Início / Romance / Para Sempre Mary / Revelações ao Entardecer
Revelações ao Entardecer

O céu de Willow Creek parecia uma tela pintada à mão, com tons dourados dissolvendo-se em laranjas profundos enquanto o sol mergulhava lentamente atrás das colinas. A brisa carregava o aroma fresco da vegetação ao redor do lago, e o leve farfalhar das folhas parecia um sussurro convidando à reflexão. Joseph caminhava lentamente pela trilha, suas botas estalando contra as pequenas pedras no caminho. Seus pensamentos eram um turbilhão — a chegada à cidade, os rostos novos, a estranha inquietação que sentia ao tentar se adaptar à tranquilidade do lugar.

Quando seus olhos captaram a figura de Mary, sentada à beira do lago com um livro no colo, ele quase deu meia-volta. Mas algo o fez continuar. Talvez fosse a curiosidade, ou o simples desejo de estar perto de alguém que, de algum modo, parecia em paz com o mundo.

Mary notou sua presença antes que ele pudesse dizer algo. Seus olhos brilhavam sob a luz do entardecer, refletindo a calma do lago. Ela fechou o livro delicadamente e sorriu, o tipo de sorriso que parecia aquecer o ar ao redor.

— Joseph, que surpresa — disse ela, sua voz tão suave quanto o murmúrio da água. — Não sabia que você gostava deste lugar.

Ele hesitou, quase como se tentasse decidir se deveria ficar ou ir embora. — Eu... não sabia que gostava, até agora. — Ele forçou um pequeno sorriso, os olhos desviando-se para o reflexo dourado no lago.

Mary moveu-se no tronco caído, dando espaço para ele. — É um bom lugar para pensar. Você deveria vir mais vezes.

Ele aceitou o convite com um aceno de cabeça, sentando-se ao lado dela. O silêncio que se seguiu não era desconfortável, mas cheio de significado. A brisa jogava levemente os cabelos de Mary para trás, e Joseph notou o quanto ela parecia pertencer àquele cenário, como se fosse parte do quadro que a natureza havia pintado.

— Desde que chegou, você parece carregar o peso de algo — Mary quebrou o silêncio, sua voz gentil, mas firme. — Isso está te incomodando?

Joseph ergueu as sobrancelhas, surpreso com a observação direta. Ele suspirou, olhando para a água. — Não é nada específico. Talvez eu esteja apenas... tentando entender o que faço aqui. Tudo é tão diferente de onde venho. — Ele deu um meio sorriso, mas não havia humor real nele. — León acha que eu penso demais e aproveito de menos.

Mary inclinou levemente a cabeça, estudando-o com um olhar curioso. — Pensar demais não é necessariamente ruim. Talvez você só esteja tentando encontrar algo que faça sentido.

Ele a olhou de relance, intrigado pela simplicidade de sua resposta. — Você sempre foi assim? Tão... calma?

Ela riu baixinho, um som leve que pareceu suavizar o peso em seus ombros. — Não sei se sou sempre calma. Acho que aprendi a encontrar um tipo de paz, mesmo quando as coisas ao meu redor não são perfeitas.

Joseph balançou a cabeça lentamente, refletindo sobre as palavras dela. — Parece simples, mas acho que não é tão fácil quanto você faz parecer.

Mary sorriu novamente, mas havia uma ponta de melancolia em seu sorriso. — Nem sempre é. Às vezes, a paz vem de aceitar que não podemos controlar tudo. É uma escolha que precisamos fazer todos os dias.

Joseph ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que ela dizia. Ele se sentia confortável ao lado dela, mas, ao mesmo tempo, havia algo que o impedia de se conectar completamente. Era como se uma barreira invisível estivesse entre eles, algo que ele não conseguia definir.

— E você? — Ele finalmente perguntou, mudando de posição no tronco. — Você realmente acredita que gentileza e bondade são suficientes para mudar as coisas?

Mary olhou para ele, seus olhos refletindo a luz quente do pôr do sol. — Eu acredito que são um bom começo. Talvez não mudem o mundo inteiro, mas podem mudar o mundo de alguém. E isso já é suficiente para mim.

Joseph ficou pensativo, o peso de suas palavras ecoando em sua mente. Ele olhou para o horizonte, onde as cores do céu começavam a se dissolver na escuridão da noite. Mary, por sua vez, não pressionou por uma resposta. Ela sabia que algumas coisas precisavam de tempo para amadurecer.

Depois de um longo silêncio, Joseph falou novamente, sua voz mais suave desta vez. — Você é uma pessoa rara, Mary. Acho que Willow Creek tem sorte de ter alguém como você.

Ela sorriu, mas havia algo em seus olhos que indicava que sabia o que aquelas palavras realmente significavam. Ele a via como uma pessoa boa, mas nada além disso. E, mesmo assim, ela escolheu não se deixar abalar.

— Obrigada, Joseph. E acho que, com o tempo, você descobrirá que também tem algo único para oferecer a este lugar.

Joseph não respondeu, mas olhou para ela por um momento mais longo, como se tentasse entender o que ela via nele. Depois, deixou seus olhos voltarem para o lago, onde o reflexo do céu agora se fundia com as primeiras estrelas.

Enquanto a noite caía sobre Willow Creek, Mary sentia-se dividida entre a esperança e a aceitação. Ela sabia que Joseph era um homem complicado, alguém que ainda carregava suas próprias batalhas internas. Mas, em seu coração, ela acreditava que ele poderia, eventualmente, encontrar seu caminho — talvez até ao lado dela. Por enquanto, ela estava disposta a esperar, apreciando a beleza daquele momento silencioso ao entardecer, na companhia de alguém que começava, lentamente, a desvendar.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App