para que antes de se arrumar pudesse deixar Nicolas no hotelzinho, que tinha lhe garantido dar a ele os alimentos que ele precisava comer. Ao voltar para o apartamento Jade tomou um banho demorado, e depois de secar os cabelos ela vestiu o vestido que ela mesma havia confeccionado, era preto, justo e com uma fenda na frente, era de mangas, mas com um detalhe, um dos ombros ficava a mostra, tendo um detalhe na manga. Nos pés, uma sandália altíssima na cor vinho, e se preocupou ta
Jaime pretendia conversar com Jade a sós, tentaria convencê-la a assumir o cargo que lhe foi oferecido. Tinha ciência que o problema dela era com Henrique, e era compreensivo, afinal quando tudo aconteceu, foi o primeiro a condenar o filho pelo que fez, e as coisas só amenizaram quando ele conheceu Eduarda e Sofia que os conquistou, ele e a esposa. Sofia sempre foi uma jovem alegre, um pouco extravagante, mas eles aprenderam a gostar dela. — Não tenho interesse em ler relatórios de uma empresa a qual não desejo fazer parte — Jade se levanta elegantemente — E se alguém quiser comprar as minha ações é só entrar em contato. Deixarei o meu cartão com a secretária do senhor Henrique — Ao ser tratado por Jade de forma tão formal, tem vontade de dizer que para ela, ele nunca seria o senhor Henrique. — Jade... — Henrique a chama, tentando chamar a sua atenção mas é ignorado. — Tenham um bom dia — Jade sai da sala ignorando os olhares de todos. Ela deixa o cartão com a secretária, dizen