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Desejos que Não Podem Ser Contidos

O quarto de Lisa era um reflexo perfeito de sua personalidade vibrante: cheio de cores, com almofadas macias espalhadas pela cama e um espelho ornamentado que dominava a parede ao lado da janela. Mary, sentada no tapete ao lado da cama, observava Lisa ajeitar os cachos dourados diante do espelho.

— Então, Mary, você já pensou em como os dois são tão diferentes? — Lisa perguntou, ajeitando uma mecha de cabelo que insistia em escapar do penteado. — Quero dizer, León é como o sol, caloroso, divertido... E Joseph... bem, ele é como a lua. Misterioso, calado. Mas você não acha isso atraente de alguma forma?

Mary arregalou os olhos, um leve rubor tingindo suas bochechas. — Lisa! Como você pode falar assim?

Lisa riu e se virou, sentando-se na cama com as pernas cruzadas. — Ora, Mary, somos adultas! Não me diga que nunca pensou em como seria ter alguém olhando para você como... você sabe, com desejo.

Mary desviou o olhar, brincando com a barra do vestido. Não era comum para ela conversar sobre esses assuntos, especialmente com tanta franqueza. Mas a pergunta de Lisa pairava em sua mente como uma nuvem carregada.

— Eu... eu não sei se penso nisso — respondeu, embora soubesse que não era inteiramente verdade.

Lisa arqueou uma sobrancelha, um sorriso travesso brincando em seus lábios. — Não sabe ou não quer admitir?

O silêncio de Mary foi suficiente para fazer Lisa dar um pequeno pulo de excitação.

— Ah, então é o Joseph, não é? — Lisa provocou, inclinando-se para frente como se estivesse prestes a descobrir o segredo mais bem guardado de Willow Creek. — Ele tem aquele jeito sério que deixa a gente curiosa, não é?

Mary suspirou, pressionando as mãos contra o rosto quente. — Lisa, pare com isso! Ele mal olha para mim.

— Talvez porque você não o deixa olhar — respondeu Lisa, pegando a escova de cabelo e entregando-a para Mary. — Experimente soltar esse cabelo. Mostre que você é mais do que a filha do reverendo.

Mary pegou a escova hesitante, passando-a pelos longos cabelos negros. A ideia de mudar sua aparência para chamar a atenção de Joseph parecia absurda e, ao mesmo tempo, tentadoramente nova.

— Você acha mesmo que isso faria diferença? — perguntou, sua voz quase um sussurro.

— Absolutamente — respondeu Lisa, como se fosse a maior especialista em questões do coração. — Homens podem ser lentos para perceber as coisas, mas se você mostrar que é mais do que eles imaginam, eles não vão conseguir desviar o olhar.

Mary riu, embora sua mente começasse a vagar por cenários que ela jamais havia permitido antes. Lembrou-se da conversa ao entardecer no lago, de como Joseph parecia sempre mergulhado em pensamentos profundos, como se carregasse o peso do mundo. E, por um breve momento, ela se perguntou como seria ser o motivo de seus pensamentos.

Lisa percebeu o olhar distante da prima e deu um leve empurrão em seu ombro. — Ah, Mary, você está perdida! Não se preocupe, vou ajudá-la a conquistar aquele homem taciturno.

— Lisa, eu não estou tentando conquistar ninguém! — Mary protestou, mas a risada de Lisa já enchia o quarto.

Ainda assim, naquela noite, antes de dormir, Mary tirou o pente que sempre usava para prender os cabelos e deixou-os soltos. Ao olhar para si mesma no espelho, viu algo diferente: uma mulher que, pela primeira vez, estava disposta a se ver através de novos olhos.

E talvez, apenas talvez, ela estivesse pronta para que Joseph também a enxergasse assim.

Naquela noite, após a conversa com Lisa, Mary permaneceu em seu quarto, a luz suave de uma vela iluminando seu rosto enquanto ela se perdia em pensamentos. Sobre a penteadeira, estava uma revista aberta, mostrando uma foto de Ingrid Bergman, cuja atuação no recente filme Casablanca a havia impressionado profundamente. Mary se lembrava das cenas do filme, especialmente da intensidade do romance entre Ilsa Lund e Rick Blaine. Havia algo na expressão de Ingrid Bergman, na maneira como ela carregava suas emoções, que fazia Mary imaginar como seria viver algo semelhante.

Mary deixou a revista de lado e se aproximou do espelho, analisando seu próprio reflexo com olhos diferentes. Pela primeira vez, ela se perguntou se poderia ser vista como uma mulher desejável. Ela soltou os cabelos, deixando os fios escuros caírem pelos ombros, e tocou levemente sua pele, sentindo o calor que subia pelo colo.

Enquanto seus dedos deslizavam suavemente, ela fechou os olhos e permitiu que sua mente vagasse. Em seus pensamentos, não era Rick Blaine quem a tomava nos braços, mas Joseph. Ela imaginava o toque firme, mas gentil, de suas mãos, o calor de seus lábios contra os dela, e a maneira como ele poderia segurá-la, como se o mundo ao redor desaparecesse.

Um suspiro escapou de seus lábios enquanto ela voltava a si, o rosto corando de vergonha e excitação. Mary balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos que agora lhe pareciam impróprios. Ainda assim, ela não conseguia ignorar a intensidade do que sentia. Havia algo nela, algo que havia sido despertado e que parecia impossível de ser contido.

Determinada, Mary abriu seu guarda-roupa e escolheu seu vestido mais bonito, um azul profundo que acentuava a cor de seus olhos. Decidiu que no próximo domingo, ao vê-lo na igreja, faria o possível para que Joseph a notasse. Afinal, talvez ela pudesse encontrar em si mesma a coragem para viver algo mais do que apenas imaginar.

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