O quarto de Lisa era um reflexo perfeito de sua personalidade vibrante: cheio de cores, com almofadas macias espalhadas pela cama e um espelho ornamentado que dominava a parede ao lado da janela. Mary, sentada no tapete ao lado da cama, observava Lisa ajeitar os cachos dourados diante do espelho. — Então, Mary, você já pensou em como os dois são tão diferentes? — Lisa perguntou, ajeitando uma mecha de cabelo que insistia em escapar do penteado. — Quero dizer, León é como o sol, caloroso, divertido... E Joseph... bem, ele é como a lua. Misterioso, calado. Mas você não acha isso atraente de alguma forma? Mary arregalou os olhos, um leve rubor tingindo suas bochechas. — Lisa! Como você pode falar assim? Lisa riu e se virou, sentando-se na cama com as pernas cruzadas. — Ora, Mary, somos adultas! Não me diga que nunca pensou em como seria ter alguém olhando para você como... você sabe, com desejo. Mary desviou o olhar, brincando com a barra do vestido. Não era comum para ela conversa
O domingo chegou trazendo consigo uma leve brisa e o habitual som do sino da igreja, ecoando por Willow Creek. Mary acordou cedo, passando mais tempo do que o habitual em frente ao espelho. Vestiu o vestido azul que havia escolhido na noite anterior e, com dedos trêmulos, soltou os cabelos, deixando-os caírem naturalmente sobre os ombros. Um toque de batom rosado iluminou seu rosto, realçando a suavidade de seus traços. Pela primeira vez, ela olhou para si mesma e sentiu uma pontada de confiança. Ao chegar à igreja, as vozes murmuradas dos fiéis preencheram o ambiente, mas foi Joseph que prendeu sua atenção. Ele estava de pé perto da entrada, conversando com León e alguns outros homens. Mary respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado, e caminhou em sua direção. Joseph foi o primeiro a percebê-la. Seus olhos escuros demoraram um segundo a mais do que o normal ao se fixarem nela. Havia algo diferente em Mary, ele percebeu, embora não conseguisse definir exatamente o que era
Ela ficou vermelha e baixou os olhos, envergonhada por sua própria ousadia. — Não quis incomodar... só fiquei preocupada. Você parecia tão... distante. Joseph relaxou um pouco, mas ainda segurava o caderno com força, como se temesse que ela pudesse tocá-lo. O silêncio entre eles era denso, carregado de algo que Mary não sabia nomear. — Eu... gosto de escrever, só isso — explicou ele, sua voz mais suave desta vez. — Não é nada importante. Mary inclinou a cabeça, intrigada. — Não parece "nada". Você guarda isso como se fosse precioso. Joseph desviou o olhar, incapaz de sustentar a intensidade dos olhos dela. — Algumas coisas precisam ficar só aqui — disse, batendo levemente na capa do caderno. — É mais fácil lidar com elas assim. Mary deu um passo à frente, aproximando-se um pouco mais. — Talvez... não precise lidar sozinho. As palavras pairaram no ar como um desafio, e Joseph finalmente ergueu o olhar. Ele a estudou por um longo momento, os cabelos soltos de Mary brilhando à
A casa do reverendo Carlson estava iluminada por uma luz suave, e o fogo na lareira estalava com um calor acolhedor. Mary e Lisa estavam sentadas no sofá, enquanto o reverendo Carlson preparava o chá, seus olhos firmes e decididos, como se já tivesse tomado uma decisão. A conversa que estava prestes a acontecer seria, sem dúvida, um divisor de águas para todos os envolvidos. Logo, os rapazes chegaram. León e Joseph entraram na sala, ambos com expressões sérias, mas com um toque de expectativa nos olhos. O reverendo os cumprimentou com um aceno de cabeça e os convidou a sentar-se à mesa. Mary e Lisa trocaram um olhar rápido, cada uma com seus próprios pensamentos, mas ambas sabendo que esse seria o momento de suas vidas mudarem. O reverendo olhou para os dois rapazes, então para as jovens e, com um suspiro, iniciou a conversa. — Como todos sabem, Willow Creek está crescendo, e as oportunidades na cidade estão se expandindo. O dono da fábrica local, que é um amigo de longa data, fe
