O preço do Esquecimento
O preço do Esquecimento
Por: Sofie Márquez
CAPÍTULO 1

O Amanhecer 

Alexandro

O sol mal surgiu no horizonte quando despertei, sentindo a brisa matinal esgueirar-se pela fresta da janela. O som distante dos pássaros se misturava ao leve farfalhar das cortinas, e eu permaneci deitado por alguns instantes, deixando aquele momento de transição entre o sono e a vigília me envolver.

Respirei fundo. O cheiro familiar de café fresco e pão torrado alcançava meu quarto, guiando meus passos até a cozinha. Desci as escadas lentamente, sentindo o piso frio sob meus pés descalços. Ao chegar, encontrei Dona Catarina, a governanta que cuidava de mim desde pequeno, servindo o café da manhã com o mesmo zelo de sempre.

— Bom dia, meu menino — disse ela, sorrindo com carinho enquanto colocava uma xícara de café diante de mim. — Dormiu bem?

— Melhor agora com esse cheiro delicioso de café — respondi, levando a xícara aos lábios. — A senhora sempre sabe como melhorar meu dia.

Ela riu baixinho, sentando-se à minha frente.

— É meu dever cuidar de você. E também um prazer — disse, empurrando um prato de pães para mais perto de mim. — Precisa se alimentar direito, Alexandro. Hoje você tem um dia importante, não tem?

Assenti, pegando um pedaço de pão. A reunião de negócios que teria mais tarde rondava meus pensamentos. Era uma proposta decisiva para a empresa e, embora confiante, eu sentia certo receio sobre como tudo se desenrolaria.

— Estou um pouco apreensivo — confessei, mexendo no pão sem realmente comê-lo. — É uma grande oportunidade, mas sei que preciso estar preparado.

Ela pousou uma mão suave sobre a minha, transmitindo um calor familiar.

— Você sempre foi determinado, meu menino. Sei que fará o melhor possível. Agora, vá se arrumar e mostre a eles do que é capaz.

Terminei meu café antes de subir para me preparar. No quarto, fui direto para o banheiro. A água morna ajudou a despertar meus sentidos e aliviar a tensão. Ao sair, vesti um roupão e fiquei diante do espelho, estudando meu próprio reflexo. A expressão séria no rosto refletia minha preocupação.

Meus olhos, no entanto, enxergaram além. Enxergaram um passado que ainda doía.

Minha infância foi repleta de luxo, mas vazia de afeto. Meu pai era um homem frio e exigente, minha mãe, distante e ocupada demais para notar minha existência.

 Cresci cercado de tudo que o dinheiro podia comprar, menos amor. Meu quarto era impecável, meus brinquedos caros, mas ninguém se importava se eu estava feliz ou sozinho.

Se não fosse Catarina, eu teria sido apenas mais uma sombra na imensidão daquela casa. 

Enquanto meus pais me ignoravam, ela me acolhia. Ela e a família do meu amigo Adriano.

Era Catarina quem enxugava minhas lágrimas quando eu caía, quem me embalava nas noites de tempestade, quem sorria para mim com ternura.

E era a família de Adriano o meu norte de família.

Lembro-me de uma noite em especial, quando, aos seis anos, acordei de um pesadelo chorando, bati a porta do quarto de meus pais e ele mandou que eu voltasse para meu quarto.

 Corri pelos corredores escuros até encontrar Catarina, que me recebeu em seus braços sem hesitar.

— Shhh, estou aqui, meu menino — murmurou, acariciando meus cabelos. — Você nunca está sozinho. E me acalentou a noite inteira em sua pequena cama, que para mim era a cama de um rei.

Desde então, ela foi minha verdadeira família. E, mesmo agora, depois de tantos anos, sua presença ainda me trazia conforto.

Vestindo um terno escuro, ajeitei a gravata e borrifei um pouco de perfume. Cada detalhe da minha aparência deveria transmitir profissionalismo e confiança. Peguei os documentos da reunião, conferindo cada detalhe antes de descer.

Na cozinha, Catarina me observou com um olhar atento.

— Você está elegante — disse, ajustando a gola do meu paletó, como fazia quando eu era criança.

Sorri, sentindo um nó na garganta.

— Sei que posso contar com a senhora.

— Sempre, meu menino — respondeu ela, tocando meu rosto com carinho. — Agora vá e volte com boas notícias.

Peguei minha pasta e caminhei até a porta. Antes de sair, olhei para trás e vi Catarina me observando, seu olhar carregado de orgulho e preocupação.

— Cuide-se, menino — ela disse.

— Pode deixar.

Saí de casa com o coração mais leve. Qualquer que fosse o resultado da reunião, sempre teria um lar para onde voltar. E

isso, mais do que qualquer fortuna, era meu verdadeiro tesouro.

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