Sozinha em seu quarto, Mary sentou-se na beirada da cama, ainda sentindo o peso do vestido molhado, que parecia um reflexo de seu coração: pesado, frio e sem vida. A luz fraca da lamparina iluminava suas mãos trêmulas, que seguravam o xale com força, como se ele pudesse protegê-la dos pensamentos que a consumiam. Ela olhou para o pequeno espelho sobre a cômoda e viu a própria imagem: cabelos desalinhados, olhos inchados de tanto chorar, o batom apagado, borrado em um rosto que mal reconhecia. "Quem iria querer uma patética como eu?" pensou ela, os lábios formando um sorriso amargo. "Sempre soube, desde o início, que Joseph nunca me quis. Nunca me olhou como olhava para Lisa... Mas ainda assim, me iludi. Que tolice!" Mary se levantou e caminhou até o espelho, observando-se de perto, como se quisesse entender o que faltava nela. "Não sou bonita como Lisa. Não tenho o carisma que ela tem. Joseph me vê apenas como uma obrigação, um sacrifício que ele está disposto a fazer por conveniênc
O sol da manhã entrava pelas janelas da pequena loja de enxovais, iluminando os delicados tecidos espalhados sobre a mesa. Mary ajudava a prima a organizar as peças do enxoval, cuidadosamente dobrando lençóis de algodão, guardanapos bordados e toalhas macias, enquanto Lisa, empolgada, separava itens mais especiais.— Mary, veja essa camisola! — disse Lisa, com os olhos brilhando enquanto erguia uma peça de seda creme, leve e delicada. O tecido, quase translúcido, tinha rendas finas nos detalhes e um decote ousado que exalava feminilidade e elegância.Mary engoliu seco, observando o movimento gracioso do tecido nas mãos de Lisa.— É... linda — murmurou, com a voz quase inaudível.Lisa riu suavemente. — Experimente, Mary! Quero ver como fica em você.— Não, Lisa! Isso é para você! — protestou Mary, recuando levemente, mas Lisa insistiu, entregando-lhe a camisola.— Só por diversão, prima. Não seja tão séria!Mary hesitou, mas acabou cedendo. Pegou a camisola com cuidado, como se
Os preparativos para o casamento exigiam mais envolvimento de Mary e Joseph do que ambos haviam imaginado. Com a cerimônia se aproximando, havia inúmeras decisões a serem tomadas: a decoração da igreja, os convites, o cardápio da recepção, e até mesmo a escolha de músicas para o pequeno conjunto local que tocaria na celebração. Apesar de tudo, Mary sentia que Joseph encarava tudo com a mesma postura reservada e distante de sempre.Enquanto Mary caminhava até a pequena alfaiataria da cidade para discutir os ajustes finais das roupas do casamento. Joseph, que havia passado pela loja para buscar algo relacionado ao trabalho, foi pego de surpresa ao ver Mary no balcão, segurando um tecido branco rendado.— Joseph! — disse o alfaiate, um homem idoso com olhar animado. — Que sorte a sua aparecer aqui. Precisamos ajustar o caimento do colete e, já que está aqui, sua noiva pode dar o aval.Enquanto o alfaiate ajustava os botões, Mary desviava o olhar, mas não conseguiu evitar um vislumbre ráp
O pequeno vilarejo de Willow Creek parecia mais animado que o habitual. As celebrações pré-casamento de Mary e Joseph eram o grande evento do mês, atraindo a atenção de todos os moradores. Entre reuniões de planejamento e confraternizações, Lisa e León tornaram-se presença constante, trazendo energia e descontração para os encontros.Lisa era naturalmente expansiva, e sua cumplicidade com León era evidente em cada troca de olhares e risadas. Eles tinham uma maneira leve de estar juntos, como se o mundo ao redor fosse apenas um pano de fundo para o que realmente importava: a diversão compartilhada entre eles. Enquanto isso, Mary e Joseph, envolvidos em discussões sobre detalhes do casamento, eram um contraste gritante – mais formais, contidos, como se cada palavra trocada fosse cuidadosamente calculada.Naquela tarde, durante uma reunião na casa de Mary para revisar a lista de convidados, Lisa e León estavam em um canto da sala, provocando risadas entre os outros com suas brincadeiras.