O salão comunitário de Willow Creek brilhava à luz dos candelabros. Lanternas pendiam do teto de madeira rústica, criando um brilho acolhedor que refletia nos sorrisos e nos olhares curiosos dos moradores da cidade. O baile anual, uma tradição de décadas, reunia famílias, amigos e, claro, jovens cheios de expectativas e suspiros por encontros e olhares furtivos.Mary hesitou à porta, seu vestido de cetim azul-marinho destacando-se contra o ambiente simples. Os cabelos soltos caíam em ondas suaves, e seus lábios rosados mostravam o cuidado que ela raramente dedicava a si mesma. Lisa, já rodeada por Leon e outros conhecidos, olhou para Mary com um sorriso encorajador, mas o nervosismo dela era evidente.Joseph estava do outro lado do salão, próximo à mesa de bebidas, conversando com um pequeno grupo. Seu olhar encontrou o de Mary por um breve momento, e ele parou de falar, como se o ar tivesse ficado pesado. Ele observou-a atravessar o salão, cada passo parecendo mais lento e deliberado
Mary apertou o caderno contra o peito, uma dor aguda atravessando-a. Suas mãos começaram a tremer quando encontrou, na última página aberta, um desenho de Lisa. Cada traço parecia capturar a suavidade de sua expressão, e ao lado dele, um poema: "Nos ventos do campo vejo teu riso, Como o sol que desponta, leve e preciso. Teu olhar é refúgio, tua voz é canção, E nos meus sonhos, Lisa, és minha razão." As palavras golpearam Mary como um soco. Todo o calor que sentira durante a dança evaporou, substituído por um vazio frio. "Ele nunca me viu", pensou, enquanto as lágrimas ameaçavam cair. O salão parecia apertado demais, as risadas agora soavam distantes e opressoras. Desesperada para fugir, Mary deixou o caderno de volta na mesa e saiu correndo pela porta principal, seus passos ecoando na madeira do salão. Lá fora, o ar frio da noite a envolveu, mas não conseguiu acalmar a tempestade dentro dela. Mary correu para o bosque próximo, onde as árvores altas e o silêncio eram seu refúg
Sozinha em seu quarto, Mary sentou-se na beirada da cama, ainda sentindo o peso do vestido molhado, que parecia um reflexo de seu coração: pesado, frio e sem vida. A luz fraca da lamparina iluminava suas mãos trêmulas, que seguravam o xale com força, como se ele pudesse protegê-la dos pensamentos que a consumiam. Ela olhou para o pequeno espelho sobre a cômoda e viu a própria imagem: cabelos desalinhados, olhos inchados de tanto chorar, o batom apagado, borrado em um rosto que mal reconhecia. "Quem iria querer uma patética como eu?" pensou ela, os lábios formando um sorriso amargo. "Sempre soube, desde o início, que Joseph nunca me quis. Nunca me olhou como olhava para Lisa... Mas ainda assim, me iludi. Que tolice!" Mary se levantou e caminhou até o espelho, observando-se de perto, como se quisesse entender o que faltava nela. "Não sou bonita como Lisa. Não tenho o carisma que ela tem. Joseph me vê apenas como uma obrigação, um sacrifício que ele está disposto a fazer por conveniênc
O sol da manhã entrava pelas janelas da pequena loja de enxovais, iluminando os delicados tecidos espalhados sobre a mesa. Mary ajudava a prima a organizar as peças do enxoval, cuidadosamente dobrando lençóis de algodão, guardanapos bordados e toalhas macias, enquanto Lisa, empolgada, separava itens mais especiais.— Mary, veja essa camisola! — disse Lisa, com os olhos brilhando enquanto erguia uma peça de seda creme, leve e delicada. O tecido, quase translúcido, tinha rendas finas nos detalhes e um decote ousado que exalava feminilidade e elegância.Mary engoliu seco, observando o movimento gracioso do tecido nas mãos de Lisa.— É... linda — murmurou, com a voz quase inaudível.Lisa riu suavemente. — Experimente, Mary! Quero ver como fica em você.— Não, Lisa! Isso é para você! — protestou Mary, recuando levemente, mas Lisa insistiu, entregando-lhe a camisola.— Só por diversão, prima. Não seja tão séria!Mary hesitou, mas acabou cedendo. Pegou a camisola com cuidado, como se