Novas faíscas

O salão comunitário de Willow Creek brilhava à luz dos candelabros. Lanternas pendiam do teto de madeira rústica, criando um brilho acolhedor que refletia nos sorrisos e nos olhares curiosos dos moradores da cidade. O baile anual, uma tradição de décadas, reunia famílias, amigos e, claro, jovens cheios de expectativas e suspiros por encontros e olhares furtivos.

Mary hesitou à porta, seu vestido de cetim azul-marinho destacando-se contra o ambiente simples. Os cabelos soltos caíam em ondas suaves, e seus lábios rosados mostravam o cuidado que ela raramente dedicava a si mesma. Lisa, já rodeada por Leon e outros conhecidos, olhou para Mary com um sorriso encorajador, mas o nervosismo dela era evidente.

Joseph estava do outro lado do salão, próximo à mesa de bebidas, conversando com um pequeno grupo. Seu olhar encontrou o de Mary por um breve momento, e ele parou de falar, como se o ar tivesse ficado pesado. Ele observou-a atravessar o salão, cada passo parecendo mais lento e deliberado do que o anterior. Havia algo diferente nela naquela noite, uma graça e confiança que ele não havia notado antes.

As músicas animadas logo deram lugar a um ritmo mais lento. Casais tomaram a pista, e o murmúrio da conversa diminuiu. Foi então que Joseph, quase sem perceber, se aproximou de Mary.

— Senhorita Carlson, — disse ele, oferecendo a mão com um leve inclinar da cabeça. — Permite-me esta dança?

Mary piscou, surpresa. Ela hesitou por um instante, mas acabou aceitando.

— Claro, senhor Miller.

Ao tocarem as mãos, uma eletricidade sutil percorreu Mary, enviando um calor inesperado até seu rosto. Ela sentia o olhar de todos ao seu redor, mas logo se perdeu no som da música e na proximidade de Joseph. Ele mantinha uma postura firme, os olhos fixos nos dela, como se tentasse decifrar algo escondido.

Quando suas mãos se encontraram, Joseph a puxou para mais perto, seguindo o ritmo suave da música. Mary sentiu o calor de seu corpo, e o tecido fino de seu vestido parecia incapaz de conter a sensação do toque dele. O peito de Joseph roçou levemente contra o dela enquanto dançavam, e o calor que subiu de seu ventre até o rosto era quase sufocante.

Ela tentou focar nos passos, mas a proximidade dele tornava isso quase impossível. Quando ele inclinou levemente a cabeça, ela pôde sentir sua respiração roçar a lateral de sua orelha, enviando um arrepio que percorreu sua espinha.

— Está aproveitando a noite? — ele perguntou, a voz baixa, quase rouca.

Mary teve que umedecer os lábios antes de responder. — Estou tentando. Baile não é exatamente meu ambiente favorito, mas... é interessante.

— Interessante? — Joseph arqueou uma sobrancelha, um pequeno traço de humor em seu rosto. — Eu diria que esta noite tem sido mais do que interessante.

Ela sentiu o perfume dele, um misto de madeira e algo levemente doce, e sua mente parecia uma confusão de pensamentos e sensações. Ele também parecia notar algo diferente. O perfume de Mary, um leve toque de lavanda, chegou até ele, despertando uma lembrança que ele não conseguia identificar, mas que o fazia hesitar em soltar a cintura dela.

— O que quer dizer? — Mary perguntou, tentando manter a voz estável.

Joseph desviou o olhar por um momento, como se escolhesse as palavras com cuidado. — Apenas que você está... diferente esta noite. Não sei se é o vestido, ou talvez a forma como segura a cabeça... mas há algo em você.

Mary sentiu o rosto esquentar ainda mais. — Talvez eu tenha decidido não ser mais invisível.

Joseph sorriu, um sorriso raro e sincero. — Invisível nunca foi uma palavra que usaria para descrever você.

A música terminou, mas ele não soltou imediatamente sua mão. Os dois ficaram ali, no centro da pista, em um silêncio cheio de significados. Quando finalmente se afastaram, Mary percebeu algo diferente em si mesma: uma faísca de desejo e esperança, pequena, mas suficiente para fazer seu coração disparar.

Enquanto Joseph caminhava de volta para o outro lado do salão, sua mente ainda ecoava o calor daquele momento. Ele podia sentir o toque dela em sua mão e o perfume que parecia tê-lo envolvido. O que quer que tivesse acontecido entre eles naquela dança, ambos sabiam que seria impossível ignorar.

A festa em Willow Creek seguia animada, com música, risos e conversas que ecoavam pelo salão. Mary ainda sentia o calor da dança com Joseph. Seu coração estava inquieto, dividido entre a emoção do momento e a estranha sensação de que algo permanecia fora do alcance.

Joseph, por sua vez, havia se afastado. Um velho amigo da cidade o abordou, puxando-o para uma conversa que ele tentou evitar, mas acabou cedendo por cortesia. Eles falaram sobre negócios, planos e os rumores da cidade, enquanto Joseph lutava para manter a atenção. Ele se inclinou sobre a mesa próxima, deixando seu caderno de anotações ao lado de uma bandeja de doces esquecida.

Mary, curiosa e querendo espairecer, caminhou pelo salão quando notou o pequeno caderno de couro sobre a mesa. Ela o reconheceu imediatamente – Joseph estava sempre com ele, rabiscando algo em momentos de distração.

Olhando ao redor e percebendo que ele estava ocupado, Mary pegou o caderno com hesitação. "É errado", pensou, mas a curiosidade falou mais alto. Ela abriu a capa, vendo as primeiras páginas repletas de pequenos desenhos. Flores, paisagens e até retratos rapidamente esboçados. As linhas delicadas revelavam um lado mais sensível de Joseph que ela nunca havia visto.

No entanto, à medida que folheava, seu coração começou a apertar. Poemas preenchiam as páginas seguintes, palavras apaixonadas que falavam de cabelos dourados e olhos que brilhavam como o amanhecer. Era inconfundível: ele estava falando de Lisa.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App