SPENCER
A maioria deles fazem a passagem durante o início do ano. Era sabido que a temperatura não era suportável à mentes e corpos tão frágeis. Quando estão morrendo todas as janelas são abertas para que as almas pecaminosas possam enfim passear, mas algumas delas ficavam perdidas e por não conhecer nenhum outro cenário além de camas brancas e repletas de morte, ficavam ali.
Mas não era raras as vezes em que pássaros vagueavam pelas janelas, adentrava o cômodo branco e por ali criavam vida. Era como se celebrassem a morte com vida. Os pássaros eram quietinhos quando ali estavam.
Spencer sentiu os dedos de sua avó lhe apertando tão bem, um belo lembrete que estava tão vivo hoje quanto ontem e um pouco menos que amanhã.
— Vou lhes dar um momento — a enfermeira lhe disse tão calma. O som de s
O CORPO ESQUECIDO. Havia algo sobre seus olhos que o fazia enxergar tão além do comum, talvez o constante delírio ou realmente fosse parte de algo maior. Muito maior. Durante as primeiras noites de inverno, costumava acordar entre pinheiros e corujas acinzentadas de grandes olhos cor de Sol. Enquanto seu corpo parecia emergir entre o grande lençol natural de folhas caídas e tão úmidas do frio, pequenos insetos pousavam sobre si, caracóis do tamanho de uma unha mediana, formigas vermelhas que gostavam de pica-lo entre os dedos da mão e os braços, algumas vezes alguns pássaros perdidos pousavam sobre si e essa era sua parte preferida.Era uma figura pequena essa que pousou sobre si, suas patinhas mantinham a cor rosada contrastando com cada pena branca que ali residia. A ave fora movendo a cabeça para o lado onde bicou uma minhoca acertando o antebraço do rapaz qu
ABAIXO DO MUNDO.Ali, onde o lençol de neblina ia crescendo sob seus pés, dançando lentamente em busca de um ambiente para se estacionar, tudo era pincelado no cinza, no verde e na incerteza.Encontrou a umidade incomum sobre os pés, a tênue menção de um inseto vagueando entre os dedos, fazendo desvio pela interação inumana. A elevação à frente era formata pelo resquício de concreto, pelas rochas dissolvidas e o forte odor de musgo. Ali, onde tudo se estacionava como um parasita, as árvores de troncos grossos o observavam.Não era difícil encontrar o toque suave das garras de gelo, o tom mostarda vivido e o carmesim traçando seus caminhos com longos riachos em buscar de um núcleo para descansar.— Eu posso sentir — disse na língua das cobras.Encontrou a escuridão momentânea e
SELINE.Não eram raras as vezes em que ao percorrer o perímetro em busca de boa lenha, Seline encontrasse pequenos pássaros sob a neve, parcialmente congelados. Em dias bons encontrava animais grandes como corujas.Umaparte das espécimes eram encontradas ao redor do poço de pedra na parte oeste onde os predadores eram ágeis e as presas abundantes, mas a maior parte delas não sobrevivam a passagem de estação.Quando criança, Seline corria todos os dias para o perímetro permitido em busca de pequenos animais congelados pelo frio ou morimbudos, mantinha consigo uma cesta de palha feita à mão onde os guardava cuidadosamente e quando sua mãe a via com tantas espécies diferentes sob as prateleiras do quarto apodrecendo e deixando a grande cabana com o odor de morte, ela decidira ensiná-la à arte da família.