O tilintar das garrafas no balcão ecoava pelo bar abafado, mas Joseph mal ouvia. Estava mergulhado em seus próprios pensamentos, os dedos traçando distraidamente o contorno de um copo quase vazio. Ele não gostava de admitir, nem mesmo para si, mas ultimamente sentia um peso no peito toda vez que pensava em Mary. Não era tristeza, tampouco alegria – era algo mais confuso, algo que ele não sabia nomear."Perdido em pensamentos, Joseph?" A voz familiar de Thomas o trouxe de volta à realidade. O amigo já puxava uma cadeira, o sorriso largo e despretensioso indicando que ele estava disposto a puxar assunto, quer Joseph quisesse ou não."Thomas," Joseph murmurou, erguendo o olhar para o amigo."Está me parecendo um homem que tem muito na cabeça." Thomas apoiou os cotovelos na mesa, lançando-lhe um olhar sagaz. "O que está acontecendo? Não me diga que os preparativos do casamento já estão te deixando maluco."Joseph esboçou um sorriso fraco. "Está tudo sob controle.""Ah, claro. Porque você
A brisa noturna balançava suavemente os galhos das árvores, mas Mary mal notava. Tudo que sentia era o calor inesperado que subia por sua pele onde os dedos de Joseph haviam roçado os seus. Seu toque não era invasivo, mas ainda assim parecia que queimava, como se deixasse um rastro de sensações que ela não sabia como apagar."Mary," ele repetiu, desta vez com mais firmeza, a voz rouca quebrando o silêncio da noite. Seus olhos, escuros e intensos, pareciam examiná-la, como se estivessem procurando por algo que ela ainda não havia dito.Ela tentou se afastar, abaixando o olhar para esconder o rubor que sabia estar em seu rosto. "Eu... acho que já é tarde. Deveríamos voltar."Mas antes que pudesse se levantar, Joseph segurou sua mão novamente, desta vez com mais firmeza. "Espere."Havia uma urgência em sua voz que a fez parar, o coração disparado. Mary olhou para ele, e pela primeira vez, viu algo que nunca havia enxergado antes — desejo. Não a simples admiração com que ele a observava d
Mary estava terminando de organizar os últimos detalhes do casamento quando uma tempestade repentina atingiu a cidade. Ventos fortes sacudiam as árvores, e o céu escuro parecia refletir a inquietação que ela carregava no peito. O reverendo sugeriu que ela esperasse a chuva passar antes de voltar para casa, mas Mary insistiu. Precisava de um tempo sozinha, longe das vozes de Lisa e do próprio reverendo, que sempre a encorajavam sobre o casamento.O caminho de volta estava quase impossível de transitar. O vento arrancava ramos das árvores, e a chuva era tão intensa que parecia cortar sua pele. Foi então que, ao longe, ela avistou Joseph. Ele segurava um guarda-chuva que mal resistia às rajadas de vento."Mary!" ele gritou, correndo até ela. "Você não deveria estar aqui fora!""Eu precisava ir para casa," respondeu ela, mas a voz saiu mais como um sussurro."Não desse jeito," disse ele, puxando-a para baixo de uma marquise improvisada em uma loja fechada. O espaço era apertado, obrigando
Os dias estavam passando rápido demais, e o casamento se aproximava como uma onda inevitável. Entre bordados, tecidos e a expectativa de uma nova vida, Mary mal conseguia encontrar momentos para si mesma. No entanto, naquela tarde, um visitante inesperado interrompeu sua rotina.Joseph chegou carregando um pequeno embrulho nas mãos. Seu semblante era sereno, mas havia algo nos olhos dele, uma mistura de hesitação e intenção que fez o coração de Mary acelerar involuntariamente.— Trouxe algo para você — disse ele, sem preâmbulos, estendendo-lhe o pacote.Mary piscou, surpresa. Não esperava um presente dele. Na verdade, não esperava nada que não fosse a formalidade do casamento iminente. Aceitou o embrulho com dedos trêmulos, desfazendo cuidadosamente o laço de fita.Dentro, repousava um lenço bordado com suas iniciais entrelaçadas a de Joseph, em um trabalho minucioso e elegante. O tecido era delicado, macio ao toque, e Mary passou os dedos pelas letras como se pudesse absorver o signi