NADIA.Quando o Sol se meteu no meio do céu e iniciou sua briga matinal com cada nuvem existente no plano humano, Nadia tentava acertar a quantidade de açúcar no café.— Dia difícil? — o timbre masculino fora surgindo em camadas tênues, como um eco — Depois do lago, ninguém tem uma boa noite de sono.— Eu não tenho uma boa noite de sono desde que entrei nesse departamento — e saiu.Nadia gostava de se considerar um tipo diferente de sargento, alguém não tão maldoso quanto o antigo, não tão gentil como Rita, mas estar na Divisão Especial não era uma tarefa fácil.A Divisão foi criada em 1813, por Joseph Morgenstern após uma série de assassinatos ocorridos na região de Londres, que permaneceu sem resolução por muito tempo. Joseph acreditava que aquele ac
O PERSEGUIDOR.A cada instante que se passava tinha a certeza que deveria estar fazendo a coisa certa, pois se não estivesse, que razão teria para viver? Kuprantinha lhe dado a marca maldita uma vez, mas agora poderia finalmente transformá-la em algo bom. Fora esse pensamento que o fez se levantar em meio às grama úmida pelo tempo, deixar que os pequenos insetos não tomassem conta de si. Ele não iria morrer, não naquela noite.Enquanto seus olhos perseguiam por todo mundo visível, ele poderia sentir a tênue discórdia dentro de si lutando contra a coragem. Como poderia se livrar? Era tão apertado e doloroso. Seus pés sentiam a dormência de estar tanto tempo na mesma posição e os braços tão presos e apertados um contra o outro sentia a dor constante, mas nada se comparava com a incerteza de onde estar.Poderia ser um bu
HENRY.O vento sussurrava a chegada de uma longa noite de chuva enquanto as estrelas brigavam por espaço com tantas nuvens negras, carregadas de chuva e ira. Mas lá de cima, onde o mundo não era mais que uma pequena e insignificante mancha escura, ela observava o céu. Era quase engraçada a forma com que seus cotovelos eram dispostos sobre a janela de madeira velha, algumas vezes conseguia ouvi-las ranger, mesmo de longe.Era possível contar quantas pontas brilhantes se encontravam a disposição sobre o lençol escuro que o céu havia se tornado em tão pouco tempo, seus olhos eram fixos sobre uma lembrança esquecida havia muito. Naquela ocasião em especial usava seu conjunto de lingerie de ocasiões raras. Mesmo com um roupão cumprido sobre o corpo, Henry conseguia o identificar.Era de um tecido rendado escuro com suas transparências bem co
CATHERINE.Algumas vezes Cat sentia como se houvesse duas linhas firmes em volta de si. Era uma sensação engraçada, como se pudesse sentir o peso de levantar o braço ou mover as pernas, como se a cabeça estivesse pendurada e algo a puxasse para cima a obrigando a olhar. Cat não queria olhar. Gostaria de fechar os olhos e se misturar as cobertas até desaparecer por completo. Gostaria de poder não dormir.Aquele fora uma longo sonho sobre edifícios e porões, cães de caça e agonia.Estava acima do mundo onde as colina eram montanhas e a grama molhada pelas chuvas era tão seca e verde. Não havia o lençol de neblina ou branco imenso de neve, era um Sol brilhante e uma sensação de calor gigantesca.Então, estava abaixo do mundo onde as colinas cresciam para baixo e a grama era terra úmida cheia de raízes e
SPENCER.Estando deitado abaixo do chão, Spencer conseguia ouvir a morte trabalhando gradualmente ao seu redor. Milhares de corpos adormecidos e esquecidos naquele chão úmido e fétido. Todos sós. Cada partícula de seu corpo morreu sozinho, não havia ninguém para apreciar.Seus olhos se moveram e a figura estava ali. Era grande para a idade, rechonchudo e coberto por pelos amarronzados, uma única e solitária fita branca como uma nuvem manchava sua pele deixando um aspecto menos comum entre a face. O fitava em seus pequenos e redondos olhos negros, brilhosos pela luz do Luar. Spencer moveu os dedos sentindo enfim a paralisia se tornando maior e maior e mesmo que tentasse se levantar, não poderia.O animal fora se aproximando curioso, sentindo-se ameaçado pela grande e esguia figura à sua frente. O focinho era gelado e grande, era possível encarar a pe